Como Fingir Que Não É Amor?

Como Fingir Que Não É Amor?

A Quarta Carta

O corredor estava barulhento com o som de armários se abrindo e estudantes trocando risadas antes da próxima aula. Luna caminhava rápido, os livros apertados contra o peito, tentando evitar olhares. Desde que as cartas foram enviadas, ela sentia como se andasse com um farol apontado para ela.

Então, ela o viu.

Peter encostado no armário, cercado por dois amigos, sorrindo daquele jeito despreocupado que ele sempre tinha. Mas quando os olhos dele encontraram os dela, o sorriso diminuiu. Ele murmurou algo para os amigos e se afastou em sua direção.

O coração de Luna acelerou. Ela pensou em correr, fingir que não viu, mas era tarde demais.

— Luna, posso falar com você um minuto? — disse Peter, parando na frente dela, a expressão curiosa, mas sem zombaria.

— Ah... claro — respondeu ela, tentando manter a voz firme.

Ele apontou com a cabeça para uma parte mais tranquila do corredor, perto da escada de emergência. Ela o seguiu, o silêncio entre os dois mais alto que todo o barulho ao redor.

Peter encostou-se à parede, cruzando os braços.

— Então... recebi sua carta. Aquela.

Luna engoliu seco. — Eu juro que não era pra ninguém receber. Foi um engano. Uma catástrofe, na verdade.

Peter sorriu de lado, como se achasse graça da escolha de palavras. — Não foi ruim, sabe? Quer dizer... foi surpreendente. Mas... interessante.

Ela não sabia o que responder. Queria que o chão a engolisse.

Ele inclinou um pouco a cabeça, analisando-a.

— Só que tem um problema. A Rebecca viu a carta também. E agora acha que eu estou te usando pra deixá-la com ciúmes. E você, pelo visto, está tentando escapar do... Josh?

Luna arregalou os olhos. — Como você...?

— Eu conectei os pontos. E tive uma ideia.

Ela franziu o cenho. — Que ideia?

Peter descruzou os braços e se aproximou um pouco.

— E se a gente fingisse? Um namoro de mentirinha. Você afasta o Josh, eu provo pra Rebecca que superei. Todo mundo sai ganhando.

Luna piscou, confusa. — Um namoro falso?

Peter sorriu. — Só até a poeira baixar. O que me diz?

Luna hesitou, olhando para ele como se tentasse decifrar se aquilo era mesmo real. Seu coração batia tão alto que parecia ecoar nos ouvidos.

— Isso... parece loucura — ela murmurou, abraçando os livros com mais força. — E se der errado?

Peter deu de ombros com aquele charme despreocupado que parecia natural nele.

— E se der certo?

Ela arqueou uma sobrancelha. — A gente ia ter que... agir como um casal?

— Exatamente. Mãos dadas nos corredores, talvez sentar juntos no refeitório, algumas fotos no Instagram... o básico.

Luna desviou o olhar, tentando processar. Ela não era o tipo de garota que entrava em joguinhos ou planos mirabolantes. Mas desde que aquelas cartas vazaram, tudo estava de cabeça para baixo. E a ideia de evitar Josh — que agora olhava para ela com uma mistura de confusão e expectativa — era tentadora. Talvez até necessária.

— E... quais seriam as regras? — ela perguntou, quase sem perceber que estava cedendo.

Peter sorriu como se soubesse que já tinha vencido.

— A primeira: sem se apaixonar, é claro.

Luna olhou para ele com uma expressão séria.

— Ótimo. Porque isso não vai acontecer.

Eles trocaram um olhar firme, quase desafiador, mas por um breve segundo, algo ali suavizou. Um reconhecimento silencioso de que, a partir daquele momento, tudo mudaria — mesmo que fosse apenas por "fingimento".

— Então... temos um acordo? — Peter estendeu a mão.

Luna olhou para a mão dele por um instante e depois apertou, com um leve suspiro.

— Temos.

 

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