Era um sábado à tarde quando Luna recebeu a mensagem de Peter:
Peter: “Temos um encontro hoje. Tipo, de verdade. Ou melhor... de mentira. Mas com plateia.”
Ela encarou a tela por alguns segundos. Seu coração bateu um pouco mais rápido — ela odiava como o simples som da notificação dele já causava esse efeito.
Luna: “Onde e que horas?”
Peter: “Sorveteria do centro. 16h. Josh costuma passar por lá aos sábados. Nem me pergunte como sei disso, pois não revelo minhas fontes. Perfeito para reforçar a farsa. Vista algo bonito. Ou nem tanto, você já é bonita naturalmente.”
Luna revirou os olhos no quarto, sozinha, e disse em voz alta: — Idiota.
Mas, é claro, ela escolheu uma blusa azul clara que destacava seus olhos e amarrou o cabelo em um meio-coque meio bagunçado — daquele jeito que parecia casual, mas que ela levou vinte minutos tentando acertar no espelho.
Quando chegou à sorveteria, ele já estava lá.
Peter usava uma camiseta branca simples e uma jaqueta jeans. Estava sentado de costas para a rua, o que só poderia significar uma coisa: ele queria que fossem vistos.
— Pontual, senhor Cavaleiro da Farsa — disse ela ao se aproximar.
Ele sorriu. — E você, senhorita Encenação, está linda demais pra fingir.
Ela se sentou, fingindo ignorar o elogio. Mas não conseguiu impedir um sorriso discreto de escapar.
— Já pediu? — perguntou ela, olhando o cardápio familiar da sorveteria.
— Pedi um milkshake de baunilha. Protocolo de casal, sabia? Dividir milkshake é tipo… clássico.
— E se eu fosse alérgica a lactose?
— Eu traria um de morango sem leite. Fiz minha lição de casa — ele piscou, e ela teve que rir.
A bebida chegou minutos depois, com dois canudos. Peter empurrou o copo em direção a ela, despretensioso. Mas o gesto tinha algo de íntimo. De estranho e aconchegante ao mesmo tempo.
— Você acha que o Josh vai aparecer? — Luna perguntou, tentando soar casual.
— Talvez. Mas mesmo que não apareça, as fotos no Instagram já vão fazer o trabalho.
— Fotos? — ela repetiu.
Peter já estava com o celular em mãos. Antes que ela pudesse protestar, ele se inclinou levemente para o lado dela e tirou uma selfie. No reflexo da tela, Luna se viu sorrindo mais do que queria admitir.
— Postando com a legenda “A melhor parte do sábado” — disse ele.
Ela corou. — Isso é parte do plano?
— Totalmente. Mas... — ele a olhou por um segundo mais sério — também não é mentira.
Luna desviou o olhar, desconcertada. A linha entre o que era encenação e o que era real estava ficando cada vez mais turva, e isso a assustava mais do que queria admitir.
Ainda assim, ali, dividindo um milkshake e rindo de piadas bobas, Luna não pensava em Josh, nem no motivo pelo qual tudo aquilo começou. Só conseguia pensar em como era fácil gostar de estar com Peter — e em como seria difícil fingir que não estava gostando.
___
Depois do milkshake, eles caminharam pela praça em frente à sorveteria. A tarde estava morna, com o céu tingido de laranja e dourado. Peter chutava pedrinhas no caminho, e Luna andava ao lado com os braços cruzados, tentando conter o frio e o nervosismo.
— Você sabia que esse lugar era onde meus pais se conheceram? — ela comentou de repente, surpresa com a própria vontade de compartilhar algo tão pessoal.
— Sério? — Ele a olhou, interessado. — Isso é bem... romântico.
— É. E esquisito também. Porque agora tô aqui com um “namorado” que não é exatamente namorado, fingindo um encontro real.
— Mas o milkshake era real — Peter disse, dando de ombros.
Ela riu.
— E o gosto era ótimo.
— Tá vendo? Falsos encontros também têm seus méritos.
Eles continuaram andando em silêncio por alguns minutos, até Peter pegar as chaves do carro do bolso.
— Vou te levar pra casa — ele disse.
Luna hesitou. — Achei que você ia me deixar no ponto, pra não parecer… íntimo demais.
— Luna, a gente acabou de dividir um milkshake. Acho que passamos da fase da discrição.
Ela não discutiu. Entrou no carro e deixou a janela aberta, sentindo o vento frio no rosto enquanto ele dirigia pelas ruas tranquilas do bairro.
Quando ele estacionou em frente à casa dela, Luna segurou a alça da mochila com força. Por um segundo, o silêncio entre eles foi mais alto do que o som do motor desligado.
— Foi convincente, né? — ela perguntou, sem encará-lo diretamente.
Peter assentiu. — Bastante.
— As pessoas vão acreditar?
— A escola inteira já acredita. Aposto que até o porteiro da biblioteca está apostando no nosso término.
Luna soltou um riso leve. Depois, ficou séria por um instante.
— E você? O que achou?
Ele olhou para ela com aquela expressão que ela ainda não sabia decifrar completamente — entre brincalhão e sincero demais.
— Acho que foi o encontro falso mais verdadeiro que eu já tive.
Ela prendeu a respiração sem perceber, sentindo o coração dar um passo à frente que sua mente ainda não autorizava.
— Boa noite, Peter.
— Boa noite, Luna.
Ela desceu do carro e só olhou para trás quando ele já estava dobrando a esquina.
E ali, sozinha na calçada, ela se perguntou: Quantas vezes a gente pode fingir... antes de começar a acreditar?
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 23
Comments