Entre Verdades e Fingimentos

Luna ainda estava com os dedos na maçaneta quando ouviu a voz familiar atrás de si.

— Luna?

Ela se virou devagar, como se já soubesse quem era.

Josh.

Ele estava parado do outro lado da cerca viva que separava os quintais das duas casas. Vestia uma camiseta larga dos Dodgers e segurava uma lata de refrigerante na mão. Seu olhar não era exatamente zangado, mas carregava algo entre curiosidade e mágoa.

— Você… você tava com o Peter? — ele perguntou, franzindo o cenho.

Ela sentiu um arrepio correr pela espinha. Não esperava por isso. Não tão cedo. Não do jeito que ele a olhava agora.

— É. A gente saiu pra tomar um milkshake. — Ela tentou soar casual, mas a voz vacilou na última palavra.

Josh se aproximou mais da cerca, apoiando-se nela com os antebraços.

— Então vocês estão juntos mesmo?

Luna hesitou. As palavras travaram em sua garganta por um segundo.

Sim, estamos juntos. Era isso que ela deveria dizer. Era esse o plano.

— Estamos. — respondeu, sem encará-lo diretamente.

Josh ficou em silêncio. O som da lata sendo apertada entre os dedos foi a única resposta por um tempo.

— É só... — ele desviou o olhar. — Foi meio estranho ver vocês dois. Tipo, ele te deixar na porta. Foi... esquece..

Ela se virou de frente pra ele, os olhos sérios.

— Você leu a carta, Josh. Eu sei disso.

Ele assentiu lentamente.

— Eu li. E... você sabe que as coisas entre mim e a Margot acabaram. Faz tempo.

O nome da irmã soou pesado no ar. Como se tivesse derrubado tudo entre eles de uma vez.

Luna cruzou os braços.

— Mesmo assim, não importa. Você namorou minha irmã. Por anos. Isso não é só um pequeno detalhe.

— Mas não foi com você que eu fiquei preso na cabeça depois que ela foi embora — ele disse, num tom mais baixo, mais próximo.

Ela sentiu o estômago revirar.

— Josh...

Ele deu um passo à frente, até encostar os dedos na cerca entre eles.

— Eu só... precisava saber. Se esse lance com o Peter é real ou se é...

— Não importa o que é — interrompeu, firme. — Porque mesmo que fosse mentira, ainda seria melhor do que o que não pode acontecer entre a gente.

Josh ficou quieto. O silêncio deles pareceu ainda mais profundo do que antes.

— Boa noite, Josh.

Ela se virou e entrou em casa antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. Encostou a porta atrás de si e encostou a testa na madeira, respirando fundo.

Não era fácil. Nunca tinha sido.

Mas aquela era a escolha certa. Mesmo que doesse.

Mesmo que fosse preciso continuar fingindo por um bom tempo.

____

Assim que fechou a porta, Luna encostou as costas nela e deixou o corpo escorregar até o chão. Ficou ali por alguns segundos, tentando se convencer de que não estava tremendo — mas estava. Não só pelas palavras de Josh, mas por tudo o que aquele dia havia despertado.

Levantou-se devagar, cruzando o corredor em silêncio para não chamar atenção dos pais. Subiu as escadas e entrou no quarto, tirando os sapatos com pressa. Tudo nela parecia pesado: a cabeça, os ombros, até o coração.

Foi direto para o banheiro e encheu a banheira com água morna. Acrescentou um pouco de espuma perfumada, acendeu a pequena vela de lavanda que deixava no canto da pia — um hábito que aprendera com Margot — e afundou até os ombros, deixando a água tentar desfazer o nó que se formara em seu peito.

Fechou os olhos, tentando pensar apenas no barulho da água.

Mas a imagem de Peter sorrindo enquanto ela tomava o milkshake ainda estava nítida.

E a voz de Josh... “Não foi com você que eu fiquei preso na cabeça depois que ela foi embora.”

Um som baixo de notificação vibrou perto da toalha dobrada. Ela esticou o braço e puxou o celular.

Era Josh.

Josh: “Acho que a nossa conversa ainda não acabou.”

Luna mordeu o lábio, relutante. A água já não parecia tão reconfortante assim.

Luna: “Acho que já foi o suficiente por hoje.”

Josh: “Você sabe que não. Tem coisas que precisam ser ditas, mesmo que doa.”

Ela fechou os olhos por um segundo. A honestidade dele era uma faca com duas pontas: cortava o passado e sangrava o presente.

Luna: “Agora não, Josh. Eu só preciso de um tempo. Podemos falar depois, quando tudo isso fizer mais sentido.”

Josh: “Tá bom. Mas eu não vou fingir que você não importa pra mim.”

Luna: “É por isso que temos um problema.”

Deixou o celular virado para baixo na beira da banheira, sem esperar resposta. Fechou os olhos outra vez e afundou um pouco mais na água, como se o calor pudesse proteger dela mesma — e das coisas que não sabia como sentir sem quebrar algo dentro.

Lá fora, o mundo parecia calmo.

Mas dentro de Luna, era um campo minado — entre o que já foi, o que é mentira, e o que talvez esteja começando a ser verdade.

 

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