O Policial Carter

O Policial Carter

Conte comigo, parceiro.

A sala de reuniões da delegacia fervilhava com a energia tensa que antecede uma grande operação. Mapas e fotos estavam espalhados sobre a mesa, enquanto o capitão Silva, com sua voz grave e olhar penetrante, detalhava os pontos cruciais da investida. Erick estava encostado na parede, braços cruzados sobre o peito, ouvindo atentamente cada palavra, mas com uma parte de sua mente divagando sobre Bartolomeu, que certamente estaria aprontando alguma travessura no quintal. Ao seu lado, seu parceiro, o jovem e ansioso detetive Mendes, rabiscava anotações freneticamente.

"- ... a principal célula operacional deles está localizada neste galpão abandonado na zona industrial," o capitão apontava para um ponto no mapa. "Informações de inteligência indicam um grande carregamento de drogas chegando esta noite. Nosso objetivo é cercar o local, prender os envolvidos e apreender a mercadoria."

Houve um murmúrio de confirmação entre os policiais. Erick manteve seu semblante impassível. Ele já havia participado de dezenas de operações como aquela. A adrenalina não o excitava mais, apenas uma resignação cansada diante da rotina violenta de seu trabalho. Ele sabia que, por trás da fachada de combate ao crime, havia engrenagens enferrujadas e interesses obscuros dentro da própria polícia. Mas ele se mantinha na sua, aplicava a lei dentro do possível e tentava não cruzar as linhas perigosas.

"- As equipes Alfa e Bravo farão a invasão tática," o capitão continuou. "As equipes Charlie e Delta farão o cerco perimetral. Detetive Carter, Detetive Mendes, vocês estarão na equipe de apoio da Alfa. Quero vocês atentos a qualquer atividade suspeita fora do foco principal."

Mendes assentiu vigorosamente, seus olhos brilhando com entusiasmo. Erick apenas moveu a cabeça em concordância. Apoio. Era um papel seguro, longe da linha de frente, do tiroteio pesado. Exatamente como ele preferia.

O capitão Silva então começou a detalhar o plano de invasão, os pontos de entrada, os possíveis focos de resistência. Erick escutava, absorvendo as informações relevantes, filtrando o ruído. Sua mente calculista já traçava cenários, identificando potenciais problemas e rotas de fuga – não para ele, mas para se manter um passo à frente, para evitar surpresas desagradáveis.

No meio da explicação, uma foto de um dos suspeitos principais foi exibida no telão. Erick o reconheceu de um caso antigo, um criminoso com conexões perigosas. Um calafrio percorreu sua espinha. Algo naquela operação não parecia certo. Havia uma tensão no ar, uma sensação de que estavam mexendo em um vespeiro maior do que imaginavam.

Assim que o capitão Silva encerrou o briefing com um olhar severo e um "Boa sorte a todos", a sala começou a se esvaziar. Policiais se levantavam, conferindo seus equipamentos e trocando comentários nervosos. Mendes, ainda com a adrenalina da antecipação correndo em suas veias, começou a guardar suas anotações com um sorriso no rosto.

Erick se desencostou da parede, uma ruga de preocupação vincando sua testa. Ele se aproximou de Mendes, sua voz baixa e séria contrastando com a excitação do parceiro.

"Mendes," ele começou, chamando a atenção do jovem detetive. "Você viu a foto daquele um dos principais alvos?"

Mendes franziu a testa, tentando se lembrar em meio à enxurrada de informações. "Aquele de cabelo comprido? Acho que sim. Por quê?"

"Eu já cruzei com ele antes," Erick revelou, o tom carregado de uma estranha apreensão. "Em um caso... um caso bem diferente."

Mendes parou de guardar suas coisas, o interesse estampado no rosto. "Que tipo de caso?"

Erick hesitou por um instante, como se revivesse memórias perturbadoras. "Assassinato. Envolvia magia oculta."

Os olhos de Mendes se arregalaram, surpreso e um pouco incrédulo. "Magia oculta? Está brincando, Carter."

Erick balançou a cabeça negativamente. "Não estou. O cara era um fanático por esse tipo de conhecimento. Livros antigos, rituais bizarros... Não faz sentido ele estar envolvido com tráfico de drogas."

"Talvez ele tenha mudado de ramo?" Mendes sugeriu, tentando encontrar uma explicação lógica.

Erick soltou um suspiro pesado, carregado de frustração. "Não. Não alguém como ele. O tipo de obsessão que ele tinha... era consumir o conhecimento, não vendê-lo. Isso não se encaixa."

"Então por que ele não está preso?" Mendes perguntou, a curiosidade agora misturada com confusão.

Erick passou a mão pelos cabelos, um gesto de cansaço. "Falta de provas concretas. Na época, as evidências eram circunstanciais, muita coisa baseada em depoimentos de pessoas... digamos... pouco confiáveis. Conseguimos ligá-lo à cena do crime, mas não o suficiente para uma condenação. Ele tinha bons advogados e soube se esquivar."

Um silêncio se instalou entre eles. A revelação de Erick lançou uma sombra de dúvida sobre a operação. Se aquele homem estava envolvido, significava que havia algo mais por trás, algo que a inteligência policial talvez não tivesse captado.

"Você acha que isso pode complicar as coisas?" Mendes perguntou, a animação inicial dando lugar a uma cautela hesitante.

Erick olhou para o parceiro, seus olhos azuis carregados de uma determinação sombria. "Complicar? Mendes, eu tenho um mau pressentimento sobre tudo isso. Mas vamos fazer o nosso trabalho. Ficar de olhos abertos e seguir o plano. Por enquanto."

A sirene estridente de uma viatura ecoou do lado de fora, quebrando o silêncio e anunciando o início iminente da operação. A tensão na sala aumentou novamente, agora carregada também pela incerteza plantada pelas palavras de Erick.

A dupla seguiu em silêncio para o estacionamento da delegacia, onde as viaturas já ronronavam impacientemente. Erick assumiu o volante de sua viatura, o hábito de anos moldando seus movimentos enquanto ajustava o retrovisor e ligava o motor. Ao seu lado, Mendes, com a energia da juventude, verificava seus equipamentos, organizando os carregadores de sua arma com movimentos rápidos e precisos.

A mente de Erick, porém, estava longe daquela preparação imediata. As palavras sobre o suspeito e a estranha conexão com magia oculta ecoavam em seus pensamentos. Algo não se encaixava, e essa dissonância o deixava inquieto. Ele sentia aquele formigamento na espinha que sempre precedia problemas.

Percebendo o semblante pensativo do parceiro, Mendes guardou o último carregador e se virou para Erick, a voz respeitosa, mas firme.

"Carter," ele disse, o chamando pelo sobrenome como era de costume em serviço. "Eu sei que você tem mais experiência nisso do que eu, e respeito muito isso. Mas agora precisamos de toda a sua atenção. O capitão deixou claro que essa operação é prioridade máxima."

Havia uma ponta de preocupação no tom de Mendes, um receio de que as divagações de Erick pudessem colocá-los em risco. Ele admirava a calma e a perspicácia de seu parceiro veterano, mas sabia que, em situações de perigo, cada segundo e cada detalhe contavam.

Erick suspirou levemente, forçando seus pensamentos de volta ao presente. Mendes tinha razão. Preocupações e pressentimentos não adiantariam de nada se ele não estivesse totalmente focado no que estava por vir. Ele olhou para o jovem parceiro, um leve aceno de cabeça reconhecendo a sua observação.

"Você está certo, Mendes," Erick respondeu, a voz agora mais firme e concentrada. "Vamos fazer o que temos que fazer. Mas fique atento. Se algo parecer errado, confie no seu instinto."

Com essa breve troca, o clima na viatura se tornou mais tenso e focado. A sirene de outra viatura ecoou próxima, sinalizando que as equipes estavam se deslocando para o local da operação. Erick engatou a primeira marcha, e a viatura seguiu pelas ruas da cidade em direção à zona industrial, rumo ao desconhecido que os esperava no galpão abandonado. A mente de Erick ainda estava carregada de dúvidas, mas agora ele as mantinha sob controle, pronto para agir e proteger a si mesmo e ao seu parceiro no que quer que encontrassem.

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