A mulher misteriosa.

A noite no hospital pareceu uma eternidade para Erick. Cada bip das máquinas, cada sussurro dos enfermeiros ecoava em sua mente atormentada pela culpa e pela incerteza. Pela manhã, um colega trouxe um relatório superficial sobre a conclusão da operação no galpão. A apreensão de uma grande quantidade de drogas era o foco principal, mas não havia menção alguma à estranha sala ou à criatura que atacou Erick. A caixa, segundo o relatório, havia sido recolhida como "evidência não catalogada".

A confirmação de que a caixa estava sob custódia policial despertou uma faísca de esperança em Erick. Ele precisava vê-la novamente, examiná-la de perto. Ele sentia que ali residia a chave para entender a transformação de Mendes.

Com uma desculpa qualquer para seus colegas, Erick se dirigiu novamente à zona industrial. O galpão agora estava isolado com fitas amarelas, a movimentação policial já havia cessado. Usando seu distintivo, ele conseguiu permissão para entrar, alegando a necessidade de "revisitar a cena" devido a "detalhes não esclarecidos".

O interior do galpão estava frio e silencioso, a poeira dançando preguiçosamente nos raios de sol que penetravam pelas frestas do telhado. Erick seguiu diretamente para a sala onde tudo havia acontecido. O pentagrama no chão era agora quase imperceptível sob a camada de poeira. As paredes de pedra fria não guardavam nenhum segredo visível.

Erick começou sua investigação pessoal com minúcia. Ele se ajoelhou, examinando cada centímetro do chão, procurando por qualquer resíduo, qualquer detalhe que pudesse ter passado despercebido na pressa e no caos da noite anterior. Ele passou os dedos pelas paredes, tentando encontrar alguma inscrição oculta, algum mecanismo que pudesse ter aberto a porta.

Ele procurou por marcas de luta diferentes daquelas com a criatura, tentando imaginar se Mendes havia tocado em algum outro objeto antes de se aproximar da caixa. Cada fragmento de memória daquela noite fatídica era revivido em sua mente, buscando alguma conexão perdida.

O tempo passava lentamente, mas Erick não desistia. Ele sabia que a resposta para o que havia acontecido com seu parceiro estava ali, em algum lugar naquele galpão sombrio. Ele só precisava encontrá-la.

O silêncio opressor da sala foi subitamente quebrado por uma voz suave, mas carregada de uma estranha autoridade. Erick sobressaltou-se, o coração acelerado pela surpresa. Ele se virou rapidamente, a mão instintivamente próxima à sua arma.

Na entrada da sala, parada como uma aparição, estava uma mulher. Sua figura era completamente envolta em uma túnica de um tecido dourado e reluzente, que ocultava todas as curvas de seu corpo. Um lenço da mesma cor cobria seu rosto, deixando apenas seus olhos visíveis na sombra. E que olhos eram aqueles... intensos, penetrantes, com uma profundidade que parecia conter séculos de conhecimento.

A mulher observava Erick com uma expressão indecifrável por trás do véu. Sua voz ecoou suavemente na sala fria, carregando um tom de admiração misturada com um quê de divertimento.

"Que fascinante," ela disse, as palavras sussurradas como uma brisa. "Eu não imaginei que um homem fosse alcançar aquilo."

A mente de Erick rodava, tentando processar a presença daquela figura misteriosa. Quem era ela? Como havia entrado no galpão isolado? E a que "aquilo" ela se referia? A transformação de Mendes? A abertura da porta? Ou algo mais?

"Quem é você?" Erick perguntou, a voz cautelosa, mantendo uma distância segura. "O que você sabe sobre este lugar e sobre o que aconteceu aqui?"

A mulher não se moveu, sua postura emanando uma calma enigmática. Seus olhos permaneceram fixos em Erick, como se pudessem ler seus pensamentos mais íntimos.

"Eu sei muitas coisas, detetive," ela respondeu, um leve sorriso parecendo surgir sob o lenço. "Sei sobre a curiosidade que o trouxe de volta a este lugar. Sei sobre o fardo que carrega pela transformação de seu amigo."

O tom da mulher era intrigante, quase maternal, mas havia algo de oculto em suas palavras, uma sugestão de conhecimento proibido. Erick sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Aquela mulher não era uma intrusa comum.

"Como você sabe o meu nome?" Erick indagou, a desconfiança crescendo.

"Eu observo," foi a simples resposta, carregada de um significado sinistro. "E sei que você busca respostas. Talvez... eu possa oferecê-las."

A hesitação de Erick foi interrompida por uma risada suave e melodiosa da mulher, quebrando a tensão do momento.

"Ótimo," ela disse, a voz carregada de um divertimento enigmático. "Acho que seria muito sem graça se eu lhe contasse tudo de uma vez. Vamos fazer o seguinte: vou observar mais um pouco para ver até onde essa sua... persistência o levará."

A paciência de Erick se esgotou. Aquele jogo de mistério e evasivas o exasperava, especialmente considerando o que havia acontecido com seu parceiro. Ele ergueu a pistola, apontando-a firmemente para a figura envolta em dourado.

"Chega de brincadeira," Erick disse, a voz firme e autoritária. "Você está atrapalhando uma investigação policial. Se você sabe alguma coisa sobre o que aconteceu aqui, é seu dever informar. Se não disser o que sabe, vou prendê-la por ocultação de informação que pode ajudar na investigação ou por desacato à autoridade."

A mulher pareceu se divertir ainda mais com a ameaça. Seus olhos brilharam intensamente por trás do lenço, e um sorriso zombeteiro pareceu surgir em seus lábios invisíveis. Com um movimento que desafiou a percepção, ela se moveu. Em um instante, estava parada a centímetros de Erick, sua presença repentina e silenciosa como a de um predador.

Uma de suas mãos, envolta em uma luva de tecido fino e dourado, deslizou suavemente pelo rosto de Erick, um toque frio e inexplicavelmente familiar. A outra mão repousou brevemente sobre seu peito, transmitindo uma sensação de calor surpreendente através de sua camisa.

"É uma pena, pequeno policial," ela sussurrou, a voz agora carregada de uma melancolia passageira. "Mas não tenho tempo suficiente para recompensá-lo por seu esforço."

E então, diante dos olhos arregalados de Erick, a mulher simplesmente desapareceu. Não houve movimento, nenhum som. Apenas uma nuvem fugaz de poeira dourada, como ouro em pó cintilante, pairou no ar por um breve momento antes de se dissipar, deixando Erick sozinho na sala fria e empoeirada, ainda com a arma em punho, mas agora completamente perplexo e com uma série ainda maior de perguntas sem respostas.

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