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O Policial Carter

Conte comigo, parceiro.

A sala de reuniões da delegacia fervilhava com a energia tensa que antecede uma grande operação. Mapas e fotos estavam espalhados sobre a mesa, enquanto o capitão Silva, com sua voz grave e olhar penetrante, detalhava os pontos cruciais da investida. Erick estava encostado na parede, braços cruzados sobre o peito, ouvindo atentamente cada palavra, mas com uma parte de sua mente divagando sobre Bartolomeu, que certamente estaria aprontando alguma travessura no quintal. Ao seu lado, seu parceiro, o jovem e ansioso detetive Mendes, rabiscava anotações freneticamente.

"- ... a principal célula operacional deles está localizada neste galpão abandonado na zona industrial," o capitão apontava para um ponto no mapa. "Informações de inteligência indicam um grande carregamento de drogas chegando esta noite. Nosso objetivo é cercar o local, prender os envolvidos e apreender a mercadoria."

Houve um murmúrio de confirmação entre os policiais. Erick manteve seu semblante impassível. Ele já havia participado de dezenas de operações como aquela. A adrenalina não o excitava mais, apenas uma resignação cansada diante da rotina violenta de seu trabalho. Ele sabia que, por trás da fachada de combate ao crime, havia engrenagens enferrujadas e interesses obscuros dentro da própria polícia. Mas ele se mantinha na sua, aplicava a lei dentro do possível e tentava não cruzar as linhas perigosas.

"- As equipes Alfa e Bravo farão a invasão tática," o capitão continuou. "As equipes Charlie e Delta farão o cerco perimetral. Detetive Carter, Detetive Mendes, vocês estarão na equipe de apoio da Alfa. Quero vocês atentos a qualquer atividade suspeita fora do foco principal."

Mendes assentiu vigorosamente, seus olhos brilhando com entusiasmo. Erick apenas moveu a cabeça em concordância. Apoio. Era um papel seguro, longe da linha de frente, do tiroteio pesado. Exatamente como ele preferia.

O capitão Silva então começou a detalhar o plano de invasão, os pontos de entrada, os possíveis focos de resistência. Erick escutava, absorvendo as informações relevantes, filtrando o ruído. Sua mente calculista já traçava cenários, identificando potenciais problemas e rotas de fuga – não para ele, mas para se manter um passo à frente, para evitar surpresas desagradáveis.

No meio da explicação, uma foto de um dos suspeitos principais foi exibida no telão. Erick o reconheceu de um caso antigo, um criminoso com conexões perigosas. Um calafrio percorreu sua espinha. Algo naquela operação não parecia certo. Havia uma tensão no ar, uma sensação de que estavam mexendo em um vespeiro maior do que imaginavam.

Assim que o capitão Silva encerrou o briefing com um olhar severo e um "Boa sorte a todos", a sala começou a se esvaziar. Policiais se levantavam, conferindo seus equipamentos e trocando comentários nervosos. Mendes, ainda com a adrenalina da antecipação correndo em suas veias, começou a guardar suas anotações com um sorriso no rosto.

Erick se desencostou da parede, uma ruga de preocupação vincando sua testa. Ele se aproximou de Mendes, sua voz baixa e séria contrastando com a excitação do parceiro.

"Mendes," ele começou, chamando a atenção do jovem detetive. "Você viu a foto daquele um dos principais alvos?"

Mendes franziu a testa, tentando se lembrar em meio à enxurrada de informações. "Aquele de cabelo comprido? Acho que sim. Por quê?"

"Eu já cruzei com ele antes," Erick revelou, o tom carregado de uma estranha apreensão. "Em um caso... um caso bem diferente."

Mendes parou de guardar suas coisas, o interesse estampado no rosto. "Que tipo de caso?"

Erick hesitou por um instante, como se revivesse memórias perturbadoras. "Assassinato. Envolvia magia oculta."

Os olhos de Mendes se arregalaram, surpreso e um pouco incrédulo. "Magia oculta? Está brincando, Carter."

Erick balançou a cabeça negativamente. "Não estou. O cara era um fanático por esse tipo de conhecimento. Livros antigos, rituais bizarros... Não faz sentido ele estar envolvido com tráfico de drogas."

"Talvez ele tenha mudado de ramo?" Mendes sugeriu, tentando encontrar uma explicação lógica.

Erick soltou um suspiro pesado, carregado de frustração. "Não. Não alguém como ele. O tipo de obsessão que ele tinha... era consumir o conhecimento, não vendê-lo. Isso não se encaixa."

"Então por que ele não está preso?" Mendes perguntou, a curiosidade agora misturada com confusão.

Erick passou a mão pelos cabelos, um gesto de cansaço. "Falta de provas concretas. Na época, as evidências eram circunstanciais, muita coisa baseada em depoimentos de pessoas... digamos... pouco confiáveis. Conseguimos ligá-lo à cena do crime, mas não o suficiente para uma condenação. Ele tinha bons advogados e soube se esquivar."

Um silêncio se instalou entre eles. A revelação de Erick lançou uma sombra de dúvida sobre a operação. Se aquele homem estava envolvido, significava que havia algo mais por trás, algo que a inteligência policial talvez não tivesse captado.

"Você acha que isso pode complicar as coisas?" Mendes perguntou, a animação inicial dando lugar a uma cautela hesitante.

Erick olhou para o parceiro, seus olhos azuis carregados de uma determinação sombria. "Complicar? Mendes, eu tenho um mau pressentimento sobre tudo isso. Mas vamos fazer o nosso trabalho. Ficar de olhos abertos e seguir o plano. Por enquanto."

A sirene estridente de uma viatura ecoou do lado de fora, quebrando o silêncio e anunciando o início iminente da operação. A tensão na sala aumentou novamente, agora carregada também pela incerteza plantada pelas palavras de Erick.

A dupla seguiu em silêncio para o estacionamento da delegacia, onde as viaturas já ronronavam impacientemente. Erick assumiu o volante de sua viatura, o hábito de anos moldando seus movimentos enquanto ajustava o retrovisor e ligava o motor. Ao seu lado, Mendes, com a energia da juventude, verificava seus equipamentos, organizando os carregadores de sua arma com movimentos rápidos e precisos.

A mente de Erick, porém, estava longe daquela preparação imediata. As palavras sobre o suspeito e a estranha conexão com magia oculta ecoavam em seus pensamentos. Algo não se encaixava, e essa dissonância o deixava inquieto. Ele sentia aquele formigamento na espinha que sempre precedia problemas.

Percebendo o semblante pensativo do parceiro, Mendes guardou o último carregador e se virou para Erick, a voz respeitosa, mas firme.

"Carter," ele disse, o chamando pelo sobrenome como era de costume em serviço. "Eu sei que você tem mais experiência nisso do que eu, e respeito muito isso. Mas agora precisamos de toda a sua atenção. O capitão deixou claro que essa operação é prioridade máxima."

Havia uma ponta de preocupação no tom de Mendes, um receio de que as divagações de Erick pudessem colocá-los em risco. Ele admirava a calma e a perspicácia de seu parceiro veterano, mas sabia que, em situações de perigo, cada segundo e cada detalhe contavam.

Erick suspirou levemente, forçando seus pensamentos de volta ao presente. Mendes tinha razão. Preocupações e pressentimentos não adiantariam de nada se ele não estivesse totalmente focado no que estava por vir. Ele olhou para o jovem parceiro, um leve aceno de cabeça reconhecendo a sua observação.

"Você está certo, Mendes," Erick respondeu, a voz agora mais firme e concentrada. "Vamos fazer o que temos que fazer. Mas fique atento. Se algo parecer errado, confie no seu instinto."

Com essa breve troca, o clima na viatura se tornou mais tenso e focado. A sirene de outra viatura ecoou próxima, sinalizando que as equipes estavam se deslocando para o local da operação. Erick engatou a primeira marcha, e a viatura seguiu pelas ruas da cidade em direção à zona industrial, rumo ao desconhecido que os esperava no galpão abandonado. A mente de Erick ainda estava carregada de dúvidas, mas agora ele as mantinha sob controle, pronto para agir e proteger a si mesmo e ao seu parceiro no que quer que encontrassem.

A descoberta.

A zona industrial era um labirinto de prédios abandonados e armazéns escuros, salpicados por postes de luz amarelados que mal cortavam a escuridão da noite. Sirenes rasgavam o silêncio enquanto as viaturas convergiam para o galpão isolado, um monólito sombrio erguido contra o céu noturno.

Erick estacionou a viatura em uma posição estratégica, seguindo de perto a equipe de assalto da linha de frente. Os policiais, vestindo coletes balísticos e portando armas pesadas, desembarcaram com movimentos rápidos e coordenados, a tensão palpável em seus gestos. Mendes, seguindo o protocolo, preparava-se para montar o perímetro de segurança com o restante da equipe de apoio.

No entanto, o pressentimento que atormentava Erick desde a reunião se intensificou. Era uma sensação visceral, um alerta silencioso gritando em sua mente. Ignorando o plano inicial que o designava para a retaguarda, ele sentiu um impulso irresistível de seguir imediatamente atrás do esquadrão de invasão.

"Mendes, cubra a retaguarda!" Erick ordenou, sua voz urgente, antes de sair da viatura quase correndo.

Mendes o olhou com surpresa e um toque de apreensão. "Carter! O plano era..."

Mas Erick já estava avançando em direção ao galpão, sua silhueta sumindo na escuridão logo atrás da equipe de assalto que se aproximava da entrada principal. Ele podia ouvir o som abafado de vozes tensas e o clique metálico de armas sendo destravadas.

A grande porta de metal do galpão rangeu violentamente ao ser arrombada pela equipe de choque. Por uma breve fração de segundo, houve silêncio, seguido por um estouro seco e o eco distante de disparos no interior. A operação havia começado.

Erick hesitou na entrada por um instante, a adrenalina começando a circular em suas veias. O cheiro de óleo e poeira velha pairava no ar, misturado com a expectativa de perigo. Ele sabia que estava se desviando do plano, que sua atitude impulsiva poderia ser questionada depois. Mas a sensação de que algo estava terrivelmente errado o impelia para dentro da escuridão do galpão, seguindo os rastros da equipe de invasão no labirinto de sombras.

A escuridão dentro do galpão era densa, abafando os sons da operação principal. Caixas empilhadas e máquinas enferrujadas criavam um labirinto sombrio. O instinto aguçado de Erick o guiava por entre os obstáculos, separando-o da equipe de invasão que provavelmente seguiu em frente. Ele sentia que o que realmente procurava estava em outro lugar, fora do caminho óbvio.

Foi então que ele avistou a porta. Em meio à desordem e à decadência do galpão, ela destoava completamente. Feita de ferro envelhecido, estava incrustada em uma parede de tijolos desmoronando. Mas o que realmente chamou a atenção de Erick foram as inscrições que a cobriam. Símbolos intrincados e desconhecidos, diferentes de tudo que ele já havia visto, pareciam brilhar fracamente na penumbra.

Ao se aproximar da porta, uma hesitação o invadiu. Havia algo de repulsivo naquele portal, uma aura fria e sinistra que o fazia querer recuar. Era como se a própria porta estivesse emitindo um aviso silencioso.

Foi naquele exato instante, quando sua mente vacilava entre a curiosidade e a cautela, que o ataque veio. Um movimento rápido e silencioso por trás. Se não fossem seus anos de treinamento e um sexto sentido apurado, o golpe o teria derrubado. Mas Erick reagiu por puro reflexo, girando o corpo no último segundo, sentindo o ar se deslocar com a passagem de algo pesado.

Ao se virar, a figura diante dele o confrontou com uma visão grotesca. Um homem encapuzado, sua identidade oculta pelas sombras do capuz. Mas o que se revelava nas partes expostas de seu corpo era ainda mais perturbador. Cicatrizes complexas, dispostas em padrões que ecoavam os símbolos da porta, cobriam sua pele como uma segunda vestimenta. E em suas mãos, ele empunhava um machado de lâmina escura, pronto para o abate.

O silêncio opressor do galpão foi quebrado apenas pela respiração ofegante do agressor e o som metálico do machado sendo empunhado. Os olhos de Erick, estreitados em alerta máximo, percorreram a figura sinistra. Quem era aquele homem? Qual a sua ligação com os símbolos e com aquele lugar? E por que ele o atacara com tanta ferocidade?

A operação antidrogas parecia ter se transformado em algo muito mais sombrio e perigoso. Erick sabia, naquele momento, que seu pressentimento estava certo. Ele havia tropeçado em algo que as forças policiais não imaginavam encontrar.

Erick apontou imediatamente sua pistola semi-automática para o suspeito. "Polícia! Largue essa arma branca no chão e coloque as mãos na cabeça!" Sua voz ecoou firme, cortando o silêncio opressor do galpão.

O homem encapuzado, no entanto, ignorou completamente a ordem. Seus olhos fixos em Erick transmitiam uma fúria fria e determinada. Sem hesitar, ele avançou com o machado erguido em um golpe mortal. Erick reagiu por instinto, disparando dois tiros certeiros no peito do agressor. O impacto das balas deveria tê-lo derrubado, mas para a surpresa e o horror de Erick, o homem sequer vacilou. Sangue escuro borbulhava das feridas, manchando os símbolos em sua pele, mas ele continuou avançando, o olhar fixo em Erick com uma fúria animalesca.

Erick instintivamente rolou para o lado, esquivando-se do golpe violento do machado que rasgou o ar onde ele estivera segundos antes. O homem se virou com uma agilidade surpreendente para seu tamanho, desferindo um chute potente que atingiu Erick em cheio, jogando-o contra uma pilha de caixas. A dor lancinante percorreu seu corpo, mas ele se forçou a manter a arma firme, disparando mais duas vezes contra o torso do agressor. Novamente, as balas encontraram seu alvo, e mais sangue jorrou, mas o homem continuava de pé, implacável em sua investida.

Erick sabia que suas balas não estavam surtindo o efeito desejado. Aquele homem não era normal. No momento em que o agressor levantou o machado para o golpe final, a morte pairando sobre Erick na forma da lâmina sombria, um estampido seco ecoou pelo galpão. O homem encapuzado estremeceu, seus olhos arregalaram-se em surpresa antes de perderem o brilho. Um buraco escuro havia se aberto em sua testa, e seu corpo massivo desabou no chão com um baque surdo.

Atordoado e com a adrenalina pulsando em suas veias, Erick ergueu os olhos para a origem do disparo. Na penumbra do corredor, a silhueta de Charlie Mendes se destacava, a arma ainda fumegando em suas mãos. O jovem parceiro parecia pálido, mas seus olhos estavam fixos no corpo caído.

"Carter! Você está bem?" Mendes perguntou, a voz carregada de choque e alívio, aproximando-se rapidamente do parceiro caído e do corpo inerte do agressor.

Erick tossiu, sentindo a dor latejante da pancada. "Estou... estou vivo. Obrigado, Mendes. Ele... ele não caiu com os meus tiros."

Mendes observou as feridas no peito do homem, franzindo a testa em confusão. "Que diabos era aquilo? Ele aguentou quatro tiros à queima-roupa?"

Os dois policiais se aproximaram do corpo caído, examinando-o com cautela. As cicatrizes em forma de símbolos pareciam brilhar fracamente sob a luz fraca do galpão, mesmo banhadas em sangue. O machado, agora inútil, jazia ao lado do corpo.

"Eu nunca vi nada parecido," murmurou Mendes, o rosto lívido. "Parecia... invulnerável."

Erick concordou com um aceno de cabeça. O encontro com aquele homem estranho e sua resistência sobrenatural havia transformado a operação em algo completamente inesperado e perigoso. E a descoberta da porta com os símbolos misteriosos agora carregava um peso ainda maior.

A caixa.

"Não!" Erick disse com firmeza, levantando a mão para impedir que Mendes pegasse o rádio. "Não chame reforços."

Mendes o olhou incrédulo. "Como assim, Carter? Você quase morreu! Aquela coisa... aquilo não era humano. Precisamos informar o capitão, isolar essa área..."

"E tirar o foco da operação principal?" Erick retrucou, a voz tensa, mas determinada. Ele se levantou com dificuldade, apoiando-se em uma caixa. A dor do chute ainda latejava, mas a adrenalina o mantinha alerta. "Mendes, pense comigo. Viemos aqui por causa de tráfico de drogas, certo? Mas encontramos um sujeito com símbolos esquisitos e uma resistência inacreditável, guardando uma porta com inscrições que nunca vimos. Isso não faz sentido. Se chamarmos todo mundo para cá agora, essa porta e o que quer que esteja por trás dela vão virar secundário. E meu instinto me diz que o que encontramos aqui é muito mais importante."

"Mais importante que a sua vida?" Mendes questionou, a preocupação estampada no rosto.

"Minha vida já foi salva por você, Mendes. Agora precisamos descobrir o que quase a tirou," Erick respondeu, seu olhar fixo na porta de ferro. "Seja lá o que estiver acontecendo aqui, não é um simples caso de drogas. Aqueles homens que trocamos tiros antes... eles também pareciam diferentes, mais coordenados, mais... fanáticos. E aquele sujeito..." Ele fez um gesto em direção ao corpo caído. "Ele estava protegendo essa porta. Por quê?"

Mendes hesitou, debatendo internamente. A lógica de Erick era arriscada, mas havia um peso em suas palavras, uma convicção que o jovem detetive não podia ignorar. Ele também sentira que havia algo estranho naquela operação desde o início.

"Mas e se tiver mais deles lá dentro?" Mendes perguntou, olhando apreensivamente para a porta. "E se for perigoso demais para nós dois?"

"É perigoso," Erick admitiu. "Mas se esperarmos reforços, quem sabe o que podemos perder? Ou o que pode sair dali? Vamos dar uma olhada rápida. Só uma olhada. Se virmos algo que não podemos lidar, recuamos e chamamos o apoio. Mas precisamos saber o que está acontecendo aqui."

Após alguns segundos de hesitação, Mendes suspirou, rendendo-se à lógica sombria do parceiro. "Tudo bem, Carter. Mas se algo der errado, eu ligo para o capitão, você querendo ou não."

Erick assentiu com um leve sorriso. "Justo."

Com cautela, os dois policiais se aproximaram da misteriosa porta de ferro. As inscrições entalhadas pareciam observá-los na penumbra. O ar ao redor da porta estava ainda mais frio, carregado de uma estática quase palpável.

"E agora?" Mendes sussurrou, olhando para Erick. "Como abrimos isso?"

Erick examinou a porta em busca de maçanetas ou dobradiças visíveis. Não havia nada. A porta parecia selada, como se fosse parte integrante da própria parede. Os símbolos entalhados eram a única característica distintiva.

"Não sei," Erick admitiu, passando a mão pela superfície fria do metal. "Mas vamos descobrir."

Mendes, impaciente com a hesitação de Erick diante do inexplicável, estendeu a mão em direção à porta de ferro. No instante em que seus dedos tocaram a superfície fria e áspera, algo surpreendente aconteceu. Os intrincados símbolos entalhados na porta se acenderam com uma luz pálida e pulsante, como se uma corrente de energia invisível percorresse seus sulcos. Com um suave clique, a porta rangeu e se abriu lentamente, revelando o interior escuro.

Erick observou o fenômeno com os olhos arregalados, perplexo. "O que... como você fez isso, Mendes?"

O jovem detetive parecia tão surpreso quanto ele. "Eu não sei, Carter. Eu só toquei... e ela abriu." Ele olhou para as próprias mãos, como se esperasse encontrar alguma explicação mágica ali.

Cautelosamente, os dois policiais atravessaram o umbral. A sala era pequena e circular, com paredes de pedra fria e úmida. No centro, um grande pentagrama estava gravado no chão, suas linhas preenchidas com escrituras e outros símbolos antigos que ecoavam os da porta e do corpo do homem que os atacou. E bem no centro do pentagrama, repousava uma caixa de aproximadamente trinta centímetros cúbicos. Era feita de um material escuro e desconhecido, e sua superfície era coberta por entalhes intrincados, semelhantes aos da porta, mas dispostos de forma ainda mais complexa. Uma antiga escritura, em uma língua que nenhum dos dois reconheceu, adornava uma das faces da caixa.

Erick sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A atmosfera da sala era opressora, carregada de uma energia estranha e sinistra. Ele hesitou, observando o pentagrama e a caixa com crescente apreensão. "Isso... isso é insano, Mendes. O que diabos encontramos aqui?"

A paciência de Mendes, já testada pelos eventos bizarros, finalmente se esgotou. "Eu não sei, Carter, e sinceramente, não quero saber! Isso parece cena de filme de terror, e nos filmes de terror, quem fica curioso geralmente morre. Vamos sair daqui e chamar reforços!"

Mas a curiosidade e o instinto policial de Erick o mantinham paralisado. Ele precisava entender o que tudo aquilo significava. "Não, espere. Precisamos ver o que tem dentro da caixa." Ele deu um passo hesitante em direção ao pentagrama.

"Nem pense nisso!" Mendes exclamou, agarrando o braço de Erick. "Você viu o que aconteceu com aquele cara lá fora! Não toque nessa coisa!" Preocupado com a segurança do parceiro, e determinado a impedir que ele cometesse o que considerava um erro fatal, Mendes se colocou à frente de Erick e, antes que o detetive mais velho pudesse reagir, estendeu a mão e tocou a caixa.

No instante em que os dedos de Mendes fizeram contato com a superfície da caixa, um brilho intenso emanou dela, preenchendo a sala com uma luz ofuscante. Simultaneamente, todos os símbolos gravados no chão, nas paredes e na própria caixa ganharam vida, pulsando com uma energia incandescente. Feixes de luz emanaram dos símbolos, penetrando a pele de Mendes como agulhas flamejantes.

O corpo do jovem detetive começou a brilhar intensamente por dentro, os contornos dos símbolos agora visíveis sob sua pele, movendo-se como tatuagens de luz. Um grito lancinante escapou de seus lábios enquanto ele se contorcia no chão, as mãos agarrando o próprio corpo em uma agonia indescritível. Os símbolos, que antes adornavam o ambiente, agora estavam aprisionados dentro dele, consumindo-o por dentro.

Erick observava a cena com horror paralisante, impotente diante da transformação grotesca de seu parceiro. O brilho diminuiu gradualmente, revelando Mendes retorcendo-se em espasmos violentos, o corpo marcado por uma teia de símbolos luminosos que pareciam queimar sua carne por dentro.

A cena de Mendes se contorcendo, o corpo incandescente sob a dança dos símbolos, finalmente quebrou o torpor de Erick. O horror deu lugar à urgência. Ele pegou o rádio com as mãos trêmulas e chamou por reforços, a voz embargada pela incredulidade e pelo medo.

"Precisamos de assistência médica urgente! Policial ferido... não, algo muito estranho aconteceu aqui! Galpão na zona industrial, entrada principal! Rápido!"

A voz do outro lado do rádio soou confusa e preocupada, pedindo detalhes. Erick tentou explicar, as palavras atropelando-se umas às outras, descrevendo a criatura, os símbolos, a transformação de Mendes. Houve um silêncio incrédulo do outro lado da linha antes da confirmação de que as equipes estavam a caminho.

Em pouco tempo, o som de sirenes se aproximou, e o galpão foi invadido por policiais e paramédicos. Entre eles, Erick viu o rosto familiar de Andressa, uma paramédica enérgica com quem havia trabalhado em diversas ocorrências. Seus olhos castanhos se arregalaram ao ver a cena, o corpo de Mendes ainda convulsionando sobre o pentagrama apagado, os símbolos luminosos enfraquecendo sob sua pele.

"Erick! Meu Deus, o que aconteceu aqui?" Andressa perguntou, aproximando-se com a sua equipe.

Erick tentou explicar novamente, apontando para o local onde o homem encapuzado jazia morto, descrevendo a porta, a caixa. Andressa o ouviu com uma expressão cada vez mais incrédula e preocupada.

"Você está me dizendo que ele tocou essa caixa e começou a brilhar? Erick, você está bem? Talvez precise de atendimento também." A repreensão em sua voz era clara, misturada com a preocupação de uma amiga. "Você sabe que não pode sair do protocolo assim! Colocou seu parceiro em risco!"

Erick abaixou a cabeça, sabendo que ela tinha razão, mas sentindo que havia algo muito maior em jogo. Mendes, ainda em agonia, foi cuidadosamente colocado em uma maca e levado para a ambulância, os policiais observando a cena bizarra com olhares perplexos e sussurros incrédulos.

Quando o foco da emergência se afastou de Mendes, Erick voltou seus olhos para o centro da sala. O pentagrama gravado no chão parecia agora apenas um desenho apagado na pedra empoeirada. E a caixa... a caixa estava completamente lisa. O metal escuro não exibia mais nenhum dos intrincados símbolos que tanto o haviam perturbado. Era como se nunca tivessem existido.

Aquele desaparecimento repentino atiçou ainda mais a curiosidade de Erick. Apesar do choque, do medo e da repreensão de Andressa, ele sentia que havia desvendado apenas a ponta de um iceberg de mistérios muito mais profundos e perigosos.

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