"Não!" Erick disse com firmeza, levantando a mão para impedir que Mendes pegasse o rádio. "Não chame reforços."
Mendes o olhou incrédulo. "Como assim, Carter? Você quase morreu! Aquela coisa... aquilo não era humano. Precisamos informar o capitão, isolar essa área..."
"E tirar o foco da operação principal?" Erick retrucou, a voz tensa, mas determinada. Ele se levantou com dificuldade, apoiando-se em uma caixa. A dor do chute ainda latejava, mas a adrenalina o mantinha alerta. "Mendes, pense comigo. Viemos aqui por causa de tráfico de drogas, certo? Mas encontramos um sujeito com símbolos esquisitos e uma resistência inacreditável, guardando uma porta com inscrições que nunca vimos. Isso não faz sentido. Se chamarmos todo mundo para cá agora, essa porta e o que quer que esteja por trás dela vão virar secundário. E meu instinto me diz que o que encontramos aqui é muito mais importante."
"Mais importante que a sua vida?" Mendes questionou, a preocupação estampada no rosto.
"Minha vida já foi salva por você, Mendes. Agora precisamos descobrir o que quase a tirou," Erick respondeu, seu olhar fixo na porta de ferro. "Seja lá o que estiver acontecendo aqui, não é um simples caso de drogas. Aqueles homens que trocamos tiros antes... eles também pareciam diferentes, mais coordenados, mais... fanáticos. E aquele sujeito..." Ele fez um gesto em direção ao corpo caído. "Ele estava protegendo essa porta. Por quê?"
Mendes hesitou, debatendo internamente. A lógica de Erick era arriscada, mas havia um peso em suas palavras, uma convicção que o jovem detetive não podia ignorar. Ele também sentira que havia algo estranho naquela operação desde o início.
"Mas e se tiver mais deles lá dentro?" Mendes perguntou, olhando apreensivamente para a porta. "E se for perigoso demais para nós dois?"
"É perigoso," Erick admitiu. "Mas se esperarmos reforços, quem sabe o que podemos perder? Ou o que pode sair dali? Vamos dar uma olhada rápida. Só uma olhada. Se virmos algo que não podemos lidar, recuamos e chamamos o apoio. Mas precisamos saber o que está acontecendo aqui."
Após alguns segundos de hesitação, Mendes suspirou, rendendo-se à lógica sombria do parceiro. "Tudo bem, Carter. Mas se algo der errado, eu ligo para o capitão, você querendo ou não."
Erick assentiu com um leve sorriso. "Justo."
Com cautela, os dois policiais se aproximaram da misteriosa porta de ferro. As inscrições entalhadas pareciam observá-los na penumbra. O ar ao redor da porta estava ainda mais frio, carregado de uma estática quase palpável.
"E agora?" Mendes sussurrou, olhando para Erick. "Como abrimos isso?"
Erick examinou a porta em busca de maçanetas ou dobradiças visíveis. Não havia nada. A porta parecia selada, como se fosse parte integrante da própria parede. Os símbolos entalhados eram a única característica distintiva.
"Não sei," Erick admitiu, passando a mão pela superfície fria do metal. "Mas vamos descobrir."
Mendes, impaciente com a hesitação de Erick diante do inexplicável, estendeu a mão em direção à porta de ferro. No instante em que seus dedos tocaram a superfície fria e áspera, algo surpreendente aconteceu. Os intrincados símbolos entalhados na porta se acenderam com uma luz pálida e pulsante, como se uma corrente de energia invisível percorresse seus sulcos. Com um suave clique, a porta rangeu e se abriu lentamente, revelando o interior escuro.
Erick observou o fenômeno com os olhos arregalados, perplexo. "O que... como você fez isso, Mendes?"
O jovem detetive parecia tão surpreso quanto ele. "Eu não sei, Carter. Eu só toquei... e ela abriu." Ele olhou para as próprias mãos, como se esperasse encontrar alguma explicação mágica ali.
Cautelosamente, os dois policiais atravessaram o umbral. A sala era pequena e circular, com paredes de pedra fria e úmida. No centro, um grande pentagrama estava gravado no chão, suas linhas preenchidas com escrituras e outros símbolos antigos que ecoavam os da porta e do corpo do homem que os atacou. E bem no centro do pentagrama, repousava uma caixa de aproximadamente trinta centímetros cúbicos. Era feita de um material escuro e desconhecido, e sua superfície era coberta por entalhes intrincados, semelhantes aos da porta, mas dispostos de forma ainda mais complexa. Uma antiga escritura, em uma língua que nenhum dos dois reconheceu, adornava uma das faces da caixa.
Erick sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A atmosfera da sala era opressora, carregada de uma energia estranha e sinistra. Ele hesitou, observando o pentagrama e a caixa com crescente apreensão. "Isso... isso é insano, Mendes. O que diabos encontramos aqui?"
A paciência de Mendes, já testada pelos eventos bizarros, finalmente se esgotou. "Eu não sei, Carter, e sinceramente, não quero saber! Isso parece cena de filme de terror, e nos filmes de terror, quem fica curioso geralmente morre. Vamos sair daqui e chamar reforços!"
Mas a curiosidade e o instinto policial de Erick o mantinham paralisado. Ele precisava entender o que tudo aquilo significava. "Não, espere. Precisamos ver o que tem dentro da caixa." Ele deu um passo hesitante em direção ao pentagrama.
"Nem pense nisso!" Mendes exclamou, agarrando o braço de Erick. "Você viu o que aconteceu com aquele cara lá fora! Não toque nessa coisa!" Preocupado com a segurança do parceiro, e determinado a impedir que ele cometesse o que considerava um erro fatal, Mendes se colocou à frente de Erick e, antes que o detetive mais velho pudesse reagir, estendeu a mão e tocou a caixa.
No instante em que os dedos de Mendes fizeram contato com a superfície da caixa, um brilho intenso emanou dela, preenchendo a sala com uma luz ofuscante. Simultaneamente, todos os símbolos gravados no chão, nas paredes e na própria caixa ganharam vida, pulsando com uma energia incandescente. Feixes de luz emanaram dos símbolos, penetrando a pele de Mendes como agulhas flamejantes.
O corpo do jovem detetive começou a brilhar intensamente por dentro, os contornos dos símbolos agora visíveis sob sua pele, movendo-se como tatuagens de luz. Um grito lancinante escapou de seus lábios enquanto ele se contorcia no chão, as mãos agarrando o próprio corpo em uma agonia indescritível. Os símbolos, que antes adornavam o ambiente, agora estavam aprisionados dentro dele, consumindo-o por dentro.
Erick observava a cena com horror paralisante, impotente diante da transformação grotesca de seu parceiro. O brilho diminuiu gradualmente, revelando Mendes retorcendo-se em espasmos violentos, o corpo marcado por uma teia de símbolos luminosos que pareciam queimar sua carne por dentro.
A cena de Mendes se contorcendo, o corpo incandescente sob a dança dos símbolos, finalmente quebrou o torpor de Erick. O horror deu lugar à urgência. Ele pegou o rádio com as mãos trêmulas e chamou por reforços, a voz embargada pela incredulidade e pelo medo.
"Precisamos de assistência médica urgente! Policial ferido... não, algo muito estranho aconteceu aqui! Galpão na zona industrial, entrada principal! Rápido!"
A voz do outro lado do rádio soou confusa e preocupada, pedindo detalhes. Erick tentou explicar, as palavras atropelando-se umas às outras, descrevendo a criatura, os símbolos, a transformação de Mendes. Houve um silêncio incrédulo do outro lado da linha antes da confirmação de que as equipes estavam a caminho.
Em pouco tempo, o som de sirenes se aproximou, e o galpão foi invadido por policiais e paramédicos. Entre eles, Erick viu o rosto familiar de Andressa, uma paramédica enérgica com quem havia trabalhado em diversas ocorrências. Seus olhos castanhos se arregalaram ao ver a cena, o corpo de Mendes ainda convulsionando sobre o pentagrama apagado, os símbolos luminosos enfraquecendo sob sua pele.
"Erick! Meu Deus, o que aconteceu aqui?" Andressa perguntou, aproximando-se com a sua equipe.
Erick tentou explicar novamente, apontando para o local onde o homem encapuzado jazia morto, descrevendo a porta, a caixa. Andressa o ouviu com uma expressão cada vez mais incrédula e preocupada.
"Você está me dizendo que ele tocou essa caixa e começou a brilhar? Erick, você está bem? Talvez precise de atendimento também." A repreensão em sua voz era clara, misturada com a preocupação de uma amiga. "Você sabe que não pode sair do protocolo assim! Colocou seu parceiro em risco!"
Erick abaixou a cabeça, sabendo que ela tinha razão, mas sentindo que havia algo muito maior em jogo. Mendes, ainda em agonia, foi cuidadosamente colocado em uma maca e levado para a ambulância, os policiais observando a cena bizarra com olhares perplexos e sussurros incrédulos.
Quando o foco da emergência se afastou de Mendes, Erick voltou seus olhos para o centro da sala. O pentagrama gravado no chão parecia agora apenas um desenho apagado na pedra empoeirada. E a caixa... a caixa estava completamente lisa. O metal escuro não exibia mais nenhum dos intrincados símbolos que tanto o haviam perturbado. Era como se nunca tivessem existido.
Aquele desaparecimento repentino atiçou ainda mais a curiosidade de Erick. Apesar do choque, do medo e da repreensão de Andressa, ele sentia que havia desvendado apenas a ponta de um iceberg de mistérios muito mais profundos e perigosos.
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Atualizado até capítulo 42
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