A descoberta.

A zona industrial era um labirinto de prédios abandonados e armazéns escuros, salpicados por postes de luz amarelados que mal cortavam a escuridão da noite. Sirenes rasgavam o silêncio enquanto as viaturas convergiam para o galpão isolado, um monólito sombrio erguido contra o céu noturno.

Erick estacionou a viatura em uma posição estratégica, seguindo de perto a equipe de assalto da linha de frente. Os policiais, vestindo coletes balísticos e portando armas pesadas, desembarcaram com movimentos rápidos e coordenados, a tensão palpável em seus gestos. Mendes, seguindo o protocolo, preparava-se para montar o perímetro de segurança com o restante da equipe de apoio.

No entanto, o pressentimento que atormentava Erick desde a reunião se intensificou. Era uma sensação visceral, um alerta silencioso gritando em sua mente. Ignorando o plano inicial que o designava para a retaguarda, ele sentiu um impulso irresistível de seguir imediatamente atrás do esquadrão de invasão.

"Mendes, cubra a retaguarda!" Erick ordenou, sua voz urgente, antes de sair da viatura quase correndo.

Mendes o olhou com surpresa e um toque de apreensão. "Carter! O plano era..."

Mas Erick já estava avançando em direção ao galpão, sua silhueta sumindo na escuridão logo atrás da equipe de assalto que se aproximava da entrada principal. Ele podia ouvir o som abafado de vozes tensas e o clique metálico de armas sendo destravadas.

A grande porta de metal do galpão rangeu violentamente ao ser arrombada pela equipe de choque. Por uma breve fração de segundo, houve silêncio, seguido por um estouro seco e o eco distante de disparos no interior. A operação havia começado.

Erick hesitou na entrada por um instante, a adrenalina começando a circular em suas veias. O cheiro de óleo e poeira velha pairava no ar, misturado com a expectativa de perigo. Ele sabia que estava se desviando do plano, que sua atitude impulsiva poderia ser questionada depois. Mas a sensação de que algo estava terrivelmente errado o impelia para dentro da escuridão do galpão, seguindo os rastros da equipe de invasão no labirinto de sombras.

A escuridão dentro do galpão era densa, abafando os sons da operação principal. Caixas empilhadas e máquinas enferrujadas criavam um labirinto sombrio. O instinto aguçado de Erick o guiava por entre os obstáculos, separando-o da equipe de invasão que provavelmente seguiu em frente. Ele sentia que o que realmente procurava estava em outro lugar, fora do caminho óbvio.

Foi então que ele avistou a porta. Em meio à desordem e à decadência do galpão, ela destoava completamente. Feita de ferro envelhecido, estava incrustada em uma parede de tijolos desmoronando. Mas o que realmente chamou a atenção de Erick foram as inscrições que a cobriam. Símbolos intrincados e desconhecidos, diferentes de tudo que ele já havia visto, pareciam brilhar fracamente na penumbra.

Ao se aproximar da porta, uma hesitação o invadiu. Havia algo de repulsivo naquele portal, uma aura fria e sinistra que o fazia querer recuar. Era como se a própria porta estivesse emitindo um aviso silencioso.

Foi naquele exato instante, quando sua mente vacilava entre a curiosidade e a cautela, que o ataque veio. Um movimento rápido e silencioso por trás. Se não fossem seus anos de treinamento e um sexto sentido apurado, o golpe o teria derrubado. Mas Erick reagiu por puro reflexo, girando o corpo no último segundo, sentindo o ar se deslocar com a passagem de algo pesado.

Ao se virar, a figura diante dele o confrontou com uma visão grotesca. Um homem encapuzado, sua identidade oculta pelas sombras do capuz. Mas o que se revelava nas partes expostas de seu corpo era ainda mais perturbador. Cicatrizes complexas, dispostas em padrões que ecoavam os símbolos da porta, cobriam sua pele como uma segunda vestimenta. E em suas mãos, ele empunhava um machado de lâmina escura, pronto para o abate.

O silêncio opressor do galpão foi quebrado apenas pela respiração ofegante do agressor e o som metálico do machado sendo empunhado. Os olhos de Erick, estreitados em alerta máximo, percorreram a figura sinistra. Quem era aquele homem? Qual a sua ligação com os símbolos e com aquele lugar? E por que ele o atacara com tanta ferocidade?

A operação antidrogas parecia ter se transformado em algo muito mais sombrio e perigoso. Erick sabia, naquele momento, que seu pressentimento estava certo. Ele havia tropeçado em algo que as forças policiais não imaginavam encontrar.

Erick apontou imediatamente sua pistola semi-automática para o suspeito. "Polícia! Largue essa arma branca no chão e coloque as mãos na cabeça!" Sua voz ecoou firme, cortando o silêncio opressor do galpão.

O homem encapuzado, no entanto, ignorou completamente a ordem. Seus olhos fixos em Erick transmitiam uma fúria fria e determinada. Sem hesitar, ele avançou com o machado erguido em um golpe mortal. Erick reagiu por instinto, disparando dois tiros certeiros no peito do agressor. O impacto das balas deveria tê-lo derrubado, mas para a surpresa e o horror de Erick, o homem sequer vacilou. Sangue escuro borbulhava das feridas, manchando os símbolos em sua pele, mas ele continuou avançando, o olhar fixo em Erick com uma fúria animalesca.

Erick instintivamente rolou para o lado, esquivando-se do golpe violento do machado que rasgou o ar onde ele estivera segundos antes. O homem se virou com uma agilidade surpreendente para seu tamanho, desferindo um chute potente que atingiu Erick em cheio, jogando-o contra uma pilha de caixas. A dor lancinante percorreu seu corpo, mas ele se forçou a manter a arma firme, disparando mais duas vezes contra o torso do agressor. Novamente, as balas encontraram seu alvo, e mais sangue jorrou, mas o homem continuava de pé, implacável em sua investida.

Erick sabia que suas balas não estavam surtindo o efeito desejado. Aquele homem não era normal. No momento em que o agressor levantou o machado para o golpe final, a morte pairando sobre Erick na forma da lâmina sombria, um estampido seco ecoou pelo galpão. O homem encapuzado estremeceu, seus olhos arregalaram-se em surpresa antes de perderem o brilho. Um buraco escuro havia se aberto em sua testa, e seu corpo massivo desabou no chão com um baque surdo.

Atordoado e com a adrenalina pulsando em suas veias, Erick ergueu os olhos para a origem do disparo. Na penumbra do corredor, a silhueta de Charlie Mendes se destacava, a arma ainda fumegando em suas mãos. O jovem parceiro parecia pálido, mas seus olhos estavam fixos no corpo caído.

"Carter! Você está bem?" Mendes perguntou, a voz carregada de choque e alívio, aproximando-se rapidamente do parceiro caído e do corpo inerte do agressor.

Erick tossiu, sentindo a dor latejante da pancada. "Estou... estou vivo. Obrigado, Mendes. Ele... ele não caiu com os meus tiros."

Mendes observou as feridas no peito do homem, franzindo a testa em confusão. "Que diabos era aquilo? Ele aguentou quatro tiros à queima-roupa?"

Os dois policiais se aproximaram do corpo caído, examinando-o com cautela. As cicatrizes em forma de símbolos pareciam brilhar fracamente sob a luz fraca do galpão, mesmo banhadas em sangue. O machado, agora inútil, jazia ao lado do corpo.

"Eu nunca vi nada parecido," murmurou Mendes, o rosto lívido. "Parecia... invulnerável."

Erick concordou com um aceno de cabeça. O encontro com aquele homem estranho e sua resistência sobrenatural havia transformado a operação em algo completamente inesperado e perigoso. E a descoberta da porta com os símbolos misteriosos agora carregava um peso ainda maior.

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Comments

MarceloSousa

MarceloSousa

o cara era aprova de bala, menos na testa

2025-05-02

2

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