Sombras do Coração
O carro deslizou lentamente pela estrada de terra, levantando uma névoa marrom atrás de nós. A cada metro que avançávamos, o mundo parecia se afastar mais da realidade. Árvores retorcidas margeavam o caminho como sentinelas silenciosas, e um frio incômodo subia pelas minhas costas, mesmo com o vidro fechado.
Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade. O testamento havia sido claro: a Mansão Blackthorn era minha agora. Mas ninguém me preparou para a sensação sufocante que tomou conta de mim assim que passei pelos portões de ferro enferrujado.
— Chegamos. — disse o motorista, sem olhar para mim.
A mansão surgiu à frente, imponente, escura, com torres que rasgavam o céu cinzento. Um verdadeiro monumento ao abandono e à decadência. As janelas pareciam olhos vazios me observando. Engoli em seco, sentindo uma estranha vontade de pedir para dar meia-volta.
Mas já era tarde demais para recuar.
Desci do carro, meus sapatos afundando ligeiramente na terra úmida. O cheiro de mofo e folhas apodrecidas preenchia o ar. Com a mão trêmula, ajustei o casaco sobre os ombros e caminhei até a porta principal.
Antes que eu pudesse bater, ela se abriu sozinha com um rangido assustador.
E então eu o vi.
De pé na entrada, como uma sombra viva, estava Dorian Blackthorn. Alto, vestindo preto dos pés à cabeça, os olhos azuis tão frios quanto o vento da manhã. Ele não sorriu. Nem sequer se moveu. Apenas me observava, como se estivesse avaliando se eu era digna de estar ali.
— Isadora Blackthorn. — disse ele, a voz baixa e grave.
— Sou eu. — respondi, tentando manter a postura.
Ele assentiu levemente, sem demonstrar qualquer emoção, e deu um passo para o lado, abrindo passagem para mim. Seu gesto era cortês, mas havia algo de predatório em sua presença que fez minha pele arrepiar.
Atravessei a porta com cautela, sentindo o peso invisível da casa cair sobre mim. O saguão era vasto, decorado com móveis antigos e tapeçarias desbotadas. Uma escadaria de madeira escura dominava o centro, levando a andares superiores mergulhados em sombras.
— Seu quarto está pronto. — disse ele, já caminhando à frente sem esperar resposta. — No terceiro andar. À direita.
Eu o segui em silêncio, observando o jeito como seus passos eram firmes, quase silenciosos. Como se ele fosse parte da mansão tanto quanto as pedras das paredes.
Quando chegamos ao corredor principal, Dorian parou diante de uma porta pesada.
— Se precisar de algo, chame. — disse, olhando-me de relance. — Mas saiba que esta casa guarda segredos. E nem todos eles gostam de ser despertados.
Antes que eu pudesse perguntar o que aquilo significava, ele se virou e desapareceu no corredor, deixando-me sozinha diante da porta.
Respirei fundo novamente, girando a maçaneta com hesitação.
O quarto era grande, com móveis antigos e uma lareira apagada. No centro, um espelho imenso refletia a luz fraca que entrava pela janela, criando sombras estranhas nas paredes.
Fechei a porta atrás de mim, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. Eu não sabia exatamente o que me aguardava ali.
Mas algo me dizia que Dorian Blackthorn era só o começo.
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Atualizado até capítulo 31
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