Capítulo 2- Café Amargo

Café Amargo.

Acordei com a luz fraca entrando pelas frestas da cortina. Por um momento, não reconheci o quarto. As paredes altas, o mobiliário antigo, o cheiro de madeira envelhecida. Então me lembrei: Mansão Blackthorn. Herança de um pai que nunca conheci. Começo de algo que eu ainda não conseguia nomear.

Sentei-me na cama, ouvindo passos no andar de baixo. Passos firmes, decididos. Dorian. Era como se ele não apenas andasse pela casa, mas como se ela se movesse ao redor dele.

Levantei devagar e troquei de roupa. Um vestido simples, confortável. Não sabia que tipo de rotina esperava por mim ali, mas algo me dizia que conforto seria um luxo raro.

Ao descer as escadas, encontrei Dorian na cozinha. Ele preparava café, os movimentos precisos demais para alguém comum. Vestia uma camisa preta, as mangas dobradas até os cotovelos. Não me olhou. Não disse nada.

— Bom dia. — falei, quebrando o silêncio.

— Café está pronto. — respondeu, ainda de costas.

Fiquei parada por um instante, esperando por alguma cortesia, algum gesto que indicasse que ele lembrava que eu era uma visita — ou ao menos alguém que dividia o mesmo teto. Mas não houve nada. Apenas o cheiro forte do café recém-passado.

— Dormiu bem? — arrisquei.

— Suficiente. — ele respondeu, finalmente me lançando um olhar. Seus olhos eram frios, como se medisse cada palavra antes de dizê-la. — E você?

— O colchão é antigo, mas... deu para descansar.

Ele entregou uma xícara para mim, sem encostar em minha mão. A porcelana estava quente. O gesto, distante.

— Pensei em conhecer a casa hoje. — disse, soprando o vapor do café.

— A casa não vai mudar. Está do jeito que foi deixada. — respondeu. — E há partes que não valem a pena.

— E quem decide isso? Você?

Ele ergueu a sobrancelha, como se minha ousadia o divertisse por um segundo. Mas não respondeu. Em vez disso, se virou e tomou um gole do próprio café, de pé, encostado na bancada.

— O que exatamente você faz aqui, Dorian? — perguntei.

— Cuido da casa. Protejo o que deve ser protegido.

— De mim?

— De tudo.

A resposta me irritou mais do que deveria. Havia algo nele que me provocava, mas não no sentido romântico. Era como lidar com um quebra-cabeça que não queria ser montado. Um muro erguido com palavras e silêncios.

Deixei a xícara sobre a pia com mais força do que pretendia.

— Ótimo. Então continue cuidando.

Saí da cozinha, ignorando o olhar dele em minhas costas. Se Dorian achava que podia me afastar com palavras enigmáticas e um charme frio, estava enganado.

Eu não estava ali para agradá-lo.

E quanto mais ele tentava me manter distante, mais eu queria entender o que, exatamente, ele escondia.

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