O Primeiro Confronto
A manhã seguinte amanheceu cinzenta, o céu pesado como chumbo. O frio parecia ter invadido a casa, se enroscando nos corredores e nos quartos, tornando cada passo mais difícil de dar. Não dormi quase nada, assombrada pela sensação de que, a qualquer momento, alguma coisa sairia das sombras.
Vesti um suéter grosso e desci para o café, esperando encontrar a mesa vazia, como de costume. Mas, dessa vez, Dorian já estava lá. Sentado à cabeceira da longa mesa de madeira, ele tomava café de maneira metódica, como se fosse mais um hábito do que um prazer.
Hesitei na porta, e ele ergueu os olhos lentamente, me encarando sem dizer uma palavra.
— Bom dia — murmurei, tentando soar indiferente.
— Você não dormiu bem. — não era uma pergunta.
Parei, sem saber se deveria confirmar ou negar.
Ele parecia saber demais.
— Tive alguns... sonhos estranhos. — admiti, caminhando até a outra ponta da mesa.
Ele apoiou a xícara no pires com um estalo leve, inclinando-se para frente.
— Não foram sonhos.
Meu corpo enrijeceu. Cada instinto me gritava para perguntar, mas minha boca hesitava. Dorian me olhava como se pesasse cada palavra antes de liberá-la, como se qualquer descuido pudesse quebrar algo invisível entre nós.
— Você vai continuar falando em enigmas? — rebati, a voz saindo mais afiada do que eu pretendia.
Um leve sorriso curvou os lábios dele — não de humor, mas de provocação.
— Às vezes, a ignorância é um presente, Isadora.
Meu nome nos lábios dele teve um efeito estranho. Um arrepio percorreu minha espinha, mas eu não desviei o olhar.
— Eu não pedi presentes. — retruquei, cruzando os braços.
Por um segundo, o ambiente pareceu mais denso, como se o ar entre nós se condensasse. Dorian se levantou lentamente, a cadeira rangendo no silêncio. Ele caminhou em minha direção, e, mesmo sem querer, dei um passo para trás.
Ele notou. E parou a poucos centímetros de mim.
Seu cheiro era uma mistura de café, madeira e algo indefinível — algo masculino e perigoso.
— Talvez devesse ter pedido. — sussurrou.
Meu coração batia forte, pulsando nas têmporas. O olhar dele era tão intenso que era difícil respirar.
— O que está acontecendo nesta casa? — perguntei, minha voz firme, apesar da tensão que me invadia.
Dorian passou a mão pelo cabelo, como se lutasse contra uma decisão interna. Quando respondeu, sua voz estava mais baixa.
— Esta casa é viva. Ela sente. E escolheu você.
Eu ri, nervosamente.
— Escolheu? Para quê?
Ele se aproximou ainda mais, e por um instante, pensei que fosse tocar meu rosto. Mas sua mão parou no ar, hesitante, antes de cair ao lado do corpo.
— Algumas respostas... — disse, a voz carregada de algo sombrio — podem ser mais perigosas do que você imagina.
— E ainda assim, eu quero saber. — desafiei.
Por um segundo, vi algo quebrar no olhar dele. Uma rachadura no controle frio. Um desejo mal contido, uma raiva, uma dor... tudo misturado.
Dorian se afastou abruptamente, como se o próprio corpo dele estivesse em guerra.
— Então, esteja preparada para ouvir. — murmurou, antes de sair da sala sem olhar para trás.
Fiquei ali, com o coração batendo tão rápido que parecia fora de controle, sabendo, no fundo, que nada seria simples daquele momento em diante.
E que, de alguma forma, eu já estava presa a ele.
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Atualizado até capítulo 31
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