Cale-se/Me Cale (Yaoi)
Um cara irritante
Quem diria que um simples "Cala a boca" poderia complicar tanto as coisas durante uma missão? Normalmente, sou eu quem gosta de ser irritante, é meu passatempo favorito. Assim, eu me certifico de não me envolver com os outros agentes da agência, mas não imaginava que seria beijado depois de ter dito "cala a boca" no meio de uma discussão.
Meu nome é Ethan, trabalho para uma agência privada especializada em espionagem e minha favorita, embora não seja oficial, é a caça a recompensas. Do meu ponto de vista, é incrível caçar caras que acham que são intocáveis. Além disso, sempre é terapêutico bater em alguém durante uma missão, ou pelo menos em uns dois deles.
Há uns dias, recebi a missão de encontrar um omega, aparentemente filho de um empresário multimilionário que vai dar uma recompensa bem generosa se encontrarem o filho dele. Como a minha agência foi contratada por esse cara, me deram a missão de encontrá-lo, mas havia outros caras encarregados de uma missão parecida.
Meu objetivo é resgatar o garoto, enquanto o objetivo de outra organização é matá-lo. A gente ainda não entendeu qual a importância desse cara. Ele é só mais um filho de empresário, mas o fato de quem o sequestrou ter se dado tanto trabalho para pegá-lo é, sem dúvida, curioso.
O normal seria sequestrar, pedir a recompensa e devolvê-lo, mas nessa missão eles tomaram tantas precauções só para sequestrá-lo. Eles não têm intenção de devolvê-lo, então, provavelmente, tem algo pessoal envolvido. Ou o garoto se meteu com quem não devia, ou o pai dele subestimou gente muito perigosa.
O pior é que a agência onde eu trabalho mandou vários agentes atrás dele, mas não contou que a gente ia acabar se atrapalhando. Todo mundo é muito competitivo, todo mundo quer completar a missão, mas só um vai conseguir. Então, fomos reunidos em uma sala de conferências onde nosso chefe nos passou todos os detalhes da missão.
A frase de inspiração dele foi "que vença o melhor", e claramente todo mundo queria ser o melhor agente. É divertido ver a cara de raiva dos outros quando você tem algo que eles não têm, mas o que eu não esperava era ouvir um "vão trabalhar em dupla" justo quando pensávamos que já podíamos ir embora.
Nesse momento, todos nós viramos pra encarar o chefe, ninguém estava de acordo com isso e o pior é que ele sabia disso, porque ficava fingindo que estava lendo uns papéis, todo nervoso.
A agência, como todas, é dividida em seções, cada uma com suas regras. Por exemplo, tem agentes de nível inferior que trabalham em dupla e a recompensa é dividida, enquanto no nosso nível a gente pode trabalhar sozinho e ficar com a recompensa inteira. Claro que todos tentamos nos opor, quase todo mundo tentou fazer o chefe mudar de ideia, mas ele disse que a decisão já estava tomada.
Meu parceiro é o Miller, um cara complicado, a gente não se dá bem. Estamos sempre nos insultando ou irritando um ao outro. Uma vez, nossas missões coincidiram, eu estava no mesmo lugar que ele, então eu denunciei a posição dele e uns caras armados foram atrás dele, deixando o caminho livre pra mim terminar minha missão. Eram missões diferentes, mas como falei, coincidimos no mesmo lugar.
Eu só queria me vingar, porque numa missão anterior, ele destruiu meu carro. Eu vi vários milhões indo pro saco em questão de segundos, enquanto ele comia pipoca, assistindo a "obra-prima" dele com orgulho. Desde então, toda vez que eu entro num carro, eu me certifico de que não tem bomba nele. E ele faz a mesma coisa, porque também destrui o carro dele, mas esperei ele comprar um novo, assim ele sentiu a dor em dobro do que eu senti quando perdi meu carro favorito.
Trabalhei meses pra conseguir isso, me esforcei pra caramba, mas ele, em questão de segundos, destruiu todo o meu esforço e praticamente queimou todo o meu dinheiro.
Allan Miller é um alfa irritante, mas é gato e vive se aproveitando disso. O cabelo dele é castanho-escuro, e os olhos, cor de ametista — o que é bem raro, aliás. E eu odeio o fato dele ser cinco centímetros mais alto que eu.
Eu também sou um alfa. Nossos corpos são biologicamente parecidos, mas eu sou mais bonito. Meu cabelo é preto e meus olhos são cinza-esterlina. Eu tenho 1,85 de altura, e gosto de pensar que sou mais alto que ele.
O problema é que eu odeio perder pra ele. Não suporto ver aquele sorriso vitorioso que ele faz quando ganha. Só que acho que dessa vez eu dei pra ele a vitória definitiva.
A gente tava discutindo sobre a missão — fomos colocados em dupla — e estávamos nos xingando como sempre, até que ele mandou:
— Cala a boca.
E eu retruquei:
— Me faz calar, então.
E o desgraçado me calou com um maldito beijo! O que eu deveria fazer? Eu não esperava que um alfa fosse me beijar, e o pior: eu fiquei sem reação, quieto.
Óbvio que isso deu a vitória pra ele. Mas hoje a gente ia se encontrar de novo. Quando vi ele de longe, deitado no telhado de um prédio com um rifle de sniper nas mãos, já sabia que não era hora de provocar. Então me deitei do lado dele, curioso pra ver quem ele tava mirando.
— Shh... — ele disse, concentrado.
— Achei que a gente tava procurando o ômega. O que cê tá fazendo aqui? — perguntei, empurrando ele um pouco pra tentar olhar pela mira, mas ele tava usando.
— As câmeras captaram aquele homem de branco — respondeu, dando espaço pra eu olhar também.
Apontei o que ele indicou e tentei visualizar o tal sujeito — Pelo que vi, ele tem vários contatos.
— E por que a gente não tá interrogando ele? — perguntei, olhando pra ele.
— Como eu já falei, ele tem muitos contatos. Atacar agora seria burrice — garantiu.
Me sentei no chão, com as pernas cruzadas, enquanto projetava o mapa do local no meu relógio holográfico. Ele também fazia uma varredura rápida da quantidade de homens armados num raio de 500 metros quadrados.
— Não achei que você fosse uma galinha — comentei, rindo.
— Nossa missão é recuperar o garoto vivo. Seria burrice causar confusão agora — insistiu.
Eu não dei bola. Assim como a gente tava aqui, tinham outros agentes seguindo o tal homem também. Então, me afastei rápido pra chegar até o sujeito de branco.
No meu carro, tinha algumas armas de reserva.
Faltava só um par de cartuchos na minha pistola pra dar conta de todos, mas, se eu conseguisse pegar as armas de uns dois, já tava ótimo.
Antes de entrar no prédio onde o sujeito tava, coloquei um fone sem fio — ele tava conectado também com o do Allan. Se algo desse errado, ele ia ouvir.
— Tá cheio de homens aí dentro, sai daí! — ouvi ele falando no meu ouvido.
— Não me diz como fazer meu trabalho — falei, ignorando.
O mais divertido do meu trabalho é poder meter a porrada em caras muito maus, sem dó. Eu não sou polícia, comigo não tem essa de leis civis. Se alguém perigoso cruza meu caminho ou atrapalha a missão, eu tenho liberdade pra eliminar.
O relógio que eu uso é de altíssima tecnologia. Serve pra fazer chamadas (inclusive projeta a pessoa com quem tô falando), pra mapa e, o meu favorito: escaneamento. Ele faz uma varredura do ambiente mostrando onde todo mundo tá. Se alguém morre, o relógio apaga essa pessoa dos registros, como se nunca tivesse existido, e a agência limpa a cena depois. Tem outras funções, mas essas são minhas preferidas.
Quando entrei no prédio, usei o relógio pra localizar o homem de branco. Consegui ver uma projeção dele e também ouvir a ligação que ele tava fazendo:
— Você fez um excelente trabalho trazendo o garoto. Como recompensa, pode comemorar na melhor suíte da cidade — dizia uma voz do outro lado da linha.
Tentei rastrear o cara, mas ele desligou rápido.
— Miller, bora pra uma festa? — falei pelo fone.
— Que porcaria você tá falando agora? — ele perguntou, meio desesperado — E onde diabos você tá?
Sabia que, se conseguisse descobrir a localização da suíte, ia ficar muito mais fácil. Então, esperei mais um pouco, peguei a informação e saí discretamente — ninguém nem percebeu minha presença.
Quando cheguei no carro, Allan já tava lá, me esperando, com cara de quem não acreditava que eu tava inteiro.
— O que você descobriu? — perguntou enquanto a gente entrava no carro — Espero que você não tenha colocado nada estranho aqui — acrescentou, colocando o cinto enquanto eu só sorria.
A verdade é que... sim, tem uma bomba no carro. Mas eu não pretendia usar ela agora, então fingi que tava tudo normal e contei sobre a missão.
Nós dois íamos entrar infiltrados na tal suíte, então arrumamos roupas pra parecer trabalhadores do hotel.
— Provavelmente vai ter vários caras lá — comentou, olhando o celular.
— Mas em menor número. Para de ser medroso — brinquei, só pra irritar.
— Você é muito irritante — reclamou.
— O mesmo truque pra me calar não vai funcionar duas vezes — falei, sentindo o olhar dele em mim.
— Eu posso tentar — murmurou.
Ambos estávamos sentados no meu carro, esperando à distância pela chegada daquele sujeito. Não demorou muito; depois de duas horas, ele apareceu junto com quatro homens que o protegiam, mas precisávamos esperar mais um pouco até que ficassem bêbados.
Já eram cerca de duas da manhã, não havia mais pessoas pelos corredores que pudessem nos causar problemas desnecessários, então subimos até o último andar da suíte e, com a ajuda do relógio, abrimos a fechadura sem precisar forçá-la.
Miller e eu nos separamos enquanto nos certificávamos de deixar o sujeito completamente sozinho. Podíamos ouvir gemidos e, sem dúvida, o lugar cheirava a sexo — algo normal, considerando que esse tipo de festa sempre envolvia prostitutas. Depois de nos livrarmos dos quatro capangas, deixamos as garotas assustadas saírem dos esconderijos mais inesperados.
Limpar o lugar foi fácil. Tudo se torna simples quando você atira direto na nuca e bam! Sangue por todos os lados e uma suíte praticamente vazia.
— Não o mate até conseguirmos um nome — adverti Miller antes de abrir a porta com força.
O bastardo estava com uma garota; ao vê-los nus, era evidente que estavam desarmados. Além disso, como estávamos apontando armas para eles, ele ficou completamente imóvel, enquanto a garota permanecia de quatro sobre a cama com o bastardo atrás dela.
— E aí? Suponho que você sabe por que estamos aqui — comecei a dizer, enquanto me jogava despreocupadamente na cama.
— Não vou dizer nada — afirmou com nervosismo.
— Que pena, eu pretendia poupar a tortura — disse, fazendo um sinal para Miller imobilizá-lo na cama, deixando a garota ir embora. — Sabe? Eu gosto de ser o chefe — falei enquanto ele algemava o sujeito a uma cadeira depois de nos movimentarmos de posição.
— Você não é o chefe — respondeu rapidamente.
— Ei, idiota, num momento de tensão seu pau não deveria estar duro — provoquei, ignorando Miller. — Anda, ajuda ele — disse rindo para provocar ainda mais — você gosta de alfas.
— Eu não gosto...
— Oh... só gosta de mim? Que romântico — murmurei, interrompendo-o.
— Que nojo — disse o sujeito, com repulsa.
Normalmente, é alfa e ômega, às vezes até se aceita um beta, mas a união de dois alfas masculinos é considerada uma abominação; eles são chamados de "imperfeitos". Existem muitos alfas que não sentem atração por ômegas, mas mesmo assim não são aceitos. Tecnicamente é a mesma coisa — continuam sendo dois homens — mas, por alguma razão, só é permitido se um deles for ômega.
Não pude evitar achar divertido o fato de aquele bastardo sentir nojo de alfas como nós. Então, querendo me vingar de Miller, aproveitei o momento e agarrei-o pela gola da camisa, beijando-o da forma mais apaixonada que conhecia.
Ele obviamente ficou surpreso. Nos primeiros segundos, não correspondeu ao beijo, mas depois o fez, me deixando ofegante diante do sujeito que tentava se soltar. Ele tinha medo de "pegar" essa "doença", e sinceramente, eu queria rir alto, mas preferi manter uma postura séria e garantir ao bastardo que agora seria a vez dele.
Jamais pensei que essa situação pudesse ser uma tortura para alguém, mas usei força e fiz vários cortes em seu corpo. Só quando ameacei cortar seu pau é que ele finalmente me deu um nome.
— Finalmente! — disse apontando minha arma para ele — muito obrigado pela participação — completei antes de disparar.
— Era mesmo necessário me beijar? — perguntou Miller, enquanto eu me preparava para sair.
— Não, mas eu sei que você gostou — brinquei, antes que o maldito atirasse em minha direção, me obrigando a sair correndo.
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Atualizado até capítulo 34
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