Um cara irritante
Quem diria que um simples "Cala a boca" poderia complicar tanto as coisas durante uma missão? Normalmente, sou eu quem gosta de ser irritante, é meu passatempo favorito. Assim, eu me certifico de não me envolver com os outros agentes da agência, mas não imaginava que seria beijado depois de ter dito "cala a boca" no meio de uma discussão.
Meu nome é Ethan, trabalho para uma agência privada especializada em espionagem e minha favorita, embora não seja oficial, é a caça a recompensas. Do meu ponto de vista, é incrível caçar caras que acham que são intocáveis. Além disso, sempre é terapêutico bater em alguém durante uma missão, ou pelo menos em uns dois deles.
Há uns dias, recebi a missão de encontrar um omega, aparentemente filho de um empresário multimilionário que vai dar uma recompensa bem generosa se encontrarem o filho dele. Como a minha agência foi contratada por esse cara, me deram a missão de encontrá-lo, mas havia outros caras encarregados de uma missão parecida.
Meu objetivo é resgatar o garoto, enquanto o objetivo de outra organização é matá-lo. A gente ainda não entendeu qual a importância desse cara. Ele é só mais um filho de empresário, mas o fato de quem o sequestrou ter se dado tanto trabalho para pegá-lo é, sem dúvida, curioso.
O normal seria sequestrar, pedir a recompensa e devolvê-lo, mas nessa missão eles tomaram tantas precauções só para sequestrá-lo. Eles não têm intenção de devolvê-lo, então, provavelmente, tem algo pessoal envolvido. Ou o garoto se meteu com quem não devia, ou o pai dele subestimou gente muito perigosa.
O pior é que a agência onde eu trabalho mandou vários agentes atrás dele, mas não contou que a gente ia acabar se atrapalhando. Todo mundo é muito competitivo, todo mundo quer completar a missão, mas só um vai conseguir. Então, fomos reunidos em uma sala de conferências onde nosso chefe nos passou todos os detalhes da missão.
A frase de inspiração dele foi "que vença o melhor", e claramente todo mundo queria ser o melhor agente. É divertido ver a cara de raiva dos outros quando você tem algo que eles não têm, mas o que eu não esperava era ouvir um "vão trabalhar em dupla" justo quando pensávamos que já podíamos ir embora.
Nesse momento, todos nós viramos pra encarar o chefe, ninguém estava de acordo com isso e o pior é que ele sabia disso, porque ficava fingindo que estava lendo uns papéis, todo nervoso.
A agência, como todas, é dividida em seções, cada uma com suas regras. Por exemplo, tem agentes de nível inferior que trabalham em dupla e a recompensa é dividida, enquanto no nosso nível a gente pode trabalhar sozinho e ficar com a recompensa inteira. Claro que todos tentamos nos opor, quase todo mundo tentou fazer o chefe mudar de ideia, mas ele disse que a decisão já estava tomada.
Meu parceiro é o Miller, um cara complicado, a gente não se dá bem. Estamos sempre nos insultando ou irritando um ao outro. Uma vez, nossas missões coincidiram, eu estava no mesmo lugar que ele, então eu denunciei a posição dele e uns caras armados foram atrás dele, deixando o caminho livre pra mim terminar minha missão. Eram missões diferentes, mas como falei, coincidimos no mesmo lugar.
Eu só queria me vingar, porque numa missão anterior, ele destruiu meu carro. Eu vi vários milhões indo pro saco em questão de segundos, enquanto ele comia pipoca, assistindo a "obra-prima" dele com orgulho. Desde então, toda vez que eu entro num carro, eu me certifico de que não tem bomba nele. E ele faz a mesma coisa, porque também destrui o carro dele, mas esperei ele comprar um novo, assim ele sentiu a dor em dobro do que eu senti quando perdi meu carro favorito.
Trabalhei meses pra conseguir isso, me esforcei pra caramba, mas ele, em questão de segundos, destruiu todo o meu esforço e praticamente queimou todo o meu dinheiro.
Allan Miller é um alfa irritante, mas é gato e vive se aproveitando disso. O cabelo dele é castanho-escuro, e os olhos, cor de ametista — o que é bem raro, aliás. E eu odeio o fato dele ser cinco centímetros mais alto que eu.
Eu também sou um alfa. Nossos corpos são biologicamente parecidos, mas eu sou mais bonito. Meu cabelo é preto e meus olhos são cinza-esterlina. Eu tenho 1,85 de altura, e gosto de pensar que sou mais alto que ele.
O problema é que eu odeio perder pra ele. Não suporto ver aquele sorriso vitorioso que ele faz quando ganha. Só que acho que dessa vez eu dei pra ele a vitória definitiva.
A gente tava discutindo sobre a missão — fomos colocados em dupla — e estávamos nos xingando como sempre, até que ele mandou:
— Cala a boca.
E eu retruquei:
— Me faz calar, então.
E o desgraçado me calou com um maldito beijo! O que eu deveria fazer? Eu não esperava que um alfa fosse me beijar, e o pior: eu fiquei sem reação, quieto.
Óbvio que isso deu a vitória pra ele. Mas hoje a gente ia se encontrar de novo. Quando vi ele de longe, deitado no telhado de um prédio com um rifle de sniper nas mãos, já sabia que não era hora de provocar. Então me deitei do lado dele, curioso pra ver quem ele tava mirando.
— Shh... — ele disse, concentrado.
— Achei que a gente tava procurando o ômega. O que cê tá fazendo aqui? — perguntei, empurrando ele um pouco pra tentar olhar pela mira, mas ele tava usando.
— As câmeras captaram aquele homem de branco — respondeu, dando espaço pra eu olhar também.
Apontei o que ele indicou e tentei visualizar o tal sujeito — Pelo que vi, ele tem vários contatos.
— E por que a gente não tá interrogando ele? — perguntei, olhando pra ele.
— Como eu já falei, ele tem muitos contatos. Atacar agora seria burrice — garantiu.
Me sentei no chão, com as pernas cruzadas, enquanto projetava o mapa do local no meu relógio holográfico. Ele também fazia uma varredura rápida da quantidade de homens armados num raio de 500 metros quadrados.
— Não achei que você fosse uma galinha — comentei, rindo.
— Nossa missão é recuperar o garoto vivo. Seria burrice causar confusão agora — insistiu.
Eu não dei bola. Assim como a gente tava aqui, tinham outros agentes seguindo o tal homem também. Então, me afastei rápido pra chegar até o sujeito de branco.
No meu carro, tinha algumas armas de reserva.
Faltava só um par de cartuchos na minha pistola pra dar conta de todos, mas, se eu conseguisse pegar as armas de uns dois, já tava ótimo.
Antes de entrar no prédio onde o sujeito tava, coloquei um fone sem fio — ele tava conectado também com o do Allan. Se algo desse errado, ele ia ouvir.
— Tá cheio de homens aí dentro, sai daí! — ouvi ele falando no meu ouvido.
— Não me diz como fazer meu trabalho — falei, ignorando.
O mais divertido do meu trabalho é poder meter a porrada em caras muito maus, sem dó. Eu não sou polícia, comigo não tem essa de leis civis. Se alguém perigoso cruza meu caminho ou atrapalha a missão, eu tenho liberdade pra eliminar.
O relógio que eu uso é de altíssima tecnologia. Serve pra fazer chamadas (inclusive projeta a pessoa com quem tô falando), pra mapa e, o meu favorito: escaneamento. Ele faz uma varredura do ambiente mostrando onde todo mundo tá. Se alguém morre, o relógio apaga essa pessoa dos registros, como se nunca tivesse existido, e a agência limpa a cena depois. Tem outras funções, mas essas são minhas preferidas.
Quando entrei no prédio, usei o relógio pra localizar o homem de branco. Consegui ver uma projeção dele e também ouvir a ligação que ele tava fazendo:
— Você fez um excelente trabalho trazendo o garoto. Como recompensa, pode comemorar na melhor suíte da cidade — dizia uma voz do outro lado da linha.
Tentei rastrear o cara, mas ele desligou rápido.
— Miller, bora pra uma festa? — falei pelo fone.
— Que porcaria você tá falando agora? — ele perguntou, meio desesperado — E onde diabos você tá?
Sabia que, se conseguisse descobrir a localização da suíte, ia ficar muito mais fácil. Então, esperei mais um pouco, peguei a informação e saí discretamente — ninguém nem percebeu minha presença.
Quando cheguei no carro, Allan já tava lá, me esperando, com cara de quem não acreditava que eu tava inteiro.
— O que você descobriu? — perguntou enquanto a gente entrava no carro — Espero que você não tenha colocado nada estranho aqui — acrescentou, colocando o cinto enquanto eu só sorria.
A verdade é que... sim, tem uma bomba no carro. Mas eu não pretendia usar ela agora, então fingi que tava tudo normal e contei sobre a missão.
Nós dois íamos entrar infiltrados na tal suíte, então arrumamos roupas pra parecer trabalhadores do hotel.
— Provavelmente vai ter vários caras lá — comentou, olhando o celular.
— Mas em menor número. Para de ser medroso — brinquei, só pra irritar.
— Você é muito irritante — reclamou.
— O mesmo truque pra me calar não vai funcionar duas vezes — falei, sentindo o olhar dele em mim.
— Eu posso tentar — murmurou.
Ambos estávamos sentados no meu carro, esperando à distância pela chegada daquele sujeito. Não demorou muito; depois de duas horas, ele apareceu junto com quatro homens que o protegiam, mas precisávamos esperar mais um pouco até que ficassem bêbados.
Já eram cerca de duas da manhã, não havia mais pessoas pelos corredores que pudessem nos causar problemas desnecessários, então subimos até o último andar da suíte e, com a ajuda do relógio, abrimos a fechadura sem precisar forçá-la.
Miller e eu nos separamos enquanto nos certificávamos de deixar o sujeito completamente sozinho. Podíamos ouvir gemidos e, sem dúvida, o lugar cheirava a sexo — algo normal, considerando que esse tipo de festa sempre envolvia prostitutas. Depois de nos livrarmos dos quatro capangas, deixamos as garotas assustadas saírem dos esconderijos mais inesperados.
Limpar o lugar foi fácil. Tudo se torna simples quando você atira direto na nuca e bam! Sangue por todos os lados e uma suíte praticamente vazia.
— Não o mate até conseguirmos um nome — adverti Miller antes de abrir a porta com força.
O bastardo estava com uma garota; ao vê-los nus, era evidente que estavam desarmados. Além disso, como estávamos apontando armas para eles, ele ficou completamente imóvel, enquanto a garota permanecia de quatro sobre a cama com o bastardo atrás dela.
— E aí? Suponho que você sabe por que estamos aqui — comecei a dizer, enquanto me jogava despreocupadamente na cama.
— Não vou dizer nada — afirmou com nervosismo.
— Que pena, eu pretendia poupar a tortura — disse, fazendo um sinal para Miller imobilizá-lo na cama, deixando a garota ir embora. — Sabe? Eu gosto de ser o chefe — falei enquanto ele algemava o sujeito a uma cadeira depois de nos movimentarmos de posição.
— Você não é o chefe — respondeu rapidamente.
— Ei, idiota, num momento de tensão seu pau não deveria estar duro — provoquei, ignorando Miller. — Anda, ajuda ele — disse rindo para provocar ainda mais — você gosta de alfas.
— Eu não gosto...
— Oh... só gosta de mim? Que romântico — murmurei, interrompendo-o.
— Que nojo — disse o sujeito, com repulsa.
Normalmente, é alfa e ômega, às vezes até se aceita um beta, mas a união de dois alfas masculinos é considerada uma abominação; eles são chamados de "imperfeitos". Existem muitos alfas que não sentem atração por ômegas, mas mesmo assim não são aceitos. Tecnicamente é a mesma coisa — continuam sendo dois homens — mas, por alguma razão, só é permitido se um deles for ômega.
Não pude evitar achar divertido o fato de aquele bastardo sentir nojo de alfas como nós. Então, querendo me vingar de Miller, aproveitei o momento e agarrei-o pela gola da camisa, beijando-o da forma mais apaixonada que conhecia.
Ele obviamente ficou surpreso. Nos primeiros segundos, não correspondeu ao beijo, mas depois o fez, me deixando ofegante diante do sujeito que tentava se soltar. Ele tinha medo de "pegar" essa "doença", e sinceramente, eu queria rir alto, mas preferi manter uma postura séria e garantir ao bastardo que agora seria a vez dele.
Jamais pensei que essa situação pudesse ser uma tortura para alguém, mas usei força e fiz vários cortes em seu corpo. Só quando ameacei cortar seu pau é que ele finalmente me deu um nome.
— Finalmente! — disse apontando minha arma para ele — muito obrigado pela participação — completei antes de disparar.
— Era mesmo necessário me beijar? — perguntou Miller, enquanto eu me preparava para sair.
— Não, mas eu sei que você gostou — brinquei, antes que o maldito atirasse em minha direção, me obrigando a sair correndo.
Depois que conseguimos o nome de outro envolvido, meu chefe mandou chamar a gente pra dar os parabéns pelo nosso progresso, algo que o resto dos meus colegas não conseguiu, já que eu atirei no único suspeito que as câmeras tinham conseguido gravar. Ou seja, diferente da gente, eles não têm nem um nome pra se agarrar.
Nesse "jogo", não importa o que você faça, desde que atinja o objetivo. Matar a única testemunha poderia ser um problema pra um policial normal, mas pra nós, esconder provas é fundamental, é até prioridade.
É como mandar um recado pros nossos colegas: um por um, vamos "florescer". Eu sei que, mais cedo ou mais tarde, vamos descobrir quem tá envolvido nisso tudo. É quase óbvio que nosso objetivo é pressionar os envolvidos, mostrar pra eles o quão difícil vai ser escapar, principalmente se nosso alvo acabar morto.
A gente meio que quer dizer indiretamente: "Sua vida em troca do ômega". E, sinceramente, depois de tantas missões parecidas, sei que não importa quem seja, sempre aceitam o acordo.
Agora, falando do que rolou com o Miller... acho que exagerei um pouco nas brincadeiras. Mesmo que o único que viu a gente se beijar já esteja morto, imagino que tenha ferido o orgulho dele como alfa naquele momento. Deixando claro, a gente não tem interesse romântico um pelo outro. Eu nem gosto de alfas desse jeito. Mas outro dia ouvi uma mãe falando pra um filho num restaurante: "Como você sabe que não gosta se nunca provou?" E, desde então, não paro de pensar nisso. Vai ver a solução pra essa situação toda é... provar.
E, falando sério, acho que ele gostou do beijo. Sei que beijo bem e ele, olha, não é ruim não, viu? Até me surpreendeu! Bem melhor do que aquele primeiro beijo que ele me deu, que foi rapidinho, quase nada. O meu foi intenso, deixou a gente até sem fôlego, com sede de mais.
Engraçado que mesmo numa situação dessas, eu ainda queira vencer. Acho que ele também. Sempre competimos, então tenho certeza que ele vai fazer alguma coisa pra tentar ganhar.
O que eu realmente não esperava era ficar sozinho com nosso chefe depois da reunião. Ele disse que percebeu um comportamento meu meio inapropriado e mandou o Miller sair da sala.
A sala do chefe é à prova de escuta, ele sabia que ninguém mais ia ouvir o que a gente ia conversar.
Na hora, eu não entendi o que ele queria. Sim, já me comportei mal várias vezes, mas nunca me segurei porque sou um dos melhores agentes. E ele não é do tipo que se importa com reputação.
— Vai me dar bronca pelo quê? — perguntei — Pelas bombas nos carros? Por atrapalhar o trabalho dos outros? — continuei, enquanto ele se ajeitava na cadeira — Duvido que seja por provocar o Miller... ou é?
— Que tipo de relação vocês dois têm? — ele perguntou, e eu fiquei mudo na hora. Será que ele soube do beijo? — Preciso que você se afaste da investigação.
— Por quê? — perguntei irritado — É porque eu beijei ele só pra provocar? — perguntei, vendo a cara de surpresa e de quem estava pensando rápido.
— Eu não sabia que você tinha esse tipo de gosto — comentou.
— Provocar é meu hobby favorito, achei que você soubesse — murmurei, me sentando em frente a ele, querendo voltar pra missão.
— Mesmo assim, não é sobre isso. Como você mesmo disse, eu conheço seu fanatismo por irritar seus colegas. Mas recentemente recebi uma informação sobre o Allan: viram ele na área do sequestro algumas horas antes de tudo acontecer — me informou enquanto eu franzia a testa — preciso que você investigue isso.
— Tá dizendo que ele também tá envolvido? — perguntei confuso — Ele é um agente, como é que conseguiram flagrar ele? Não faz sentido.
— Também não faz pra mim, por isso preciso que você investigue. Você sabe que confio em você, é um dos meus melhores agentes — ele disse, mas mesmo ouvindo tudo, eu não conseguia entender direito.
Não fazia sentido. O Miller é o tipo de agente que nunca deixaria rastros. Se ele tivesse mesmo envolvido, teria apagado todas as provas, ou pelo menos destruído as câmeras que poderiam culpar ele. Eu sei que o meu chefe não tá dizendo que ele é um traidor, mas pra mim não batia essa história.
Mesmo assim, aceitei sem hesitar.
Meu chefe começou a passar mais informações do que antes. Até confessou que a ideia de trabalhar em duplas era justamente pra me colocar perto do Miller, pra eu vigiar ele sem levantar suspeitas.
Só que aí, antes de eu sair da sala, ele mandou essa: "Você tem que fazer o que for preciso pra ganhar a confiança dele. Se isso significar ir pra cama com ele, então faça."
Mano, na hora me deu um arrepio. Seduzir alguém não é problema, nós agentes usamos o corpo pra conseguir o que queremos sem pensar duas vezes.
Mas seduzir o Miller? Como é que eu vou seduzir aquele idiota? Nem sei se ele gosta de alfas... Pode ser que ele só esteja me provocando.
Mas beleza, vou dar o meu melhor pra levar ele pra cama. Pessoas criam laços quando estão peladas e suadas, não importa quem seja, sempre dá certo.
Claro que o Miller tava me esperando depois, querendo saber o que o chefe tinha falado. Aí fingi estar preocupado e disse que ele tinha descoberto nosso beijo.
— Por sua culpa quase fui demitido — reclamei, indo pro meu carro — nosso chefe não é mente aberta o suficiente pra aceitar dois alfas se beijando, então... — parei pra sorrir de forma debochada — é melhor você continuar escondendo seus sentimentos por mim.
— E sobre a missão, ele não falou nada? — perguntou sério.
— Não, só me deu uma bronca — menti, e parei no meio do corredor.
— Por que, caralho, quem levou bronca fui eu, se foi você que me beijou? Não é justo, isso é favoritismo — reclamei de propósito, só pra ver ele sorrir divertido. Ele adora qualquer discussão que ele acha que vai ganhar fácil.
Preciso ganhar a confiança dele e também não posso ser descoberto, então sugeri a gente continuar a investigação do sequestro, assim tinha desculpa pra ficar mais tempo junto.
Só que isso acabou levando a gente até um prédio aparentemente abandonado cheio de caras armados.
Dessa vez eu não queria passar despercebido, então entrei pela porta da frente exigindo falar com o chefe antes que todo mundo começasse a atirar. Foi até divertido ser empurrado pelo Miller pra trás de umas estruturas que davam cobertura das balas.
Claro que ele tava puto, me chamando de idiota por arriscar minha vida.
Mas eu precisava ver como ele se comportava. Se o Miller fosse um traidor, os caras iam hesitar em atirar nele ou ele ia tentar ferrar com a investigação. Por isso precisava criar situações tensas.
E como eu disse, sempre é divertido dar uns socos em bandido.
Graças ao fato de o prédio estar em ruínas, eu podia me aproveitar das irregularidades do terreno para me esconder e ir eliminando o número de nossos inimigos. Claro que chutar uma granada nunca é divertido, o medo de chutá-la tarde demais me gera ansiedade; no entanto, continuo vivo, então, de fato, a chutei a tempo.
Preciso admitir que levou mais tempo do que eu imaginei para eliminarmos todos aqueles homens armados. No entanto, eu não sei se Miller tentava esconder evidências ou salvar minha vida, porque fiquei atônito quando ele apontou a arma para mim assim que acreditávamos ter vencido.
Eu estava provocando-o quando ele mirou em mim e, antes que eu pudesse perceber, ele atirou em minha direção. Só que a bala não me acertou — o homem que estava no comando caiu no chão atrás de mim.
É difícil acreditar que ele me salvou. Minha mente agora está tão focada em descobrir a verdade que não consigo reconhecer o lado bom da sua ação. De qualquer forma, o único homem que poderia nos fornecer um nome morreu.
— Você está bem? — ele perguntou, se aproximando de mim com uma expressão quase preocupada.
— S-sim... — respondi, abaixando a cabeça e fingindo estar abalado com o ocorrido. — Você... me salvou? — perguntei, olhando em seus olhos.
— Ethan... — ele segurou minhas bochechas, olhando-me confuso. — O que foi?
— Nada, é só que... — abaixei a cabeça, escolhendo bem minhas palavras — achei que você fosse atirar em mim. Eu sei que às vezes posso ser irritante, mas...
— É melhor irmos embora — ele propôs, quase como se estivesse querendo evitar o assunto.
Eu decidi aceitar, mas continuei com meu papel de "garoto confuso e abalado", então fiquei em silêncio durante todo o caminho enquanto dirigia. Sem dúvida, foi entediante permanecer tanto tempo sem provocá-lo. A viagem, como sempre, parecia interminável, mas como já era tarde e sua casa estava próxima, ele sugeriu que eu ficasse lá.
Era uma ideia excelente — assim, eu também poderia investigar o lugar e, se tivesse sorte, descobrir algo relevante. No entanto, não criei muitas expectativas; é muito improvável que eu encontrasse algo que o comprometesse.
Normalmente, agentes como eu têm várias casas para se esconder, todas de tamanhos diferentes, então fiquei muito animado ao ver um trailer no meio de um campo. A vista era maravilhosa; sem dúvida, era um ótimo esconderijo — e, melhor ainda, só havia uma cama.
— Se você queria me levar para a cama, não precisava fingir preocupação comigo — comentei, olhando para a cama no fundo do trailer.
— Eu não estou tentando te levar para a cama. Para de falar besteira — ele pediu enquanto tirava a camiseta, que estava coberta de sangue (que nem era dele). Não adiantava tentar lavar — sangue é difícil de remover.
— Posso tomar banho primeiro? — perguntei, e ele imediatamente assentiu.
Eu não estava tramando nada — só não queria correr o risco de ficar sem água quente, algo que ele lembrou poucos segundos depois que eu entrei no banheiro. O espaço não era muito grande, mas era prático, e, se ele quisesse, poderia muito bem ter entrado comigo.
Quando ele se lembrou de que eu poderia acabar com toda a água quente, gritou um "Não gaste toda a água!", ao que respondi com um "Então tome banho comigo", deixando-o sem palavras.
Eu sabia que ele não entraria comigo no banheiro tão facilmente, então busquei uma maneira de provocá-lo um pouco mais e, inclusive, queria fazê-lo acreditar que eu realmente planejava gastar toda a água quente. E funcionou: ele acabou entrando comigo no chuveiro, me ameaçando: "Se você olhar demais, eu te mato".
Não pude evitar rir — quem estava olhando demais era ele, especialmente quando virei de costas para enxaguar meu corpo de maneira desnecessariamente provocativa. Eu tocava meu corpo como se estivesse tímido, e como sentia seu olhar cravado em mim, aproveitei a situação.
Obviamente, gosto de limpar cada cantinho do meu corpo, então peguei o chuveirinho de mão para receber a água de maneira mais direta e, aproveitando seu formato curioso, aproximei-o da minha bunda, fingindo que precisava me limpar minuciosamente ali — embora eu já tivesse feito isso antes de ele entrar.
— Não me olhe... — murmurei, mantendo meus olhos fixos em um ponto aleatório da parede do chuveiro, como se estivesse envergonhado.
Ele não respondeu nada, mas, claramente, não obedeceu. Com a ajuda do reflexo no metal do chuveiro, consegui ver seu olhar descarado em minha direção.
Meu plano era seduzi-lo — não queria fazer sexo ali mesmo —, por isso, coloquei o chuveirinho de volta no suporte, permitindo que ele se enxaguasse.
Agora era eu quem o observava enquanto secava meu corpo. Gosto do formato das costas dele. Não me surpreende que tenha um corpo tão bem trabalhado — eu também tenho —, além de um belo traseiro.
Se eu tentar levar essa situação um pouco mais além, qual será a probabilidade de ele me deixar subir nele?
Assim que saímos do banho, ele me emprestou umas roupas pra eu não ficar pelado no trailer.
Apesar de eu não estar usando cueca, achei engraçado ele ter um short tão pequeno, porque com qualquer movimento ele subia e até entrava no meio da minha bunda.
É meio desconfortável, mas eu sei que é por causa disso que ele não para de me olhar. Até depois que escovei os dentes, depois de comer uma barra de cereal, aproveitei pra provocar ainda mais e ficar zoando ele. Queria deixar claro que eu já tava me sentindo melhor agora que a gente tava sozinho.
O único problema é que ele ficou desviando o olhar do meu corpo, e agora tá lá, limpando a arma, enquanto eu tô sem ter o que fazer. Aí, como ele sabia que o short me incomodava, decidi tirar de vez.
Queria fazer questão de mostrar, queria ver a reação dele quando joguei o short nele e mandei um "ah, foda-se, prefiro ficar pelado". Foi difícil segurar a risada, porque ele só entendeu o que eu tinha feito depois que olhou direito pro short. Aí virou a cabeça e me viu completamente nu.
— Sério, coloca alguma coisa — ele falou fingindo que tava bravo.
— Por quê? Somos dois caras, tanto faz — falei, me aproximando e me apoiando na mesa onde ele tava com a arma desmontada — Aliás, esse lugar é muito daora, acho que vou comprar um trailer também — comentei, olhando em volta, enquanto ele só conseguia me olhar.
— Ethan, é melhor você ir dormir — ele sugeriu, e eu só dei um sorrisinho.
— Ainda não tô com sono — garanti pra ele.
Ele ficou insistindo pra eu colocar alguma roupa, então comecei a mexer nas coisas dele pra achar algo que me ajudasse a provocar mais ainda. Como ele só é cinco centímetros mais alto que eu, praticamente tudo servia em mim, mas a sorte sorriu pra mim quando achei uma camisa enorme que cobria só a minha parte da frente e mais nada.
— Que tal essa? — perguntei, me exibindo pra ele, ainda girando de propósito pra ele me ver de todos os ângulos.
— Caralho... — ele soltou, se levantando bravo e indo nas coisas dele pra tentar achar outra roupa pra mim.
— Eu gostei dessa — falei, indo até a mesa onde estavam as armas, mas ele me segurou pelo braço com certa força e me puxou de volta pro armário.
— Que foi, Allan? — perguntei de um jeito bem safado, abraçando o pescoço dele — Tá incomodado de ver outro alfa assim?
Ele não respondeu, mas pra mim já tava mais do que respondido. Aí, querendo deixar ele ainda mais desconcertado, dei um beijo lento nele, sentindo o corpo dele relaxar aos poucos.
Allan tava de calça de moletom, tipo pijama, então deslizei meus dedos pelo peito dele pra incentivá-lo a me tocar.
E é claro que consegui. No meio do beijo, ele passou as mãos pelas minhas coxas, levantando minha perna esquerda pra conseguir se aproximar ainda mais, subindo a camisa gigante que "cobria" meu corpo nu.
Era óbvio que ele queria bem mais do que só um beijo. Até tentei me afastar um pouco, mas ele me segurou com firmeza e me levantou no colo, fazendo a gente esbarrar nas coisas em volta, enquanto devorava minha boca até me deixar sem fôlego.
Não vou mentir, tava uma sensação boa demais, ele segurava meu corpo firme e aproveitava pra apertar minha bunda durante tudo isso, deixando claro que ele queria meter tanto quanto eu queria.
Desde o começo eu sabia que isso ia acontecer, até já me preparei pra ser o passivo dessa vez. Eu sei que é pela missão, mas...
Ag... eu não deveria estar duvidando agora, dá pra sentir o quanto as feromônios dele estão excitadas, ele nem tentou esconder, e meio que instintivamente eu também deixei as minhas saírem. Me senti estranho, porque normalmente gosto do cheiro doce de um ômega, mas dessa vez, um formigamento na minha barriga avisava que o cheiro dominante dele também tava me atraindo.
Não sei se era pela excitação do momento, mas a gente tava fazendo um baita barulho, derrubando várias coisas enquanto ele me empurrava pelo lugar.
Só reclamei mesmo quando ele me bateu com força contra a parede.
— Filho da puta... — arfei nos lábios dele, vendo ele sorrir. — Se é isso que você quer... — murmurei antes de afastá-lo e empurrá-lo contra o armário. O armário tinha uns cantos que saíam pra fora, então eu ri e beijei ele de forma dominante.
Consegui fazer ele me empurrar pra cama, onde eu tentei montar em cima dele. Até consegui por um momento, mas ele não parava de apertar minha bunda, e as mãos dele subiam perigosamente perto da minha entrada. Eu tentei tirar as mãos dele, de verdade tentei, mas logo ele me virou e me deixou por baixo.
As coisas estavam saindo do controle. Ele abriu a camisa que eu usava, me deixando completamente exposto embaixo dele, e o pior é que eu tava muito excitado por culpa daquele cheiro dominante.
— Haah... — suspirei quando ele mordeu meu lábio inferior e foi descendo os beijos pelo meu pescoço.
— Mmmh...
Eu tava claramente nervoso, queria me acalmar pra não sentir dor depois e tentar focar na missão, mas tava difícil. Só conseguia pensar no quanto ia doer se ele continuasse sendo tão bruto. Óbvio que eu não ia me humilhar pedindo pra ele ser gentil, isso ia ser motivo de piada pro resto da vida.
Pelo menos ele foi descendo os beijos devagar, e eu logo percebi o que ele queria fazer... um boquete. E, sinceramente, quem seria idiota de recusar? Se eu tivesse sorte, ele poderia até deixar o resto de lado depois.
Tentei me ajeitar melhor na cama pra aproveitar, afinal, nunca pensei que ele realmente fosse me fazer um boquete. Então, sim, dei um sorriso debochado — pelo menos no começo — ao ver o jeito que ele lambia os lábios antes de encostar na minha ereção.
Ele era bom? Sim, muito bom. Parecia que já tinha prática nisso. E o pior é que, cada vez que ele levantava os olhos pra me encarar, eu me sentia ainda mais quente. O olhar dele parecia devorar cada pedaço do meu corpo, e quando ele foi pro meu músculo direito e mordeu, eu sabia que queria me marcar.
E ele não parou numa só. Marcou várias vezes, bem descarado, me deixando todo vermelho. Eu sabia o porquê: ele queria me marcar como propriedade dele.
Enquanto fazia isso, ele começou a levar os dedos pra minha entrada, acariciando devagarzinho enquanto dava risadinhas de diversão.
Meu corpo ficou todo tenso na hora, mas o problema é que, com a boca dele ali, minhas pernas se abriram sozinhas, deixando ele se encaixar entre elas. Não vou mentir, tava bom. A língua dele era quente e macia, e dava pra sentir a respiração dele batendo na minha virilha.
Mas quando senti o primeiro dedo dele entrando, não consegui evitar: levei a mão pro cabelo dele, quase forçando ele a me engolir ainda mais fundo.
O dedo dele era estranho... não posso dizer que gostei. Na real, acho que odiei a sensação incômoda e meio dolorida, mas o problema é que o prazer da boca dele bagunçava minha cabeça, me deixando confuso sobre o que eu tava sentindo.
E foi aí que ele enfiou o segundo dedo, me fazendo estremecer todo.
Esse segundo dedo ajudava o primeiro a dilatar minha entrada, com movimentos lentos naquela parte que eu nunca pensei que fosse sentir prazer. Me dava medo saber que um alfa como eu podia acabar gostando disso... mas era isso que tava acontecendo. E era assustador pra caralho.
Tentei afastá-lo do meu corpo, ruídos vergonhosos escapavam da minha boca, então precisava separá-lo de mim para poder ficar por cima, queria tomar o controle da situação e até pensava em algo como “Podemos nos revezar”.
Claro que consegui colocá-lo debaixo do meu corpo, só que ele, com um sorriso levemente zombeteiro, acomodou as costas na cabeceira da cama, conseguindo assim me manter por cima, mas sem me dar liberdade para assumir o domínio que eu queria.
Suas mãos se aproximaram da minha bunda, quase se controlando para não me apertar ou até me dar um tapa; parecia que essa parte do meu corpo o excitava muito, tanto que me apertava com força enquanto sua boca brincava com um dos meus mamilos.
Sem dúvida, essa posição era pior: era prazerosa, mas agora seus dedos tocavam meu interior de outro ângulo, fazendo minha pele arrepiar tanto que um gemido vergonhoso escapou dos meus lábios.
— Vejam só... — ele sussurrou enquanto seus dedos roçavam um ponto que me fazia estremecer.
— Nnngh... — gemi, agarrando-me ao seu pescoço como uma tentativa desesperada de esconder meu rosto envergonhado. Era realmente humilhante.
Tentei revidar, queria envergonhá-lo também, ver como ele reagiria ao tocar sua ereção, que parecia prestes a explodir. Era curioso saber que, sem sequer tocá-lo, eu o deixava tão duro. Foi por isso que me ajeitei de modo que minha boca ficasse perto da sua ereção, enquanto seus dedos continuavam se movendo dentro de mim.
Quando coloquei seu membro na boca, percebi como ele ficava impaciente, até acelerando o movimento dos dedos. Sabia que estava fazendo um bom trabalho. Seu pênis estava completamente duro e pulsante; o pior era que, dentro da minha boca, parecia ainda maior, e isso me dava medo da ideia de ir até o final.
— Mmh... — gemi com o membro dele na boca — Haah... — ofeguei, com um fino fio de saliva ainda me ligando a ele, que cortei ao começar a masturbá-lo com a mão.
Ele suspirava, estava bastante sensível. Achei que conseguiria fazê-lo gozar só com mais um pouco, mas esqueci que seus dedos ainda estavam dentro de mim — pior, agora se abriam como uma tesoura. Queria controlar meus gemidos, mas agora, com seu pênis na minha boca, meus gemidos soavam ainda mais obscenos.
— Ah... — ele suspirou, movendo os dedos com rapidez — Você está encharcado... — murmurou excitado, tentando me afastar de seu membro.
Achei que ele fosse gozar, então tirei meus lábios dele. Só que seu plano era bem diferente do meu: segundos depois de tirar os dedos, deslizou seu pênis pela minha entrada. Sabia que não havia mais volta; estávamos ambos fervendo, e num instante pensei "tanto faz", ajudando-o a introduzir a cabeça em mim.
— Ah... — gemi arqueando minhas costas enquanto ele se enterrava pouco a pouco.
Pelo menos ele teve cuidado para não me machucar — tenho que dar o mérito —, embora ainda fosse uma sensação estranha sentir seu membro preenchendo cada centímetro de mim. Seu rosto deixava claro o quanto ele estava satisfeito por sentir meu interior.
— Ah... — suspirei olhando-o nos olhos — Nnngh... — gemi quando recebi a primeira estocada — Nnnh...
— Ah... — ele arfou, segurando firme minhas coxas — Você é tão apertado... — disse com dificuldade, ainda mais excitado.
— C-cala a boca... — falei nervoso. Estava me sentindo muito bem, na verdade, me sentia em chamas, completamente molhado.
— Mmmh... — gemeu movendo-se mais rápido — Então me cala... — disse com diversão, fazendo-me capturar seus lábios, completamente excitado.
Se sentia tão bem... seu cheiro de alfa me excitava ainda mais, algo que eu jamais imaginei que aconteceria. Nunca pensei que acabaria numa cama com outro alfa.
— Nnngh... V... — gemi alto quando ele acertou um ponto extremamente delicioso, fazendo-me gozar instantaneamente.
— Uh... — ele suspirou, golpeando esse ponto com ainda mais força.
— Nnngh... n-não... e-espera... nnngh... V...
— Você fica tão molhado quando te toco aqui... — murmurou, encostando sua língua na minha boca para me beijar da forma mais obscena possível.
Ou pelo menos era obsceno para mim. Sua língua se roçava contra a minha em um vaivém singular do qual eu não podia fugir.
Acho que não importa se eu me deixar levar agora — desde que eu cumpra minha missão, o resto não importa.
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