A Casa Que Eu Contruir com Você
[AVISO IMPORTANTE: O LIVRO NÃO ESTA CONCLUÍDO.]
O despertador tocou às seis e meia da manhã com a sutileza de um alarme de incêndio em meio a um sonho bom. Ethan acordou com o coração acelerado — não pela animação, mas pela realidade de que aquele era o primeiro dia da faculdade. A vida adulta, aparentemente, começava com café ruim e incertezas.
Seu quarto novo era pequeno, com paredes cor de creme que pareciam desbotadas pela própria falta de vontade. A república estudantil onde ele morava agora tinha cheiro de madeira antiga, desinfetante e alguma coisa que ninguém conseguia identificar — talvez mofo, talvez drama juvenil.
Vestiu uma camiseta preta simples, jeans escuros e um par de tênis branco manchado de barro seco. Olhou-se no espelho e tentou sorrir. Cabelo castanho ligeiramente ondulado e teimoso, olhos castanhos cansados, e a expressão clássica de quem tentava parecer confiante, mas parecia mais prestes a desmaiar numa entrevista de emprego.
Engenharia Civil. Só o nome já pesava. Parecia algo dito por alguém que sabe o que está fazendo da vida. Spoiler: Ethan não fazia.
O campus era gigantesco, com prédios de estilos diferentes dividindo o espaço com árvores frondosas, bancos de concreto e grupos de calouros perdidos. Os blocos do curso de engenharia ficavam num canto mais afastado, como se fossem a ala dos corajosos — ou dos masoquistas.
Enquanto subia os degraus de um dos prédios principais, um corredor longo se abriu à sua frente. Ele caminhava olhando os nomes nas portas, tentando parecer um nativo daquele lugar estranho, quando foi atingido por uma força poderosa: uma garota bonita passando no sentido contrário.
Ela usava uma jaqueta jeans, mochila nas costas e fones de ouvido. Os cabelos ruivos presos num coque bagunçado, óculos escuros no topo da cabeça. Andava com passos decididos, como se soubesse exatamente pra onde estava indo — o oposto de Ethan, que mal sabia onde estava a própria sala.
Ela passou e ele ficou parado por um segundo, claramente babando, o pescoço virando com leveza disfarçada enquanto a acompanhava com os olhos.
— Se babar demais, escorrega — disse uma voz logo atrás, carregada de ironia
Ethan levou um susto, virou-se rápido e deu de cara com um sujeito alto, magro como um galho de árvore em dieta, com cabelos castanho-claros propositalmente desalinhados, mochila caída num ombro só e um sorriso de quem se diverte com a vergonha alheia.
— Oi? — Ethan piscou, confuso.
— A garota. A ruiva. Você parecia prestes a escrever um poema. Um daqueles sofridos, tipo "oh deusa do bloco C".
— Eu... não... — começou a dizer, mas já estava rindo. — Foi só… distração momentânea.
— Claro. Uma distração de pernas longas e andar de protagonista de clipe indie. Acontece. — O estranho estendeu a mão. — Daniel. Eu não estudo engenharia, mas gosto de assistir calouros sofrendo. É um hobbie.
— Ethan. Calouro sofredor. Muito prazer.
— Ah, então estamos alinhados. Você é novato e eu sou sarcástico. Parceria perfeita.
Daniel usava uma camiseta estampada com a frase "Sarcasmo: meu idioma oficial", jeans rasgados e um tênis vermelho chamativo. Tinha a vibe de alguém que sabia como quebrar o gelo e que fazia isso porque se divertia, não porque era gentil.
— Então, Ethan, já tá perdido ou ainda tá naquela fase onde finge que sabe onde vai?
— Estou na etapa “acho que minha sala é aquela, mas talvez seja um depósito de vassouras”.
— Excelente. Esse é o espírito. Todo grande engenheiro começa se perdendo em corredores.
Entraram juntos na sala 104A. Era espaçosa, com janelas grandes e carteiras de madeira enfileiradas em declive. O ar-condicionado estava desligado, mas havia um leve cheiro de tinta fresca e café barato. Alguns alunos já estavam sentados, muitos com cara de ressaca, outros digitando freneticamente nos celulares.
Daniel sentou-se ao lado de Ethan no fundo da sala, sem cerimônia.
— Você não é de engenharia, né? — perguntou Ethan, curioso.
— Céus, não. Eu sou de Comunicação. Mas meu professor cancelou a primeira aula e eu pensei: por que não começar o dia zoando calouros de exatas? — respondeu ele, abrindo um pacote de balas e oferecendo uma. — Além disso, esse prédio tem uma máquina de café que não tenta te matar com amargor puro. Prioridades.
Ethan riu. E continuou rindo a cada piada, a cada comentário absurdo. Daniel parecia ter o talento natural de transformar até o primeiro dia de faculdade — normalmente um desfile de ansiedade e constrangimentos — em uma comédia.
— Me diz, Ethan. Se a Engenharia Civil não der certo, você já considerou carreira como modelo de comercial de antisséptico bucal?
— O quê?
— Sua cara quando viu a ruiva. Eu juro que você parecia pronto pra falar “com hálito refrescante, tudo fica mais fácil”.
— Você é muito específico nas suas piadas.
— E você é ótimo reagindo a elas. Já somos amigos.
— Ah, é assim?
— Sim. Amizade por imposição. Aceita que é mais rápido.
O professor entrou na sala e iniciou a aula com uma empolgação suspeita.
— Aposto cinco reais que ele vai usar a palavra “resiliência” em menos de dois minutos — sussurrou Daniel.
E, como se o universo estivesse ensaiado, lá veio:
O professor se apresentou como Dr. Gustavo Tavares, um homem de meia-idade com voz firme e óculos de aro grosso que caíam lentamente pelo nariz sempre que ele se empolgava demais. Usava camisa social com as mangas dobradas e um blazer bege amassado como se tivesse dormido com ele — ou dentro dele.
— Aqui, na Engenharia Civil, buscamos desenvolver resiliência, pensamento lógico e um bom domínio de matemática. Muito matemática. — Ele escreveu isso no quadro, em letras grandes, como se estivesse invocando um espírito. — E se vocês não gostam de cálculo… bem, meus pêsames.
Ethan começou a rir. Daniel só piscou, com um sorriso vitorioso no rosto.
Ethan tentou prestar atenção. O professor falava sobre o papel da engenharia na construção de cidades, pontes, estradas e estruturas que suportam o tempo e a ação humana. Era interessante — ou pelo menos seria, se a cabeça dele não estivesse presa numa memória muito mais recente.
A garota ruiva.
Por algum motivo, a imagem dela ainda rondava seus pensamentos. Havia algo hipnótico na forma como ela andava — segura, focada, como se já estivesse no terceiro semestre da vida enquanto ele ainda tentava encontrar a sala certa.
"Será que ela também é de engenharia?", pensou. Mas ela não tinha cara de exatas. Talvez arquitetura? Ou artes? Algo mais criativo... talvez até Comunicação. De repente, desejou ter perguntado a Daniel se ele a conhecia. Mas aí pensou melhor: Daniel provavelmente daria uma resposta absurda como "Ah, sim, é minha prima secreta que foi criada por lobos na Noruega".
Ethan piscou e voltou a encarar o quadro. O professor agora explicava as diferenças entre tensões normais e cisalhamento em materiais de construção. Havia uma tabela. E gráficos. Muitos gráficos. O tipo de conteúdo que fazia seu cérebro considerar férias em outro curso.
— Se eu não morrer de calor, morro de tédio — murmurou Daniel ao lado dele, se abanando com a folha de chamada.
— O que é pior: a tensão do concreto ou a minha tensão tentando entender isso?
— A sua, com certeza. O concreto não tem crise existencial.
Ethan riu baixo e voltou a anotar, tentando focar. Mas a imagem da garota atravessando o corredor surgia de novo na mente, como um frame congelado. Ele não fazia ideia do nome dela, do curso, do semestre — nada. E mesmo assim, ela já tinha mais espaço no pensamento dele do que qualquer fórmula da lousa.
"O que será que ela estava ouvindo nos fones?", pensou, enquanto rabiscava distraidamente no canto da folha.
No quadro, o professor agora desenhava um esquema de uma viga sob carga. Já Daniel desenhava um pinguim usando capacete de engenheiro na borda da folha dele.
No meio daquilo tudo — cálculos, colunas, vigas e piadas — Ethan teve uma certeza: se o primeiro dia já estava assim, o resto do semestre prometia ser um caos interessante.
E ele não sabia ainda o nome da ruiva, mas algo nele dizia que aquele não tinha sido o último encontro.
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Atualizado até capítulo 23
Comments
Geovanna Silva
estou amando esse capítulo 🤍🙏
2025-04-16
1
Dulce Gama
começando 14/04/25
2025-04-15
1