Capítulo 5

Cinco anos. Cinco longos, intensos e absurdamente engraçados anos desde que Ethan pisou pela primeira vez na universidade com cara de quem tinha saído de uma fábrica de robôs e encontrou pela frente um furacão chamado Daniel.

Agora ele estava ali. Último dia. Cerimônia de formatura. Diploma no forno e coração acelerado, não só pela realização, mas por olhar para a plateia e ver aquelas três figuras que marcaram sua vida inteira: Daniel, Gabriela (com cara de quem avaliava se as bolas dele ainda estavam no lugar), e sua namorada, Emily. Sim, namorada. Oficial, de verdade, há anos.

O namoro com Emily começou de forma inusitada, com uma confusão de identidade sexual e um beijo do nada no meio de um parque. Mas, depois disso, foi amor, livros, sorvetes e algumas brigas por causa de séries — porque Ethan teve a audácia de dizer que achava o final de “Game of Thrones” bom. (Emily ainda não perdoou.)

Gabriela, que no início queria colocar Ethan na cadeia (ou no mínimo num hospital com bolsa térmica nas partes baixas), agora até que simpatizava com ele. Mais ou menos. Ela o havia ameaçado solenemente uma semana depois do namoro começar:

— Se você magoar a Emily, Ethan, eu arranco fora suas bolas com uma colher de plástico. E sem anestesia.

Ethan riu nervosamente.

— Entendido… colher de plástico. Sem anestesia. Maravilhoso.

Apesar de tudo, virou um quarteto inseparável. E mais: agora Gabriela e Daniel estavam noivos. Sim, noivos. Ninguém entendeu. Eles discutiam o tempo todo, pareciam dois lutadores em pré-luta… mas no fundo, havia uma química insuportável. Ou talvez eles só gostassem mesmo de brigar.

Agora, no salão da cerimônia, todos estavam arrumados. Ethan, de beca, tentando ajeitar a faixa que insistia em ficar torta. Emily sorria da primeira fila, cabelo ruivo trançado e olhos brilhando. Daniel estava ao lado dela, com um sorriso orgulhoso e um crachá de “convidado muito especial” que ele mesmo imprimiu e plastificou. Gabriela, de braços cruzados, murmurava algo como “espero que ele não chore no palco… ou pior, faça piada.”

O nome de Ethan foi chamado.

Ele subiu no palco com o coração aos pulos. Pegou o diploma. E então, respirou fundo. Era hora do discurso. O temido, o aguardado, o imprevisível discurso de Ethan.

— Bom dia a todos. — começou, com um sorriso tímido. — É estranho estar aqui… parece que foi ontem que entrei na faculdade parecendo um figurante de “Matrix”, sem emoção e com zero habilidade social.

Risadas baixas começaram na plateia. Ele continuou.

— Nestes cinco anos, aprendi muita coisa. Sobre cálculo estrutural, resistência dos materiais, cronogramas de obra… e como sobreviver a três noites sem dormir, abastecido apenas com café e pães de queijo da máquina do bloco C.

Daniel gargalhou. Emily levou a mão ao rosto, já imaginando onde isso ia parar.

— Quero agradecer aos professores… à máquina de café, claro… mas principalmente aos meus amigos. Daniel, meu irmão de outra mãe, mestre da ironia e rei das péssimas decisões — que sempre me tirou do sério e das enrascadas. Gabriela, que continua me ameaçando fisicamente, mas eu sei que é só o jeito carinhoso dela de demonstrar afeto.

Gabriela levantou uma sobrancelha, mas sorriu.

— E claro… Emily. Minha Emily. Com seu cabelo de fogo, seu coração doce e sua paciência infinita. A pessoa que me fez entender que a vida não é só equação e concreto armado. Obrigado por ser meu projeto favorito.

A plateia fez um coral de "owwnn". Emily, vermelha que nem pimentão, balançou a cabeça sorrindo.

Depois, quando Ethan desceu do palco, ela o puxou pelo braço e falou baixinho:

— Você me ama, mas precisava me envergonhar publicamente?

— Claro — ele respondeu rindo, a puxando para um beijo. — É assim que a gente prova amor de verdade. Com um pouquinho de vergonha alheia.

Daniel chegou logo depois:

— Que discurso, hein! Achei que você fosse contar o caso do gato da festa e seu surto hétero.

— Isso é pra quando eu escrever um livro — Ethan disse, piscando.

— E essa noite — Daniel completou — tem a festa de formatura! E você vai. Já estou com o terno e Gabriela prometeu não bater em ninguém.

— A promessa não inclui você — Gabriela falou, já surgindo atrás deles.

E assim, com diploma na mão, amigos ao lado, e Emily de mãos dadas com ele, Ethan viu o fim da faculdade como o começo de algo ainda mais maluco — e talvez mais bonito. Porque, no final, a vida era isso: uma construção contínua, com umas rachaduras, umas reformas, e bastante amor no alicerce.

***

A noite caiu suave, vestindo o céu com tons azul-marinho e estrelas piscando como se estivessem ansiosas por ver o que estava por vir. Ethan estacionou na frente da casa de Emily, com as mãos suadas e o coração batendo mais rápido do que quando teve que apresentar o TCC sem dormir por dois dias.

A porta da frente se abriu. E então… ela surgiu.

Emily estava deslumbrante. Seu vestido verde-esmeralda realçava cada curva com elegância, os cabelos ruivos trançados delicadamente com pequenas flores brancas entre os fios. Ela parecia saída de um conto de fadas indie.

Ethan soltou um suspiro visível.

— Uau… você… você tá linda. Tipo, “derrubar forninhos”, “parar o trânsito”, “errar cálculo estrutural” de tão linda.

Emily corou até a orelha.

— Você também não tá mal, não… com essa gravata torta aí.

— Ah, é charme. Moda nova. “Desalinhado afetivo”. Tá na Vogue, confia.

Ambos riram e partiram para a festa de formatura.

No salão, as luzes brilhavam, as pessoas dançavam, e no meio da alegria… Daniel e Gabriela discutiam. De novo.

— Gabriela, você demorou três horas pra escolher um brinco! — reclamava Daniel, ajeitando a gola da camisa.

— Claro, né? Porque eu sou uma princesa, e você queria sair de casa parecendo que ia comprar pão!

— Pelo menos pão não reclama da roupa dos outros!

Emily e Ethan riram da troca de farpas habitual.

— Quando é que vocês vão casar mesmo? — Ethan perguntou, já imaginando uma cerimônia com juramento e pancadaria.

Daniel suspirou.

— Quando a gente terminar de pagar o apartamento. Daqui a uns… cinquenta e sete anos.

Gabriela cruzou os braços e lançou um olhar afiado pra Ethan.

— E você, hein? Vai pedir a mão da Emily quando? No asilo?

Emily arregalou os olhos e deu um leve cutucão na amiga.

— Gabriela!

— Ué, eu só falei a verdade. Esse aí tá enrolando, hein?

Ethan, pego desprevenido, tentou disfarçar com uma risada sem graça.

— Calma… ainda é cedo pra esse tipo de coisa, né?

O silêncio que se seguiu pesou um pouco. Emily baixou o olhar, forçando um sorriso, mas ficou visivelmente chateada. Gabriela revirou os olhos. Daniel sussurrou um “boa, gênio” para Ethan, que fingiu não ouvir.

Horas se passaram. Muita música, risos, danças e gente bêbada tentando fazer coreografia. Emily, ainda um pouco abatida, sentou-se sozinha em uma cadeira enquanto observava os outros se divertindo.

Ethan se aproximou, estendendo a mão com um sorriso hesitante.

— Ei… vem andar comigo? Só uma voltinha. Última vez nesse campus antes da vida adulta bater.

Emily olhou ao redor, respirou fundo e aceitou.

Caminharam sob as árvores do campus, passando pelas salas que guardavam memórias, e pelas escadarias onde tantas conversas aconteceram. Mas Ethan a guiou até um lugar especial… aquele corredor. O mesmo onde ele a via todos os dias, onde tudo começou.

Ele parou ali, e ela olhou em volta, curiosa.

— Sabe… — ele começou, com a voz baixa — foi aqui que eu te vi pela primeira vez. E eu nem sabia seu nome, mas alguma coisa em mim já sabia que você ia ser importante.

Emily sorriu.

— Achei que você só me achava bonita.

— Também. Mas era diferente. Você passava e o mundo virava cena de filme. E agora, cinco anos depois… a única coisa que eu quero é continuar esse filme com você.

E então, sem mais delongas, ele se ajoelhou.

Emily arregalou os olhos, a respiração travando.

Ethan tirou uma pequena caixinha do bolso do paletó, abriu e revelou um anel simples, delicado, com uma pequena esmeralda no centro — a mesma cor do vestido dela naquela noite.

— Emily… você quer casar comigo?

Ela ficou em silêncio por um instante. Depois, um sorriso enorme tomou conta de seu rosto e os olhos se encheram de lágrimas.

— Sim! Claro que sim!

Ethan colocou o anel em seu dedo, beijou sua mão com cuidado e, em seguida, a puxou para um abraço apertado. Girou Emily no ar como se fosse leve como o vento e, ao colocá-la no chão, a beijou como se o mundo estivesse em câmera lenta.

Do outro lado do campus, Daniel viu a cena e soltou um:

— FINALMENTE!

Gabriela, emocionada (mas tentando disfarçar), limpou os olhos com um lenço.

— Se ele fizer essa menina chorar… eu boto esse anel onde o sol não brilha.

Mas ali, naquela noite perfeita, com a lua sorrindo sobre eles, não havia espaço pra preocupação. Só amor, promessas, e o começo de um novo capítulo.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!