Akira Tsukihara: A Lenda entre as Lendas

Akira Tsukihara: A Lenda entre as Lendas

Capítulo 1: MEU PASSADO

A vida era movimentada, mas Akira caminhava desanimado rumo ao trabalho, como sempre. Seu semblante cansado já era quase uma marca registrada. Ao chegar, foi recepcionado pelos colegas com as mesmas piadinhas ofensivas de sempre, que todos ao redor insistiam em achar engraçadas.

— Olha só quem chegou... se não é o Akira! Qual é, cara, que cara é essa? A namoradinha te deixou dormir no sofá de novo, foi? — provocou um deles, arrancando gargalhadas gerais.

Claro, todos sabiam que Akira nunca tivera sequer uma namorada.

O ambiente era desconfortável para ele, mas já havia se acostumado. Desde a infância, aprendera a engolir as palavras e suportar os olhares. O tempo passou, e finalmente chegou a hora do intervalo — o único momento do dia em que podia respirar e pensar em silêncio.

Mas a trégua durou pouco.

Um copo com refrigerante foi derramado sobre sua cabeça de propósito.

— Eita, foi sem querer! Você não vai ficar bravo comigo, né, Akira? — disse uma voz feminina, com um sorriso debochado nos lábios.

— Hahaha! Que otário! Ele nunca faz nada. Olha só pra ele, parece um coitado mesmo — zombou outro colega enquanto se afastavam.

— Você precisa virar homem, cara. Que idiota!

Akira foi até o banheiro, tentando conter a raiva. Limpou-se em silêncio, encarando seu reflexo.

— Hana e Giu... — murmurou para si mesmo enquanto secava as mãos. — Dois irmãos mimados, filhos do chefe. Por isso acham que podem fazer o que quiserem.

Agora limpo e com o estômago roncando, voltou para sua mesa, respirou fundo e pensou: “Finalmente, um pouco de paz...”

Até que...

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O relógio apitou. Era hora de voltar ao trabalho.

Akira seguiu em frente, ainda murmurando para si mesmo enquanto atravessava os corredores da loja:

— Akira Tsukihara... esse é o meu nome. “Akira” vem do meu pai... e ele já não está mais aqui.

Foi então que notou uma caixa caída no chão, com várias latas espalhadas ao redor.

— Ei, Tsukihara! — gritou um dos colegas. — Fica esperto, cara! Alguém deixou essa bagunça no seu setor. Se o chefe ver isso, vai sobrar pra você!

Akira respirou fundo, pegando as latas uma por uma enquanto continuava sua narração interior:

— No geral, minha vida é até simples demais... varro o chão da loja, arrumo prateleiras, às vezes fico no caixa. Nada demais. Mas quer saber? Até que eu sou feliz assim...

Um estrondo de vidro se espalhou pelo ambiente, interrompendo seus pensamentos.

Ou pelo menos... eu achava que era.

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Em casa, a atmosfera era ainda mais pesada. Akira discutia com o irmão mais velho, já sem paciência.

— Que droga, por que você nunca faz nada?! Eu passo o dia inteiro trabalhando e você nem lava a louça! — gritou Akira.

— Ah, para de me encher! Quem você pensa que é pra falar comigo desse jeito?! — o irmão rebateu, com agressividade na voz.

— Eu só tô pedindo pra você fazer alguma coisa da sua vida! Até quando vai continuar sendo um inútil?!

A resposta veio em forma de um soco seco no estômago. Akira se curvou de dor enquanto o irmão se aproximava com um olhar ameaçador.

— Isso é pra você aprender quem manda aqui. O único inútil nessa casa é você.

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Mais tarde, caminhando pela rua com o olhar de quem já foi derrotado, Akira pensava:

— Meu irmão sempre foi um babaca... mas talvez ele esteja certo. Eu sou um inútil...

Olhou para o céu enquanto alguns pombos voavam lentamente acima dele. O contraste entre a liberdade das aves e o peso em seus ombros era brutal.

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No hospital, Akira segurava a mão de sua mãe internada.

— Como ela está, doutor? — perguntou, com a voz baixa.

— Nada ainda, garoto... ela não está respondendo aos remédios. Na verdade, o estado dela está… piorando.

Akira fechou os olhos, respirando fundo. O médico saiu da sala, deixando-o sozinho com ela.

...— Minha mãe sofreu um derrame. Desde então... sou eu quem paga o tratamento, os remédios — e eles não são nada baratos.

...

Encostado à janela, observou o mundo lá fora.

— Esse mundo é tão injusto... Às vezes eu sonho com um lugar onde tudo dá certo pra mim. Onde eu tenho reconhecimento, amor... atenção. Tudo o que eu sempre quis. Mas...

Um pássaro pousou em seu ninho, com galhos cuidadosamente arrumados. Por um segundo, Akira sorriu. Mas a vida, mais uma vez, mostrou sua crueldade.

Uma pedra atingiu a ave com violência, derrubando-a do alto. O pássaro caiu, sem vida, e os filhotes famintos esperavam em vão.

Akira sussurrou, como se falasse para o mundo inteiro:

— A vida é cruel.

Caminhando sozinho pelas ruas movimentadas da cidade, Akira observava um casal de idosos sentados em um banco de praça. Estavam de mãos dadas, sorrindo um para o outro, como se nada mais importasse.

— O amor entre um homem e uma mulher... — murmurou ele, com os olhos baixos. — Por muito tempo, eu desejei encontrar alguém assim. A pessoa certa. Mas... sempre fui rejeitado.

De repente, memórias de sua infância vieram como um soco em seu peito. Ele se lembrou do tempo em que estudava no ensino fundamental. Um tempo onde os risos não eram gentis — e os olhares, ainda menos.

FLASHBACK – Escola, sala do 7º ano

— Olha lá, é o Akira! — gritou um dos garotos, apontando enquanto todos olhavam.

— Ei, Akira, já lavou o cabelo esse mês? — zombou outro, fazendo careta.

— Dizem que ele falou com a Yumi e ela nem respondeu! Hahaha, tomou um fora antes mesmo de tentar! — caçoou outro menino, fazendo os demais gargalharem.

Akira, encolhido em seu canto da sala, tentava se concentrar no caderno. Mas as palavras o atingiam como pedras.

— Certeza que ele nunca vai namorar ninguém! Quem ia querer ficar com esse esquisito?

— Acho que nem se pagassem! Hahaha!

As risadas ecoavam. O professor ainda não tinha entrado na sala e, como sempre, ninguém fazia nada.

Akira, em silêncio, olhava para a mesa, com os punhos cerrados debaixo dela.

Nunca respondi. Nunca rebati. Só engoli tudo. Eu queria sumir dali. Queria ser invisível.

FIM DO FLASHBACK

De volta ao presente, Akira suspira, desviando o olhar do casal de idosos.

— Eles sempre riam... toda vez era isso.

O sorriso dos velhos contrastava com o vazio dentro dele.

— Mas teve uma pessoa... uma que foi diferente de todas as outras. Ela me olhou de um jeito que ninguém mais olhou.

Akira fecha os olhos por um momento.

Nishinia era a garota mais linda que já conheci no insino médio... Ela parecia me entender.

— Mas como eu disse... a vida é cruel.

Akira parou de caminhar por um instante. O vento soprou forte, balançando os galhos das árvores acima. Ele olhou para o céu nublado, como se esperasse alguma resposta de lá.

— Nishinia... ela era a garota mais linda que já conheci no ensino médio. Tinha um jeito calmo de falar, e um sorriso que fazia até os dias ruins parecerem suportáveis.

Por um tempo... eu realmente acreditei que ela me entendia.

FLASHBACK – Pátio da escola, 2º ano do ensino médio

Akira estava sentado sozinho, como de costume. Um livro aberto no colo, mas os olhos perdidos em algum ponto distante.

Foi quando Nishinia se aproximou.

— Posso sentar aqui?

Akira, surpreso, apenas assentiu. Ela sentou-se ao seu lado e sorriu.

— Você sempre tá sozinho. Nunca pensei que alguém tão quieto pudesse ler tanta coisa... esse livro é bom?

Ele a olhou, hesitante, mas sorriu de volta pela primeira vez em dias.

— É... fala sobre encontrar força dentro de si, mesmo quando ninguém acredita em você.

— Parece com você — disse ela, olhando diretamente em seus olhos.

Durante semanas, Nishinia e Akira conversaram todos os dias. Ela ria das piadas dele, dividia o lanche, até o defendeu de um comentário maldoso na sala. Pela primeira vez, ele se sentiu visto. Pela primeira vez... ele se permitiu sonhar.

— Eu pensei... que talvez... eu tivesse encontrado alguém.

Mas eu estava errado.

FLASHBACK – Auditório da escola, semanas depois

Era o “show de talentos” da turma. A maioria estava reunida ali, e Akira estava nervoso. Nishinia havia dito que queria contar algo especial naquele dia. Ela subiu ao palco, com um microfone na mão.

— Eu queria aproveitar esse momento pra revelar algo... — ela riu, olhando para os colegas. — Sabe o Akira? Aquele cara esquisitão que fica sempre sozinho?

A plateia murmurou e deu risada.

— Pois é... eu disse que estava interessada nele... E ELE ACREDITOU!

Todos começaram a rir. Alguns gritavam:

— Coitado!

— Que iludido!

Akira, parado no meio da plateia, sentiu o mundo desabar. O coração apertado, as mãos tremendo, os olhos marejados.

— Eu confiei... — sussurrou.

Ela continuou:

— Gente, sério, foi só uma aposta! Ninguém achou que ele ia cair, mas olha só... ele caiu direitinho! Hahaha!

FIM DO FLASHBACK

— Eu nunca me senti tão pequeno. Tão ridículo. — Akira agora caminhava com o olhar vazio.

— E ainda assim... eu a amava. Mesmo depois de tudo... eu a amava.

Ele se sentou no banco da praça, sozinho, abraçando os próprios braços.

— Desde aquele dia, algo dentro de mim mudou. Morreu, talvez.

O céu começou a chorar gotas leves.

— Se amar é isso... talvez seja melhor nunca mais tentar.

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