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Akira Tsukihara: A Lenda entre as Lendas

ASSIM NASCE UM HERÓI

PRÓLOGO —

Quando o Mundo Escolhe se Calar

Alguns nascem para brilhar.

Outros, para serem esquecidos.

Akira Tsukihara era invisível.

Não por escolha,

mas porque o mundo decidiu não vê-lo.

Ignorado pelos que chamava de família,

machucado por quem deveria protegê-lo,

ele aprendeu cedo que confiar era abrir feridas.

Na escola, risos se tornavam armas.

Em casa, o silêncio era mais cruel do que gritos.

E à noite, quando o mundo dormia,

ele desejava apenas não acordar.

Mas mesmo corações partidos continuam batendo.

Mesmo almas exaustas ainda sonham.

Este não é o começo de um herói.

É o fim de um menino que gritou por socorro...

e foi atendido por algo além da morte

⚠️ Aviso ao Leitor:

Este capítulo é essencial. Ele revela fragmentos do passado de Akira alternando entre presente e flashbacks —

as feridas invisíveis, as perda de sua vida que moldara seu destino,

e o silêncio que o mundo escolheu manter.

Ignorá-lo seria como tentar entender uma lenda

sem conhecer a dor que a fez nascer.

boa leitura.

CAPÍTULO 1: ASSIM NASCE UM HERÓI

A vida era movimentada, e Akira caminhava desanimado rumo ao trabalho, como sempre. Seu semblante cansado já era quase uma marca registrada. Ao chegar, foi recepcionado pelos colegas com as mesmas piadinhas ofensivas de sempre, que todos ao redor insistiam em achar engraçadas.

— Olha só quem chegou... se não é o Akira! que cara é essa? A namoradinha te deixou dormir no sofá de novo, foi? — provocou um deles, arrancando gargalhadas gerais.

Claro, todos sabiam que Akira nunca tivera sequer uma namorada.

— há quem né dera — Akira riu disfarçando ter graça o incomodo.

O ambiente era desconfortável para ele, mas já havia se acostumado. Desde a infância, aprendeu a engolir as palavras e suportar esse tipo de situação. O tempo passou, e finalmente chegou a hora do intervalo — o único momento do dia em que podia respirar e pensar em silêncio.

Mas a trégua durou pouco.

Um copo com refrigerante foi derramado sobre sua cabeça de propósito.

— Eita, foi sem querer! Você não vai ficar bravo comigo, né, Akira? — disse uma voz feminina, com um sorriso debochado nos lábios.

— Hahaha! Que otário! Ele nunca faz nada. Olha só pra ele, parece um coitado mesmo — zombou outro colega enquanto se afastavam.

— Você precisa virar homem, cara. Que idiota!

No banheiro, tentando conter a raiva. Limpou-se em silêncio, encarando seu reflexo.

— Hana e DJ ... — murmurou para si mesmo enquanto secava as mãos. — Dois irmãos mimados, filhos do chefe. acham que podem fazer o que quiserem.

Agora limpo e com o estômago roncando, voltou para sua mesa, respirou fundo e pensou: “Finalmente, um pouco de paz...”

Até que...

O relógio apitou. Era hora de voltar ao trabalho.

Akira seguiu, ainda murmurando para si mesmo enquanto atravessava os corredores da loja:

—" Akira tsukihara "esse e o meu nome.

Foi então que notou uma caixa caída no chão, com várias latas espalhadas ao redor.

— ai, Akira! — gritou um dos colegas. — Fica esperto, cara! Alguém deixou essa bagunça no seu setor. Se o chefe ver isso, vai sobrar pra você!

Akira respirou fundo, pegando as latas uma por uma enquanto continuava sua narração interior:

— No geral, minha vida é até simples demais... varro o chão da loja, arrumo prateleiras, às vezes fico no caixa. Nada demais. Mas quer saber? Acho que... Eu consigo ser feliz

Um estrondo de vidro se espalhou pelo ambiente, interrompendo seus pensamentos.

Ou pelo menos... eu achava que podia.

Em casa, a atmosfera era ainda mais pesada. Akira discutia com o irmão mais velho, já sem paciência.

— Que droga, por que você nunca faz nada?! Sera que custa você fazer alguma coisa passo o dia inteiro ocupado, você podia ao menos lava adroga da louça! — gritou Akira.

— Ah, para de me encher! Quem você pensa que é pra falar comigo desse jeito?! — o irmão rebateu, com agressividade na voz.

— Eu só tô pedindo pra você fazer alguma coisa! Até quando vai continuar sendo um inútil assim?!

A resposta veio em forma de um soco no estômago. Akira se curvou de dor enquanto o irmão se aproximava com um olhar ameaçador.

— Isso é pra você aprender quem manda aqui. O único inútil nessa casa é você.

 

Mais tarde, caminhando pela rua com o olhar de quem já foi derrotado, Akira pensava:

— Meu irmão sempre foi um babaca... ele sempre foi bom em tudo mais sempre foi preguiçoso.

Akira olhou para o céu enquanto alguns pombos voavam lentamente acima dele. — hoje eu vou visitar a minha mãe ela não tá muito bem.

No hospital, Akira segurava a mão de sua mãe internada.

— Como ela está, doutor? — perguntou, com a voz baixa.

— Nada ainda, garoto... ela não está respondendo aos remédios. Na verdade, o estado dela está… piorando vou fazer o possível para salva-la.

Akira fechou os olhos, respirando fundo. O médico saiu da sala, deixando-o sozinho com ela.

— Minha mãe sofreu um derrame. Desde então... sou eu quem paga o tratamento, e os remédios eles não são nada baratos.

Encostado à janela, observou o mundo lá fora.

— Esse mundo é tão injusto... Às vezes eu sonho com um lugar onde tudo dá certo para mim. Onde eu tenho reconhecimento, amor... atenção. Tudo o que eu sempre quis. Mas, A sociedade chama isso de carência…

Derrepente.

Um pássaro pousou em seu ninho, com galhos cuidadosamente arrumados. Por um segundo, Akira sorriu Levimente. Mas a vida, mais uma vez, mostrou sua crueldade.

Uma pedra atingiu a ave com violência, derrubando-a do alto. Akira não esperava por isso, pássaro caiu, sem vida, e os filhotes famintos esperavam em vão.

— Amaldiçoados seja aquiles que usam da violência para tirar a vida dos inocentes... Essa vida e cruel de mais.

Caminhando sozinho pelas ruas movimentadas da cidade, Akira observava um casal de idosos sentados em um banco de praça. Estavam de mãos dadas, sorrindo um para o outro, como se nada mais importasse.

— O amor entre um homem e uma mulher... — murmurou ele, com os olhos baixos. — Por muito tempo, eu desejei encontrar alguém assim. A pessoa certa. Mas... sempre fui rejeitado.

De repente, memórias de sua infância vieram como um soco em seu peito. Ele se lembrou do tempo em que estudava no ensino fundamental. Um tempo onde os risos não eram gentis — e os olhares, ainda menos.

FLASHBACK – Escola, sala do 7º ano

— Olha lá, é o Akira! — gritou um dos garotos, apontando enquanto todos olhavam.

— Ei, Akira, já lavou o cabelo esse mês? — zombou outro, fazendo careta.

— Dizem que ele falou com a Yumi e ela nem respondeu! Hahaha, tomou um fora antes mesmo de tentar! — caçoou outro menino, fazendo os demais gargalharem.

Akira, encolhido em seu canto da sala, tentava se concentrar no caderno. Mas as palavras o atingiam como pedras.

— Certeza que ele nunca vai namorar ninguém! Quem ia querer ficar com esse esquisito?

— Acho que nem se pagassem! Hahaha!

As risadas ecoavam. O professor ainda não tinha entrado na sala e, como sempre, ninguém fazia nada.

Akira, em silêncio, olhava para a mesa, com os punhos cerrados debaixo dela.

Nunca respondi. Nunca rebati. Só engoli tudo. Eu queria sumir dali. Queria ser invisível.

FIM DO FLASHBACK

De volta ao presente, Akira suspira, desviando o olhar do casal de idosos.

— Eles sempre riam... toda vez era isso.

O sorriso dos velhos contrastava com o vazio dentro dele.

— Mas teve uma pessoa... uma que foi diferente de todas as outras. Ela me olhou de um jeito que ninguém mais olhou.

Akira fecha os olhos por um momento.

Nishinia era a garota mais linda que já conheci no insino médio... Ela parecia me entender.

— Mas como eu disse... a vida é cruel.

Akira parou de caminhar por um instante. O vento soprou forte, balançando os galhos das árvores acima. Ele olhou para o céu nublado, como se esperasse alguma resposta de lá.

— Nishinia... ela era a garota mais linda que já conheci no ensino médio. Tinha um jeito calmo de falar, e um sorriso que fazia até os dias ruins parecerem suportáveis.

Por um tempo... eu realmente acreditei que ela me entendia.

FLASHBACK – Pátio da escola, 2º ano do ensino médio

Akira estava sentado sozinho, como de costume. Um livro aberto no colo, mas os olhos perdidos em algum ponto distante.

Foi quando Nishinia se aproximou.

— Posso sentar aqui?

Akira, surpreso, apenas assentiu. Ela sentou-se ao seu lado e sorriu.

— Você sempre tá sozinho. Nunca pensei que alguém tão quieto pudesse ler tanta coisa... esse livro é bom?

Ele a olhou, hesitante, mas sorriu de volta pela primeira vez em dias.

— É... fala sobre encontrar força dentro de si, mesmo quando ninguém acredita em você.

— Parece com você — disse ela, olhando diretamente em seus olhos.

Durante semanas, Nishinia e Akira conversaram todos os dias. Ela ria das piadas dele, dividia o lanche, até o defendeu de um comentário maldoso na sala. Pela primeira vez, ele se sentiu visto. Pela primeira vez... ele se permitiu sonhar.

— Eu pensei... que talvez... eu tivesse encontrado alguém.

Mas eu estava errado.

FLASHBACK – Auditório da escola, semanas depois

Era o “show de talentos” da turma. A maioria estava reunida ali, e Akira estava nervoso. Nishinia havia dito que queria contar algo especial naquele dia. Ela subiu ao palco, com um microfone na mão.

— Eu queria aproveitar esse momento pra revelar algo... — ela riu, olhando para os colegas. — Sabe o Akira? Aquele cara esquisitão que fica sempre sozinho?

A plateia murmurou e deu risada.

— Pois é... eu disse que estava interessada nele... E ELE ACREDITOU!

Todos começaram a rir. Alguns gritavam:

— Coitado!

— Que iludido!

Akira, parado no meio da plateia, sentiu o mundo desabar. O coração apertado, as mãos tremendo, os olhos marejados.

— Eu confiei... — sussurrou.

Ela continuou:

— Gente, sério, foi só uma aposta! Ninguém achou que ele ia cair, mas olha só... ele caiu direitinho! Hahaha!

FIM DO FLASHBACK

— Eu nunca me senti tão pequeno. Tão ridículo. — Akira agora caminhava com o olhar vazio.

— E ainda assim... eu a amava. Mesmo depois de tudo... eu a amava.

Ele se sentou no banco da praça, sozinho, abraçando os próprios braços.

— Desde aquele dia, algo dentro de mim mudou. Morreu, talvez.

O céu começou a chorar gotas leves.

O relógio da parede marcava 20h17. A casa estava silenciosa… por pouco tempo.

— você não fez nada de novo?! — a voz de Akira ecoou pela cozinha, carregada de raiva.

— ah de novo isso me deixa em paz Akira — gritou seu irmão, jogando o controle do videogame sobre o sofá. — sera que dá pra você me deixa em paz passa o dia inteiro reclamando.

— eu fico o dia inteiro trabalhando! pra pagar o aluguel pra comprar remédio pra nossa mãe! — a respiração de Akira estava pesada. — e você? o que você faz além de viver às minhas custas?

O irmão se levantou abruptamente, com os punhos cerrados.

— cuida da tua vida, moleque! tu acha que é o dono mundo só porque tem um emprego de merda? — Ele se aproximou, peito inflado. — eu nunca pedi sua ajuda!

Akira o empurrou para trás, o coração batendo como um tambor.

— é isso mesmo, você nunca pediu nada! você só deixou todo o peso cair em mim!

Sem pensar, Akira pegou a jaqueta pendurada atrás da porta.— a onde pensa que vai? — perguntou seu irmão de forma os til.

— não e da sua conta

Akira saiu, batendo a porta com força. A noite estava fria. O vento parecia querer cortá-lo por dentro. Ele andou por alguns minutos sem rumo, os pensamentos girando como um turbilhão.

— Eu odeio isso… odeio minha vida… — murmurava, rangendo os dentes.

Parou na praça vazia e sentou-se num banco. O silêncio da rua contrastava com o barulho dentro dele.

Foi quando seu celular vibrou. Uma notificação de mensagem. Número desconhecido.

> "Akira Tsukihara, você está sendo oficialmente desligado da empresa. Motivo: comportamento desmotivado, constante apatia e falta de comunicação. Sua rescisão estará disponível para retirada na próxima semana."

Por um instante, ele não entendeu. Relutou em acreditar. Mas os olhos encaravam a tela como se o mundo tivesse parado.

— Não... — sussurrou, a voz falhando. — Não pode ser...

Outro golpe. Mais um peso. Mais um pedaço dele despencando no abismo.

Ele se encolheu no banco. As mãos tremiam. Não chorou. Não tinha mais lágrimas.

— Eu... não tenho mais nada.

As luzes da rua piscavam ao longe. O mundo seguia em frente. Mas Akira sentia que ele… tinha ficado para trás.

Akira se levantou do banco com dificuldade. Seu corpo doía, mas não era físico. Ele continuou andando pela calçada deserta, os passos lentos e pesados, como se o chão o puxasse para baixo.

O céu começava a clarear. Um fio tímido de luz surgia no horizonte, tingindo de dourado os prédios e fios de eletricidade.

— Minha vida sempre foi assim... — murmurou. — Mesmo pagando as contas, me esforçando, me matando... meu irmão sempre teve as melhores oportunidades.

Lembranças começaram a flutuar em sua mente.

— Até mesmo quando ele foi campeão em esportes radicais, todas as garotas gostam dele... Ele nunca deu valor pra nada disso.

Suspirou fundo. O ar gelado cortava sua garganta. Seus olhos estavam fundos e cansados.

— E minha mãe... — fez uma pausa longa, — Ela sempre fazia tudo por ele. Defendia, cuidava, mimava. Hoje... ele nem no hospital vai. Nem uma visita se quer.

Akira parou na calçada. Olhou para o céu, onde o sol começava a surgir atrás dos prédios.

Antes que desse o primeiro passo, o celular vibrou no bolso. Era o número do hospital.

— Alô?

A voz do médico do outro lado da linha era grave e Séria.

— Akira ? É sobre sua mãe. Precisamos que venha imediatamente. Sinto muito, mas... é urgente.

Sem conseguir responder, Akira desligou e correu.

Minutos depois, chegou ao hospital. Correu pelos corredores pálidos, o som de seus passos ecoando como batimentos cardíacos acelerados. Encontrou o médico próximo à sala onde sua mãe estava internada.

— Doutor... o que... o que aconteceu?

O médico respirou fundo e falou com pesar:

— Akira... sua mãe teve uma parada cardíaca repentina. Tentamos reanimá-la... mas ela não resistiu. Sinto muito.

O chão pareceu sumir. O ar ficou mais denso. Akira sentiu as pernas falharem, mas se manteve de pé, mesmo que por dentro estivesse desabando.

— N-não... — balbuciou. — Não pode ser... Eu... eu ainda nem...

Os olhos se encheram de lágrimas. Pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu vontade de gritar. Mas só o silêncio saiu.

Ele entrou no quarto. Lá estava ela. Imóvel. Serena. Como se estivesse apenas dormindo.

— Mãe...

Se aproximou, segurou a mão dela — ainda quente, mas vazia de vida. Seus dedos tremiam.

— Me desculpa... — sussurrou. — Eu sinto muito mãe ... me desculpa... Eu só... queria que tudo fosse diferente.

Naquele momento, Akira sentiu que algo dentro dele... morreu com ela.

Vagando pelas ruas movimentadas da cidade, Akira sentia-se como um fantasma. Os carros passavam, as pessoas andavam apressadas, mas ele... apenas existiana quelé momento.

Seus pensamentos o arrastavam como uma enxurrada. Tudo girava em sua cabeça — a discussão com o irmão, a demissão, e agora... a perda da única pessoa que ainda o fazia seguir em frente.

"Por quê?", ele se perguntava.

"O que eu faço agora? Por que isso está acontecendo comigo? O que eu fiz pra merecer isso...?"

O som da cidade parecia distante. Os rostos das pessoas eram borrões. Nada importava mais. Ele caminhava sem direção, os olhos perdidos, a alma esmagada.

Flashbacks surgiam em sua mente como lâminas cortando:

— Akira, seu irmão é tão inteligente...

— Esse menino não serve pra nada! Olha pra ele

— Sua mãe não vai durar muito se você não pagar logo os remédios.

As vozes ecoavam, se sobrepunham, riam dele. Risadas zombeteiras, fantasmas de um passado que nunca o deixou em paz.

— Por que... por que... — murmurava em voz baixa. — Por que tudo isso acontece comigo?

Ele atravessava a rua, sem perceber. Não olhava para os lados. Estava no meio da pista.

Um som estrondoso cortou o ar:

BIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIP!

Um caminhão avançava em alta velocidade, buzinando desesperadamente. As pessoas gritaram na calçada. Um som de freios rangendo.

Por um triz, o caminhão conseguiu desviar.

O vento forte que passou por Akira quase o jogou no chão.

Ele ficou parado. Respirando com dificuldade. As mãos tremiam. O coração parecia prestes a explodir. Mas mesmo assim... não se moveu.

— A vida é tão injusta... — sussurrou. — Por quê?

As risadas continuavam ecoando em sua cabeça. Memórias distorcidas. Momentos que marcaram sua vida.

Ele se agachou no meio da rua. As lágrimas finalmente escorreram.

— Eu só queria... viver em paz...

Mas a paz, para Akira, parecia sempre ser um sonho muito distante.

Ainda preso nos labirintos sombrios da própria mente, Akira vagava sem rumo. Cada pensamento, um eco vazio, uma cicatriz que nunca foi curada.

Até que um grito rasgou o silêncio.

— SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA!

Uma mulher lutava desesperadamente contra um assaltante que puxava sua bolsa com violência. As pessoas ao redor pararam. Algumas ergueram seus celulares, mas nenhuma delas se moveu. Nenhuma estendeu a mão. Nenhuma teve coragem.

Akira observava.

O tempo parecia desacelerar. O mundo inteiro mergulhava em um mar de indiferença.

— Por que ninguém faz nada...? — sussurrou, com a garganta apertada. — Vocês não conseguem ver o desespero dela...?

A voz de seu pai ecoou em sua mente:

— Por que você não faz alguma coisa útil?

Algo se rompeu dentro dele. Como um fio de contenção que finalmente estoura.

Sem pensar, correu.

Os sons da rua ficaram distantes. Seus pés batiam forte no asfalto. O coração acelerava. O bandido puxou uma arma, gritando ameaças. A mulher chorava, tremendo.

— LARGA ELA! — Akira berrou, mergulhando contra o homem.

O impacto os jogou ao chão. Rolaram. Socos, empurrões, grunhidos. Akira lutava com tudo que tinha, mas o assaltante era mais forte. A arma cintilava entre os dois, até que a mulher conseguiu escapar, correndo.

Akira tentou agarrar o braço do homem, mas uma cotovelada violenta o jogou para trás.

E então — um estalo. Um reflexo.

PAM!

O disparo cortou o ar. Um som que paralisou o mundo.

Akira caiu.

A dor veio depois. Um calor ardente na cabeça. Um zumbido surdo nos ouvidos.

Ele estava deitado. O céu sobre ele parecia distante demais. Sangue escorria pela lateral do rosto — quente, denso.

O grito da mulher ao longe. As pessoas correndo. O bandido fugindo.

Nada disso importava mais.

O tempo... Parecia desacelerar ainda mais.

É assim...? É assim que tudo termina...?

Pensamentos invadiram sua mente em turbilhão, desordenados, e dolorosos.

Eu não me despedi da minha mãe... Nunca tive a chance de conhecer uma garota legal... Nunca pedi desculpas àquela pessoa... Nunca soube o que era ser feliz de verdade... eu não... Vivi o suficiente para aproveitar minha própria vida eu só... eu só... Fiz sobreviver nesse mundo...

Lágrimas se misturavam ao sangue.

Eu ainda... quero viver... Eu... não queria morrer assim.

As luzes do mundo começavam a apagar. A visão embaçava. O som se transformava num borrão distante.

Um último pensamento ecoou, sussurrado dentro da escuridão

— eu só queria... que tudo fosse... diferente...

ASTOLPHRRYA

Prólogo – Entre o Fim e o Começo

Há um instante de silêncio entre a morte e o despertar.

Um vazio suspenso no tempo.

É ali, entre o último suspiro e o primeiro pensamento, que a alma se pergunta:

"E se eu ainda estivesse vivo?"

Este capítulo não começa com heróis em glória, nem com monstros à espreita.

Começa com um som.

Um bip.

Como o eco de uma vida que deveria ter acabado.

Aqui, o real e o impossível se entrelaçam.

Akira Tsukihara acorda não em seu mundo... mas em algum outro.

Sem cicatrizes. Sem respostas.

Apenas o silêncio — e uma vila estranha, onde o tempo parece andar de forma diferente.

Este capítulo é o ponto onde o leitor começa a escorregar para o desconhecido junto do protagonista.

Não há certezas, apenas perguntas.

E, a cada página, o som do mundo antigo se apaga... dando lugar ao novo.

Mas cuidado.

Nem tudo o que parece acolhedor é seguro.

E, às vezes, o verdadeiro perigo se esconde nas noites calmas.

Nos passos que não deveriam ecoar.

Nos nomes que ninguém conhece

boa leitura.

CAPÍTULO 2: ASTOLPHRRYA

Bip... bip... bip...

Um som agudo rompia o silêncio, repetitivo e distante, como um eco vindo de outro mundo.

Akira abriu os olhos com dificuldade. Tudo estava embaçado, a luz dançava pelas bordas da visão. Tentou se mover, mas o corpo não obedecia. Sentia-se pesado, como se tivesse atravessado um abismo.

Bip... bip...

— "Estou... em um hospital?" — foi o primeiro pensamento que surgiu. Mas algo estava errado.

Não havia máquinas. Nenhum visor. Nenhum cabo preso ao corpo.

A única coisa ao redor era uma pequena cama de madeira, colchas rústicas e paredes de pedra. Pela janela, entrava uma brisa leve, carregada com o cheiro de terra molhada, flores silvestres e... sons de animais — bois, cavalos.

E, mesmo assim, o som continuava.

Bip...

E então, parou.

A mente de Akira girava em espiral. Imagens voltavam em flashes: o assalto, o grito da mulher, o impacto, o tiro... a dor. Ele se lembrava de tudo com nitidez.

A porta rangeu. Alguém entrou.

Uma jovem.

Cabelos loiros e longos, presos por uma fita simples. Suas roupas eram feitas de tecido cru, mas limpas e bem cuidadas. Havia serenidade em seu olhar. Aproximou-se, observando-o com curiosidade.

— Você... acordou — disse ela com voz leve, expressão neutra.

Akira tentou se sentar, mas uma pontada aguda na cabeça o fez recuar.

— Tenha calma. Você estava com febre e acabou de acordar — ela se aproximou devagar, colocando um pano úmido sobre sua testa.

Ele a observou, confuso.

— Onde eu estou...? Eu... pensei que tivesse morrido.

— Às vezes, a sensação é essa... em Astolphrrya.

Silêncio.

— Astolphrrya...? O que está acontecendo?

— você parece confuso. Encontrei você caído num beco da cidade. Tentei acordá-lo, mas não respondia.

Akira olhou em volta, sentindo que algo não se encaixava. Nada ali parecia moderno. Nenhum sinal de tecnologia. Nenhuma pista de que ainda estivesse no mesmo mundo.

— Eu não conheço esse lugar... nem esse nome... — murmurou. — e Quem é você?

— Estamos na nação de Astolphirrya. E eu me chamo Colete. Se não se importar, posso te fazer uma pergunta?

Akira assentiu, mesmo com tudo parecendo absurdo.

— De onde você é? Nunca vi você por aqui, nem na vila, nem na cidade.

— Eu... sou de nova York.

Colete franziu levemente o cenho.

— Não conheço esse lugar... — disse, pensativa. Observou-o em silêncio por alguns segundos, como se processasse aquilo.

De repente, Akira sentiu um cheiro estranho no ar.

— Você está sentindo isso? parece que tem algo queimado...

Colete ergueu o rosto, farejando.

— Ah, não... — murmurou, e se levantou de repente. — Fique aqui e descanse. Sua febre ainda está alta.

Saiu rapidamente, sem esperar resposta.

— Isso é um sonho...? — murmurou Akira para si mesmo. — Eu morri... tenho certeza que morri.

Levou a mão ao local onde fora atingido, mas não havia nada. Nenhum ferimento. Nenhuma cicatriz.

Ficou ali, sozinho, com o eco do bip ainda pairando na mente como uma lembrança do que aconteceu.

— Não pode ser... Mas eu... Astolphirrya? Nunca ouvi esse nome antes... e ela também não conhece o lugar de onde vim...

O cansaço o venceu. Seus olhos pesavam como se puxados por correntes invisíveis.

— Acho que... vou descansar mais um pouco...

Akira adormeceu. Um sono pesado, como se tivesse atravessado mundos.

 

Algum tempo depois...

O som da faca cortando legumes ecoava repetidamente na pequena cozinha. Era quase hipnótico. Colete estava concentrada, preparando algo que exalava um cheiro simples, mas acolhedor. Seus movimentos eram calmos, como parte de uma rotina serena.

Depois de alimentar os animais no quintal — algumas galinhas, um porquinho e um cão de pelagem grossa que a seguia como sombra — ela voltou para dentro.

E lá estava ele.

De pé, parado à entrada da cozinha, como se guiado pelo cheiro do almoço. Akira e Colete se entreolharam por um momento em silêncio.

— Pode se sentar — disse ela, com um leve sorriso.

Na cozinha, a luz do sol atravessava a janela, aquecendo a mesa de madeira. Colete serviu um prato diante dele: arroz, carne cozida e legumes frescos, tudo com aparência simples, porém cuidadosamente arrumado.

— Já está se sentindo melhor, Akira? — perguntou, sentando à sua frente.

Ele encarou a comida por alguns segundos. Estranhamente familiar... e, ao mesmo tempo, completamente diferente.

— Ah... sim. Acho que sim. Mas... — hesitou, olhando ao redor, tentando compreender tudo. — Ainda estou meio confuso.

Colete inclinou a cabeça com gentileza.

— Tem algo incomodando você? Talvez eu tenha colocado comida demais no seu prato?

Akira soltou um riso fraco, mais por nervosismo do que por humor.

— Não é isso. É que... como você sabe meu nome? Eu não me lembro de ter dito.

Ela parou por um instante. Seus olhos se fixaram nele com suavidade.

— Eu fui... abençoada — respondeu com naturalidade. — Quando olho nos olhos de alguém, sei o nome dela. E mais... consigo sentir se é uma pessoa boa ou ruim, pela energia que carrega. Foi por isso que ajudei você.

— Abençoada...? — repetiu Akira, franzindo a testa. — Isso é... estranho. Que tipo de bênção é essa?

Colete apoiou os cotovelos sobre a mesa.

— Não sei explicar direito... é um dom natural. Todas as pessoas nascem com algum tipo de dom aqui.

— Você fala como se fosse algo normal...

— E é — respondeu com simplicidade.

O silêncio voltou a crescer entre eles. Mas não era desconfortável. Era um silêncio cheio de perguntas não feitas.

— Você não vai comer? — perguntou ela, olhando para ele.

— Ah... sim — respondeu Akira, pegando os talheres com certa hesitação.

Já anoitecia. O sol descia lentamente no horizonte, tingindo os céus com tons de laranja. As pessoas do vilarejo fechavam suas portas, como se a noite trouxesse consigo algo que não deveria ser visto. Até os animais das fazendas permaneciam quietos, recolhidos em seus abrigos.

— Parece que já está na hora... — sussurrou Colete, quase sem mover os lábios. — Por favor, entre. Você pode passar mais algumas noites aqui até se estabilizar... E, se ouvir sons estranhos, não se preocupe.

— Sons estranhos?

Colete levou Akira até o quarto onde ele havia despertado.

— Pode dormir aqui — disse ela, cada palavra baixa como um sussurro.

Akira não respondeu; apenas assentiu em silêncio, aceitando sua gentileza.

A noite parecia comum, mas Akira não conseguia dormir. Foi então que passos metálicos e secos soaram ao longe naquela noite silenciosa.

— Será que era disso que ela estava falando?...

Ele soltou um suspiro sutil.

— Qual é a dessa Colete? A expressão dela é sempre a mesma... E ainda por cima permitiu que um completo estranho dormisse aqui.

Os sons metálicos se aproximaram. Rangidos se seguiram, como se uma máquina de ferro se movesse pelo vilarejo. Pouco a pouco, os barulhos foram se afastando, até sumirem por completo.

— Acho melhor eu dormir agora... Afinal de contas, o que está acontecendo?

 

Na manhã seguinte, Akira acordou com o som distante de animais. O mesmo som repetitivo que ouvira antes de despertar no dia anterior. Mas, desta vez, cessou mais rápido — como um eco antigo perdendo força.

— Que estranho... Achei que... — Ele olhou ao redor. Era o mesmo quarto de antes. — Então não foi um sonho... Será que eu... Não. Isso é loucura. Ontem foi real.

Guiado pelo som familiar de faca cortando legumes, Akira seguiu até a cozinha. Colete estava lá, preparando o almoço bem cedo.

— Bom dia.

— Bom dia. Sente-se, só me dê um minuto e já vou servir seu café da manhã — disse ela, parando o que fazia. — Deve estar com muita fome. Você quase não comeu ontem.

— Ah... obrigado. Mas por que está me tratando tão bem assim? Sou um completo estranho e... eu não fiz nada por você — Akira disse, um pouco sem jeito.

— Não tem problema. Você não é uma pessoa ruim. E, normalmente, eu não recebo convidados...

Principalmente tão especiais.

— Especial...? — repetiu ele, surpreso.

— Como você mesmo disse ontem, você não é deste mundo. Não veio de fora da barreira, e também não parece ser um Reivindicar.

Akira, ainda confuso, franziu a testa.

— Do que ela tá falando? — murmurou para si mesmo.

Enquanto servia o café da manhã, Colete continuou:

— No passado, pessoas de fora surgiam com memórias de vidas passadas. Alguns diziam ter sido reis. Outros, heróis de mundos com tecnologias... embora eu nem saiba o que isso significa.

As palavras ecoaram na mente de Akira. Ele ficou em silêncio, perdido, como se a voz de Colete ficasse distante, abafada, como se viesse debaixo d’água.

— Akira... — chamou ela, preocupada.

— Hã?

— Está tudo bem com você? — Colete encostou a mão em sua testa. — Você ficou pálido de repente...

— Ah... eu estou bem...

— Você está com febre. Será que foi algo que comeu ontem? Eu vou levá-lo até a Meilin. Ela pode ajudar a baixar sua temperatura.

— Não precisa — protestou Akira. — Eu estou bem, eu...

Mas seu corpo vacilou, e uma dor aguda percorreu sua cabeça.

— Essa não... — disse Colete, com a expressão séria. — Eu vou levá-lo até ela.

O caminho até a casa de Meilin era estreito. A trilha serpenteava entre árvores altas, cujos galhos formavam um dossel de folhas verdes que filtravam a luz do sol. Akira se apoiava em Colete — algo estava errado. Sua visão turvava, e palavras estranhas sussurravam em sua mente como o vento entre as árvores.

— Por favor, não durma agora — implorou Colete, segurando-o firme. — Estamos quase chegando.

A casa da curandeira ficava um pouco afastada da vila. Era cercada por uma cerca feita de galhos trançados com fitas. Pequenos vasos de pedra com flores azuis exalavam um perfume doce, quase enjoativo.

Ao empurrar o portão, um sino preso à entrada soou com um tilintar suave e misterioso.

Sentada sobre uma almofada estava Meilin — cabelos longos e prateados, olhos verdes como folhas frescas.

Ela não ficou surpresa com a visita. Afinal, fora ela quem cuidara de Akira horas antes de ele acordar.

— Ele precisa de ajuda — disse Colete, apoiando Akira nos ombros.

— Deite-o ali — instruiu Meilin, com voz firme e suave.

Colete ajudou Akira a se deitar. Meilin lhe ofereceu uma bebida de cor âmbar e aroma amargo.

— Essa febre voltou de novo... — murmurou Meilin, colocando a mão sobre a testa dele.

Akira tentou perguntar algo, mas os sussurros voltaram. Um zumbido se formou logo depois, e sua mente mergulhou num silêncio profundo. Ele respirou aliviado, como se tivesse sido puxado subitamente para o sono.

— Você pode esperar lá fora — disse Meilin a Colete.

Do lado de fora, Colete esperava pacientemente. Sua expressão serena escondia uma leve preocupação nos olhos.

Pouco tempo depois, Akira saiu, respirando com mais facilidade.

— Como se sente agora? — perguntou Colete.

— Bem melhor... Me desculpe por dar tanto trabalho.

— Já está tudo certo com ele — disse Meilin, aproximando-se. — Mas, antes de irem embora, quero que beba isso daqui a quatro horas.

Ela entregou a Akira um pequeno frasco com o mesmo líquido de antes.

— Daqui a quatro horas — repetiu ele, hesitante. — Aí eu não sei... Isso não tem um gosto muito bom.

— Não é pra ter gosto bom — respondeu Meilin. — É pra te fazer melhorar.

— Acho que cheguei em boa hora — disse uma voz firme, chamando a atenção de todos.

Meilin ergueu os olhos e sorriu. — Alexsander...

O homem se aproximou com um aceno descontraído. Tinha pele morena, uma armadura reluzente e um espadão nas costas.

— Olá a todos. Olha só quem finalmente acordou!.

— Quem é esse...? — murmurou Akira, curioso.

Colete se virou para ele.

— Ele é Alexsander, um aventureiro que me ajudou a te trazer para a vila.

Alexsander estendeu a mão pegando a de Akira.

— Muito prazer em conhecê-lo. Cara, vou te contar: você não acordava por nada! Parecia até um bêbado da cidade. Mas e aí, como se sente?

— Me sinto bem melhor agora. Mas... espera, ela disse que você e um aventureiro?

Alexsander deu uma risada animada.

— Isso mesmo! Sou um aventureiro... Embora, ultimamente, eu não tenha me aventurado tanto e que não tem tido muitas missões assim.

Colete voltou-se para Akira.

— Por que você não se torna um aventureiro também? É uma forma de recomeçar... e ainda ganha algum dinheiro.

Akira coçou a nuca.

— Não parece uma má ideia. Mas como eu me torno um aventureiro?

Alexsander deu uma risada e bateu nas costas de Akira.

— Haha! Cola comigo que eu te ajudo com isso.

Meilin então olhou para Alexandre com curiosidade.

— Espera... o que veio fazer aqui?

— Vim trazer as ervas que você pediu. Lembra? Colhi na montanha, no ponto onde o sol bate mais forte. Por sorte, eu ando bastante por lá e lembrei de colhe–las — disse ele, entregando um pequeno saco de tecido a ela.

— Bom, agora preciso ir. Parece que os porcos selvagens estão sendo caçados de novo pelo pessoal da cidade.

Ele acenou para todos e partiu com confiança.

Meilin suspirou.

— Bom, acho que vou entrar. — Ela se virou para Colete. — Lembre ele de tomar o remédio daqui a quatro horas.

Colete apenas assentiu, mantendo a mesma expressão serena de sempre.

O QUE TEM DENTRO DE VOCÊ

CAPÍTULO 3: O QUE TEM DENTRO DE VOCÊ

Ainda naquela manhã, Akira e Colete caminhavam de volta para a casa dela. O silêncio da vila o incomodava desde o dia anterior. Desde que acordou naquele mundo estranho, tudo parecia envolto de mistério. As pessoas dormiam cedo demais. Os animais? Principalmente não faziam nenhum som a noite. Nem um grilo. Nem um latido. Apenas aquele silêncio e sons estranhos.

— Colete... ontem à noite... — ele hesitou, mas não conseguiu mais guardar as dúvidas. — eu ouvi os sons que você falou, Por que ninguém sai depois do pôr do sol?

Colete andava à frente, mas parou ao ouvir a pergunta. Ficou alguns segundos em silêncio, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas... ou talvez como se estivesse lutando contra memórias dolorosas.

— Há alguns anos... — ela começou a falar, com um tom sombrio. — Um alquimista viveu nesta vila. Ele tinha sonhos grandiosos. Queria revolucionar o mundo com suas criações... máquinas que ajudassem a proteger e a facilitar a vida das pessoas.

Akira se aproximou, intrigado. — E o que deu errado?

Colete baixou os olhos. A dor era visível em sua expressão.

[Flashback começa]

— Naquela época, a vila era cheia de vida e recebia muitos visitantes, As noites eram cheias de luz, risos e músicas. Crianças corriam e brincavam livremente, e os adultos celebravam sob lanternas flutuantes. No alto da colina, uma torre coberta de engrenagens girava dia e noite, exalando fumaça azulada. Era lá que ele vivia Orion, o alquimista.

Ele era um homem genial Inventava máquinas movidas por magia, prometendo um futuro onde ninguém mais precisaria temer monstros ou guerras. No início, deu certo. As máquinas irrigavam os campos, protegiam as vilas e cidades e faziam serviços domésticos. Eram obedientes, programadas para servir.

Mas algo aconteceu...

Ninguém sabe como ou por quê, mas uma das máquinas um protótipo avançado com núcleo mágico instável ganhou consciência própria.

Em uma única noite, como se obedecessem a uma mente coletiva, todas as máquinas se voltaram contra os humanos. O festival virou massacre um riu de sangue.

Eu vi a, mãe sendo esmagada por uma máquina mineradora, Os gritos dela ecoaram por toda a vila, mas ninguém pôde salvá-la... mesmo eu...

Os aventureiros que estavam lá tentaram resistir. Muitos morreram. Foi só quando a vila estava prestes a cair que um mago desconhecido apareceu. Ele enfrentou as máquinas sozinho. Elas registiram mais do que ele esperava.

ele lançou um feitiço, e levou todas elas em bora, niguem mais ouviu falar dele durante três meses e tudo que sobrou foram na quele dia foram sinzas.

Porque, mesmo hoje, dizem que alguém ou algo ainda vive nas ruínas da torre...

[Fim do Flashback]

Colete voltou o olhar para Akira. Seu rosto parecia mais pálido, distante.

— Eram muitas máquinas... O mago não tinha como vencê-las. muitos morreram lutando por suas vidas aqui todos perderam alguém que eles amavam, as máquinas andam por ai, Até o dia de hoje.

— eu sinto muito... Eu... não devia ter perguntado? — murmurou Akira agora com outro pensamento.

Colete negou com a cabeça — não. Eu já esperava que você perguntasse sobre isso.

— mais e o alquimista?

— ele foi embora... — ela respondeu, com os olhos fixos nas ruínas da torre no alto da colina. — as máquinas ainda estão por aí. E depois que a barreira foi erguida... tudo ficou ainda mais difícil.

— Que barreira é essa? — perguntou Akira, curioso — ela já tinha mencionado isso antes — murmurou pra se mesmo.

Colete hesitou por um momento, como se estivesse distante.

— vamos volta pra minha casa aqui não e um bom lugar para conversarmos.

Akira observou enquanto ela se afastava. Sentia-se estranho. Colete o acolheu. Foi gentil com ele. Aquela sensação parecia algo novo.

Algo dentro dele despertava uma memória antiga, da outra vida. Um calor suave, quase esquecido, floresceu por um breve segundo em seu peito.

Akira ajudou Colete com todos os afazeres. Varreu o chão da casa, lavou a louça e até alimentou o pequeno porco da casa — um bichinho curioso e esquisito que o observava como se fosse capaz de entender tudo o que ele dizia.

Enquanto jogava a comida no pote de madeira, Akira ficou pensativo. As palavras de Colete ecoavam em sua mente. As máquinas, o alquimista, o mago... Era difícil acreditar que tudo aquilo era real. Mas olhando ao longe, para as ruínas da torre no topo da colina, não podia negar que era real.

— Esse mundo é mesmo diferente... — murmurou, com um leve sorriso no rosto.

Ele estava vivo. Estava bem. Respirando. Pela primeira vez em muito tempo, sentia-se livre para fazer o que quese-se

— É isso... — disse em voz baixa, olhando para as próprias mãos. — Eu já me decidi... Vou fazer tudo o que não pude fazer antes de morrer e também vou me tornar um aventureiro.

De repente, seu peito se encheu de uma sensação que não sentia há muito tempo: alegria genuína. Sua mão tremia, não de medo, mas de felicidade. Era algo novo, quase assustador mas maravilhoso.

O porquinho grunhiu, como se concordasse. Seus olhinhos redondos encaravam Akira com uma inteligência de um pequeno porco.

— O que foi? — Akira riu, passando a mão em sua cabeça. — Tá me achando esquisito, é?

Então, sem pensar muito, ele correu de volta para a casa. Abriu a porta da cozinha com tanta pressa que quase a arrancou das dobradiças, assustando Colete, que preparava algo.

— Me conta! — exclamou, ofegante, com os olhos brilhando. — Me conta tudo sobre esse mundo!

Colete virou-se, surpresa, e por um segundo seus olhos suavizaram.

Ela nunca tinha visto alguém tão animado assim a muito tempo.

Akira e Colete estavam jogando comida para as galinhas enquanto conversavam. As aves ciscavam animadas ao redor deles, cacarejando alto.

— Então foi isso que aconteceu...? — Akira falava, enquanto jogando um punhado de milho no chão. — Esse mundo é mesmo incrível...

— Sim — respondeu Colete. — antes da barreira muitos começaram a achar que o mago tinha enlouquecido. As pessoas não queriam mais ouvir o que ele dizia. Ainda assim, mesmo depois de tudo, todos decidiram permanecer em Edellian. O mago, não teve escolha e então ergueu uma barreira mágica ao redor de toda nação.

Akira franziu o rosto. — Então... estamos presos aqui?

Colete balançou a cabeça em negação. — Para muitos sim mais, Eu não vejo dessa forma. Você acorda todos os dias no mesmo corpo, mas não se sente preso a ele... certo?

Akira refletiu por um instante e então assentiu. — Entendi... — murmurou, olhando de canto para as ruínas no alto da colina.

Colete o observou de lado. — Você está pensando em ir até lá?

Ele coçou a nuca, meio sem jeito. — Ah... por que eu faria isso?

— Porque você já encarou as ruínas da torre umas cinco vezes desde que terminamos de falar sobre a história do vilarejo — ela falou, com um tom de leve provocação.

Akira riu de nervoso. — Talvez eu queira ir até lá... mas ainda não me decidi.

— Você já conversou com o Alexandre? — perguntou Colete, com um olhar atento. — Talvez ele ainda esteja na vila.

— Bom... Ele disse que podia me ajudar. Então acho que vou falar com ele. — Akira coçou a nuca, um pouco sem graça. — Mas... eu não conheço nada por aqui.

Colete sorriu de leve.

— Vamos até a casa dele, então.

Alguns minutos depois, Akira e Colete chegaram à casa de Alexandre — uma morada simples, mas bem cuidada, com um pequeno jardim na frente e um curto caminho de pedras que levava até a porta.

Colete se adiantou e bateu levemente duas vezes.

O silêncio pairou por alguns segundos, até que o som de uma cadeira sendo arrastada e passos rápidos puderam ser ouvidos do outro lado.

— Ei, ei, devagar! — repreendeu uma voz firme, do interior da casa.

A porta rangeu ao ser destrancada e foi aberta por uma criança. Ela encarou Akira e Colete em silêncio, por segundos que pareceram eternos.

— Quem é? — perguntou uma voz mais distante, vinda de dentro da casa.

Mas antes que a resposta viesse, a garotinha fechou a porta com força.

— Lia! — a mesma voz repreendeu com certa impaciência.

A porta se abriu novamente, desta vez revelando uma mulher mais velha. Ela tinha cabelos presos em um coque bagunçado e usava um avental florido manchado de farinha.

— Ora, Colete... é você? — disse ela, com uma expressão surpresa. — E quem é esse rapaz?

— Ah... Madame Ping — respondeu Colete. — Esse é Akira. Eu não esperava encontrar você aqui, pensei que só o Alexandre estivesse em casa.

— Ele pediu para eu cuidar da Lia, mas ele já deve estar chegando... Entrem, vamos esperá-lo aqui dentro. Eu preparei um pouco de café — disse Madame Ping com um sorriso acolhedor.

Akira e Colete entraram na casa, onde o aroma suave de café fresco preenchia o ar. A sala era modesta, porém aconchegante, com móveis de madeira escura e cortinas bordadas com flores.

— Sentem-se, fiquem à vontade — disse a senhora, apontando para o sofá enquanto se dirigia à cozinha.

Enquanto Colete e Madame Ping conversavam animadamente sobre coisas do vilarejo, Akira permaneceu em silêncio, observando o ambiente. Foi então que ele percebeu: a pequena garotinha de antes o espiava, meio escondida atrás da porta do corredor.

Seus olhos curiosos o encaravam fixamente, como se tentassem decifrar quem era aquele estranho que agora dividia o mesmo espaço com ela.

Akira sorriu de leve, tentando não assustá-la

Mas, ao perceber o olhar de Akira, a garotinha se encolheu e desapareceu rapidamente atrás da porta, assustada.

— O que foi, Akira...? — perguntou Colete, notando a reação dele.

— Quem era aquela garotinha...? — ele perguntou, ainda curioso.

Madame Ping, se adiantou para responder, enquanto trazia uma bandeja com xícaras e uma chaleira fumegante.

— Aquela é a Lia, filha do Alexsander.

— O quê?! — Akira arregalou os olhos, surpreso. — Ele tem uma filha? E tão jovem assim?

Madame Ping assentiu com um olhar sereno, enquanto pousava as xícaras sobre a mesa.

— Sim... Lia é tudo o que ele tem. A mãe dela morreu quando a menina ainda era um bebê. Desde então, Alexandre faz o possível para cuidar dela, mesmo com as responsabilidades de aventureiro.

Akira permaneceu em silêncio por um instante, assimilando a informação. A imagem de Alexsander — sempre confiante, destemido — agora ganhava uma nova camada, mais humana e vulnerável.

— Eu... não fazia ideia — disse Akira, baixando um pouco o tom.

— na verdade eu não sou tão jovem — a voz que surgiu derrepente era de Alexandre animado — quantos anos você que eu tenho?

— Alexsander, que bom veio bem na hora — exclamou Madame Ping.— eles queria falar com você.

— claro tudo bem.

os três sentaram ao redor da mesa da cozinha. O aroma do café preenchia o ar enquanto a luz suave do entardecer atravessava a janela.

— Então... sobre o que querem falar comigo? — perguntou Alexandre, recostando-se na cadeira com os braços cruzados.

— Eu trouxe o Akira porque ele queria saber mais sobre a guilda dos aventureiros — disse Colete, após tomar um gole do café.

— Aah... Então seu nome é Akira — comentou Alexandre, voltando o olhar curioso para o jovem ao seu lado.

Akira ficou um pouco surpreso, como se tivesse se esquecido de algo óbvio.

— Ah, é verdade... Eu nem me apresentei da primeira vez. Me desculpe. Eu me chamo Akira. Akira Tsukihara.

Alexsander soltou uma risada animada e inclinou-se à frente.

— Não tem problema, Akira. Acontece. Mas então... — ele apoiou os cotovelos na mesa, demonstrando interesse — como posso te ajudar?

Akira respirou fundo, reunindo coragem. Sentia que estava prestes a dar mais um passo em direção ao desconhecido.

— Eu quero entender como funciona a guilda, o que é preciso pra fazer parte... e, se possível, quero tentar me tornar um aventureiro.

Alexsander o olhou por um momento em silêncio. Havia um brilho avaliador em seus olhos, como se estivesse medindo algo além das palavras.

— É mesmo? Hm... Bom, não vou mentir. Não é uma vida fácil. Mas posso-te explicar tudo o que precisar. E, se estiver mesmo decidido a se tornar um.

— Sério? Que bom... — disse Akira, deixando escapar um sorriso aliviado — eu quero sim.

Alexandre sorriu de volta.

— Ótimo. Então vamos começar do começo...

Ele se ajeitou na cadeira, tomando um gole de café antes de iniciar sua explicação.

— Existem várias classes dentro da guilda. Magos, feiticeiros, clérigos, arqueiros, paladinos, espadachins, domadores de feras, alquimistas... — começou a listar com os dedos, falando com naturalidade. — Tem também batedores, berserkers, bardos, conjuradores, e por aí vai.

Akira arregalou um pouco os olhos. A lista parecia interminável.

— Uau... — murmurou, tentando memorizar pelo menos metade dos nomes.

Alexsander deu uma risada curta, notando sua expressão confusa.

— Mas não se preocupe com isso agora — disse, interrompendo a própria enumeração. — No fim das contas, a classe que você escolhe ajuda a definir seu estilo, mas o que realmente importa é o seu nível dentro da guilda.

— Nível? — perguntou Akira, inclinando-se um pouco à frente, curioso.

— Isso mesmo. A guilda classifica os aventureiros de acordo com a experiência e realizações deles sem falar na popularidade. Vai do nível médio até o nível especial onde estão os mais fortes — explicou Alexsander, gesticulando com as mãos. — A maioria começa no nível médio ou ou então intermediário Conforme você completa missões, acumula conquistas e demonstra habilidade, você pode ser promovido.

— E como alguém sobe de nível? E sovocê treinar e completar missões, com forme sua reputação aumente.

— Em parte, sim. também depende do tipo de missão, dos resultados e da avaliação dos superiores da guilda. Às vezes, alguém pode fazer uma missão simples, mas se destacar tanto que sobe duas categorias de uma vez. Outras vezes, você precisa ralar por meses pra subir só uma.

Akira assentiu, absorvendo tudo com atenção.

— Entendi... Então não é só sair por aí se aventurando?

— Exato — Alexandre sorriu, satisfeito com o interesse do jovem. — A guilda também se importa com o comportamento, a responsabilidade e a capacidade de trabalhar em equipe. Um aventureiro que põe os outros em risco não vai durar muito.

— Isso faz sentido — comentou Akira, cruzando os braços.

Colete observava os dois, em silêncio, mais contente por ver Akira tão motivado.

— E... como eu faço pra entrar oficialmente? — perguntou o Akira, com uma ponta de ansiedade na voz.

Alexandre o encarou por um segundo, depois se levantou da cadeira e deu um leve estalo nos dedos.

— Bom, pra isso... a gente vai precisar dar uma passadinha na sede da guilda. E acho que você vai precisar de um teste.

Akira engoliu seco.

— Teste?

Alexsander deu um sorriso largo.

— É claro. A gente precisa descobrir o que tem aí dentro você, Akira.

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