O QUE TEM DENTRO DE VOCÊ

CAPÍTULO 3: O QUE TEM DENTRO DE VOCÊ

Ainda naquela manhã, Akira e Colete caminhavam de volta para a casa dela. O silêncio da vila o incomodava desde o dia anterior. Desde que acordou naquele mundo estranho, tudo parecia envolto de mistério. As pessoas dormiam cedo demais. Os animais? Principalmente não faziam nenhum som a noite. Nem um grilo. Nem um latido. Apenas aquele silêncio e sons estranhos.

— Colete... ontem à noite... — ele hesitou, mas não conseguiu mais guardar as dúvidas. — eu ouvi os sons que você falou, Por que ninguém sai depois do pôr do sol?

Colete andava à frente, mas parou ao ouvir a pergunta. Ficou alguns segundos em silêncio, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas... ou talvez como se estivesse lutando contra memórias dolorosas.

— Há alguns anos... — ela começou a falar, com um tom sombrio. — Um alquimista viveu nesta vila. Ele tinha sonhos grandiosos. Queria revolucionar o mundo com suas criações... máquinas que ajudassem a proteger e a facilitar a vida das pessoas.

Akira se aproximou, intrigado. — E o que deu errado?

Colete baixou os olhos. A dor era visível em sua expressão.

[Flashback começa]

— Naquela época, a vila era cheia de vida e recebia muitos visitantes, As noites eram cheias de luz, risos e músicas. Crianças corriam e brincavam livremente, e os adultos celebravam sob lanternas flutuantes. No alto da colina, uma torre coberta de engrenagens girava dia e noite, exalando fumaça azulada. Era lá que ele vivia Orion, o alquimista.

Ele era um homem genial Inventava máquinas movidas por magia, prometendo um futuro onde ninguém mais precisaria temer monstros ou guerras. No início, deu certo. As máquinas irrigavam os campos, protegiam as vilas e cidades e faziam serviços domésticos. Eram obedientes, programadas para servir.

Mas algo aconteceu...

Ninguém sabe como ou por quê, mas uma das máquinas um protótipo avançado com núcleo mágico instável ganhou consciência própria.

Em uma única noite, como se obedecessem a uma mente coletiva, todas as máquinas se voltaram contra os humanos. O festival virou massacre um riu de sangue.

Eu vi a, mãe sendo esmagada por uma máquina mineradora, Os gritos dela ecoaram por toda a vila, mas ninguém pôde salvá-la... mesmo eu...

Os aventureiros que estavam lá tentaram resistir. Muitos morreram. Foi só quando a vila estava prestes a cair que um mago desconhecido apareceu. Ele enfrentou as máquinas sozinho. Elas registiram mais do que ele esperava.

ele lançou um feitiço, e levou todas elas em bora, niguem mais ouviu falar dele durante três meses e tudo que sobrou foram na quele dia foram sinzas.

Porque, mesmo hoje, dizem que alguém ou algo ainda vive nas ruínas da torre...

[Fim do Flashback]

Colete voltou o olhar para Akira. Seu rosto parecia mais pálido, distante.

— Eram muitas máquinas... O mago não tinha como vencê-las. muitos morreram lutando por suas vidas aqui todos perderam alguém que eles amavam, as máquinas andam por ai, Até o dia de hoje.

— eu sinto muito... Eu... não devia ter perguntado? — murmurou Akira agora com outro pensamento.

Colete negou com a cabeça — não. Eu já esperava que você perguntasse sobre isso.

— mais e o alquimista?

— ele foi embora... — ela respondeu, com os olhos fixos nas ruínas da torre no alto da colina. — as máquinas ainda estão por aí. E depois que a barreira foi erguida... tudo ficou ainda mais difícil.

— Que barreira é essa? — perguntou Akira, curioso — ela já tinha mencionado isso antes — murmurou pra se mesmo.

Colete hesitou por um momento, como se estivesse distante.

— vamos volta pra minha casa aqui não e um bom lugar para conversarmos.

Akira observou enquanto ela se afastava. Sentia-se estranho. Colete o acolheu. Foi gentil com ele. Aquela sensação parecia algo novo.

Algo dentro dele despertava uma memória antiga, da outra vida. Um calor suave, quase esquecido, floresceu por um breve segundo em seu peito.

Akira ajudou Colete com todos os afazeres. Varreu o chão da casa, lavou a louça e até alimentou o pequeno porco da casa — um bichinho curioso e esquisito que o observava como se fosse capaz de entender tudo o que ele dizia.

Enquanto jogava a comida no pote de madeira, Akira ficou pensativo. As palavras de Colete ecoavam em sua mente. As máquinas, o alquimista, o mago... Era difícil acreditar que tudo aquilo era real. Mas olhando ao longe, para as ruínas da torre no topo da colina, não podia negar que era real.

— Esse mundo é mesmo diferente... — murmurou, com um leve sorriso no rosto.

Ele estava vivo. Estava bem. Respirando. Pela primeira vez em muito tempo, sentia-se livre para fazer o que quese-se

— É isso... — disse em voz baixa, olhando para as próprias mãos. — Eu já me decidi... Vou fazer tudo o que não pude fazer antes de morrer e também vou me tornar um aventureiro.

De repente, seu peito se encheu de uma sensação que não sentia há muito tempo: alegria genuína. Sua mão tremia, não de medo, mas de felicidade. Era algo novo, quase assustador mas maravilhoso.

O porquinho grunhiu, como se concordasse. Seus olhinhos redondos encaravam Akira com uma inteligência de um pequeno porco.

— O que foi? — Akira riu, passando a mão em sua cabeça. — Tá me achando esquisito, é?

Então, sem pensar muito, ele correu de volta para a casa. Abriu a porta da cozinha com tanta pressa que quase a arrancou das dobradiças, assustando Colete, que preparava algo.

— Me conta! — exclamou, ofegante, com os olhos brilhando. — Me conta tudo sobre esse mundo!

Colete virou-se, surpresa, e por um segundo seus olhos suavizaram.

Ela nunca tinha visto alguém tão animado assim a muito tempo.

Akira e Colete estavam jogando comida para as galinhas enquanto conversavam. As aves ciscavam animadas ao redor deles, cacarejando alto.

— Então foi isso que aconteceu...? — Akira falava, enquanto jogando um punhado de milho no chão. — Esse mundo é mesmo incrível...

— Sim — respondeu Colete. — antes da barreira muitos começaram a achar que o mago tinha enlouquecido. As pessoas não queriam mais ouvir o que ele dizia. Ainda assim, mesmo depois de tudo, todos decidiram permanecer em Edellian. O mago, não teve escolha e então ergueu uma barreira mágica ao redor de toda nação.

Akira franziu o rosto. — Então... estamos presos aqui?

Colete balançou a cabeça em negação. — Para muitos sim mais, Eu não vejo dessa forma. Você acorda todos os dias no mesmo corpo, mas não se sente preso a ele... certo?

Akira refletiu por um instante e então assentiu. — Entendi... — murmurou, olhando de canto para as ruínas no alto da colina.

Colete o observou de lado. — Você está pensando em ir até lá?

Ele coçou a nuca, meio sem jeito. — Ah... por que eu faria isso?

— Porque você já encarou as ruínas da torre umas cinco vezes desde que terminamos de falar sobre a história do vilarejo — ela falou, com um tom de leve provocação.

Akira riu de nervoso. — Talvez eu queira ir até lá... mas ainda não me decidi.

— Você já conversou com o Alexandre? — perguntou Colete, com um olhar atento. — Talvez ele ainda esteja na vila.

— Bom... Ele disse que podia me ajudar. Então acho que vou falar com ele. — Akira coçou a nuca, um pouco sem graça. — Mas... eu não conheço nada por aqui.

Colete sorriu de leve.

— Vamos até a casa dele, então.

Alguns minutos depois, Akira e Colete chegaram à casa de Alexandre — uma morada simples, mas bem cuidada, com um pequeno jardim na frente e um curto caminho de pedras que levava até a porta.

Colete se adiantou e bateu levemente duas vezes.

O silêncio pairou por alguns segundos, até que o som de uma cadeira sendo arrastada e passos rápidos puderam ser ouvidos do outro lado.

— Ei, ei, devagar! — repreendeu uma voz firme, do interior da casa.

A porta rangeu ao ser destrancada e foi aberta por uma criança. Ela encarou Akira e Colete em silêncio, por segundos que pareceram eternos.

— Quem é? — perguntou uma voz mais distante, vinda de dentro da casa.

Mas antes que a resposta viesse, a garotinha fechou a porta com força.

— Lia! — a mesma voz repreendeu com certa impaciência.

A porta se abriu novamente, desta vez revelando uma mulher mais velha. Ela tinha cabelos presos em um coque bagunçado e usava um avental florido manchado de farinha.

— Ora, Colete... é você? — disse ela, com uma expressão surpresa. — E quem é esse rapaz?

— Ah... Madame Ping — respondeu Colete. — Esse é Akira. Eu não esperava encontrar você aqui, pensei que só o Alexandre estivesse em casa.

— Ele pediu para eu cuidar da Lia, mas ele já deve estar chegando... Entrem, vamos esperá-lo aqui dentro. Eu preparei um pouco de café — disse Madame Ping com um sorriso acolhedor.

Akira e Colete entraram na casa, onde o aroma suave de café fresco preenchia o ar. A sala era modesta, porém aconchegante, com móveis de madeira escura e cortinas bordadas com flores.

— Sentem-se, fiquem à vontade — disse a senhora, apontando para o sofá enquanto se dirigia à cozinha.

Enquanto Colete e Madame Ping conversavam animadamente sobre coisas do vilarejo, Akira permaneceu em silêncio, observando o ambiente. Foi então que ele percebeu: a pequena garotinha de antes o espiava, meio escondida atrás da porta do corredor.

Seus olhos curiosos o encaravam fixamente, como se tentassem decifrar quem era aquele estranho que agora dividia o mesmo espaço com ela.

Akira sorriu de leve, tentando não assustá-la

Mas, ao perceber o olhar de Akira, a garotinha se encolheu e desapareceu rapidamente atrás da porta, assustada.

— O que foi, Akira...? — perguntou Colete, notando a reação dele.

— Quem era aquela garotinha...? — ele perguntou, ainda curioso.

Madame Ping, se adiantou para responder, enquanto trazia uma bandeja com xícaras e uma chaleira fumegante.

— Aquela é a Lia, filha do Alexsander.

— O quê?! — Akira arregalou os olhos, surpreso. — Ele tem uma filha? E tão jovem assim?

Madame Ping assentiu com um olhar sereno, enquanto pousava as xícaras sobre a mesa.

— Sim... Lia é tudo o que ele tem. A mãe dela morreu quando a menina ainda era um bebê. Desde então, Alexandre faz o possível para cuidar dela, mesmo com as responsabilidades de aventureiro.

Akira permaneceu em silêncio por um instante, assimilando a informação. A imagem de Alexsander — sempre confiante, destemido — agora ganhava uma nova camada, mais humana e vulnerável.

— Eu... não fazia ideia — disse Akira, baixando um pouco o tom.

— na verdade eu não sou tão jovem — a voz que surgiu derrepente era de Alexandre animado — quantos anos você que eu tenho?

— Alexsander, que bom veio bem na hora — exclamou Madame Ping.— eles queria falar com você.

— claro tudo bem.

os três sentaram ao redor da mesa da cozinha. O aroma do café preenchia o ar enquanto a luz suave do entardecer atravessava a janela.

— Então... sobre o que querem falar comigo? — perguntou Alexandre, recostando-se na cadeira com os braços cruzados.

— Eu trouxe o Akira porque ele queria saber mais sobre a guilda dos aventureiros — disse Colete, após tomar um gole do café.

— Aah... Então seu nome é Akira — comentou Alexandre, voltando o olhar curioso para o jovem ao seu lado.

Akira ficou um pouco surpreso, como se tivesse se esquecido de algo óbvio.

— Ah, é verdade... Eu nem me apresentei da primeira vez. Me desculpe. Eu me chamo Akira. Akira Tsukihara.

Alexsander soltou uma risada animada e inclinou-se à frente.

— Não tem problema, Akira. Acontece. Mas então... — ele apoiou os cotovelos na mesa, demonstrando interesse — como posso te ajudar?

Akira respirou fundo, reunindo coragem. Sentia que estava prestes a dar mais um passo em direção ao desconhecido.

— Eu quero entender como funciona a guilda, o que é preciso pra fazer parte... e, se possível, quero tentar me tornar um aventureiro.

Alexsander o olhou por um momento em silêncio. Havia um brilho avaliador em seus olhos, como se estivesse medindo algo além das palavras.

— É mesmo? Hm... Bom, não vou mentir. Não é uma vida fácil. Mas posso-te explicar tudo o que precisar. E, se estiver mesmo decidido a se tornar um.

— Sério? Que bom... — disse Akira, deixando escapar um sorriso aliviado — eu quero sim.

Alexandre sorriu de volta.

— Ótimo. Então vamos começar do começo...

Ele se ajeitou na cadeira, tomando um gole de café antes de iniciar sua explicação.

— Existem várias classes dentro da guilda. Magos, feiticeiros, clérigos, arqueiros, paladinos, espadachins, domadores de feras, alquimistas... — começou a listar com os dedos, falando com naturalidade. — Tem também batedores, berserkers, bardos, conjuradores, e por aí vai.

Akira arregalou um pouco os olhos. A lista parecia interminável.

— Uau... — murmurou, tentando memorizar pelo menos metade dos nomes.

Alexsander deu uma risada curta, notando sua expressão confusa.

— Mas não se preocupe com isso agora — disse, interrompendo a própria enumeração. — No fim das contas, a classe que você escolhe ajuda a definir seu estilo, mas o que realmente importa é o seu nível dentro da guilda.

— Nível? — perguntou Akira, inclinando-se um pouco à frente, curioso.

— Isso mesmo. A guilda classifica os aventureiros de acordo com a experiência e realizações deles sem falar na popularidade. Vai do nível médio até o nível especial onde estão os mais fortes — explicou Alexsander, gesticulando com as mãos. — A maioria começa no nível médio ou ou então intermediário Conforme você completa missões, acumula conquistas e demonstra habilidade, você pode ser promovido.

— E como alguém sobe de nível? E sovocê treinar e completar missões, com forme sua reputação aumente.

— Em parte, sim. também depende do tipo de missão, dos resultados e da avaliação dos superiores da guilda. Às vezes, alguém pode fazer uma missão simples, mas se destacar tanto que sobe duas categorias de uma vez. Outras vezes, você precisa ralar por meses pra subir só uma.

Akira assentiu, absorvendo tudo com atenção.

— Entendi... Então não é só sair por aí se aventurando?

— Exato — Alexandre sorriu, satisfeito com o interesse do jovem. — A guilda também se importa com o comportamento, a responsabilidade e a capacidade de trabalhar em equipe. Um aventureiro que põe os outros em risco não vai durar muito.

— Isso faz sentido — comentou Akira, cruzando os braços.

Colete observava os dois, em silêncio, mais contente por ver Akira tão motivado.

— E... como eu faço pra entrar oficialmente? — perguntou o Akira, com uma ponta de ansiedade na voz.

Alexandre o encarou por um segundo, depois se levantou da cadeira e deu um leve estalo nos dedos.

— Bom, pra isso... a gente vai precisar dar uma passadinha na sede da guilda. E acho que você vai precisar de um teste.

Akira engoliu seco.

— Teste?

Alexsander deu um sorriso largo.

— É claro. A gente precisa descobrir o que tem aí dentro você, Akira.

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EatYourHeartOut

EatYourHeartOut

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2025-04-11

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