FORASTEIRO NA ESTRADA

Prólogo ⚠️

Nem toda jornada é feita apenas de glória e batalhas heroicas. Às vezes, o caminho é moldado por escolhas difíceis, por encontros inesperados e pelas sombras que se escondem por trás de rostos familiares.

Neste capítulo, Akira e seu grupo enfrentarão não apenas perigos externos, mas também dilemas morais, dúvidas silenciosas e decisões que, embora simples à primeira vista, ecoarão por muito tempo. Velhas feridas serão reabertas no futuro. Novas alianças se formarão — ou ruirão.

A floresta será o palco. A estrada, o fio condutor. E os laços humanos, a linha tênue entre a compaixão e a justiça.

> ⚠️ Este é um dos capítulos mais extensos da história, com 6.011 palavras, mas cada linha carrega um peso essencial para o que virá a seguir. Recomenda-se uma leitura com calma e atenção. Você está prestes a mergulhar em um ponto de virada fundamental da trama.

Boa leitura.

CAPÍTULO 4: FORASTEIRO NA ESTRADA

As ruas da cidade de Myllestia estavam vivas — ao menos à primeira vista.

Akira caminhava ao lado de Alexsander, os olhos arregalados diante do que parecia ter saído direto de um jogo ou anime de fantasia. As construções misturavam o rústico ao refinado de forma única: casas com janelas amplas e vitrais coloridos, estruturas de madeira entalhadas à mão, telhados de cerâmica que brilhavam sob o céu azul profundo. Bandeiras com brasões de espadas e flores tremulavam em cada beco, acompanhando o vento que trazia consigo o cheiro de pão recém-assado e especiarias exóticas.

As ruas de paralelepípedos fervilhavam com sons e movimentos — mercadores gritando ofertas, músicos de rua tocando instrumentos que Akira nunca tinha visto, e crianças rindo enquanto corriam entre carroças puxadas por criaturas fantásticas: búfalos com escamas, cervos de quatro olhos, e até um felino gigante com asas pequenas demais para voar.

Apesar da cidade aparecer viva, havia algo no ar... um peso invisível.

— Tá sentindo isso também? — perguntou Alexsander, sem olhar para ele. — Parece tudo muito bom, mas é só fachada. No fundo, todo mundo aqui tá preocupado.

Akira parou por um momento, observando melhor os rostos ao redor. Sorrisos forçados, olhares apressados.

— É... você tem razão — murmurou. — Tá tudo bom até demais. É como se... estivessem tentando fingir que tá tudo bem.

Alexsander assentiu com o cenho levemente franzido.

— A barreira. Desde que foi erguida, ninguém entra ou sai de Edellian. A cidade virou uma prisão a céu aberto. Mas enfim... a guilda fica logo ali.

Com esse novo olhar, Akira reparou melhor nos detalhes. Guardas em cada esquina, atentos a tudo. O som animado do mercado agora parecia abafado, distante. A tensão era palpável.

— Ei... valeu por me acompanhar hoje — disse Akira. — E pela explicação também. Agora eu tenho uma noção melhor do que é ser um aventureiro.

— Que isso. Tá tranquilo — respondeu Alexandre com um sorriso. — Assim que terminarmos seu registro, você vai fazer o teste.

— Mal posso esperar. — Akira desviou o olhar, sentindo uma presença estranha.

Um rugido cortou o ar.

De repente, uma garota surgiu diante deles. Cabelos negros até a cintura, olhos dourados com um brilho sutil. Usava uma blusa preta justa, sem mangas, e uma capa roxa presa por um broche dourado. Um cinto duplo reforçava sua cintura. O braço direito era protegido por uma luva robusta, enquanto o esquerdo estava coberto por ataduras. Nas pernas, a assimetria continuava: a esquerda envolta por ataduras, a direita com uma meia preta até a coxa.

Ela sacou uma espada curta e atacou Alexsander com movimentos rápidos e precisos. Sua expressão era séria, fria até, como se estivesse em combate real — mas havia um brilho nos olhos que revelava domínio, confiança... e talvez um toque de provocação.

— Haaah!

Alexsander mal teve tempo de reagir. Desviava com leveza, como se estivesse dançando, sorrindo com cada passo.

Akira ficou paralisado.

— Droga... o que eu faço?! Será que ele precisa de ajuda? Se eu me meter, posso atrapalhar... ou pior.

A garota avançava com velocidade, e num dos ataques, pareceu acertar o ombro de Alexandre. Ele cambaleou.

— Alexandre! — gritou Akira, correndo na direção dos dois.

Mas antes que pudesse fazer algo... os dois começaram a rir.

— Hahahaha! Você viu a cara dele? — disse Alexsander, ainda se recuperando da risada.

A garota girou a espada e a guardou na cintura, sorrindo para Akira.

— Relaxa. Ele tá bem.

— Essa é a Noely — disse Alexsander, limpando o ombro. — E, cara... o jeito que você gritou meu nome! Foi hilário!

— Pô, fala sério! Eu achei que você ia morrer! — resmungou Akira, emburrado.

— Tá, tá. Vamos pra guilda. É hora de fazer seu registro.

A guilda era um prédio robusto, com pilares de pedra entalhada e uma imensa porta de madeira reforçada por ferragens. Acima da entrada, o brasão: uma espada cravada num livro aberto. No interior, o salão principal contava com mesas redondas, um quadro de avisos vazio e poucos aventureiros, todos calados e de expressão cansada.

— Meio vazio, né? — comentou Akira, olhando ao redor.

— É por causa da barreira — explicou Noely. — Muitos aventureiros se aposentaram. Falta de trabalho, sabe?

No balcão, uma atendente de sorriso gentil os recebeu.

— Olá! Posso ajudar?

— Ele quer se registrar como aventureiro — disse Alexsander. — Classe guerreiro.

— Entendi. Mas antes, precisamos sua essência energética.

Tina entregou a Akira um cristal. Assim que ele o tocou, o objeto brilhou com um dourado intenso.

Todos ao redor se viraram para olhar.

— que! — perguntou Akira, confuso.

— Akira... — murmurou Alexandre, boquiaberto.

— Caramba... — disse Noely, impressionada. — Nunca vi alguém com tanta energia assim.

— E-eu já volto! — disse Tina, correndo para pegar a licença. — Qual é o seu nome mesmo?

— Akira Tsukihara.

Minutos depois, Tina retornou com um pergaminho encantado e uma pequena placa de metal.

— Aqui está. Basta escrever seu nome e fazer o juramento. Estenda a mão e repita comigo:

> “Diante dos ventos que cruzam as montanhas de Edellian, das chamas que ardem nos corações e dos ecos daqueles que vieram antes de mim...

Eu, Akira Tsukihara, dou meu primeiro passo como aventureiro.

Não por glória, nem por ouro, mas pela promessa de proteger os que não podem lutar.

Juro que não fugirei do perigo,

não me curvarei diante da injustiça

e jamais deixarei um companheiro para trás.

Mesmo que isso custe minha vida.”

Ao finalizar, palavras mágicas surgiram no pergaminho e na plaquinha, como se escritas por mãos invisíveis.

Akira observou aquilo, fascinado.

Tina lhe entregou a placa.

— Esta é sua licença. Contém todas as suas informações oficiais. E este aqui — ela estendeu o pergaminho — é o código de conduta dos aventureiros.

— Tudo isso? — Akira arregalou os olhos diante da quantidade de regras.

— Pronto! Viu? Foi fácil — disse Alexandre, dando um tapinha nas costas dele. — Agora você é oficialmente um aventureiro!

— Caramba... você tem muita energia mesmo — comentou Noely, espiando a licença. — Será que é um dos cinco lendários? E o que é... “Nova Yorque”?

— Hahaha! — Alexsander gargalhou. — os cinco lendários são só lendas. E essa coisa que você falou... pode ser só uma habilidade.

— Na verdade... não é bem isso — murmurou Akira, pensativo. — Mas espera aí — ele olhou para Alexsander — você falou de um teste, lembra?

— Ah, é mesmo. Vamos lá.

O trio seguia pelas ruas de Myllestia, atravessando praças floridas, canais com pontes de pedra e becos repletos de lojas de curiosidades. Akira observava tudo com um misto de admiração e espanto — era como caminhar dentro de um mundo que ele só conhecia por jogos e animes.

— Aquele ali é o distrito comercial — disse Alexsander, apontando. — Tem de tudo um pouco. Poções, armas, talismãs pra espantar o azar… embora a maioria não funcione de verdade.

— E aqui — disse Noely, virando uma esquina com um sorriso radiante — fica o meu lugar favorito!

Pararam diante de um restaurante acolhedor. Um letreiro pendia acima da entrada, com o nome “Casa da Amora” escrito em letras cursivas. Mesas ocupavam a área externa e um delicioso aroma de carne assada com especiarias flutuava no ar.

— Esse cheiro... — murmurou Akira, fechando os olhos por um instante — e frango assado.

— Bem-vindo ao clube — disse Alexandre, empurrando a porta de madeira pesada e entrando.

O interior era simples, mas aconchegante. Um balcão de madeira clara dominava o fundo do salão, e várias mesas estavam ocupadas por aventureiros rindo e trocando histórias animadas.

— Ei! — chamou Noely, acenando. — Olha só quem a gente trouxe!

Dois rapazes estavam sentados perto da janela. Um deles, alto, usava uma jaqueta leve sobre a armadura padrão de aventureiro. O outro, de cabelo bagunçado e olhar distante, parecia estar sempre meio desligado.

— Akira, esses são Frederick e Jaspian — apresentou Alexsander. — Fazem parte do nosso grupo.

— E aí — cumprimentou Frederick, levantando brevemente a mão. — Novo na área?

— Sim. Sou o Akira… Cheguei há pouco tempo.

— Seja Bem-vindo — disse Jaspian, com um aceno preguiçoso. — espero que a Noely não tenha te perturbado tem momentos que ela é bem chata.

— Ei! — protestou Noely, dando um tapas em Jaspian. — Que abuso! eu não sou assim não.

Ambos usavam trajes típicos de aventureiros: botas resistentes, capas curtas e roupas marcadas pelo uso. Nada extravagante — apenas o necessário para quem vive na estrada.

— Senta aí com a gente — disse Frederick, puxando uma cadeira. — A comida aqui é excelente, você vai querer estar de barriga cheia antes da nossa primeira missão.

— Primeira missão? — repetiu Akira, curioso.

Alexsander sorriu.

— Considera isso mais como um teste. Agora que você já conhece o grupo, é hora de começar de verdade.

Ele se inclinou para frente, olhando Akira nos olhos.

— No momento, temos duas comissões em aberto. Uma está relacionada à barreira que cerca Edellian. A outra envolve ladrões que têm atacado caravanas nas estradas entre os vilarejos e a cidade.

— Espera... essa é a quarta vez que ouço alguém mencionar essa barreira — disse Akira. — O que tem de tão especial nela?

— Você tá brincando, né? — disse Frederick, surpreso. — Não sabe sobre a barreira em volta de Edellian?

— Na verdade, sei. A Colete me contou um pouco — respondeu Akira. — Só não entendo por que ela é considerada tão problemática. Parece tão... incômoda.

— é! — confirmou Jaspian. — Por causa dela, ninguém entra ou sai de Edellian. Isso está afetando todo o ecossistema local.

— Exatamente — completou Noely, agora com um tom mais sério. — Além disso, os recursos naturais estão se esgotando.

Akira ficou em silêncio por alguns instantes, absorvendo aquela realidade. A barreira não era apenas um obstáculo visual ou político. Ela estava, aos poucos, sufocando a cidade.

— E ninguém sabe como remover aquilo? — perguntou, voltando-se para Alexsander.

— Já tentaram de tudo — respondeu ele, apoiando os cotovelos na mesa. — Magos, alquimistas, aventureiros... muitos foram até os limites da barreira. A maioria voltou sem respostas. Alguns nem voltaram.

— Por isso essa missão é tão importante — disse Frederick, a expressão agora mais fechada. — E perigosa.

— E a outra missão? — perguntou Akira, tentando manter a calma.

— Um grupo de ladrões anda atacando comboios nas estradas ao norte — explicou Jaspian, . — Nada épico, mas essencial. Sem suprimentos, as vilas ficam vulneráveis.

— Como você é novo, vamos começar por ela — disse Alexsander. — Você vai nos acompanhar nessa missão de escolta. É uma boa forma de testar suas habilidades e ainda ajudar a cidade. Se tudo correr bem, depois conversamos sobre a barreira.

Akira assentiu, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.

— Tudo bem. Quando partimos?

— Amanhã cedo — anunciou Noely, animada. — Então aproveita pra descansar. O caminho vai ser longo…

Por um momento, o clima à mesa se tornou mais leve. Com o cheiro de frango assado se intensificando e os pratos começando a chegar mas não e era frago, Akira sentiu algo diferente. Pela primeira vez desde que fora trazido àquele mundo, sentia que fazia parte de algo maior.

Depois de todos se alimentarem, o grupo se reuniu do lado de fora do restaurante, sob o sol ameno do início da tarde.

— Bom, pessoal, eu preciso ir agora — disse Alexsander, ajeitando a alça da mochila no ombro. — Vou deixar o Akira com vocês por hoje, tudo bem?

— Haha, pode deixar com a gente! — respondeu Frederick, passando um braço pelos ombros de Akira e fazendo um joinha com a outra mão.

— Então tá. Vejo vocês amanhã. — Alexandre se despediu com um aceno e seguiu seu caminho pelas ruas movimentadas de Myllestia.

— E aí, no que você é bom, Akira? — perguntou Noely, encarando-o com curiosidade.

— Hã… no que eu sou bom? — Akira franziu a testa, pensativo. A pergunta simples o pegara desprevenido. Ele realmente não sabia o que dizer.

Percebendo a hesitação, Jaspian sorriu de canto e comentou:

— Talvez ele seja bom com arco e flecha.

— Hmm… não sei, não parece muito com o tipo arqueiro — disse Frederick, observando Akira com atenção. — Mas podemos testar.

— Beleza, então! — Noely animou-se. — Vamos até os campos.

Akira apenas assentiu, sentindo um misto de nervosismo e empolgação. Era hora de provar — talvez até para si mesmo — do que era capaz naquele novo mundo.

O campo era um amplo gramado nos arredores de Myllestia. Não havia flores, mas o capim, mesmo desbotado pelo sol, se estendia até onde a vista alcançava. Diante de Akira, um alvo de madeira fora posicionado a uma distância razoável.

— Esse alvo não tá meio perto demais? — perguntou Akira, erguendo uma sobrancelha.

— Você só precisa acertar o centro — respondeu Frederick, ao seu lado, com um tom neutro.

— Vai lá, Akira! Você consegue! — gritou Noely, sentada sob a sombra de uma árvore, balançando as pernas como uma criança entusiasmada.

— Eu aposto que ele não acerta — comentou Jaspian, encostado no tronco da mesma árvore, parecendo distraído.

— Ué, foi você quem sugeriu que ele usasse o arco — retrucou Noely, olhando para ele.

— Eu sei… mas meu pressentimento era de que ele fosse mais do tipo espadachim, sabe? Não exatamente um arqueiro.

— Hm… agora fiquei confusa. — Noely franziu o nariz, mas logo deu de ombros. — Bom, não importa! Vai, Akira!

— Ela é bem animada… — comentou Akira em voz baixa para Frederick.

— É, sempre foi. Mas agora foca no alvo — respondeu o companheiro, sério. — Respira fundo. Mira. E solta quando sentir que é o momento certo.

Akira respirou fundo, sentindo o peso do arco nas suas mãos. Os seus olhos fixaram-se no centro do alvo. Era só um teste… mas, de algum modo, parecia muito mais do que isso.

O dia se passou com Akira sendo testado de todas as formas possíveis. Após horas praticando com arco e flecha — com mais erros do que acertos — Jaspian tentou ensiná-lo a manipular magia. Às vezes funcionava, outras vezes não. A maioria dos testes resultava em fracasso. Depois, foi a vez de Noely tentar ensiná-lo a arte da espada, usando lâminas de madeira curtas para não haver ferimentos.

No fim da tarde, Akira caiu no chão, ofegante, o rosto suado e a respiração pesada. Nem com a espada ele se saía bem.

— Chega... tempo. — murmurou, sem fôlego.

— Assim não vai dar — comentou Frederick, cruzando os braços. — Não é bom com o arco, nem com a espada. E mesmo com uma boa quantidade de energia, os resultados com a magia foram bem medianos.

Akira abaixou a cabeça, visivelmente abatido. Seus ombros caíram, e ele se ajoelhou no gramado, cobrindo o rosto com a mão.

— Me desculpa... — murmurou, quase para si mesmo. — Era bom demais pra ser verdade...

Talvez ele já esperasse por aquele tipo de julgamento. Estava acostumado a ser menosprezado, a não ser suficiente. A expectativa, por mais breve que fosse, começava a se desfazer dentro dele.

Frederick percebeu a frustração nos olhos do garoto.

— Qual é, cara. Não fica assim, não.

— É... não é como se alguém aprendesse tudo isso de uma hora pra outra — completou Jaspian, com as mãos nos bolsos e o tom tranquilo.

— É verdade! — concordou Noely, animada. — É preciso esforço e dedicação pra aprender a usar uma espada. Minha mestra sempre diz... — ela forçou a voz, tentando imitar a professora — "Noely, em uma luta de verdade, não é você que escolhe a arma... é a arma que escolhe você!"

Ela caiu na risada, se divertindo com a própria imitação.

— Eu nunca entendo o que isso quer dizer — admitiu, rindo ainda mais.

Frederick se aproximou de Akira e estendeu a mão.

— Vamos lá. Vamos descansar um pouco.

Akira levantou os olhos para ele. Apesar do cansaço, havia um brilho tímido de gratidão em seu olhar. Talvez... ele ainda pudesse tentar mais uma vez.

Mas antes que todos pudessem se sentar sob a sombra da árvore, o som de rodas rangendo chamou a atenção do grupo. Uma carroça surgiu pela estrada de terra batida, avançando lentamente em direção ao campo.

No banco da frente, com a postura ereta e serena de sempre, estava um rosto familiar.

— ...Colete? — Akira se ergueu, limpando o suor da testa, e se aproximou.

A jovem o observava com aquele mesmo olhar calmo e gentil, como se nada no mundo fosse capaz de perturbá-la.

— Vejo que passou o dia ocupado — disse ela, descendo da carroça com a leveza de alguém que já sabia o que ia encontrar.

— Ah... é. Eu... tentei de tudo um pouco — Akira coçou a nuca, visivelmente envergonhado. — Mas acho que não fui muito bem...

— Não se preocupe com isso — respondeu Colete, cruzando as mãos à frente do corpo. — Cada talento floresce a seu tempo. Você não precisa apressar o que ainda está brotando.

Frederick, Jaspian e Noely observavam de longe, respeitando o momento. Mesmo sem dizer muito, havia algo na presença de Colete que trazia uma estranha paz, como se sua simples chegada tornasse o mundo um pouco mais leve.

— Vim buscar você — continuou ela. — Alexandre disse que estaria aqui.

— Eu tava planejando voltar pra vila ao entardecer...

— É perigoso ficar na estrada à noite. Não se lembra da história do vilarejo? — disse Colete com um tom suave, mas firme. — Vamos? Temos que ir antes de anoitecer.

Akira assentiu, mas antes de subir na carroça, voltou-se para os outros.

— Obrigado por hoje, de verdade.

— Nos vemos amanhã! — gritou Noely, animada, enquanto todos acenavam para ele.

Akira sorriu para os três e então subiu na carroça ao lado de Colete, que logo fez os cavalos retomarem o caminho de volta à vila.

Enquanto se afastavam, o vento trazia consigo o cheiro da estrada seca. Talvez ele ainda não tivesse descoberto no que era bom..., mas, pela primeira vez em muito tempo, não se sentia sozinho.

O silêncio entre Akira e Colete era respeitoso — confortável, até. O som ritmado dos cascos dos cavalos e o ranger leve da carroça preenchiam o ar enquanto o céu começava a se tingir de dourado com o entardecer.

Colete manteve os olhos à frente por um tempo, mas sua curiosidade finalmente venceu a quietude.

— Então... como foi na cidade? — perguntou com suavidade. — Conseguiu tirar sua licença?

Akira soltou um leve suspiro, apoiando os braços sobre os joelhos.

— Consegui, sim. Alexandre me ajudou com isso — respondeu. — Acho que ele já tinha feito metade do trabalho por mim. Foi só fazer um juramento e assinar um pergaminho.

— Que bom — ela assentiu, satisfeita. — Alexandre é o tipo de pessoa que se preocupa muito com os outros. Ele tem aquele jeito confiante, quase durão, mas valoriza cada um como se fosse da família dele.

Akira deu um leve sorriso ao ouvir aquilo.

— É. Eu percebi isso hoje. E os amigos dele são bem legais. Eles... me ensinaram muita coisa. Quer dizer... mais ou menos. Eu é que não consegui aprender muita coisa, na verdade.

— Frederick, Jaspian e Noely?

— Uhum — confirmou ele. — Eles me colocaram pra testar de tudo: arco, espada, até magia. Foi um desastre... — Akira soltou uma risada curta, meio sem jeito. — Caí no chão, errei alvos, quase queimei minhas próprias mãos.

Colete o olhou de relance, mas não disse nada. Havia um brilho gentil em seus olhos, como se ela enxergasse além das palavras.

— Mesmo assim, não desistiu.

— Não... Talvez por teimosia. Ou por vergonha de desistir na frente deles.

— Ou talvez porque você quer provar algo a si mesmo — disse ela, com naturalidade.

Akira ficou em silêncio por um momento, encarando a estrada à frente.

— É... pode ser isso também...

O silêncio retornou, mas logo foi rompido por Akira, com a voz um pouco hesitante.

— E... Colete... Eu queria te pedir uma coisa. Sei que pode ser incômodo, mas... — ele coçou a nuca, envergonhado — será que eu posso ficar mais uns dias na sua casa? Até eu conseguir me virar.

O vento soprou leve por entre as árvores da beira da estrada.

— ...É claro. Não tem problema nenhum. Na verdade, eu fico feliz que esteja tentando, Akira. Isso já é mais do que muitos fazem.

— Valeu, Colete... de verdade.

Ela apenas assentiu. O silêncio voltou, mas agora era mais leve, mais íntimo. E assim, lado a lado, seguiram em direção à vila — onde uma luz tênue nas janelas já começava a brilhar, aquecendo a noite que lentamente se aproximava.

Na manhã seguinte, o grupo se preparava para deixar a cidade. Uma carroça simples os aguardava na saída, carregada com suprimentos cuidadosamente organizados — embora alguns fossem apenas falsos, parte do plano.

Frederick, Jaspian e até mesmo Alexandre estavam vestidos de forma bem diferente: nada de armaduras ou capas chamativas, mas roupas simples, como as de qualquer cidadão comum.

— Ué, o que aconteceu com as roupas de vocês? — perguntou Akira, curioso, franzindo a testa ao ver os três tão “disfarçados”.

— Hehe, é um disfarce — respondeu Noely, com um sorriso animado, quase travesso. — Eles vão se passar por pessoas comuns. Se as informações que recebemos dias atrás estiverem corretas... é provável que sejamos emboscados pelo grupo de ladrões que estamos procurando.

— Ah, já entendi — disse Akira, ligando os pontos. — Eles vão pensar que estão em maior número, porque vão achar que só tem dois aventureiros protegendo a carroça.

— Haha! — Alexandre gargalhou, surpreso. — Caramba, ele entendeu rápido! Mas é isso mesmo.

— Tá, olha só, Akira — disse Frederick, num tom mais sério — como você ainda não tá pronto, não tenta fazer nada arriscado, beleza?

— Beleza — respondeu Akira, com um aceno firme.

— Ótimo — disse Alexandre, aproximando-se de Akira com um objeto grande nos braços. Ele colocou sobre o jovem uma faixa de couro com a bainha do espadão nas costas.

— Hã? O quê...? — Akira arregalou os olhos ao sentir o peso da arma.

— Relaxa — disse Alexandre com um sorriso. — Como eu tô disfarçado, não posso carregar a minha espada. Então você vai levar ela por enquanto.

Akira apenas assentiu, um pouco desconcertado.

— Pronto — Alexandre olhou ao redor. — Você e a Noely vão ficar um de cada lado da carroça. Frederick e Jaspian vão atrás, e eu sigo na frente.

Ele se virou para o grupo, já em modo de liderança.

— Tá bom assim pra vocês?

— Você que manda, chefia — disse Jaspian, dando de ombros.

— Eu concordo em concordar — brincou Frederick, arrancando um riso discreto de Noely.

Akira observava tudo com atenção. Entre aqueles quatro, havia um laço forte — do tipo difícil de se desfazer. E agora, ele sentia que talvez estivesse começando a fazer parte disso.

— Ótimo — concluiu Alexandre, ajeitando o capuz sobre a cabeça. — Então, pé na estrada.

A carroça rangeu suavemente ao deixar para trás os portões da cidade. O sol da manhã ainda era ameno, lançando sombras longas sobre a estrada de terra batida. O clima parecia tranquilo, "por enquanto".

Noely caminhava ao lado esquerdo da carroça, os olhos atentos aos arredores, embora fingisse desinteresse. Akira seguia pelo lado oposto, com o espadão de Alexandre preso às costas — um peso que o fazia parecer mais experiente do que realmente era. Por dentro, porém, nervoso.

— Tá tudo bem aí? — sussurrou Noely, sem desviar os olhos da trilha.

— Uhum… acho que sim — respondeu Akira, tentando soar confiante.

Mais atrás, Frederick e Jaspian trocavam palavras em voz baixa. Alexandre, à frente, caminhava como um simples comerciante, perfeitamente disfarçado.

Por um tempo, apenas os passos e o rangido das rodas preenchiam o caminho. Pássaros cantavam ao longe, e a brisa balançava as folhas nas copas das árvores.

Akira mergulhou em pensamentos. Lembrou-se de algo que Noely disse anteriormente. Com um suspiro, tentou puxar conversa.

— Ei… pss…

Noely, concentrada, nem se virou.

— Haha — Alexandre soltou uma risada curta, um pouco alta demais. — Esqueça. Ela não vai te responder agora. Tá focada em encontrar os ladrões.

— Ah… foi mal.

— Tudo bem. Mas o que você queria perguntar?

— É que… ela comentou algo sobre os Cinco Lendários. Quem são eles? É algum tipo de banda famosa ou coisa assim?

Alexandre riu, balançando a cabeça.

— há não, não e nada disso ai. Na verdade e só uma lenda… mas vou te contar a história que meu pai costumava narrar quando eu era criança.

A expressão dele ficou mais séria. Seu tom desceu alguns tons, ficando quase sombrio.

— Há oitocentos e sete anos, o mundo era dividido em nove grandes nações, todas em guerra constante. Um dia, quatro luzes caíram do céu — uma em cada canto do mundo. Delas surgiram entidades com poderes absurdos. Elas subjugaram os povos das nações em que caíram… e logo se uniram para conquistar as demais. Diziam ser deuses. Diziam que trariam paz e ordem, mas exigiam submissão total da humanidade.

— E o que aconteceu depois? — perguntou Akira.

— Eles venceram. O domínio durou cinco anos. Foi um período sombrio: fome, assassinatos, perseguições. Até que uma nova luz dourada cruzou os céus e caiu em um ponto desconhecido. Os deuses enviaram seus filhos para investigar, mas tudo o que encontraram foi uma cratera imensa. Semanas depois, surgiu um ser com poder semelhante ao deles. E os enfrentou… e perdeu. Ele sumiu sem deixar rastro.

Alexandre fez uma pausa, os olhos perdidos em lembranças que não eram suas.

— Décadas se passaram. Mas quando tudo parecia perdido, essa figura retornou — e não estava sozinha. Ao seu lado, cinco guerreiros escolhidos receberam parte do seu poder divino. Juntos, enfrentaram os deuses e seus sucessores. E venceram, tirando a figura misteriosa os outros ficaram conhecidos como os cinco lendários.

Frederick, que ouvia a conversa, acrescentou:

— Dizem que um dos Cinco Lendários usou magia para separar uma nação inteira do continente, lançando-a no oceano, longe o bastante para que os herdeiros dos deuses não pudessem alcançá-la.

— Isso lá é impossíve ?l… e por que ele faria isso? — resmungou Jaspian.

— Eles tinham uma quantidade absurda de energia… como você, Akira — disse Alexandre, com um sorriso de canto. — Ter uma energia dourada é extremamente raro. Mas não se empolga, tá? É só uma lenda. Não é como se você fosse virar um deus.

Todos riram com leveza.

Exceto Noely.

Poucos minutos depois, algo mudou.

Os pássaros silenciaram.

Akira franziu a testa ao ouvir sons sutis fora da estrada. Noely também percebeu. E todos ficaram atentos.

Alexandre ergueu a mão discretamente, sinalizando para que todos parassem. A carroça estacou. A leveza da viagem deu lugar a um clima Levimente tenço.

O barulho entre as árvores cessou.

— Então vamos continuar, pessoal! — esbravejou Alexandre em voz alta. — Afinal, toda essa comida não vai se entregar sozinha!

— É isso aí! — reforçou Frederick, entrando no jogo. — Estamos atrasados!

Todos já sabiam: estavam sendo seguidos.

Pouco tempo depois, o grupo avistou uma garotinha, por volta de oito anos, fingindo desmaiar no meio da estrada.

— essa não… — resmungou Alexandre, correndo em sua direção. — É uma criança!

Todos fingiram não ter percebido que ela estava apenas fingindo.

Assim que a carroça parou...

Cinco… seis… sete homens armados surgiram das árvores. Espadas, lanças, uma besta. Roupas rasgadas, olhos. Eram os bandidos da estrada.

Cercaram a carroça e fizeram Alexandre de refém.

Um deles se adiantou, um sorriso torto no rosto.

— já era pra você… viajantes passem tudo o que vocês tem aí.

— que sorte a noçã só tem um aventureiro no grupo… — zombou outro.

Alexandre permaneceu calado, fingindo nervosismo. Jaspian tropeçou de propósito, encenando fragilidade. Akira manteve os olhos em Alexandre, esperando um sinal.

A garotinha se levantou, orgulhosa:

— Eu consegui, pai! Eu consegui!

— Mandou bem, minha filha — disse o bandido, segurando Alexandre com uma pequena faca no pescoço.

Akira se moveu levemente — e foi o suficiente para ser ameaçado.

— Vai com calma aí, garoto. Se der mais um passo, esse mercador vai virar um chafariz e eu não quero me obrigar a fazer isso.

— Droga… e agora? — murmurou Akira, hesitando.

Um dos bandidos se aproximou da carroça.

— Cuidado com esse moleque. Parece mais perigoso do que parece.

Os bandidos começaram a descarregar a carroça.

— Estão cometendo um grande erro — disse Akira, firme, apesar do nervosismo.

— Você tá sozinho. Somos sete. Não tente bancar o herói.

— Quem disse que ele tá sozinho? — retrucou Alexandre, com um sorriso.

Num movimento rápido, Alexandre desarmou o bandido que o segurava.

— Agora!

O grupo se moveu em perfeita sincronia.

Jaspian conjurou uma rajada de vento que derrubou dois inimigos. Frederick avançou com seu machado, girando como um furacão. Alexandre puxou a espada das costas de Akira com agilidade — como se fosse sua desde sempre.

Akira recuou, observando. Espantado. Fascinado.

O plano funcionava. Os bandidos estavam em choque.

Mas… nem todos.

Um arqueiro, escondido numa encosta, mirava Akira.

Estalo seco.

— Akira, abaixa! — gritou Noely.

Ele se jogou no chão, por pouco não sendo atingido.

— Noely! — chamou Alexandre.

— Deixa comigo!

Ela correu em direção ao arqueiro, que arregalou os olhos.

— Como… como ela me viu?! Eu estava escondido!

Tentou fugir. Tarde demais.

— Vai a algum lugar?

Noely o derrubou com um golpe preciso.

— Você quase matou meu irmão de espadas, novato.

— O quê…? — murmurou o arqueiro, confuso.

— Toma isso.

Com um único soco, ela o nocauteo

— Já terminei aqui! — gritou Noely para o grupo.

— Ouviu isso? Seu amigo arqueiro foi rendido, e agora e você que está sozinho — disse Alexandre para o bandido que o mantinha sob ameaça. — E então… vai querer fazer isso do jeito fácil ou do jeito difícil?

O bandido grunhiu de raiva, rangendo os dentes ao ver todos os seus companheiros caídos ou capturados.

— Sinto muito… mas a gente precisa dessa carroça — rosnou ele.

— Então tá… vai ser do jeito difícil — Alexandre fincou o espadão no chão e assumiu uma postura imóvel.

O bandido avançou, tentando golpeá-lo. Alexandre apenas se esquivava com movimentos contidos. O som da lâmina cortando o ar era seco e tenso.

— Vai, papai! Acaba com ele! — torceu a garotinha, com os olhos brilhando de admiração.

O bandido continuava a avançar, suando e ofegante. Recuou um instante, então gritou:

— Olha bem, minha filha! O papai vai acabar com esse homem!

Mas aquele brilho nos olhos da menina logo se desfez.

Num movimento rápido, Alexandre desviou da última investida e o golpeou no ombro com precisão. O ataque não era bruto, mas técnico — uma manobra difícil, feita com maestria. O bandido caiu ao chão, gemendo e segurando o braço.

— Papai! — gritou a menina, correndo até Alexandre com os punhos cerrados, batendo com força em sua perna.

— Toma isso, seu homem malvado!

— malvado eu?... Eu tô mais pra um bom moço do que pra um homem malvado — disse Alexandre, erguendo a garotinha pelo colarinho do vestido. Ela ainda tentava acertá-lo, sem resultado.

— Eu me rendo! Não machuca ela… — disse o homem, com a voz falha de dor e desespero.

— Tá tudo bem. Eu não vou machucar ela mais agora acabou pra vocês.

Com todos os bandidos rendidos, estavam agora amarrados e sentados no chão, exceto a garotinha, que permanecia ao lado do pai, segurando firme sua mão.

— Muito bem. Já podem começar a se explicar — disse Alexandre, encarando o grupo. — De que parte de Edellian vocês vieram?

Os ladrões se entreolharam, tentando disfarçar o nervosismo.

— É… de onde nós somos…? Hehe… — disse um deles, tentando sorrir, mas falhando miseravelmente.

— Nós somos de Seluny! — disse a garotinha animada, balançando os pezinhos.

O pai dela se apressou em tapar sua boca delicadamente.

— Shhh… não, minha filha. Não conta pra eles de onde a gente é.

— Não posso? — repetiu ela, com os olhos grandes e inocentes.

— Não… claro que não. Eles são homens malvados… assim como…

— Até quando você vai mentir pra ela? — interrompeu Alexandre com um meio sorriso. — Olha só… de acordo com as leis de Myllestia, vocês vão ser levados, julgados… E se não me falha a memória, crimes de roubo — principalmente de alimentos — podem dar de dez a quinze anos de prisão.

— Roubando? — A garotinha o encarou, confusa. — Papai… a gente tava roubando?

— O quê? Não, minha filha… — respondeu o pai, visivelmente sem jeito. — Qual é, cara… pega leve. Você sabe que as coisas não tão boas por lá…

— Bom, vocês deviam ter pensado melhor antes de fazer o que fizeram — disse Noely, que até então observava em silêncio. Ela se aproximou, com um leve tom de irritação na voz. — Onde está a carroça que sumiu há dois dias? O que fizeram com ela?

— Calma aí, Noely… — interrompeu Alexandre, pondo-se à frente dela. — Deixa que eu resolvo isso, tá bom?...

Claro! Aqui está a versão revisada e aprimorada do trecho, mantendo o estilo narrativo leve com toques de humor e emoção, e corrigindo erros gramaticais, ortográficos e de fluidez:

 

Ela se afastou ainda emburrada e foi até onde Akira, Jaspian e Frederick estavam sentados, aguardando.

— Tá bom, vamos fazer assim: vocês contam o que aconteceu com as carroças que foram roubadas e desapareceram. Em troca, podem ficar com todos os alimentos reais que estiverem na minha carroça, pode ser? — propôs Alexandre com um tom prático.

O pai da garota, que claramente era o líder dos bandidos, concordou com um leve aceno. Então, Alexandre decidiu levar Akira para acompanhá-lo. Caminharam juntos pela floresta, guiados pelo homem e um de seus companheiros, até chegarem a uma clareira isolada, onde encontraram uma carroça encoberta por galhos secos e vários sacos de alimentos variados empilhados.

— Bom... é isso — disse o homem, com as mãos amarradas à frente do corpo, num tom resignado.

— Caramba, tem muita coisa aqui! — comentou Akira, surpreso ao vasculhar os sacos e caixas.

— Espera aí! Cuidado com... — o pai da garotinha tentou avisar, mas era tarde demais. Akira foi puxado pelos pés e ficou pendurado de cabeça para baixo, preso por uma armadilha de laço.

— Aaah! Mas o que é isso?! — gritou Akira, balançando no ar.

— Haha! — Alexandre riu alto, divertido com a cena.

— Isso não tem graça! — protestou Akira, tentando se soltar.

— Bom, agora eu sei que não tem mais nenhuma armadilha por aqui — comentou Alexandre, ainda rindo.

De repente, um dos bandidos que havia ficado calado até então comemorou, orgulhoso:

— Haha! Viu só? Eu disse que ia funcionar! Eu sou muito bom em fazer armadilhas!

— Tá bom, tá bom... Tira ele daí logo — disse Alexandre, ainda entre risos.

Com tudo resolvido, o grupo voltou à estrada. Alexandre cortou as cordas que prendiam os bandidos, um a um.

— Prontinho! Livres como pássaros, prontos para voar — disse ele, libertando o pai da garota.

— Ah... valeu por não entregar a gente — agradeceu o homem. — Pode até parecer que somos perigosos, mas a verdade é que nunca machucamos ninguém.

— Tudo bem... mas não roubem mais nenhuma carroça. Da próxima vez, talvez eu não consiga ajudar vocês — alertou Alexandre, com firmeza.

Eles apenas assentiram, e Alexandre sabia que talvez não fosse a última vez que veria aquele grupo. Mesmo assim, permitiu que levassem a carroça com os mantimentos.

— Espera aí... tá tudo bem deixar eles irem assim? — perguntou Akira, com a testa franzida.

— Não tem problema. Afinal... todos nós estamos enfrentando o mesmo inimigo: a fome — respondeu Alexandre, com um leve suspiro.

O grupo seguiu pela estrada em direção à cidade, a carroça balançando ao ritmo da trilha. Mas Akira permaneceu parado por um momento, olhando para o horizonte, refletindo sobre a conversa que tivera um dia atrás no restaurante.

— E aí, Akira, você vem ou não? — chamou Alexandre, virando-se para trás com um sorriso cansado.

Akira respirou fundo, afastando os pensamentos, e apressou o passo para alcançá-los.

Algum tempo depois, o grupo de bandidos já havia se distanciado bastante da clareira quando um deles notou algo estranho.

— Espera aí... tá faltando alguém aqui — disse o pai da garotinha, olhando ao redor.

— O senhor está certo — respondeu um dos comparsas. — É o garoto novo... o arqueiro. Talvez ele tenha ido na frente?

— Hm... Deve ter feito isso mesmo — murmurou o pai da garota, soltando um leve suspiro, sem dar muita importância.

Mas o que nenhum deles sabia era que o destino do jovem arqueiro havia sido selado momentos antes.

No topo de uma árvore, pendurado pelo pescoço, o corpo do rapaz balançava levemente ao vento. Seus olhos, ainda abertos, fitavam o vazio. Ao lado dele, uma figura encapuzada observava a cena em silêncio. Havia visto tudo: desde a emboscada dos bandidos até a libertação surpreendente concedida por Alexandre.

Com o olhar fixo no grupo de Akira, que agora seguia em direção à cidade, a figura deu um passo à frente sobre o galho da árvore. Um sorriso torto, quase lunático, se formou em seu rosto.

— Akira... — sussurrou, como se saboreasse o nome.

Seus olhos brilhavam com uma mistura de excitação e loucura. Então, ele gargalhou. Sua risada ecoou pela floresta como um presságio sombrio.

E então, diante do vazio, a figura se desfez como poeira ao vento, deixando para trás apenas o silêncio... e o corpo pendurado do jovem arqueiro.

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Comments

Pariel

Pariel

mano é um capítulo melhor q o outro e agora já tô ansioso pro proximo

2025-04-12

0

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