Amor, Casamento & Traição
O DESABAFO
IZABEL
De todas as dores que uma mulher pode sentir, a traição é a mais cruel. Ela corrói a alma, rasga o coração e deixa um vazio impossível de preencher. Quando se é traída, a mente se perde em um turbilhão de perguntas angustiantes: Onde foi que eu errei? Por que isso aconteceu comigo? Como pude ser tão cega? E essas perguntas... ah, essas perguntas… muitas vezes não têm resposta. E o silêncio delas é a dor mais pungente de todas.
Eu sempre acreditei no amor. Eu sempre acreditei que o amor era algo puro, algo que transformava, que curava. No começo, parecia um conto de fadas. Meu primeiro amor… ele apareceu como um príncipe encantado na minha vida, no ensino médio, e para mim ele era tudo. Ou melhor, ele era tudo, até o momento em que o vi com outra, naquela cama que já foi nossa. A cama onde compartilhávamos risos, promessas, sonhos… agora era o palco da minha dor. A dor da traição, que cortou minha confiança como uma faca afiada.
Foram 15 anos de uma vida construída a dois, de planos, de histórias, de momentos... tudo jogado fora. Quinze anos de entrega, de amor incondicional, de confiança cega. E no final, tudo o que eu recebi foi a indiferença da traição, a frieza do desprezo. Chifres. Uma humilhação tão grande que o chão parecia desabar sob meus pés. Como pude ser tão ingênua? Como pude acreditar que aquele amor era real?
Eu estava casa dos meus pais, nas vésperas do ano novo. Michel não pôde me acompanhar. Estava trabalhando e, com o coração apertado, eu entendi o lado dele. Afinal, 3 dias pareceriam passar em um piscar de olhos. Mas, apesar da saudade, eu voltei um dia antes do que havíamos combinado. Queria surpreendê-lo. Preparei tudo com tanto carinho, comprei um champanhe especial, algumas comidinhas que ele adorava, pensando no sorriso que ele daria ao me ver, no abraço apertado que eu receberia.
Mas quando cheguei em casa, algo estava diferente. Algo estava... errado. Cada passo que eu dava em direção ao meu quarto parecia arrastar o tempo, uma eternidade que eu não queria enfrentar. E quanto mais perto eu chegava, mais eu sentia a tensão no ar, uma sensação estranha, como se algo de terrível estivesse prestes a acontecer. Eu estava tentando enganar minha intuição, tentando afastar o que meu coração já começava a suspeitar. E então, quando finalmente abri a porta… Eu não estava pronta para o que vi. Não estava nunca preparada. O Michel… o homem que eu amava, o homem que jurou diante de Deus e de todos me amar e me respeitar até o fim de nossas vidas, estava ali. Com outra. Com ela. Aquela mulher que não sabia a dor que causava, mas que destruía tudo o que eu havia construído com tanto amor. O homem que prometeu me proteger estava agora completamente nu, exposto, sucumbindo aos desejos dela, enquanto eu, a mulher que acreditava ser sua vida, se despedaçava em silêncio.
Naquele momento, as sacolas escorregaram de minhas mãos, caindo no chão como se o peso da minha dor fosse grande demais para continuar sustentado por mim. O som do impacto chamou a atenção deles. Foi o estalo que me arrastou para a realidade que eu não queria ver. Uma onda de lágrimas queimou meu rosto, e minha mão, involuntária, se levantou até a boca, tentando abafar os gritos que queriam sair. Mas as palavras não vinham. O choque, a incredulidade... ainda não acreditava no que meus olhos estavam vendo. A traição parecia um pesadelo, mas era real. Era minha vida. E o vazio que se abriu dentro de mim… nada poderia preencher.
Eu dei dois passos para trás, como se cada movimento fosse um esforço sobrenatural, um reflexo de um corpo que não sabia mais como reagir. Me afastei, caminhando lentamente para fora do quarto, como se fosse a única maneira de escapar daquilo que estava acontecendo. Encostei-me na parede fria do corredor, tentando a todo custo não acreditar no que meus olhos acabaram de ver, tentando desesperadamente fazer sentido daquilo. Mas nada fazia sentido. O vazio que se abriu dentro de mim era insuportável, e a dor parecia ser a única coisa real naquele instante.
Michel, agora completamente nu, se levantou, seus cabelos bagunçados e suados, um reflexo de toda a vergonha que ele não podia esconder. Ele tentava falar, tentava explicar, mas as palavras dele não tinham mais poder. Eu não conseguia ouvir. Aquelas palavras não eram mais minhas, não eram mais sobre nós. Ele falava, mas eu estava em outro lugar, perdida no turbilhão de emoções que me consumiam. Naquele momento, eu não era mais capaz de reagir.
Sem dizer uma palavra, sem olhar para trás, eu desci as escadas correndo, como se o chão estivesse prestes a se abrir sob meus pés. Corri sem saber para onde, sem saber o que fazer, apenas fugindo. Saí da minha própria casa, como uma estranha, como se fosse uma prisioneira de algo que eu não merecia. E ali, no silêncio da rua, o que restava de mim se desfez em lágrimas. Eu não sabia mais quem eu era. Tudo o que eu acreditava, tudo o que eu amava, estava ruindo diante dos meus olhos.
Michel apareceu atrás de mim, tentando se justificar, tentando me alcançar, mas as palavras dele não eram mais suficientes. Nada poderia justificar a traição. E, no fundo, eu sabia que o pior de tudo não era o erro que ele cometeu, mas a escolha que ele fez. Ele escolheu aquilo. Ele escolheu me ferir, me enganar e, com isso, me deixar em pedaços. E não havia explicação que pudesse consertar a dor que ele me causou.
— Eu posso te explicar, amor — ele disse, tentando se aproximar, como se a proximidade dele fosse algo que eu ainda quisesse.
Eu estava parada ali, no meio da rua escura, as mãos apoiadas nos joelhos, como alguém que tenta se recompor, mas que já está prestes a desabar. Tentando, em vão, respirar e entender tudo.
— Não encoste as suas mãos imundas em mim! — gritei, a voz tremendo, os nervos à flor da pele.
— Não foi a minha intenção... As coisas aconteceram, eu pensei em te contar antes — Michel falava tentando encontrar palavras, mas elas soavam vazias. Cada vez que ele falava, mais forte se tornava o desejo incontrolável de acabar com ele, de fazer com que ele sentisse um pedaço da dor que me dilacerava.
Eu não pensava em nada, apenas em ele pagar por tudo. Não queria saber sobre a amante. Ela não importava. O que importava era ele, ele, o homem que eu amava, que havia rasgado minha confiança em pedaços. Foi nesse momento que, sem sequer pensar, fui para cima dele, como um animal ferido, arranhando e dando tapas em seu corpo, com uma fúria cega, uma raiva acumulada que eu não sabia que existia dentro de mim.
Quando finalmente parei, não era por ter me acalmado, mas porque eu estava exausta. Olhei para ele, e ele estava ali, imóvel, como se soubesse que merecia tudo aquilo. E então, com uma voz tremendo de ódio, perguntei:
— A quanto tempo você estava fazendo isso?
— 8 meses... — Ele respondeu, sem hesitar, como se 8 meses fosse apenas um detalhe insignificante, como se fosse normal. E aquilo me cortou ainda mais. Me feriu mais do que qualquer tapa que eu tivesse dado.
— 8 meses me enganando? — Eu gritei, não esperando uma resposta. — Você sequer pensou em mim alguma vez?
Ele abriu a boca, provavelmente para tentar se justificar, mas eu o interrompi antes que ele pudesse dizer mais uma palavra:
— NÃO PRECISA RESPONDER. Apenas pegue as suas coisas e saia da minha casa.
E mais uma vez, aquele homem infeliz tentou falar, mas não dei a mínima. Eu não queria mais ouvir. Eu não queria mais saber.
Voltei para dentro de casa, sem pensar em mais nada, apenas no que precisava fazer. Corri para o meu quarto e, em um impulso quase frenético, peguei as malas vazias que costumava deixar ali. Rasguei cada pedaço da minha vida com ele, arrancando cada peça de roupa dele daquele espaço que agora era meu, somente meu. As roupas dele, que antes representavam a nossa vida juntos, agora se tornavam um símbolo da mentira, da dor. E, enquanto eu fazia isso, sabia que a partir daquele momento ele desapareceria da minha vida para sempre. Não tínhamos mais nada.
A amante dele já tinha ido embora. Talvez estivesse escondida em algum canto da casa, ou talvez tivesse fugido pela porta dos fundos. Mas, sinceramente, isso já não importava. Eu não me importava mais com ela. Tudo o que importava era eu, a minha dor, e o fim do que um dia foi o meu amor.
Assim que terminei de jogar todas as coisas dele na mala, um ódio cega e incandescente me consumiu. Sem pensar duas vezes, arranquei o colchão de casal da cama, sentindo a madeira rangendo sob a força de minhas mãos. Arrastei-o escada abaixo com toda a força que meu corpo podia suportar, derrubando móveis como se fossem bonecos de palha, como um carro desgovernado que não se importa com os estragos que causa. O colchão, pesando mais que minha raiva, caiu no quintal com um baque quase silencioso, sendo lançado ao chão como o lixo que ele, de fato, era.
A respiração pesada e ofegante me queimava a garganta enquanto eu corria para a cozinha. As mãos tremiam, mas não era de medo. Eu não tinha medo dele. Peguei os fósforos com a força de quem já não tinha mais nada a perder e, em seguida, busquei uma garrafa de álcool. O cheiro forte de etanol invadiu minhas narinas, mas o que sentia ali não era nem dor, nem alívio. Era pura fúria.
— Você vai se machucar, não faz isso — Michel gritou, surgindo atrás de mim como um espectro que eu não queria mais ouvir.
Eu me virei, encarando-o com ódio nos olhos. A voz dele me causava náuseas, como se fosse uma substância venenosa que eu já não conseguia mais suportar.
— Eu já estou machucada o suficiente — respondi, a voz falhando, mas carregada de uma amargura devastadora. — Se algo me acontecer, não vai doer. Já morri por dentro.
Ele tentou me impedir, tentando arrancar os fósforos da minha mão com a força desesperada de quem teme o que não entende. Mas eu não cedi. Não, não desta vez.
Fui até o fundo da casa, despejei o álcool no colchão com a precisão de quem sabe exatamente o que está fazendo, e então, acendi uma das peças de fósforo. Observei as chamas começarem a crescer, pequenas e tímidas no começo, até que, em um instante, se espalharam como uma fera faminta, tomando o colchão por inteiro.
As chamas se animaram, se retorcendo em tons de laranja e azul, e por um momento, tudo o que eu conseguia ver eram elas, como se o fogo fosse a única resposta para a dor que consumia meu peito. Enquanto o fogo consumia o colchão, eu sentia que algo em mim também se incendiava, uma chama de vingança que me queimava, mas que, ao mesmo tempo, me dava uma sensação estranha de poder.
Enquanto as labaredas se balançavam, uma certeza crescia dentro de mim. Ele iria pagar. Não hoje, talvez não amanhã, mas algum dia. Michel se arrependeria de tudo o que fez. Ele veria, mais cedo ou mais tarde, que eu não seria mais sua vítima. Eu era o fogo agora. E eu não ia parar até que tudo o que ele me fez fosse consumido.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
Ana Luísa Menezes
Esse é meu ranço, pessoas tentando justificar traição, não tem isso de querer explicar, você quis trair, você traiu a sua esposa
2025-04-10
16
Ana Luísa Menezes
Pior coisa que descobrir uma traição é ver a traição acontecendo. Forças, amiga!
2025-04-10
12
Emilly Nunes
esse vai ser bem interessante começando hj dia 14 de abril de 2025. horas 20:59 da Noite 🌆
2025-04-15
2