O DESABAFO
IZABEL
De todas as dores que uma mulher pode sentir, a traição é a mais cruel. Ela corrói a alma, rasga o coração e deixa um vazio impossível de preencher. Quando se é traída, a mente se perde em um turbilhão de perguntas angustiantes: Onde foi que eu errei? Por que isso aconteceu comigo? Como pude ser tão cega? E essas perguntas... ah, essas perguntas… muitas vezes não têm resposta. E o silêncio delas é a dor mais pungente de todas.
Eu sempre acreditei no amor. Eu sempre acreditei que o amor era algo puro, algo que transformava, que curava. No começo, parecia um conto de fadas. Meu primeiro amor… ele apareceu como um príncipe encantado na minha vida, no ensino médio, e para mim ele era tudo. Ou melhor, ele era tudo, até o momento em que o vi com outra, naquela cama que já foi nossa. A cama onde compartilhávamos risos, promessas, sonhos… agora era o palco da minha dor. A dor da traição, que cortou minha confiança como uma faca afiada.
Foram 15 anos de uma vida construída a dois, de planos, de histórias, de momentos... tudo jogado fora. Quinze anos de entrega, de amor incondicional, de confiança cega. E no final, tudo o que eu recebi foi a indiferença da traição, a frieza do desprezo. Chifres. Uma humilhação tão grande que o chão parecia desabar sob meus pés. Como pude ser tão ingênua? Como pude acreditar que aquele amor era real?
Eu estava casa dos meus pais, nas vésperas do ano novo. Michel não pôde me acompanhar. Estava trabalhando e, com o coração apertado, eu entendi o lado dele. Afinal, 3 dias pareceriam passar em um piscar de olhos. Mas, apesar da saudade, eu voltei um dia antes do que havíamos combinado. Queria surpreendê-lo. Preparei tudo com tanto carinho, comprei um champanhe especial, algumas comidinhas que ele adorava, pensando no sorriso que ele daria ao me ver, no abraço apertado que eu receberia.
Mas quando cheguei em casa, algo estava diferente. Algo estava... errado. Cada passo que eu dava em direção ao meu quarto parecia arrastar o tempo, uma eternidade que eu não queria enfrentar. E quanto mais perto eu chegava, mais eu sentia a tensão no ar, uma sensação estranha, como se algo de terrível estivesse prestes a acontecer. Eu estava tentando enganar minha intuição, tentando afastar o que meu coração já começava a suspeitar. E então, quando finalmente abri a porta… Eu não estava pronta para o que vi. Não estava nunca preparada. O Michel… o homem que eu amava, o homem que jurou diante de Deus e de todos me amar e me respeitar até o fim de nossas vidas, estava ali. Com outra. Com ela. Aquela mulher que não sabia a dor que causava, mas que destruía tudo o que eu havia construído com tanto amor. O homem que prometeu me proteger estava agora completamente nu, exposto, sucumbindo aos desejos dela, enquanto eu, a mulher que acreditava ser sua vida, se despedaçava em silêncio.
Naquele momento, as sacolas escorregaram de minhas mãos, caindo no chão como se o peso da minha dor fosse grande demais para continuar sustentado por mim. O som do impacto chamou a atenção deles. Foi o estalo que me arrastou para a realidade que eu não queria ver. Uma onda de lágrimas queimou meu rosto, e minha mão, involuntária, se levantou até a boca, tentando abafar os gritos que queriam sair. Mas as palavras não vinham. O choque, a incredulidade... ainda não acreditava no que meus olhos estavam vendo. A traição parecia um pesadelo, mas era real. Era minha vida. E o vazio que se abriu dentro de mim… nada poderia preencher.
Eu dei dois passos para trás, como se cada movimento fosse um esforço sobrenatural, um reflexo de um corpo que não sabia mais como reagir. Me afastei, caminhando lentamente para fora do quarto, como se fosse a única maneira de escapar daquilo que estava acontecendo. Encostei-me na parede fria do corredor, tentando a todo custo não acreditar no que meus olhos acabaram de ver, tentando desesperadamente fazer sentido daquilo. Mas nada fazia sentido. O vazio que se abriu dentro de mim era insuportável, e a dor parecia ser a única coisa real naquele instante.
Michel, agora completamente nu, se levantou, seus cabelos bagunçados e suados, um reflexo de toda a vergonha que ele não podia esconder. Ele tentava falar, tentava explicar, mas as palavras dele não tinham mais poder. Eu não conseguia ouvir. Aquelas palavras não eram mais minhas, não eram mais sobre nós. Ele falava, mas eu estava em outro lugar, perdida no turbilhão de emoções que me consumiam. Naquele momento, eu não era mais capaz de reagir.
Sem dizer uma palavra, sem olhar para trás, eu desci as escadas correndo, como se o chão estivesse prestes a se abrir sob meus pés. Corri sem saber para onde, sem saber o que fazer, apenas fugindo. Saí da minha própria casa, como uma estranha, como se fosse uma prisioneira de algo que eu não merecia. E ali, no silêncio da rua, o que restava de mim se desfez em lágrimas. Eu não sabia mais quem eu era. Tudo o que eu acreditava, tudo o que eu amava, estava ruindo diante dos meus olhos.
Michel apareceu atrás de mim, tentando se justificar, tentando me alcançar, mas as palavras dele não eram mais suficientes. Nada poderia justificar a traição. E, no fundo, eu sabia que o pior de tudo não era o erro que ele cometeu, mas a escolha que ele fez. Ele escolheu aquilo. Ele escolheu me ferir, me enganar e, com isso, me deixar em pedaços. E não havia explicação que pudesse consertar a dor que ele me causou.
— Eu posso te explicar, amor — ele disse, tentando se aproximar, como se a proximidade dele fosse algo que eu ainda quisesse.
Eu estava parada ali, no meio da rua escura, as mãos apoiadas nos joelhos, como alguém que tenta se recompor, mas que já está prestes a desabar. Tentando, em vão, respirar e entender tudo.
— Não encoste as suas mãos imundas em mim! — gritei, a voz tremendo, os nervos à flor da pele.
— Não foi a minha intenção... As coisas aconteceram, eu pensei em te contar antes — Michel falava tentando encontrar palavras, mas elas soavam vazias. Cada vez que ele falava, mais forte se tornava o desejo incontrolável de acabar com ele, de fazer com que ele sentisse um pedaço da dor que me dilacerava.
Eu não pensava em nada, apenas em ele pagar por tudo. Não queria saber sobre a amante. Ela não importava. O que importava era ele, ele, o homem que eu amava, que havia rasgado minha confiança em pedaços. Foi nesse momento que, sem sequer pensar, fui para cima dele, como um animal ferido, arranhando e dando tapas em seu corpo, com uma fúria cega, uma raiva acumulada que eu não sabia que existia dentro de mim.
Quando finalmente parei, não era por ter me acalmado, mas porque eu estava exausta. Olhei para ele, e ele estava ali, imóvel, como se soubesse que merecia tudo aquilo. E então, com uma voz tremendo de ódio, perguntei:
— A quanto tempo você estava fazendo isso?
— 8 meses... — Ele respondeu, sem hesitar, como se 8 meses fosse apenas um detalhe insignificante, como se fosse normal. E aquilo me cortou ainda mais. Me feriu mais do que qualquer tapa que eu tivesse dado.
— 8 meses me enganando? — Eu gritei, não esperando uma resposta. — Você sequer pensou em mim alguma vez?
Ele abriu a boca, provavelmente para tentar se justificar, mas eu o interrompi antes que ele pudesse dizer mais uma palavra:
— NÃO PRECISA RESPONDER. Apenas pegue as suas coisas e saia da minha casa.
E mais uma vez, aquele homem infeliz tentou falar, mas não dei a mínima. Eu não queria mais ouvir. Eu não queria mais saber.
Voltei para dentro de casa, sem pensar em mais nada, apenas no que precisava fazer. Corri para o meu quarto e, em um impulso quase frenético, peguei as malas vazias que costumava deixar ali. Rasguei cada pedaço da minha vida com ele, arrancando cada peça de roupa dele daquele espaço que agora era meu, somente meu. As roupas dele, que antes representavam a nossa vida juntos, agora se tornavam um símbolo da mentira, da dor. E, enquanto eu fazia isso, sabia que a partir daquele momento ele desapareceria da minha vida para sempre. Não tínhamos mais nada.
A amante dele já tinha ido embora. Talvez estivesse escondida em algum canto da casa, ou talvez tivesse fugido pela porta dos fundos. Mas, sinceramente, isso já não importava. Eu não me importava mais com ela. Tudo o que importava era eu, a minha dor, e o fim do que um dia foi o meu amor.
Assim que terminei de jogar todas as coisas dele na mala, um ódio cega e incandescente me consumiu. Sem pensar duas vezes, arranquei o colchão de casal da cama, sentindo a madeira rangendo sob a força de minhas mãos. Arrastei-o escada abaixo com toda a força que meu corpo podia suportar, derrubando móveis como se fossem bonecos de palha, como um carro desgovernado que não se importa com os estragos que causa. O colchão, pesando mais que minha raiva, caiu no quintal com um baque quase silencioso, sendo lançado ao chão como o lixo que ele, de fato, era.
A respiração pesada e ofegante me queimava a garganta enquanto eu corria para a cozinha. As mãos tremiam, mas não era de medo. Eu não tinha medo dele. Peguei os fósforos com a força de quem já não tinha mais nada a perder e, em seguida, busquei uma garrafa de álcool. O cheiro forte de etanol invadiu minhas narinas, mas o que sentia ali não era nem dor, nem alívio. Era pura fúria.
— Você vai se machucar, não faz isso — Michel gritou, surgindo atrás de mim como um espectro que eu não queria mais ouvir.
Eu me virei, encarando-o com ódio nos olhos. A voz dele me causava náuseas, como se fosse uma substância venenosa que eu já não conseguia mais suportar.
— Eu já estou machucada o suficiente — respondi, a voz falhando, mas carregada de uma amargura devastadora. — Se algo me acontecer, não vai doer. Já morri por dentro.
Ele tentou me impedir, tentando arrancar os fósforos da minha mão com a força desesperada de quem teme o que não entende. Mas eu não cedi. Não, não desta vez.
Fui até o fundo da casa, despejei o álcool no colchão com a precisão de quem sabe exatamente o que está fazendo, e então, acendi uma das peças de fósforo. Observei as chamas começarem a crescer, pequenas e tímidas no começo, até que, em um instante, se espalharam como uma fera faminta, tomando o colchão por inteiro.
As chamas se animaram, se retorcendo em tons de laranja e azul, e por um momento, tudo o que eu conseguia ver eram elas, como se o fogo fosse a única resposta para a dor que consumia meu peito. Enquanto o fogo consumia o colchão, eu sentia que algo em mim também se incendiava, uma chama de vingança que me queimava, mas que, ao mesmo tempo, me dava uma sensação estranha de poder.
Enquanto as labaredas se balançavam, uma certeza crescia dentro de mim. Ele iria pagar. Não hoje, talvez não amanhã, mas algum dia. Michel se arrependeria de tudo o que fez. Ele veria, mais cedo ou mais tarde, que eu não seria mais sua vítima. Eu era o fogo agora. E eu não ia parar até que tudo o que ele me fez fosse consumido.
Quatro meses se passaram depois da minha separação. Eu sentia a casa vazia, o meu peito estava vazio, mas era melhor assim. Desde que me separei do Michel e ele foi para a casa de um amigo, costumava a me sentir deprimida. Eu não queria estar deprimida. Estávamos fisicamente separados, mas ainda casados judicialmente. Era apenas um tempo para organizar a minha cabeça e, com coragem, pedir o divórcio a ele. A separação seria em comunhão de bens, mas, honestamente, nem eu nem ele tínhamos muito. Apenas a casa, que sempre foi mais minha do que dele, e um carro seminovo, que, de forma pragmática, seria o que restaria para ambos. Eu sabia que, com o apoio do meu advogado, conseguiria resolver tudo da maneira mais justa. O problema, no entanto, não era a divisão dos bens, mas a divisão do que restava entre nós: os sentimentos, as frustrações e as promessas quebradas.
Era sexta-feira à noite e na segunda eu não tinha trabalho. O que uma mulher de 32 anos faria em uma noite de sexta-feira, em uma cidade pacata da Espanha? Mejorada del Campo era uma comunidade da capital Madrid.
Eu observei meu reflexo no espelho, tentando me convencer de que era hora de sair. O vestido que eu escolhi, um tom suave de azul claro, se ajustava ao meu corpo de maneira simples, mas elegante. O tecido leve balançava suavemente enquanto eu me movia, e as pérolas que eu usava (imitação rsrs) é claro, pois não podia me dar o luxo de joias caras. Os brincos brilhavam discretamente, refletindo a luz suave do quarto. Eu não sabia ao certo para onde estava indo, mas algo dentro de mim queria sair, sentir o ar da noite, afastar um pouco a sensação de solidão que parecia me acompanhar constantemente.
Minhas mãos hesitaram ao passar o batom. Eu não tinha a intenção de impressionar ninguém, mas queria me sentir... viva, talvez. Minha pele branca refletia a luz de maneira suave, e os cabelos ondulados caíam de maneira desordenada, como sempre. Não era o meu melhor visual, mas estava ok. Eu não queria ser perfeita, apenas… suficiente para mim mesma, pelo menos por uma noite. Então eu sei de casa, caminhei sem destino. Enquanto passava pelas ruas desertas e meio escura, o som dos grilos era quase a única coisa que se existia. O vento gelado da noite parecia me abraçar quando eu saí para a rua. Era um tipo de frescor que me fazia sentir um pouco mais viva, mais conectada com o momento. Olhei para os lados, como se a cidade fosse ainda mais vazia do que o normal, mas ao mesmo tempo, havia uma certa paz nisso. A tranquilidade de estar só, de estar em controle, sem ninguém esperando nada de mim.
Continuei caminhando sem rumo. Meu passo era cadenciado, sem pressa, quase como uma tentativa de me perder naquelas ruas quietas, onde ninguém me conhecia, onde ninguém esperava nada de mim.
Foi quando eu o vi.
Ele estava do outro lado da rua, indo na mesma direção, mas um pouco à frente de mim. Não era nada extraordinário, mas havia algo nele que me chamou a atenção. Um rapaz mais jovem, de cabelo escuro e um pouco bagunçado, com uma jaqueta de couro e um olhar perdido, como se estivesse tentando descobrir onde se encaixava. A postura dele parecia meio relaxada, mas havia algo de firme em seus passos, como se ele tivesse uma decisão importante a tomar.
O instinto de não querer me envolver com ninguém agora me fez pensar em atravessar a rua, dar meia volta e voltar para casa. Mas, de alguma forma, minha curiosidade se sobrepôs. Algo em sua presença me fez sentir uma inquietude que eu não conseguia definir. Como se o tempo tivesse desacelerado por um segundo.
Quando ele deu um passo mais apressado e virou para o lado, acabou esbarrando em mim. O impacto foi leve, mas ainda assim, o suficiente para nos fazer parar por um instante, ambos surpresos.
— Desculpe!!!! ele disse, olhando para mim com uma expressão que misturava desconforto e um toque de embaraço.
Eu sorri, tentando esconder a surpresa.
— Não tem problema. Eu deveria estar mais atenta.
Ele deu uma risada suave, com uma ponta de sinceridade.
— Às vezes a gente se perde no próprio caminho, não é?
Eu não sabia bem como reagir, mas havia algo naquela troca que me fez sentir uma conexão instantânea. Não era o tipo de coisa que acontecia frequentemente, mas, naquele momento, algo parecia fazer sentido, mesmo que por um segundo.
— Eu também me sinto assim, às vezes. — A resposta saiu sem que eu tivesse pensado muito. Como se, no meio de toda a minha confusão, ele tivesse colocado uma palavra para o que eu sentia.
Houve um silêncio breve. O tempo parecia ter desacelerado ainda mais, como se o momento tivesse se expandido de forma quase surreal.
— Você está indo para algum lugar?
Eu pensei por um momento. Não tinha planos, não sabia exatamente onde estava indo, mas sentia que esse encontro tinha, de alguma forma, significado algo.
— Eu estava só… caminhando. Falei para ele.
— Eu também. Acho que estamos juntos nessa.
Senti um sorriso involuntário surgir nos meus lábios. Era engraçado como ele parecia tão à vontade, apesar de sua aparente bagunça emocional. Talvez fosse o tipo de conexão simples que todos nós precisávamos, mesmo que não soubéssemos disso na hora.
— Então, você mora por aqui? Ele questionou.
— Sim. E você?
— Estou por aqui também. Só que sou de Barcelona. Meu pai abriu um negócio, vim para ajudá-lo. Ele jurou que aqui daria mais lucro por ter poucas opções de restaurante.
Aos poucos, comecei a descobrir um pouco mais sobre ele. Eu não sabia muito sobre o que dizer, afinal, nunca havia tido uma conversa assim com outro homem depois que conheci meu ex-marido.
— Então, acho que vou indo nessa. — Ele tirou um cartão da carteira e me entregou. — Esse é o endereço do restaurante. Se quiser comer, bater um papo ou, sei lá, fazer um amigo, pode me procurar.
Eu peguei o cartão, dei uma olhada rápida e coloquei-o na bolsa.
— Pode deixar. Eu… posso saber o seu nome? — tentei disfarçar o nervosismo. — Vai que eu apareço por lá, seria bom ter uma referência.
— Rafael. — Ele respondeu com um sorriso. — E o seu?
— Izabel. Prazer! — Eu sorri timidamente, sentindo uma pontada de timidez, mas também algo diferente.
Rafael sorriu de volta, com aquele sorriso tranquilo, como se já tivesse dado muitos sorrisos assim, quase como uma rotina de sedução inconsciente. Talvez eu estivesse carente demais e vendo coisas onde não havia. Mas, quem sabe, aquele nosso breve encontro tinha sido apenas um flerte aleatório e espontâneo.
— O prazer é todo meu. — Ele disse, seus olhos brilhando demonstrando simpatia e algo mais. — A gente se vê por aí, então?
Eu balancei a cabeça, como um “sim”. Ele se virou, indo embora, e eu fiquei ali, com uma sensação estranha no peito, tentando processar o que havia acabado de acontecer.
Ele era alto, muito alto. provavelmente mais de 1,85m. Eu, com meus 1,71m, sentia-me pequena perto dele, mas de uma maneira confortável, como se estivesse ao lado de alguém que tivesse espaço para me proteger sem que eu precisasse pedir. Seus ombros largos e braços musculosos pareciam ter sido moldados para destacar a força que transbordava de seu corpo. A jaqueta de couro ajustada ao seu corpo seguia as curvas de seus músculos, enquanto seu pescoço, firme e bem estruturado, escondia parcialmente uma tatuagem, nunca tinha parado para pensar o quão atraente era homens com tatuagem no pescoço.
Ele era, sem dúvida, bonito. Seus olhos castanhos tinham algo hipnotizante, como se fossem capazes de ler minha alma com um único olhar. A boca, bem desenhada, parecia ser feita para sorrisos, e o olhar dele... ah, o olhar era intenso e expressivo, como se estivesse sempre em busca de algo, ou talvez apenas de uma boa conversa. Sua barba, cuidadosamente aparada, dava um toque de masculinidade suave, mas autêntica. Eu apostaria que ele não passava dos 23 anos.
Olhei o meu relógio no pulso, ainda estava um pouco cedo, ainda se aproximava das 22h. No cartão, o restaurante dizia funcionar 24h por dia. “Toque da noite” era o nome. Será que ele acharia estranho se eu aparecesse por lá? Atirada, safada ou até mesmo maníaca. Mas, eu estava disposta a provar a culinária. Eu me desloquei até o restaurante, afinal, ele me deu o cartão, significava que de alguma forma queria que eu fosse lá, mesmo que de repente. Eu me permiti a ir até lá. Quando cheguei no restaurante, estava quase deserto quando eu cheguei, a luz suave das lâmpadas quentes criando um ambiente aconchegante, acolhedor. A fachada de madeira escura e o letreiro discreto eram o tipo de detalhe que, em uma cidade pequena, tornava tudo mais pessoal. Senti uma leve apreensão ao cruzar a porta, mas logo fui recebida por uma vibe tranquila, onde a música era boa e o aroma da comida preenchiam o ar. Olhei por todos os lados captando aos detalhes. A decoração do lugar era minimalista, com um toque rústico e moderno ao mesmo tempo, como se tivesse sido pensado para não chamar muita atenção, mas ainda assim impressionar quem estava disposto a olhar.
Uma mulher de cabelo curto e uniforme simples, me sorriu e me conduziu até uma mesa próxima à janela, de onde podia observar as ruas vazias e as luzes da cidade refletindo nas calçadas molhadas.
Sentei-me e passei os olhos pelo cardápio, mas não sabia o que escolher. Eu me sentia ansiosa de alguma forma. Ir a restaurantes me fazia lembrar do Michel nos primeiros anos de nosso casamento. Mas aquilo eram lembranças que eu queria que não permanecessem em minha cabeça.
Fiquei ali por alguns minutos, absorta nos meus próprios pensamentos, até que a porta se abriu novamente e eu o vi. Rafael entrou, com o mesmo sorriso tranquilo, mas agora com um ar mais descontraído, como se estivesse em casa. Ele olhou para mim por um momento, e seus olhos brilharam com algo que eu não sabia bem o que era. Foi quando ele se aproximou e, com um gesto natural, se inclinou um pouco para me cumprimentar.
— Ei. Nosso reencontro foi mais rápido do que o esperado. — Sua voz tinha um tom quase brincalhão. — Não esperava te ver por aqui tão cedo.
Eu ri, sentindo uma pontinha de nervosismo, mas também uma curiosidade crescente.
— Acho que você me deu uma desculpa para aparecer. — Respondi, tentando disfarçar a sensação de estar sendo observada, mas de uma maneira que não me incomodava tanto assim.
Ele deu uma risada baixa e se sentou na cadeira ao meu lado, sem cerimônia. — Eu sabia que ia te convencer. O lugar é bom, não é?
A risada dele era contagiante, e eu me peguei sorrindo sem querer. Não era o tipo de lugar onde eu imaginava que acabaria em uma noite como aquela, mas aqui estava eu, compartilhando uma mesa com um estranho que, de alguma forma, parecia se tornar mais familiar a cada minuto. Eu olhei para o cardápio e fiz uma cara indecisa.
— O que você recomenda?
— Risoto de cogumelos para começar essa noite. O que acha? — É por minha conta. Ele disse.
— Isso é bom? Nunca provei — E o que temos de sobremesa?
— Não se apresse — Ele disse rindo — Você vai amar.
Ele se recolheu e foi para a cozinha. O cheiro da comida estava muito bom, o restaurante estava começando a receber mais clientes. Passou-se um tempinho, ele mesmo ao invés do garçom foi me servir.
— Espero que goste — ele disse, com um sorriso seguro, enquanto colocava o prato delicadamente na mesa.
— A aparência tá perfeita e o cheiro irresistível — elogiei sinceramente, não apenas para agradá-lo, mas porque o prato realmente estava impecável. Quando dei a primeira garfada, uma explosão de sabores deliciosos invadiu meu paladar. Estava incrível.
— Seu pai quem cozinha? — perguntei, curiosa, ainda saboreando o risoto.
— Não. Temos um chef especializado — ele respondeu rapidamente, com um toque de orgulho. — Estamos cada vez mais expandindo o negócio. Em breve, teremos mais garçons, um espaço maior e até mais chefs.
— Isso é impressionante. Parece que o negócio está crescendo rápido — observei, admirando a forma como ele falava do futuro do restaurante.
— E o seu pai, onde ele anda? — perguntei, querendo saber mais sobre a rotina dele.
— Perdido, como sempre — ele responde educadamente mesmo eu sendo invasiva. — Ele tá com um amigo, deve voltar mais tarde. Eu fico aqui tentando dar conta de tudo, mas, honestamente, não é muito a minha praia.
— Qual é a sua praia?
— Certeza de que quer saber?
Ele me olhou com um olhar brincalhão e um sorriso enigmático. Ele parecia tentar me testar, como se houvesse algo mais por trás de sua resposta.
— Sim... fiquei pensativa. Quero saber.
— É algo muito íntimo.
Naturalmente ele soltou essas palavras, mas ainda assim deixando claro que não estava pronto para se abrir completamente.
— Mas... Você namora? Ou é solteira?
Fui pega de surpresa com a pergunta e, por um momento, engasguei um pouco antes de conseguir responder.
— É... Eu estou solteira. — falei, tentando disfarçar o desconforto.
— Isso é bom. — Ele me encarou profundamente parecendo satisfeito com a resposta.
— Por quê? — perguntei, curiosa.
— Porque assim eu posso avançar no meu sinal. — disse ele, com um tom provocante e um sorriso travesso.
— E como você avançaria? — fui cautelosa, querendo entender até onde ele estava disposto a ir com a conversa.
Ele sorriu de forma intensa, quase como se tivesse planejado aquela resposta. Seus olhos brilharam com um toque de malícia, e ele se inclinou um pouco mais perto de mim, baixando a voz.
— Bom... eu estava pensando em algo que você realmente vai gostar. Se quiser, posso te dar a sobremesa... Mas, para isso, você teria que ir até o meu lugar, algo mais... privado. Lá no fundo do restaurante tem um quarto onde eu guardo algumas coisas... e acho que seria o cenário perfeito.
Eu o encarei, tentando entender o que ele estava insinuando. Havia algo nos seus olhos que queimava com desejo
— O que tem lá? — perguntei, minha voz um pouco mais baixa, tensa e com vergonha.
Ele soltou uma risada baixa, quase como se soubesse exatamente o efeito que suas palavras estavam tendo. Com um sorriso provocante ele se ousou a dizer:
— Você só vai saber se decidir vir comigo. A sobremesa... é só um pretexto. O que eu realmente quero é te mostrar o que tem por trás daquela porta. Mas, é claro, a escolha é sua.
Sim, a escolha era minha, eu tinha notado bem (acho) o que ele queria dizer. Apenas me fiz um pouco de boba para não notar a quão interessada eu estava.
Depois de uma refeição gostosa, eu havia me dado a chance de viver novas experiências depois do fim da minha relação. Rafael era um rapaz jovem, bonito, carismático e parecia ser bastante educado. E eu, bem, era uma mulher que estava realmente interessada em conhecer ainda mais sobre ele.
Quando terminei de comer, pedi licença para ir ao banheiro. Aproveitei a desculpa para retocar a minha maquiagem, lavar as mãos e dar uma olhada rápida no espelho, tentando acalmar a sensação de excitação que estava começando a crescer dentro de mim. Era uma sensação nova, algo que eu não sentia há tempos, e, de algum modo, me dava um prazer oculto.
Enquanto eu me olhava, o pensamento de voltar à mesa e continuar a conversa com ele tomava conta da minha mente. Rafael me fazia sentir algo diferente. Não apenas pela sua aparência, mas pela forma como ele parecia me entender, sem pressa, sem forçar tanto. Apenas deixava as coisas acontecerem, e isso me deixava ainda mais atraída.
Terminei de me ajeitar e, antes de sair, dei uma última olhada no espelho, respirando fundo. Quando abri a porta do banheiro e dei alguns passos em direção à mesa, senti uma leve apreensão. Não sabia exatamente o que ele tinha em mente para aquela noite, mas algo me dizia que não seria uma noite comum. E não era mesmo pra ser comum.
Assim que fomos para o quarto, eu imaginava o intuito dele. E aceitei por saber que eu também queria, eu estava disposta a me entregar. Ele segurou a minha mão, guiando-me pelo restaurante, levando até a parte de fora nos fundos. Era bonito, organizado e limpo, um caminho em meio ao jardim que levava a um cômodo único.
— Quem vai tomar conta do restaurante? — Perguntei preocupada.
— O garçom olha. Tá tranquila a noite, ele vai dar conta.
Assim que entramos no quarto, Rafael acendeu a luz. O quarto era aconchegante, decorado e por incrível que pareça, por ele ser homem, estava arrumado. Assim que pisei os dois pés ao meio do tapete no chão, senti o clima quente e a pouca falta de ventilação.
— Você quer transar? — Ele ousou perguntar sem rodeios.
— E por que não? — Aceitei ao convite, mesmo ele sendo tão direto.
Ele segurou firme em minha cintura, como alguém que tinha muita experiencia e pegada. Levou o meu corpo para mais perto do dele. Chocando frente a frente. Seus olhos penetravam aos meus de forma intensa, eu me segurava para não começar a beijar os lábios dele loucamente.
Lentamente, ele levou a sua mão até o meu rosto, retirando um pouco das mechas de meus cabelos que estava parada frente aos meus olhos. Em seguida, sua testa encontrou com a minha. Ele alisava os meus lábios com os seus lábios. Sem pressa.
Rafael continuou a acariciar meus lábios com os dele, num beijo suave, quase exploratório, como se estivesse saboreando cada momento. Eu sentia o calor do seu corpo tão próximo ao meu, e minha respiração ficou mais acelerada, meu coração batendo forte no peito. Ele então deslizou as mãos pelas minhas costas, puxando-me ainda mais para perto, até que não havia espaço entre nós. Seus dedos traçaram linhas suaves sobre minha pele, provocando arrepios que percorreram todo o meu corpo. Eu me permiti relaxar, entregando-me àquela sensação, enquanto minhas mãos encontravam o contorno dos seus ombros, firmes e definidos.
Rafael começou a deslizar os beijos pela minha face, passando pela minha bochecha, até chegar ao meu pescoço. Cada toque dos seus lábios era como uma chama que me consumia devagar, mas com intensidade. Eu inclinei a cabeça para o lado, dando-lhe mais acesso, enquanto um suspiro escapava dos meus lábios.
— Você é tão linda — ele sussurrou, sua voz rouca e cheia de desejo.
Eu não consegui responder, mas meus olhos se encontraram com os dele, e eu pude ver o quanto ele também estava envolvido naquele momento. Suas mãos começaram a explorar meu corpo com mais ousadia, deslizando pela minha cintura, até encontrar um pouco mais abaixo. Ele hesitou por um breve instante, como se pedisse permissão, e eu respondi com um leve aceno, autorizando-o a continuar.
Rafael então começou a retirar o meu vestido, e eu o ajudei, retirando a sua camisa e logo estávamos completamente vulneráveis um para o outro. Ele me olhou nos olhos, e eu pude ver o quanto ele me respeitava, o quanto ele queria me fazer sentir bem.
Ele puxou o meu vestido, tirando-o com cuidado e por completo, e eu senti o ar um pouco mais fresco do quarto tocando minha pele exposta. Seus olhos percorreram meu corpo, e eu me senti exposta, mas ao mesmo tempo relaxada sob o olhar dele. Ele então me puxou para um abraço apertado, nossos corpos se encaixando perfeitamente naquele momento de pegação.
— Você tem certeza? — ele perguntou novamente.
— Tenho — eu respondi, sem hesitar.
Ele então me levou até a cama, onde nos deitamos lado a lado. Seus beijos se tornaram mais intensos, mais passionais, e eu correspondi a cada um deles com a mesma intensidade. Nossas mãos exploravam os corpos um do outro, descobrindo cada curva, cada detalhe. O mundo ao nosso redor parecia ter desaparecido, e só existíamos nós dois, naquele quarto, naquele momento.
— Eu vou cuidar de você — ele prometeu, e eu acreditei nele.
Rafael então me virou de costas e em seguida se ajoelhou por trás de mim. suas mãos firmes estavam em meus quadris, enquanto seus lábios exploravam minha coluna, deixando um rastro de beijos e mordidas suaves que me fizeram gemer de prazer. Ele desceu lentamente a língua por minha vagina. Me deixando ainda mais molhada. Senti a língua quente fazer movimento repentinos sobre o meu clitóris. O prazer era tanto que eu encostava o meu rosto nas almofadas e torcia que aquilo nunca parasse. Seu dedo apontador era penetrado calmamente em meu ânus.
— Rafael...
Soltei um leve gemido enquanto me contorcia.
Rafael por sua vez, continuou freneticamente. Ele passava a língua pelo meu clitóris e em seguida beijava os lábios da minha vagina, sugando-os para dentro de sua boca e puxando como se fosse chicletes.
— Eu não me preparei para fazer anal — Falei com dificuldades de expressar uma frase inteira sem gemer.
Rafael ficou em silêncio. Retirou o dedo e ficou apenas no trabalho de língua.
Enquanto eu estava confortável, de quatro e desejando ser possuída por ele, meus olhos voltaram para a porta retrato que estava na mesinha de canto do lado da cama. Era uma foto de um garotinho seguro um peixe ao lado de um homem jovem. Eu reconhecia aquela imagem de algum lugar.
Naquele momento, eu me recolhi ao achar a foto familiar.
Rafael me olhou assustado.
— O que foi? Não tá curtindo?
— Sim, só queria te perguntar uma coisa, quem é esse garoto na foto?
— Sou eu, por que?
Rafael estava inteiramente excitado. Ele estava depilado, com o membro ereto, com as veias expostas. Era grosso e a cabeça era tão grande, proporcional ao tamanho que também era exagerado.
Meus olhos se arregalaram quando ele disse que o garoto da foto era ele. Eu conhecia aquela foto porque o meu ex marido tinha uma foto parecida, a diferença é que o Rafael não estava na foto que eu tinha em casa. Somente o Michel e Alexandre em um dia de pesca.
— Co... Como... Se chama o seu pai?
— Alexandre. Mas por que a pergunta?
Naquele momento, pulei da cama sem saber o que fazer. Alexandre Garcia era o melhor amigo de Michel, meu ex marido.
— Quantos anos você tem, Rafael?
— 19.
Não. Não podia ser real. O homem que eu estava dando era apenas um garoto de DEZENOVE anos e filho do amigo de meu ex-marido.
Mesmo com medo da resposta, perguntei:
— Como se chama o amigo com quem o seu pai está?
— Michel. — Considero como um tio.
Após aquelas palavras, eu simplesmente desmaiei.
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