Game Over Is Not An Option: The Villainess Route

Game Over Is Not An Option: The Villainess Route

Piloto

A luz pálida da tela do computador ardia em meus olhos cansados, refletindo nas minhas pupilas dilatadas. O quarto era um casulo de sombras, os lençóis embolados ao meu redor, como se tentassem me prender ali, me advertindo de que já era tarde. Tarde demais. Mas o sono se recusava a vir. Não enquanto Coração de Liliene: A Dama do Jogo continuava me consumindo.

Eu deveria ter me desconectado há horas. Mas, vamos ser realistas, quando foi a última vez que eu fiz algo que fosse realmente bom para mim? Aquelas telas coloridas me chamavam como uma droga barata. Só mais um capítulo. Só mais uma missão. Mas, claro, a cada clique, o buraco da obsessão se aprofundava.

O clique do mouse ecoava na escuridão – seco, irritante, um lembrete cruel da minha obsessão. Como se a mecânica do jogo fosse projetada para me irritar de propósito, me desafiando a continuar, como se soubesse que eu não ia conseguir me afastar. No começo, tudo havia sido fácil. Jogar como Liliene era como deslizar por um conto de fadas onde cada escolha me guiava para um final inevitavelmente feliz. Sorrisos sinceros, amores destinados, proteção garantida. O jogo me embalava, sussurrava que eu estava no controle.

Claro, "controle". Porque quem realmente tem controle em um jogo que te manipula? Ah, sim. Eu, a grande estrategista, pensando que seria só mais uma história fácil. Só que então, eu escolhi Evelyne.

A vilã. O modo difícil. A outra possibilidade.

E foi um pesadelo. Não um pesadelo daqueles que acordam com você tremendo, mas aquele tipo de pesadelo insidioso, do tipo "estou comendo a mesma fatia de torta amarga há horas e ainda assim não consigo parar". Cada decisão parecia uma armadilha armada para me esmagar, como se o próprio jogo me odiasse por tentar salvar uma personagem que ninguém mais queria. Evelyne não era amada. Não importava o quanto eu planejasse, calculasse as opções de escolha – o destino dela era a ruína. Eu só conseguia arrastá-la viva se estivesse disposta a pagar com moedas do jogo, aquelas malditas moedas compradas com o meu próprio dinheiro. E o jogo não estava nem aí. Afinal, quem precisa de um herói quando se tem uma vilã tão dramática e completamente sem salvação, né?

E agora, mais uma vez, lá estava ela.

Evelyne. A musa do sofrimento digital. Seus pixels tremulavam na tela, imóveis, no centro do tribunal virtual. O vestido escuro, outrora símbolo de sua nobreza, agora parecia um fardo que a puxava para o chão, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros. O colar maldito reluzia sobre a bancada, uma peça frágil, mas letal. Prova de seu suposto roubo. Eu já sabia o que aconteceria antes mesmo da tela escurecer.

O capítulo se chamava O Tribunal. Quando vi esse título, não entendi de imediato. A última cena ainda ecoava na minha mente – o chá da princesa Anne. Evelyne, uma penetra involuntária, arrastada para o evento por capricho do jogo. Eu até me peguei perguntando se o criador de Coração de Liliene queria realmente que ela sobrevivesse ou se ele se divertia me fazendo entrar nessa espiral sem fim.

E então veio o segundo capítulo. A tela se abriu para o quarto dela. Pequeno demais para uma nobre. Escuro. Sufocante. As paredes pareciam se fechar, como se o próprio espaço fosse uma jaula, e Evelyne ali, no centro. Eu sentia o peso da sua prisão, não só do corpo, mas da alma. A solidão dela saltava da tela e batia no meu peito. Como algo vivo. Como um lembrete cruel de que nem sempre há redenção para quem tenta ser mais do que o sistema quer que seja.

Marina. A empregada maldita, uma predadora disfarçada de serva

Ela se movia pelo quarto com uma delicadeza fingida, como se tudo aquilo fosse normal, como se Evelyne fosse apenas uma peça do tabuleiro que ela poderia manipular. Já sabia o que viria depois: os beliscões, os sorrisos tortos de prazer cada vez que Evelyne não podia revidar. O pão mofado, o leite azedo, deixados ali sem cerimônia, como se fosse o mínimo que ela merecia. Pequenos atos de crueldade diários que no modo fácil da rota de Liliene, onde as coisas eram... mais bonitinhas, jamais existiriam.

Tentei, em vão, denunciar para o Duque quando a opção surgiu. Mas, mais uma vez, a barra de carisma despencou. 

Golpe fatal.

— Como é possível perder um jogo só porque o carisma chegou a 0%? — falei alto, mais irritada do que pretendia. Minha voz estava rouca de exaustão. A tela diante de mim brilhava, gélida e impiedosa, refletindo meu olhar transtornado. Não havia como escapar. A cada escolha, eu estava mais presa àquele ciclo. E, pior ainda, Evelyne também estava.

Evelyne mal tinha se levantado da cama quando os guardas chegaram para levá-la. Espera aí... O que de fato está acontecendo? O primeiro capítulo terminou tranquilo, e agora, de repente, Evelyne estava sendo arrastada para um tribunal? O que eu fiz de errado?

Esse jogo é insano. Do nada, Evelyne virou ré no tribunal e ainda foi amarrada? Eu só tentei salvar a vilã, porra! O que eu fiz?

O rosto dela estava ali, mais rígido do que nunca, sem emoção. Só resignação. Como se já soubesse que não importava o quanto eu tentasse, ela estaria sempre condenada. E, eu... eu só assistia, impotente, enquanto mais uma chance se esvaía entre meus dedos.

— Ah, claro, quem não adora ver uma heroína se fudendo em cada capítulo? — Eu resmunguei, com a voz rouca, mais de frustração do que de qualquer outra coisa. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não tinha escolha. O jogo estava ali, desafiador, com opções que eram todas armadilhas. Não havia escolha certa, só mais dor.

Eu sabia que era só um jogo. Mas parecia tão real. Como se, de algum jeito, minha própria frustração estivesse ali, junto com a dela. Evelyne não tinha o glamour da heroína. Ela não estava ali para brilhar. Ela estava ali, só para sofrer. E eu, mais uma vez, era obrigada a assistir.

Um trovão estourou do lado de fora, sacudindo as janelas, chamando minha atenção. A escuridão foi cortada por um clarão. O jogo continuava, sem piedade. E eu, mais uma vez, estava sem saber o que fazer.

Meu coração disparou.

Minhas mãos se moveram sem que eu tivesse tempo de processar, buscando o mouse para reiniciar o capítulo, como se fosse a única forma de escapar da crescente sensação de descontrole—

A tela piscou.

Uma.

Duas vezes.

E apagou.

A escuridão se espalhou, densa e sufocante, como algo vivo, pulsante. Eu podia sentir o vazio tomando conta de mim, a calma que antecedia o pavor. O silêncio ficou pesado, como se o tempo tivesse parado, esticado entre o nada e o que estava por vir.

Então, lá fora, a chuva aumentou de intensidade.

Não, não apenas aumentou.

Ela se tornou violenta.

As gotas martelavam a janela, batendo contra ela com uma força insana, como se quisessem atravessá-la. Como se algo lá fora estivesse tentando entrar, forçando-se para dentro da tempestade que parecia consumir tudo. Cada pancada parecia um grito desesperado.

Minha pele se arrepiou.

Eu tentei me mover. Mas não consegui, meu corpo estava congelado.

O mundo ao meu redor começou a tremer, a distorcer, como se a realidade estivesse se fragmentando, se despedaçando em pequenos pedaços, um glitch grotesco tomando conta de tudo. O quarto escuro, que antes parecia familiar, agora se dissolvia diante dos meus olhos. As sombras, antes sólidas, começaram a se pixelar, desmoronando como se fossem feitos de pura instabilidade. E meu corpo... meu corpo parecia estranho. Leve demais. Frágil. Como se eu já não estivesse mais nele, como se tudo aquilo fosse um lugar que não me pertencia.

O ar ficou pesado, como se uma força invisível pressionasse meu peito, dificultando cada tentativa de respirar profundamente. Meus membros começaram a formigar, e então—

Uma tela de jogo translúcida clareou na minha frente com uma frase.

"Evelyne, Julgada pelo roubo do colar da princesa.

Para escapar das garras do destino, deverá criar seu próprio final feliz.

Escolha corretamente e liberte Evelyne da morte iminente."

Meu estômago afundou como uma pedra, e os olhos, lacrimejando de cansaço, se recusaram a piscar. Cada palavra parecia perfurar minha mente, cavando um buraco fundo em minha consciência, como uma sentença cruel e inevitável.

— O quê...? O que isso significa?! — Minha voz saiu trêmula, frágil, entrecortada pelo desespero que começava a se entrelaçar com a incredulidade.

Mas a tela não me respondeu. Ela continuava lá, impassível.

As palavras começaram a se embaralhar, tremendo como um código quebrado. Os símbolos se dissolviam, desintegrando-se em fragmentos de luz que se espalhavam no ar, girando e rodopiando em minha volta, como se o próprio jogo estivesse se desintegrando ao meu redor. Cada letra parecia escapar de mim, uma maré de caos que ameaçava me engolir.

Minha visão se escureceu, a gravidade se desfez, e tudo que restou foi o abismo.

Eu caía.

Caía.

Caía—

Esperava o impacto que nunca vinha. O vazio me envolvia, gelado e insondável, como se eu estivesse sendo arrastada para um mar sem fim, sem direção, sem qualquer promessa de salvação.

E então, um choque.

A dor não veio de uma pancada, mas como uma lenta e cruel retomada de consciência. Meus sentidos começaram a voltar aos poucos, sentia como se minha pressão tivesse caído, como se estivessem sendo arrancados de um lugar distante, de um limbo. Primeiro, o tato—o peso incômodo das roupas contra minha pele, estranho, diferente. O toque áspero das cordas mordendo meus pulsos, implacável.

Minhas mãos estavam presas.

O aperto no meu peito apertou ainda mais, como se algo estivesse esmagando minha respiração.

Respirei fundo, desesperada por ar, como alguém que acabara de emergir de um afogamento, mas o ar parecia denso demais, difícil de engolir.

Isso não era real.

Isso não era possível.

O pânico subiu como um monstro faminto, rastejando pelas minhas entranhas, com garras afiadas, se agarrando a cada respiração. Ele se espalhava como fogo, consumindo minha razão.

Meu quarto... havia desaparecido.

Não havia mais cama, nem lençóis embolados, nem o brilho reconfortante da tela do computador. Nada daquilo que me ancorava à realidade que eu conhecia. O mundo ao meu redor estava dilacerado, uma distorção impossível, um eco deformado do que deveria ser. Eu não estava mais jogando.

Abri meus olhos com dificuldade, antes tudo estava escuro e a luz repentina me cegava, comecei a me acostumar aos poucos com a luz do ambiente e comecei a olhar em volta.

O ambiente era um peso esmagador sobre meus ombros, uma pressão invisível ao redor do meu pescoço. O ar tinha o cheiro denso de velas de cera e madeira antiga, mas havia algo mais, algo sufocante, que se enroscava nos meus pulmões como uma serpente, apertando minha respiração. A expectativa cruel da plateia, faminta por sangue, era palpável, uma presença quase física.

As tapeçarias escuras pendiam das paredes como espectros silenciosos, observando-me com seus olhos inexistentes, enquanto diante de mim, fileiras de cadeiras estavam ocupadas por nobres. Seus olhares me atravessavam, frios e impiedosos, como se já tivessem emitido seu veredicto. Não era apenas desprezo. Era uma condenação silenciosa.

Eu podia sentir o peso daquilo antes que qualquer palavra fosse dita.

A luz filtrada pelas cortinas douradas parecia suave, quase etérea, mas zombava de mim ao iluminar meu rosto pálido e trêmulo, revelando minha vulnerabilidade como se quisesse deixar claro o quão frágil eu era naquele lugar. O mármore negro do chão refletia minha silhueta distorcida, como se até mesmo minha própria sombra tivesse me abandonado, incapaz de me reconhecer.

Quis falar. Quis gritar. Mas minha garganta estava seca, selada, incapaz de emitir som. O peso daquele lugar se tornava insuportável, esmagando-me de dentro para fora.

Diante de mim, sentada em um trono ornamentado com detalhes dourados, uma mulher que parecia uma princesa, era me era bem familiar, me lembrava a princesa Anne que havia condenado Evelyne pelo roubo do seu colar. Seu olhar não carregava raiva nem indignação — apenas uma frieza absoluta, como se eu fosse uma peça defeituosa em um jogo que ela já sabia como vencer.

Meu corpo estava tenso, rígido, como se cada músculo estivesse se rebelando contra o confinamento que me impuseram. Mas não havia fuga. As cordas ásperas, mordendo meus pulsos, cortavam minha pele, lembrando-me incessantemente que eu não pertencia mais a mim mesma.

O tribunal estava lotado. Nobres alinhados em cadeiras luxuosas, suas vestes caras e pesadas, adornadas com ouro reluzente. Mas nada brilhou mais do que seus olhares de escárnio, de desprezo profundo. Predadores à espera do momento exato para dilacerar sua presa.

Eu era a presa.

O juiz levantou.

— Evelyne, acusada de roubo, você se encontra diante da corte.

As palavras caíram sobre mim como um chicote, mas não me alcançaram de verdade. Não consegui absorver. Não... Não, isso estava errado. Eu não podia ouvir isso.

Roubo? Evelyne? Minha mente se recusava a aceitar.

O som das palavras reverberava de uma maneira distante, como se viesse de um lugar onde eu não pertencia, uma realidade que se distorcia ao meu redor. Eu não era Evelyne. Eu não estava ali. O pânico crescia dentro de mim, uma pressão insuportável que apertava minha garganta, roubando-me o ar.

Olhei ao redor, desesperada, procurando por ela. Evelyne. A vilã. Ela deveria estar ali, não eu. Mas todos estavam olhando para mim.

Eu não sou Evelyne. Eu não sou... Não sou ela. Por que estão todos olhando para mim como se fosse...? Não. Não posso. Não posso ser ela

Meu peito subia e descia, o ritmo acelerado e descontrolado da respiração, como se meu próprio corpo fosse um prisioneiro da situação. As cordas nos meus pulsos pareciam cada vez mais apertadas, cortando minha pele como um lembrete cruel do que estava acontecendo. Eu não podia me mover, não podia lutar. As amarras eram mais do que físicas. Elas eram um reflexo de uma realidade sem escapatória.

Eu não sabia como cheguei até ali. Como fui puxada para esse lugar, para esse jogo macabro. Mas o peso daquilo me esmagava, e a dor, tanto física quanto emocional, se tornava quase insuportável.

Uma tela translúcida apareceu diante de mim.

📜 A VOZ SILENCIOSA DA CORTE SUSSURRA 📜:

PERCA SUA DIGNIDADE.

Escolha corretamente e sobreviva

A) 🔸 Implorar por perdão

B) 🔸 Aceitar levar um tapa da princesa

C) 🔸 Aceitar o exílio

Eu olhei para as opções que surgiram na tela:

“O que é isso? Que opções são essas? Por que isso está na minha frente?”

Meu olhar disparou ao redor. Ninguém parecia ver a tela suspensa diante de mim. Eles só estavam esperando minha resposta.

A voz do juiz continuava ecoando pela sala, e os nobres ao redor olhavam para mim com desprezo como se esperassem por algo.

Eu olhei para as opções novamente, eu devia escolher? 

Não! Eu queria gritar. Gritar para o jogo, para tudo o que estava acontecendo, Eu não sou Evelyne. 

Minha boca não abria e eu estava amarrada, mesmo tendo que escolher algumas das opções como eu faria? 

Primeiro preciso me acalmar e escolher uma das opções, preciso raciocinar para poder entender o que estava acontecendo comigo. Olhei as opções novamente.

A) 🔸 Implorar por perdão

B) 🔸 Aceitar levar um tapa da princesa

C) 🔸 Aceitar o exílio

⏳Tempo: 0:59

Eu estava limitada pelas escolhas, pelas opções, pelas regras já estabelecidas e ainda me aparece uma contagem de tempo limite! Não importava o que eu fizesse, o que eu pensasse, eu não tinha mais controle. E, pela primeira vez, uma sensação profunda de desespero me consumiu.

Minha mão tremia ao tentar apertar alguma tecla invisível, como se ainda estivesse diante do computador. Mas não havia ESC.

⏳Tempo: 0:48

Eu sabia que não poderia escolher a última opção. Aceitar o exílio sem resistir? Era uma sentença de fim de jogo, eu poderia morrer de verdade no meu mundo se morresse aqui? Já não sabia de nada.

⏳Tempo: 0:42

A única opção era tentar implorar perdão, mas eu sabia que meu carisma era um desastre. O valor era 5 negativos. Não havia como pedir desculpas com sinceridade e fazer os nobres me aceitarem. Eu tinha que ser mais estratégica. Eu tinha que fazer algo diferente.

⏳Tempo: 0:37

As palavras pareciam um peso em minha boca enquanto eu tentava pensar em uma forma de manipular a situação. Implorar perdão? Não. Eu não queria mostrar fraqueza, nem dar a eles o prazer de me ver em lágrimas. A princesa estava ali, me observando com uma expressão fria. 

⏳Tempo: 0:32

“B” Eu sussurrei e foi o único som que saiu da minha boca.

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Comments

Vivih Paola

Vivih Paola

tbm escolheria B para mostrar esses idiotas que não sou fácil de cai

2025-08-28

0

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