Capítulo 15 – A Tempestade Antes da Calmaria
O som das palmas ecoava no auditório enquanto o festival de talentos chegava ao fim. Noah e Gabriel estavam entre a multidão, tentando absorver o momento, mas as palavras que haviam trocado, o beijo que haviam compartilhado, ainda estavam frescos na mente de ambos. A sensação de estar juntos, a intensidade daquele momento, era esmagadora, mas também trazia uma mistura de insegurança e felicidade que ambos ainda não sabiam como processar.
Gabriel não sabia exatamente como se sentia. Depois do beijo, as coisas pareciam ter mudado de uma forma que ele não estava preparado para lidar. Ele estava acostumado a se esconder atrás da razão, a manter o controle sobre tudo, mas com Noah tudo parecia diferente. Ele sentia as emoções à flor da pele, como se tudo estivesse fora de seu alcance, como se a linha entre o que ele queria e o que ele temia fosse tênue demais para ser mantida.
Ao lado de Noah, ele tentava não mostrar o turbilhão dentro de si. Noah, com seu sorriso confiante e seu jeito extrovertido, parecia tão tranquilo, tão à vontade com tudo que estava acontecendo. Mas Gabriel sabia que por trás daquele sorriso havia uma tensão. Ele sabia que Noah também estava sentindo o peso das palavras não ditas, dos sentimentos não expressos. Havia um receio de que o que começara entre os dois fosse algo temporário, algo que não resistiria ao peso da realidade.
E a realidade começou a aparecer logo após o festival.
No dia seguinte, na escola, os olhares começaram a mudar. Alguns alunos se aproximaram, fazendo perguntas discretas, outros trocavam olhares rápidos e risadinhas. Gabriel tentou ignorar os murmúrios, mas não pôde evitar a sensação de estar sendo observado o tempo todo. Era como se ele estivesse constantemente no centro das atenções, e isso o deixava nervoso.
Noah parecia indiferente a tudo isso. Ele caminhava pela escola com a mesma confiança de sempre, cumprimentando todos os seus amigos e mostrando-se completamente à vontade. Mas, quando seus olhos se encontravam com os de Gabriel, havia algo ali. Algo que Gabriel não conseguia identificar. Era uma mistura de ansiedade e esperança, de um desejo de se afirmar, de ser aceito. E, talvez, esse fosse o maior desafio de todos: a busca pela aceitação em um lugar onde o amor entre dois garotos ainda não era totalmente compreendido.
Na hora do almoço, Gabriel se encontrou sozinho na cantina, sentado em uma mesa isolada. Ele não estava com vontade de socializar, e ainda não tinha certeza de como lidar com a situação que estava se formando entre ele e Noah. Estava com medo de que o relacionamento fosse visto apenas como uma fase, uma curiosidade passageira, e que, em breve, ele fosse forçado a lidar com o julgamento das pessoas ao seu redor.
Foi quando Noah apareceu, tão espontâneo quanto sempre. Ele se sentou ao lado de Gabriel, sem hesitar, e colocou uma bandeja de comida na mesa, sorrindo amplamente.
— Ei, você está bem? — Noah perguntou, a voz cheia de preocupação. Ele se inclinou para olhar nos olhos de Gabriel, como se tentasse entender o que estava acontecendo por trás de sua expressão.
Gabriel forçou um sorriso, tentando disfarçar sua ansiedade.
— Estou, sim. Só... pensando um pouco.
Noah não pareceu convencido. Ele sabia que havia algo errado, e isso fez Gabriel se sentir ainda mais desconfortável. Mas, em vez de pressioná-lo, Noah apenas pegou um pedaço de batata frita e deu uma mordida, sorrindo como se fosse o momento mais simples e natural do mundo.
— Eu sei que não é fácil, Gabi. — Noah falou de forma tranquila. — Mas você não precisa se preocupar com o que os outros pensam. Eu... eu estou com você. E quero que você esteja comigo também.
Gabriel sentiu uma onda de calor tomar conta de seu corpo. As palavras de Noah eram reconfortantes, mas também traziam uma pressão inesperada. Ele queria acreditar no que Noah dizia, queria ter a coragem de enfrentar tudo o que viria, mas a verdade era que ele ainda tinha dúvidas. Dúvidas sobre o que realmente significava estar com Noah, sobre como esse relacionamento se encaixaria em sua vida. Ele ainda não sabia como lidar com o peso das expectativas, com a ideia de ser visto de maneira diferente por todos ao seu redor.
— Eu sei, Noah. — Gabriel respondeu, a voz baixa, como se tentasse fazer as palavras se encaixarem em seu coração. — Mas e quanto a você? Você não tem medo de tudo isso? De como as pessoas vão olhar pra gente?
Noah parou de comer, encarando Gabriel com uma expressão séria pela primeira vez. Ele parecia refletir profundamente, como se as palavras de Gabriel tivessem atingido um ponto sensível.
— Sim, eu tenho medo. — Noah finalmente disse. — Mas eu não posso viver com medo o tempo todo, Gabi. Eu não posso esconder quem eu sou por causa dos outros. E eu também não quero que você faça isso.
Gabriel olhou para ele, sentindo o peso das palavras se instalarem em seu peito. Ele sabia que Noah tinha razão, mas o medo ainda o consumia. O medo de não ser aceito, de ser rejeitado, de que aquilo tudo fosse apenas um sonho que não resistiria ao peso da realidade.
— E se eu não souber o que fazer? — Gabriel perguntou, a voz um pouco trêmula. — E se eu acabar te machucando, Noah?
Noah pegou sua mão, a expressão suave e sincera. Ele não tinha pressa em responder, como se soubesse que Gabriel precisava de tempo para entender tudo o que estava sentindo.
— Eu não vou deixar você se machucar. — Ele disse, com um sorriso gentil. — Estamos juntos nisso, Gabi. E, independentemente do que aconteça, eu estarei ao seu lado. A gente vai aprender juntos.
Gabriel sentiu uma sensação de alívio começar a tomar conta de seu corpo. As palavras de Noah eram um bálsamo para a sua alma. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas sabia que, se estivesse ao lado de Noah, talvez pudesse enfrentar qualquer coisa.
Mas a paz que se instalou naquele momento foi breve. No dia seguinte, algo aconteceu que fez o coração de Gabriel bater ainda mais rápido. Um boato começou a circular pela escola, e Gabriel ouviu, de forma casual, que alguns dos seus colegas estavam começando a fazer comentários sobre o relacionamento entre ele e Noah.
O julgamento já havia começado. E, apesar de tudo o que Noah dissera, Gabriel sabia que o caminho à frente não seria fácil.
No entanto, ele também sabia de uma coisa: estava pronto para enfrentá-lo, porque, ao lado de Noah, ele não precisaria enfrentar a tempestade sozinho.
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Atualizado até capítulo 22
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