Capítulo 5- Primeiros Laços

Capítulo 5 – Primeiros Laços

O dia seguinte foi mais tranquilo, ou pelo menos parecia ser. Gabriel tentou se concentrar nos estudos e nas atividades escolares, mas tudo parecia mais difícil do que o normal. A mente de Gabriel estava cheia, constantemente voltando àquela conversa com Noah e ao comportamento misterioso do dia anterior. Como se fosse inevitável, suas palavras e gestos estavam gravados em sua mente.

No fim da tarde, quando a escola finalmente liberou todos para a saída, Gabriel se preparava para ir embora, mas, ao sair da sala, quase esbarrou em Noah. Ele estava ali, com seu sorriso fácil e aquele olhar que Gabriel não conseguia decifrar.

— Ei, Gabi! — Noah cumprimentou, claramente alegre em vê-lo. — Podemos conversar por um minuto? Preciso de sua ajuda com um negócio de música.

Gabriel hesitou por um segundo. Ele estava cansado, exausto até, e só queria voltar para casa e descansar. Mas, ao olhar para Noah, ele sentiu uma surpresa, quase uma chama acesa dentro de si. Algo o impelia a ficar, algo além da simples amizade ou dos estudos. E, talvez por isso, Gabriel sentiu que não poderia recusar.

— Claro, o que você precisa? — Gabriel respondeu, mais por impulso do que por convicção. Ele estava começando a perceber que, com Noah, sempre havia algo inesperado.

Os dois caminharam até o pátio da escola, onde o vento frio da tarde fazia as árvores ao redor balançarem suavemente. Eles se sentaram em um banco, longe das movimentações apressadas dos outros alunos que estavam indo para casa. O silêncio que se seguiu foi confortável, mas logo Noah quebrou a quietude.

— Eu estava pensando... Como você acha que devemos organizar nossa apresentação? Eu quero algo mais impactante, sabe? Não só tocar a música, mas fazer com que as pessoas sintam o que estamos sentindo. — Noah falou com uma paixão que Gabriel raramente via nas pessoas ao seu redor.

Gabriel olhou para ele, absorvendo as palavras. Ele sabia que Noah tinha uma energia única, uma vontade de transformar tudo o que fazia em algo mais, algo significativo. A maneira como ele falava sobre música, sobre a apresentação, era contagiante. Gabriel estava começando a entender o que Noah queria. Ele não estava apenas falando de uma simples performance, mas de algo mais profundo.

— Eu... acho que isso é uma boa ideia. — Gabriel disse, hesitante, mas a empolgação na voz de Noah estava começando a afetá-lo. Ele se perguntou como seria se ele também se entregasse a essa paixão. — Talvez pudéssemos incorporar algo visual, como você sugeriu. Pode ser interessante. Mas a música... precisa ser a base disso. Eu realmente acredito que a melodia tem o poder de fazer isso.

Noah sorriu largamente, seus olhos brilhando com uma mistura de gratidão e entusiasmo.

— Isso mesmo, Gabi! A música é o coração. E você, cara, tem uma visão única. Não vejo muitos fazendo essa conexão tão forte com o som, mas você... você consegue. — Noah elogiou, e Gabriel sentiu seu peito aquecer com as palavras.

O que começou como uma simples conversa sobre a apresentação acabou se tornando algo mais significativo. Noah parecia genuinamente impressionado com a maneira como Gabriel pensava sobre a música, e isso fez Gabriel se sentir especial. Algo tão simples, como uma conversa, agora parecia carregar um peso que ele não conseguia explicar.

— Acho que... acho que podemos criar algo realmente bom juntos. — Gabriel disse, sentindo uma satisfação inusitada. Ele nunca se sentira assim antes, tão alinhado com alguém.

— Com certeza! — Noah respondeu rapidamente, e os dois sorriram um para o outro. Mas o momento de leveza foi interrompido quando um grupo de alunos passou por eles, rindo e conversando. Eles notaram Noah e Gabriel no banco, e uma das garotas, Clara, fez uma piada que fez os outros rirem.

— Olha só, o Gabi está ficando famoso. — Clara disse com um tom sarcástico, e os outros riram mais. Clara, que costumava fazer esse tipo de comentário, sempre foi mais desdenhosa de Noah. Ela nunca entendeu sua vibração, mas sempre parecia querer zombar disso.

Gabriel se encolheu um pouco. Ele odiava essas situações, odiava ser o centro das piadas, e mesmo sabendo que as palavras de Clara não deviam afetá-lo, algo ali o incomodava. Ele não queria que Noah ficasse mal por causa disso. Ao seu lado, Noah permaneceu tranquilo, mas Gabriel podia ver o pequeno incômodo nos seus olhos. Era como se ele quisesse ignorar, mas não conseguisse.

— Eles não sabem de nada. — Noah murmurou, como se estivesse se falando. Ele deu um sorriso forçado para Gabriel. — Não se preocupe com isso. A gente faz as coisas do nosso jeito. Não precisamos da aprovação de ninguém.

Gabriel assentiu, tentando se acalmar. A sinceridade nas palavras de Noah era algo que ele raramente encontrava, e isso, de alguma forma, o fez admirar ainda mais o garoto à sua frente.

— Você está certo. Mas, eu... não sei, às vezes me incomoda, sabe? — Gabriel confessou, ainda um pouco inseguro.

Noah o olhou por um momento, e sua expressão ficou mais suave.

— Eu sei, Gabi. Sei que não é fácil. Mas a gente vai dar a nossa melhor versão, não para os outros, mas para nós mesmos. E quando as pessoas verem o que estamos fazendo, não vão ter mais o que dizer.

Havia algo reconfortante na confiança de Noah. Algo que Gabriel estava começando a desejar para si mesmo. Algo além da amizade, além do respeito. Ele começou a perceber que talvez, apenas talvez, estivesse começando a sentir algo mais por Noah. Algo que ele não sabia como lidar, mas que não poderia ignorar.

Os dois ficaram em silêncio por um momento, olhando um para o outro. O mundo ao redor parecia ter desacelerado, e, por um breve instante, Gabriel sentiu uma conexão que transcendeu as palavras. Algo mais profundo estava acontecendo ali, algo que ele não podia compreender completamente, mas que ele sentia com clareza.

Quando finalmente se levantaram para ir embora, o céu estava começando a escurecer, mas a sensação de algo novo entre eles ficou.

Gabriel sabia que o que estava começando ali não poderia ser apenas amizade. Algo mais estava se formando, e ele não sabia se estava pronto para isso, mas não podia negar que, de algum modo, ele queria que isso fosse real.

— Vamos fazer isso, Gabi. Vamos fazer algo inesquecível. — Noah disse, com aquele sorriso genuíno que Gabriel tanto gostava.

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