Enemies To Lovers
Se tem uma pessoa neste mundo que eu odeio com todas as minhas forças, essa pessoa é Josh Thorne. Não estou falando de uma simples antipatia ou daquela irritação momentânea que a gente sente com qualquer um. Eu o detesto, com todas as letras. Cada vez que ele aparece no meu caminho, sinto meu sangue ferver. Mas é importante esclarecer uma coisa: meu ódio não começou do nada. Há motivos para isso — muitos motivos.
Primeiramente, existe o ódio tradicional. Nossas famílias se detestam há gerações. A família Evernight e os Thorne são inimigas de longa data, e, sinceramente, nem sei exatamente o porquê. Meus pais nunca me explicaram. Quando perguntei para minha mãe, tudo o que ela disse foi: “É melhor você não saber.” Meu pai, como sempre, apenas grunhiu algo incompreensível e continuou lendo o jornal. Perguntar aos meus avós também não adiantou. Eles mudavam de assunto ou faziam aquele olhar severo que me dizia claramente para deixar isso de lado.
Se eu tivesse que adivinhar, diria que provavelmente envolve dinheiro ou traição. Tudo na família Evernight gira em torno de poder, e sei que os Thorne também não são santos. O que quer que tenha acontecido, criou uma divisão tão profunda que nenhum lado parece disposto a deixar para trás.
Mas o que realmente alimenta minha aversão por Josh é algo mais pessoal. Nos conhecemos desde o fundamental, mas éramos apenas duas crianças que se ignoravam. Foi no ensino médio que tudo desandou. Aí, ele passou de um rosto aleatório no corredor para um espinho constante no meu caminho. E, claro, houve *aquele* incidente que selou de vez o nosso destino como inimigos declarados.
Era um dia qualquer, e ele tinha acabado de fazer algum comentário idiota. Nem me lembro exatamente o que ele disse, mas lembro do tom sarcástico, daquele sorriso convencido que ele sempre usa para provocar. E eu não sou do tipo que leva desaforo para casa. Nós começamos a discutir, como sempre, e a coisa escalou rapidamente. Palavras afiadas foram trocadas, eu o acusei de ser um babaca insuportável, ele revidou dizendo que eu era uma psicopata
Foi então que aconteceu. Ele tropeçou, ou escorregou — não tenho certeza — e caiu direto na piscina do ginásio. A cena deveria ter acabado ali, mas óbvio que Josh nunca sabe quando parar. Ele saiu da água como um furacão, convencido de que eu o havia empurrado.
-Você não tem limite, né? O que é isso? Não sabe brincar?
Eu olhei para ele, completamente sem reação.
-Eu não te empurrei, seu idiota!
-Você vai ver agora!
Ele disse, e, sem mais nem menos, me arrastou para dentro com ele.
Foi um caos completo. Eu não sei nadar — o que, claro, ele não sabia na época. . A água me envolveu e eu fui para o fundo, tentando desesperadamente me segurar em alguma coisa. Meu coração estava batendo forte demais, e, antes que eu percebesse, já estava me agarrando ao primeiro ponto fixo que encontrei: Josh.Eu estava perto demais dele, meu rosto quase colado ao dele.
-Ótimo Mavis, além de me empurrar na piscina ainda quer me afogar também?
-Eu ja te falei que não te empurrei!! Eu não sei nadar, não faz sentido eu te empurrar! Josh voçê ainda vai se ver comigo se voçê não me tirar dessa piscina!!!
-Sua maluca mentirosa, solta minha garganta! Voçê ta me sufocando!
-Você me puxa para a piscina e quer que eu solte você? Mais é claro que não vou soltar!
Eu senti minha raiva aumentar. Como ele podia ser tão... irritante? Eu estava em pânico, e ele estava mais preocupado com a minha mão no pescoço dele do que com o fato de eu estar quase me afogando.
-Mavis... voçê realmente não sabe nadar.. né?
-Claro que não! Por que você acha que eu estava te agarrando?
Josh ficou em silêncio por um momento, e então pareceu finalmente perceber o quão grande foi o mal-entendido. Ele ficou sem graça, olhando para mim, e a raiva que antes estava estampada no rosto dele agora parecia dar lugar à vergonha. Ele não sabia o que fazer com a situação.
-Desculpa.. Eu pensei que voçê tinha me empurrado
-Agora que voçê caiu na real me tira daqui!!!
Ele me olhou por um momento, com aquela cara de “tá bom, já entendi”, e com um suspiro, finalmente me ajudou a sair da água. Então, sem conseguir segurar a frustração, dei um tapa no rosto dele.
Depois disso, o ódio só cresceu. Cada vez que nos encontramos, é como uma faísca pronta para explodir em fogo. Ele adora provocar, e eu não consigo evitar revidar. Parece que estamos presos em um ciclo interminável de brigas e discussões, e, para ser honesta, nem sei mais onde tudo isso vai parar.
Mas de uma coisa eu tenho certeza: Josh Thorne é a personificação de tudo o que me irrita neste mundo. E, infelizmente, parece que o universo insiste em colocá-lo na minha vida. O que é ainda pior é que, toda vez que isso acontece, sinto como se houvesse algo mais ali — algo que eu me recuso a admitir. Porque admitir significaria abrir uma porta que eu não quero atravessar.
E eu não atravessarei. Nunca.
Quando penso sobre mim mesma, é impossível ignorar o quanto sou uma Evernight até a última célula. Minha família é um reflexo claro de tudo o que carrego em minha personalidade. Frieza, calculismo, e uma habilidade assustadora de separar razão e emoção. Meu pai é severo, um homem que prefere o silêncio a qualquer demonstração de afeto. Minha mãe? Ela é uma perfeição glacial, sempre controlada, nunca fora do eixo. Crescer nesse ambiente me moldou de uma forma que às vezes assusta até a mim mesma.
Não sou diferente. Sou fria. Não consigo me importar com ninguém, pelo menos não de verdade. É como se houvesse um muro invisível entre mim e o resto do mundo. Minhas emoções existem, mas estão trancadas em algum lugar tão fundo que raramente consigo alcançá-las. Amizades? Nunca fiz questão. Não sei como confiar, nem sei se quero aprender. As pessoas vêm e vão, e eu continuo exatamente no mesmo lugar.
Já me disseram que sou meio psicopata. Não posso discordar completamente. Não sinto culpa, nem remorso .Talvez seja genético, um legado da família Evernight. Talvez seja apenas quem eu sou. Não sei ao certo, e, para ser honesta, não me importa descobrir.
Às vezes me pergunto como seria ser diferente. Ter amigos, sentir algo mais profundo por alguém, rir até o estômago doer. Mas essas ideias desaparecem tão rápido quanto surgem. No final das contas, a solidão nunca me incomodou de verdade. É confortável, familiar, como uma segunda pele.
E é por isso que não consigo entender por que Josh Thorne desperta algo em mim. Algo que eu não quero nomear. Algo que quebra, ainda que por um instante, a muralha que construí em torno de mim mesma. Isso me irrita. Me descontrola. E, acima de tudo, me assusta.
Havia algo em Josh que sempre me irritava profundamente, mas que, de certa forma, também me intrigava — mesmo que eu odiasse admitir. Era um intervalo qualquer, e eu estava encostada em uma das colunas próximas ao pátio, tentando ignorar o burburinho ao meu redor. Foi quando o vi, do outro lado, encostado na parede, como se fosse dono do mundo.
Josh Thorne estava cercado por algumas pessoas, mas parecia distante, como se o grupo não o incluísse realmente. Ele tinha aquele olhar sério que sempre me dava nos nervos, uma mistura de mistério e arrogância. A maneira como ele inclinava levemente a cabeça ao falar com alguém, como se estivesse analisando cada palavra antes de soltá-la, me deixava com raiva e... intrigada. Ele levantou os óculos com um gesto tão natural, mas ao mesmo tempo tão calculado, que era impossível não reparar. Era como se ele soubesse exatamente o que estava fazendo — e como as pessoas ao redor o viam.
Eu deveria desviar o olhar. Deveria ignorá-lo completamente. Mas algo no jeito como ele mantinha aquela postura relaxada, ainda que visivelmente atento a tudo, me prendia. Por um momento, ele pareceu se desligar do grupo, seus olhos vagueando até pousarem em mim. Meu coração deu um salto, mas eu me recusei a mostrar qualquer reação. Fixei meu olhar em outro ponto, fingindo estar completamente alheia à sua presença.
Foi então que, com o canto do olho, percebi um leve sorriso surgir em seus lábios. Aquele sorriso. O mesmo que ele usava toda vez que queria me provocar, me tirar do sério. Senti meu rosto esquentar, não de vergonha, mas de pura irritação. Ele achava mesmo que podia me intimidar à distância?
"Ridículo", pensei, cruzando os braços e me virando para o outro lado. Mas, mesmo enquanto tentava ignorá-lo, algo dentro de mim não parava de questionar por que eu continuava a notar cada detalhe dele — desde o jeito como seus olhos sérios e hipnotizantes observavam o mundo ao seu redor até a maneira casual com que ele inclinava o corpo contra a parede.
"É só ódio. Nada mais. Não há nada além disso." Repeti para mim mesma como um mantra, tentando silenciar o pensamento incômodo de que, talvez, só talvez, houvesse algo mais por trás daquela fachada irritante. Algo que eu nunca admitiria, nem para mim mesma.
Se tem algo que eu realmente desprezo mais do que ouvir o nome de Josh Thorne, é ter que participar de atividades que envolvem poesia. E adivinhe o que estávamos fazendo na aula de português hoje? Exatamente. O professor achou que seria uma ideia genial convidar a turma para expor seus “sentimentos mais profundos” através de poemas que escrevemos como dever de casa.
Eu sabia que ia acabar me metendo nisso assim que ele entrou na sala com aquele sorriso de quem está prestes a atirar os alunos em um poço de vergonha coletiva.
— Vamos começar com… Mavis Evernight. Por favor, venha à frente e leia seu poema para a turma.
Minha mão estava apertando a caneta com tanta força que eu podia jurar que estava prestes a quebrá-la. Não tinha como escapar. Me levantei, e caminhei até o centro da sala sob os olhares curiosos dos outros alunos. Claro que senti Josh me encarando. Sempre me encarando.
Respirei fundo e comecei:
Teus olhos, duas lanças geladas,
Rasgando a neblina do meu ser,
Tua voz, lâmina cortante e abafada,
Perfura o ar, me faz desvanecer.
Por que tu, ser vazio e desprovido,
Insistes em brincar com a minha dor?
Esquece que sou a tempestade, o perdido,
E que o ódio por ti é meu eterno fervor.
Nos teus gestos vejo a falsidade,
A mentira dançando no ar,
Cada palavra que sai da tua boca
É um peso que me faz suar.
Quem te deu direito, miserável criatura,
De respirar o mesmo ar que eu?
Teu silêncio afasta a ternura,
E a dor que me causa é o teu troféu.
E mesmo que te veja de longe,
Teu olhar me arranha como ferro quente,
A raiva que me consome e me esconde
Diante de ti, é uma chama pungente.
Quando terminei, a sala estava em um silêncio desconfortável. Alguns alunos me encaravam com expressões de puro choque; outros apenas olhavam para suas mesas, como se estivessem fugindo de algo. Eu dei um sorriso discreto e voltei para o meu lugar, sentindo a satisfação de ter tirado todo o meu ódio para fora.
— Bem… muito intenso, Mavis. Muito bem escrito. Agora, Josh Thorne, que tal compartilhar o seu poema conosco?
Ah, claro. Como se o universo já não fosse cruel o suficiente, agora era a vez dele. Ele caminhou até a frente da sala com aquela postura confiante que me irritava tanto. Para piorar, ele ainda inclinou levemente a cabeça enquanto ajustava os óculos. O olhar sério e misterioso que, admito, era irritantemente hipnotizante, percorreu a sala antes de ele começar a ler:
Teus olhos, mar de tempestade,
Onde tudo é calculado, planejado,
E cada gesto teu, sem piedade,
Desafia o mundo, como se fosse invadido.
Tua frieza, escudo impenetrável,
Me afasta, me espanta, me perde,
És como o inverno, implacável,
Onde cada palavra é um gelo que se perde.
Mas, se em ti tudo parece calculado,
Há algo que me desconcerta, me choca,
No fundo, um resquício de algo mais, inesperado,
Um espaço vazio que sua frieza bloqueia.
Porque, no fim, descobri que tu és dura,
Mas não soube que a dor também me feria,
O que vi no fundo da tua armadura
Foi uma trégua que a mim, de algum modo, se oferecia.
E mesmo que minha raiva tenha sido imensa,
No toque da água, no reflexo que vi,
Teu olhar me revelou a essência,
E percebi que és ruim, mas não tanto quanto eu acreditava ser.
Então, se as palavras que trocamos te ferem,
Se em minhas ações há culpa que me envolve,
Peço, então, perdão — sei que se ofendem,
E espero que uma trégua, ao menos, se resolva.
Eu pisquei. Ele só podia estar brincando.
A sala caiu na risada, e ouvi murmurinhos.
— Ei, parece que eles escreveram um para o outro! — comentou um garoto do fundo.
— É o amor! — disse outra menina, mal contendo o riso.
— Amor? Sério?— Josh virou para a sala, levantando uma sobrancelha, antes de olhar diretamente para mim. — Só pode ser piada.
— Com certeza é. Eu prefiro morrer a sentir algo que não seja ódio por você.— Cruzei os braços, ainda sentindo meu rosto queimar de vergonha pela insinuação absurda.
Josh riu baixo, aquele tipo de riso que só me irritava mais ainda, e voltou para o seu lugar, me lançando um olhar de canto.
Eu o ignorei, mas jurei para mim mesma que aquela aula ainda ia ter um capítulo extra na nossa guerra pessoal.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Marina
Esse escritor tem um dom que não está escrito!!! Perfeito
2025-03-15
1
Livia
gente mais que comeco foi esse??Já amei
2025-03-13
1