Se tem uma pessoa que desafia minha paciência e me faz questionar por que o universo insiste em cruzar nossos caminhos, essa pessoa é Mavis Evernight. Ela é o tipo de garota que você percebe de longe — sempre andando com aquela aura de superioridade, como se estivesse acima de todos. E talvez ela esteja, pelo menos na cabeça dela. Mas se tem algo que sei, é que por trás desse exterior de gelo existe uma tempestade própria.
Nossas famílias se odeiam. Sempre foi assim. Os Evernight e os Thorne são praticamente sinônimos de inimizade. Cresci ouvindo minha mãe falar sobre como os Evernight só pensam em dinheiro e poder, e ela sempre adicionava um suspiro dramático ao final dessas conversas, como se fosse uma história antiga que ela gostaria de esquecer. Nunca entendi exatamente o porquê. E sinceramente, não acho que alguém saiba. Parece que esse ódio se perdeu no tempo, mas o ressentimento ainda está muito vivo.
Mavis e eu, no entanto, conseguimos elevar essa rivalidade a um novo nível. Sempre que estamos no mesmo espaço, algo dá errado. Acho que é porque nós dois somos parecidos em alguns aspectos — teimosos, impulsivos e incapazes de deixar uma provocação passar sem revidar. Foi assim desde o ensino médio, mas nada se compara ao que aconteceu naquele dia na piscina.
Tudo começou com mais uma das nossas discussões idiotas. Não lembro exatamente o que ela disse, mas, como sempre, tinha aquele tom afiado e um sorriso cheio de desdém. Algo em mim simplesmente travou. Começamos a brigar, palavras foram trocadas, e, no calor do momento, acabei escorregando — ou talvez tropecei, sei lá. Antes que pudesse me dar conta, estava dentro da piscina, completamente encharcado.
Olhei para cima, e lá estava ela, com aquele olhar de quem achava tudo extremamente divertido. Fiquei furioso. Na minha cabeça, era claro que ela tinha me empurrado, e, sem pensar duas vezes, agarrei o braço dela e a puxei para dentro da água também. Foi uma atitude impulsiva, eu admito, mas naquela hora parecia a coisa certa a fazer.
Foi só quando ela começou a se debater que percebi o problema. Ela não sabia nadar. Ela agarrou meu pescoço como se a vida dependesse disso — e talvez dependesse mesmo. Por um momento, ficamos tão próximos que eu podia sentir sua respiração irregular contra meu rosto. Seus olhos, geralmente tão frios e calculistas, estavam arregalados de puro pânico. Algo naquele momento mexeu comigo de uma forma que eu não esperava.
Não era só o desespero dela que me atingiu, mas também algo mais profundo e desconcertante. Por um segundo, eu esqueci que odiava Mavis Evernight. Esqueci da rivalidade, das provocações, de tudo. Tudo o que conseguia pensar era no quanto ela parecia... vulnerável. E isso me irritou. Irritou porque não fazia sentido. Porque ela é Mavis Evernight, e eu não deveria sentir absolutamente nada por ela que não fosse puro desprezo.
Entao eufiquei parado, tentando entender o que diabos tinha acabado de acontecer.
Desde aquele dia, algo mudou. Não sei explicar exatamente o quê, mas a faísca que sempre existiu entre nós parece ter ganhado uma nova camada. Algo mais intenso, mais complexo. Não quer dizer que eu gosto dela — longe disso. Ela ainda é insuportável. Mas agora, sempre que a vejo, fico com aquela memória da piscina na cabeça. E isso, para ser sincero, me irrita mais do que qualquer coisa que ela possa dizer.
Se tem algo que eu odeio tanto quanto a Mavis Evernight, é falar sobre o meu pai. Mas, de alguma forma, tudo que aconteceu comigo, tudo que me moldou, volta para aquele dia. Eu tinha oito anos quando o perdi. E não foi apenas ele que se foi; foi também uma parte de mim.
Lembro-me do sorriso dele. Era algo raro, porque meu pai era um homem sério, focado, mas quando sorria… era como se o mundo ganhasse cor. Ele era meu herói, meu maior exemplo. E então, de uma hora para outra, ele simplesmente não estava mais lá.
Foi um acidente de carro. Algo tão comum e, ao mesmo tempo, tão cruel. Minha mãe tentou me poupar dos detalhes, mas eu era curioso, insistente. Descobri mais do que deveria. Ele estava a caminho de casa depois de um dia exaustivo no trabalho, e um motorista embriagado cruzou o sinal vermelho. Eu me pergunto, até hoje, como seria se aquele motorista tivesse decidido pegar outro caminho. Se meu pai tivesse saído cinco minutos mais tarde…
Depois disso, nossa casa nunca mais foi a mesma. Minha mãe, Clara, sempre foi forte. Mas eu via as rachaduras na armadura dela. Ela sorria para mim e para Ivy — minha irmãzinha —, mas quando achava que ninguém estava olhando, eu a via chorar. No início, tentei confortá-la, mas o peso era demais para um garoto de oito anos. Então, eu fiz o que achei que era certo: me tornei o homem da casa.
Deixei de brincar, de rir com os amigos. Comecei a cuidar de Ivy como se fosse minha própria responsabilidade. Eu queria ser forte, como meu pai. Mas, ao mesmo tempo, havia essa raiva que queimava dentro de mim. Raiva do mundo, de quem tirou ele de mim. E, com o tempo, essa raiva virou algo silencioso. Algo que eu carregava comigo, mas nunca deixava transparecer. Até hoje, as pessoas dizem que sou sério demais, distante demais. Elas não entendem que isso é tudo que sei ser.
Ivy é a única pessoa que consegue quebrar essa barreira. Ela tem essa energia, essa alegria que me lembra meu pai nos dias bons. Faço tudo que posso por ela. Talvez por isso eu tenha essa tendência a cuidar das pessoas, mesmo que não admita. Eu não quero que ela carregue as mesmas dores que eu. Eu não quero que ela veja o mundo como um lugar frio e injusto.
Às vezes, quando penso no meu pai, também penso na Mavis. Sei que parece estranho, mas há algo nela que me lembra da raiva que eu sentia na época. Ela é como uma tempestade — imprevisível, cheia de energia e destrutiva. E, talvez, eu veja nela um reflexo do que eu poderia ter me tornado. Ou talvez seja só o fato de que ela é uma Evernight, e eu fui criado para odiar tudo que essa família representa. Ainda assim, é complicado. Porque, ao mesmo tempo que ela me irrita, também me intriga.
Eu tento não pensar muito sobre isso. Mas, quando me pego encarando o passado, é difícil não me perguntar: e se as coisas fossem diferentes? E se eu pudesse ser diferente?
Mas não importa. Meu pai se foi, e eu sou quem sou por causa disso. Não há como mudar o passado. Tudo que me resta é seguir em frente, mesmo que eu não saiba exatamente para onde estou indo.
____________
Eu estava sentado em uma mesa no canto do refeitório, mastigando meu sanduíche e tentando ignorar o burburinho ao redor. A maioria das pessoas prefere o centro do salão, onde podem se exibir e socializar. Eu, por outro lado, só quero que esse tempo passe logo. Então, claro, a paz nunca dura.
Ouvi risadas altas vindas de algumas mesas à frente. Meu olhar foi atraído pelo tumulto, como o de todo mundo. Três garotas do grupo popular — lideradas por Scarlet, sempre ela — estavam em pé ao redor de uma menina franzina que parecia completamente desconfortável.
— Sério, Lily? Esse é o melhor suéter que você tem? Parece que pegou no lixo — Caroline zombou, enquanto as amigas riam.
A tal Lily, que sempre ficava sozinha no canto da sala, não disse nada. Apenas abaixou a cabeça, tentando ignorá-las.
— Ah, você não vai nem se defender? — Scarlet continuou. — Bem típico. Aqui, deixa eu te ajudar.
Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, Scarlet pegou a bandeja de comida de Lily e jogou tudo na garota. Um silêncio tomou conta do refeitório, seguido por risadinhas de outras mesas.
Eu senti o sangue ferver. Não que eu fosse um defensor de causas nobres, mas odiava esse tipo de atitude. Estava prestes a me levantar, quando alguém chegou lá primeiro.
Mavis Evernight.
Ela surgiu do nada, atravessando o salão com aquele jeito dela — passos firmes, olhar afiado. A maioria das pessoas teria hesitado ao se aproximar de Scarlet e seu grupo, mas Mavis? Nem por um segundo.
— O que está acontecendo aqui? — ela perguntou, sua voz cortando o silêncio como uma lâmina.
Scarlet revirou os olhos e cruzou os braços. — Nada que te interesse, Evernight. Vai cuidar da sua vida.
— Bom, isso *é* da minha vida agora — Mavis rebateu, se abaixando para pegar a bandeja caída no chão. Por um segundo, achei que ela ia devolver a bandeja para Lily, mas, claro, eu deveria ter sabido que Mavis nunca faz o óbvio.
Ela segurou a bandeja, virou-se para Scarlet, e — sem aviso — jogou os restos de comida diretamente no rosto da garota.
O refeitório explodiu.
— Sua maluca! — Scarlet gritou, tentando limpar o rosto com as mãos.
— Engraçado, você não parecia achar isso tão ruim há um segundo atrás — Mavis respondeu, com aquele tom gelado que ela usa quando está realmente irritada.
Scarlet deu um passo para frente, mas Mavis a encarou de frente, cruzando os braços.
— Vai tentar alguma coisa? — desafiou.
Scarlet hesitou, olhando ao redor. Sua confiança vacilou sob o olhar de todos, e, com um resmungo irritado, ela e suas amigas se retiraram apressadas.
O silêncio do refeitório foi quebrado por alguns aplausos e risadas abafadas. Mavis, por outro lado, parecia menos confortável.
— Obrigada — Lily disse baixinho, olhando para Mavis com olhos cheios de gratidão.
Mavis deu de ombros. — Não fiz isso por você. Só não suporto gente estúpida.
A menina tentou dizer algo mais, mas Mavis já estava saindo, a cabeça erguida, o rosto inexpressivo, como se não tivesse acabado de se tornar o centro das atenções.
Mas eu percebi. Percebi o leve rubor nas bochechas dela, a tensão em seus ombros. Ela odiava que as pessoas estivessem olhando para ela como uma heroína. E, por algum motivo, isso me fez sorrir.
Ela é tão complicada. Sempre tentando esconder qualquer resquício de bondade debaixo daquela máscara de durona. É como se ela lutasse contra si mesma o tempo todo.
Olhei para o prato à minha frente, sem fome agora. Havia algo em Mavis que me deixava... curioso. Eu sempre a via como alguém fria e calculista, mas cenas como essa me faziam questionar tudo.
Eu podia odiá-la. E talvez ela ainda fosse a garota mais insuportável que já conheci. Mas, naquele momento, tive que admitir: Mavis Evernight era, no mínimo, fascinante.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Marina
Só eu que achei o jeito do Josh super sexy?? 😻🤭
2025-03-15
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