Capítulo 6

Brendon olhou seriamente para o amigo.

-- Que mulher está falando?, -- Brendon indagou se fazendo de desentendido.

Anthony soltou uma gargalhada forte.

-- Cara, não me faça de idiota. Você sabe muito bem de qual mulher estou falando. Nunca te vi tão interessado em ajudar alguém como te vi naquele dia ajudando aquela mulher. Afinal, vocês transaram, não foi? Ela estava drogada e estava te agarrando antes de entrar debaixo do chuveiro. Ela é muito linda e gostosa.

Brendon encarou furiosamente Anthony com raiva.

-- Não fala assim dela. Não aconteceu nada entre nós. Eu consegui resistir a tentação. .

Anthony deixou o garfo no prato e respondeu com admiração.

-- Isso é magnífico, - reconheceu Anthony com sinceridade. -- Não somos obrigados a seguir nossos instintos o tempo todo.Se essa era tua escolha,só posso aplaudir tua força emocional. Bem,cada um segue seu caminho, mas eu com certeza não resistiria.

-- Anthony, não sou como você, seu predador indomável.

Brendon resmunga se servindo de um pedaço de bife.

-- Realmente.. você não é como eu. Mas me diga uma coisa, pelos menos sabe o nome dela, não é?

Brendon ergueu os olhos para fita-lo.

Anthony logou notou uma sombra de desagrado no semblante sério de Brendon.

-- Não perguntei o nome dela -- Brendon respondeu com uma expressão fria. - Eu só a vi naquele dia e não tive mais contato desde então..

-- Fala sério, Brendon,! Não me diga que não se arrependeu por não ter conseguido o número dela e saber seu nome? Sou capaz de dá minha cara a tapa, mas eu tenho certeza que essa mulher mexeu com você.

Brendon mordeu os lábios. Ele sabia que a afirmação de Anthony era certa, mas não podia se prender a uma pessoa desconhecida.

O CEO desviou o olhar e suspirou.

-- Você está certo, Anthony. Ela mexeu comigo de uma forma que eu não consigo explicar, mas eu não posso me prender a alguém que eu mal conheço, ou melhor , não sei nada sobre ela. É melhor deixá-la no passado. Até porque, nunca mais vou encontrar novamente. Essa cidade é muito grande, e se torna difícil nos vermos de novo.

O olhar sério de Brendon refletia suas batalhas internas. Ele sabia que aquela mulher representava um perigo para sua estabilidade emocional e sua vida tranquila. Mesmo assim, uma parte dele ainda desejava saber mais sobre ela, descobrir quem ela realmente era além daquele breve encontro naquela noite de sábado.

-- Você tem razão em parte. Realmente não se sabe se ela é uma pessoa de bem. Mas já falando sobre reencontrar ela novamente, acho que você está errado. São Paulo é grande, mas parece que ela gosta de uma balada, não é? Que tal me fazer uma visita no sábado lá na boate. Acho que você pode encontrar com ela novamente.

O coração de Brendon disparou pela expectativa de rever a mulher misteriosa novamente.

-- Não, isso não é boa ideia. Não quero mais ver-la.

Anthony soltou uma risada alta ao ouvir Brendon dizer aquilo.

— Ah, Brendon, você não me engana. Sei que está morrendo de vontade de voltar lá. Não se preocupe, eu não conto para ninguém. Será nosso segredo. Além disso, se ela for uma interesseira, você logo descobre e se livra dela. Mas se ela for legal, quem sabe, né? Pense com carinho.

Brendon respirou fundo, lutando contra a tentação. A imagem vívida de Gabriela invadiu sua mente, a fragilidade misturada com uma sensualidade inconsciente. Ele balançou a cabeça negativamente, tentando afastar o pensamento.

— Não posso, Anthony. Tenho responsabilidades, compromissos… Não posso simplesmente me jogar numa busca por uma mulher que mal conheço.

— Responsabilidades? Compromissos? Está falando de que, Brendon? De ficar trancado em seu apartamento luxuoso, afogando-se em trabalho? Você precisa viver um pouco! Qual o problema de se divertir um pouco? Não precisa se casar com a mulher, basta conhecê-la melhor.

Anthony deu uma piscadela. — E quem sabe, se a química rolar , vocês podem ter uma noite… memorável.

A sugestão, dita com malícia, fez Brendon corar levemente. Ele desviou o olhar, cutucando o restante do bife no prato, sem realmente ter apetite. A semente da curiosidade, porém, já havia sido plantada.

— Não prometo nada, — murmurou Brendon, finalmente. — Mas talvez… talvez eu passe na boate no sábado. Só para ver… o movimento.

Um sorriso triunfante se abriu no rosto de Anthony.

— Sabia que você não ia resistir! — exclamou, batendo de leve no ombro do amigo. — Esteja lá por volta das onze. É o horário que costuma ficar mais cheio. E Brendon… — Anthony se inclinou conspiratoriamente. — Vista algo… impressionante. Nunca se sabe as surpresas que a noite pode reservar.

Brendon soltou um suspiro, sentindo uma mistura de apreensão e excitação. Ele sabia que estava se metendo em algo potencialmente complicado, mas a força do desejo, da curiosidade, era maior do que sua cautela habitual. Ele passaria na boate. E, no fundo, esperava, com uma ansiedade que tentava disfarçar até de si mesmo, reencontrar aqueles olhos castanhos profundos que o haviam perturbado desde a noite daquele sábado.

Brendon mergulhou no trabalho após o almoço com Anthony, tentando em vão afastar a imagem de Gabriela de seus pensamentos. A conversa com o amigo o havia deixado inquieto, dividido entre a cautela e a crescente curiosidade. A tarde transcorreu em meio a relatórios, gráficos e videoconferências, mas a lembrança daqueles olhos castanhos persistia, um ponto de interrogação em sua rotina meticulosamente planejada.

Às quatro horas da tarde, um discreto toque na porta interrompeu sua concentração na tela do computador. Era Simone, chefe do RH, acompanhada por uma jovem mulher.

-- Entre!, -- a voz educada do CEO ecoou no outro lado da porta que se abriu logo em seguida.

O coração de Brendon disparou no peito quando seu olhar cruzou com o rosto encantador de Gabriela. Ali, diante dele, com os mesmos cabelos escuros e os olhos castanhos que o assombraram por dias. Ela estava diferente, vestida com um elegante tailleur que contrastava com a fragilidade que ele se lembrava, mas a essência era a mesma: uma mistura intrigante de vulnerabilidade, força e beleza.

Simone, alheia à turbulência interna de Brendon, sorriu com satisfação.

— Sr. Willians, quero te apresentar Gabriela Martins . Ela passou pela entrevista com muito mérito e será sua nova secretária. Tenho certeza que vocês dois formarão uma ótima dupla.

Gabriela estendeu a mão, um leve rubor colorindo sua face.

— Prazer em conhecê-lo, Sr. Willians. Estou muito feliz pela oportunidade.

A voz dela era suave, melodiosa, como Brendon se lembrava. Ele apertou sua mão, sentindo uma corrente elétrica percorrer seu corpo. O toque o fez lembrar da sensação de sua pele arrepiada sob a água do chuveiro quando Gabriela o agarrou antes de desmaiar.

Ele tentou manter a expressão neutra, profissional, mas sentia o rosto queimar.

— O prazer é meu, Gabriela — respondeu, a voz ligeiramente rouca. — Seja muito bem-vinda a empresa.

Simone ainda comentou alguns detalhes sobre a contratação e os procedimentos de integração, mas Brendon mal ouvia. Sua mente estava em turbilhão. O destino, ou talvez o acaso, havia lhe pregado uma peça. A mulher misteriosa, a figura que invadira seus pensamentos e despertara emoções desconhecidas, agora era sua secretária. Ele a teria ali, a poucos passos de distância, todos os dias. A sensação era inebriante e assustadora ao mesmo tempo.

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