Rêves de Minuit
Paris – janeiro de 1801
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Era uma tarde de inverno quando Catherine Bonnet entrou em trabalho de parto, estavam no Chateou da família Bonnet, estava com quase trinta anos, e estavam preocupados – não que fosse seu primeiro filho, pelo contrário, seria o oitavo –, mas por já ter tido algumas perdas. Estava deitada na cama desde o momento que sua bolsa estourou, o quarto havia sido cuidadosamente preparado – o quarto era aquecido pela fornalha para que a senhora Bonnet não sentisse o frio do inverno invadir seu corpo –, com tapetes e cortinas pesadas, para que Catherine sentisse um conforto e privacidade, algumas das paredes estavam decoradas com tapeçarias.
O tempo parecia arrastar-se de maneira quase insuportável. O vento cortante do inverno, lá fora, não conseguia penetrar a espessa parede do Chateou, mas ainda assim fazia-se presente, como um lembrete constante da estação implacável. Catherine estava exausta, seu rosto estava suado, e seus olhos azuis se apertavam a cada contração. Amélie Bonnet – nascida De Lafayette, permanecia ao seu lado, segurando sua mão com força, seu olhar estava fixo no rosto de Catherine, marcado por um misto de ansiedade e preocupação. Édouard Bonnet, marido de Catherine, estava do lado de fora do quarto, estava nervoso e seu irmão mais novo, Alexandre – marido de Amélie –, tentava acalmá-lo a cada grito de Catherine.
Amélie limpava o suor do rosto de Catherine com um paninho úmido, uma das parteiras se aproximou com um olhar sério, mas reconfortante. Ela sabia que Catherine, em sua experiência, não era uma mulher que temesse o parto, mas também compreendia a sombra da perda que pairava sobre ela.
— Senhora Bonnet, preciso que respire fundo. – A parteira falou baixo, com palavras suaves, mas firmes. — Estamos aqui para ajudá-la.
Catherine, entre suspiros e gemidos, tentou se concentrar. A dor vinha e ia, como ondas implacáveis, mas ela se manteve firme, como sempre fizera, lembrando-se das crianças que ainda estavam à sua espera, os filhos que precisavam dela. A cada momento que passava, ela sentia a pressão crescente, a urgência de que o bebê estivesse chegando. O ar parecia pesado, carregado de um tipo de tensão que só quem já passou por tantas dores poderia compreender. Amélie se inclinou mais perto, com um olhar ansioso, mas firme, dizendo-lhe palavras de encorajamento, sua voz doce sussurrou reconfortante. Uma das servas segurou sua outra mão.
— Você é forte, Catherine. Eu sei que vai conseguir. – Amélie falou, apertando sua mão levemente.
Com mais uma contração, o corpo de Catherine se apertou com força. Ela fechou os olhos, apertando as mãos de Amélie e da serva ao seu lado, e, com um último esforço, o bebê finalmente emergiu. O choro de uma criança, ainda rouco e fraco, preencheu o ar, quebrando o silêncio denso da sala. A dor que Catherine sentira parecia se dissipar, substituída por um alívio profundo, mas também por uma onda de emoções que ela não conseguia controlar. Amélie olhou para as mãos da parteira.
O pequeno ser foi colocado em seus braços, envolto em um cobertor macio, e, ao olhar para o rosto do bebê, uma mistura de alegria e alívio invadiu seu coração. Era uma menina. A surpresa foi breve, pois, diante da perda anterior, Catherine sentiu uma gratidão silenciosa por esse novo ser, mesmo sabendo que, no fundo, ainda havia o medo da fragilidade da vida.
A respiração lenta e constante de Catherine rompeu o silêncio no quarto, parecendo finalmente encontrar paz. O medo e a angústia acumulados durante a gravidez, somados às lembranças de perdas anteriores, evaporaram no instante em que ela olhou para a vida que acabara de nascer em seus braços.
— É uma menina, Amélie. – Catherine falou não conseguindo conter as emoções. — Minha Annabelle Madeleine Bonnet.
Então na fria noite do dia 14 de janeiro, quando o mundo lá fora parecia ter paralisado, uma nova história começava dentro do Chateou Bonnet, com a chegada da pequena Annabelle que mal chegara ao mundo e já tivera seu destino decidido.
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Um mês após o nascimento de Annabelle fora organizado um luxuoso batizado para comemorar sua vida e, o dia de seu batizado fora também o dia que um acordo entre seu pai, Édouard Bonnet e o Marques de Laurent fora oficialmente firmado entre eles. O senhor Édouard Bonnet tinha grandes planos para o futuro de sua filha. Com a perda de Geneviève – que morrera poucos dias após o nascimento –, Annabelle era a única filha mulher da família Bonnet. Édouard e Catherine eram pais de oito: Nicolas, Oliver, Mark, Henri, os gêmeos Yohann e Lohan, Mattheo e, por fim, Annabelle, nascida exatamente dois dias após o quarto aniversário de Mattheo.
Então, poucas horas antes da cerimônia de batismo de Annabelle Madeleine Bonnet, seu pai e o Marques de Laurent, Simon Leon René Bernard de Laurent, selaram seu destino ao de Liam Vincent Antoine Bernard de Laurent, unindo as duas famílias por meio de um acordo matrimonial que se cumpriria no futuro.
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O salão principal do Chateou, com seus lustres de cristal e tapetes persas, se enchia de convidados ilustres: membros da nobreza francesa, representantes da corte imperial e amigos íntimos da família, estavam reunidos para o batizado de Annabelle, que, com apenas um mês de vida, já era o centro das atenções em sua primeira grande celebração.
O Chateou Bonnet estava adornado com ornamentos dourados e prateados, cuidadosamente dispostos por uma equipe de floristas renomados. Espécies raras de orquídeas e lírios brancos, símbolos da pureza e da nobreza, decoravam os cantos do grande salão, enquanto velas de cera pura espalhavam uma luz suave e acolhedora. O cheiro de incenso de sândalo e flores frescas pairava no ar, trazendo uma atmosfera de reverência e festa ao mesmo tempo.
Édouard Jacques François de Bonnet, o Visconde, se encontrava na entrada, cumprimentando cada convidado com uma reverência respeitosa. Sua esposa, a Viscondessa Catherine, com um vestido de seda cor-de-luar e tiara de diamantes, estavam radiantes. Ela segurava com ternura a pequena Anna, cujos olhos grandes e azuis piscavam sonolentos, a pequena Anna usava seu vestido de batismo bordado com fios de ouro.
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Atualizado até capítulo 25
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