Corações Infiltrados
Melissa Takahashi caminhava pelas ruas movimentadas de Tóquio, sentindo a brisa suave da tarde acariciar seu rosto. Com seus 20 anos, ela tinha uma vida que parecia tranquila, sem grandes sobressaltos, cercada pelos cuidados de Aiko e Hiroshi Takahashi, seus pais adotivos, e pela tradição de uma família japonesa que ela sempre considerou a sua. Ela mal sabia que sua rotina estava prestes a ser alterada para sempre.
A tarde estava se desfazendo lentamente quando Melissa decidiu dar uma parada na sua livraria favorita. Sempre que se sentia sobrecarregada, se refugiava ali, perdida nas páginas dos livros. Era um lugar onde ela podia esquecer o peso das expectativas da sua família e viver outras realidades, onde a felicidade parecia mais fácil de encontrar. Hoje, no entanto, algo estava diferente. Uma sensação de desconforto a acompanhava, como se algo estivesse prestes a acontecer. Ela olhou em volta, mas não viu nada de errado. A multidão passava apressada, como sempre.
Ela pegou um livro e começou a folheá-lo, mas seus olhos voltavam, inquietos, para a porta. Algo a incomodava. Foi quando o viu. De longe, um homem observava-a da entrada da livraria. Seus olhos, penetrantes e silenciosos, a observavam com intensidade. Melissa sentiu um calafrio e, instintivamente, olhou para baixo, tentando ignorar a presença do estranho. Ele estava parado, apenas observando. Não havia movimento, apenas um olhar fixo e implacável.
Melissa tentou se concentrar no livro, mas a sensação de ser observada não a abandonava. Ela não sabia explicar, mas algo dentro de si dizia que aquele homem não estava ali por acaso. Após o que parecia uma eternidade, ela respirou fundo, pegou o livro e seguiu para a saída, fazendo o possível para ignorar a presença dele. Quando se virou para sair da livraria, o homem havia desaparecido.
Ela ainda se sentia estranha, uma mistura de confusão e desconforto, mas não deu muita importância. Talvez fosse só sua imaginação pregando peças, pensou.
Kenji Nakamura, de 22 anos, observava Melissa com precisão. Ele havia passado os últimos dias estudando seus movimentos, acompanhando-a pelas ruas, observando sua rotina. Era estranho como uma simples jovem, com sua aparência doce e uma vida aparentemente comum, poderia ser o centro de um enredo que ele nunca imaginou.
Kenji estava de volta a Tóquio com um objetivo claro. Vingança. Anos atrás, sua família foi destruída em um incêndio, vitimada pelo complexo jogo de poder dos Takahashi. Seus pais morreram, e desde então, Kenji jurou que um dia faria os responsáveis pagarem. Ele nunca soube exatamente quem, mas soubera o suficiente para reconhecer os sinais de um passado escondido, uma história enterrada.
Ao ver Melissa pela primeira vez, seu ódio tomou conta dele. Ela era filha dos homens que destruíram sua vida, ele sabia disso. Mas o que não esperava era a confusão que sua presença causaria. Melissa não era como ele imaginava. Ela não era fria ou calculista como a família Takahashi. Havia algo nela que o fazia questionar seu plano. Algo sobre ela parecia... inocente. Isso o fazia duvidar, mas ele sabia que sua missão era clara: derrubar os Takahashi e, para isso, ele precisaria se infiltrar em sua vida.
Melissa retornou para casa sem saber que estava sendo observada. Quando chegou, Aiko a aguardava na sala de estar, com aquele sorriso gentil e acolhedor que sempre trazia conforto. Mas hoje, algo parecia fora de lugar. Aiko estava mais séria, mais contida.
"Melissa, filha, temos visitantes esta noite," Aiko disse suavemente, mas havia um tom diferente em sua voz. "Eles são amigos muito importantes da família."
Melissa franziu a testa. "Quem são? Eu nunca ouvi falar deles."
Aiko hesitou antes de responder, olhando pela janela como se estivesse esperando por alguém. "São pessoas que você precisa conhecer, Melissa."
A porta da frente se abriu e Hiroshi entrou, seguido por um homem alto e imponente, com uma aura fria que imediatamente chamou a atenção de Melissa. Era ele. Kenji Nakamura.
O coração de Melissa disparou. O homem que ela vira na livraria estava agora diante dela, como se estivesse destinado a cruzar seu caminho. Mas o que ele queria ali?
Kenji olhou diretamente para Melissa, seu olhar profundo e carregado de algo que ela não podia identificar. A tensão no ar era palpável, e o sorriso frio de Kenji fez com que ela sentisse um arrepio na espinha.
"Melissa," Aiko disse com um sorriso forçado, tentando quebrar o silêncio desconfortável, "esse é Kenji Nakamura. Ele é um velho amigo da família."
Mas Melissa não estava convencida. Algo estava errado, e ela não sabia o que era, mas sentia no fundo de sua alma que aquele encontro era apenas o começo de algo muito maior.
Kenji permaneceu em silêncio, apenas observando, enquanto a tensão se arrastava entre eles, como um fio prestes a se partir.
Melissa sentiu o peso do olhar de Kenji, como se ele estivesse tentando decifrá-la. Sua postura era impecável, seu traje formal denunciava que ele era alguém habituado ao poder e ao controle. Mas o que mais a intrigava era a intensidade de seus olhos – eles pareciam guardar um segredo, algo que ele não queria compartilhar, mas que também não conseguia esconder.
"É um prazer conhecê-la, Melissa," Kenji disse, finalmente quebrando o silêncio. Sua voz era grave, controlada, mas havia uma tensão quase imperceptível em suas palavras, como se ele estivesse escolhendo cada sílaba com cuidado.
Melissa inclinou a cabeça levemente em um gesto educado, mas não conseguiu esconder o desconforto que sentia. "O prazer é meu," respondeu, com um sorriso tímido, enquanto seus olhos buscavam os de Aiko em busca de alguma explicação.
"Kenji estará conosco por um tempo," Aiko continuou, ignorando o desconforto evidente de Melissa. "Ele tem negócios importantes para tratar com seu pai, e achamos que seria bom vocês se conhecerem melhor."
Melissa não sabia o que responder. Havia algo fora do lugar, algo que ela não conseguia nomear, mas que a fazia querer se afastar daquele homem. Ela apenas assentiu, tentando parecer indiferente.
Kenji deu um passo à frente, estendendo a mão para cumprimentá-la. Melissa hesitou por um momento antes de aceitar o gesto. Quando suas mãos se tocaram, um arrepio percorreu seu corpo. Aquele toque não era apenas uma formalidade – havia algo nele que parecia carregado de intenção, algo que ela não entendia, mas que a deixava inquieta.
"Espero que possamos nos dar bem, Melissa," Kenji disse, com um sorriso que não alcançou seus olhos. Ele soltou sua mão lentamente, como se estivesse calculando o impacto daquele simples gesto.
"Eu também... espero," Melissa respondeu, com uma leve hesitação. Ela tentou manter a compostura, mas o desconforto era evidente. Kenji a fazia sentir-se vulnerável, e ela não sabia por quê.
Mais tarde naquela noite, enquanto Melissa estava em seu quarto, tentando se concentrar em qualquer coisa que não fosse aquele estranho visitante, ela não conseguia tirar a sensação de sua mente. O olhar de Kenji parecia gravado em sua memória, como se ele tivesse deixado uma marca invisível nela.
Ela caminhou até a janela e olhou para fora, observando as luzes da cidade. A noite estava silenciosa, mas o silêncio não era reconfortante. Era inquietante, como se algo estivesse prestes a acontecer.
Do lado de fora, escondido nas sombras, Kenji estava parado, observando a casa. Ele sabia que não deveria estar ali, sabia que era arriscado, mas não conseguia evitar. Havia algo em Melissa que o intrigava, algo que ele não esperava encontrar.
"Não se deixe enganar," ele murmurou para si mesmo. "Ela é uma Takahashi. Eles destruíram a minha vida."
Mas, mesmo enquanto repetia aquelas palavras em sua mente, uma pequena dúvida começava a crescer. Será que Melissa sabia de algo? Será que ela era tão culpada quanto o resto de sua família? Ou será que ela era apenas mais uma peça no jogo que ele estava prestes a desmontar?
Kenji suspirou, afastando os pensamentos conflitantes. Ele tinha um objetivo, e não podia se desviar. Melissa era a chave para sua vingança, e ele faria o que fosse necessário para conseguir o que queria.
Naquela noite, enquanto Melissa tentava dormir, uma sensação de inquietação a acompanhava. E Kenji, ainda nas sombras, sabia que sua presença já havia começado a deixar uma marca. O jogo havia começado, e não haveria como voltar atrás.
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Atualizado até capítulo 20
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