O Encontro Inesperado

A galeria Takahashi era um lugar de prestígio e sofisticação, reconhecida por atrair colecionadores e críticos de arte do Japão e do mundo. Melissa ajustava os últimos detalhes de uma exposição especial, que homenageava artistas da nova geração. Sua paixão pela arte a mantinha concentrada, mas a inquietação que sentia nos últimos dias não a deixava em paz. Era como se algo estivesse para acontecer.

Vestindo um elegante vestido azul-marinho, com os cabelos longos e lisos soltos sobre os ombros, ela passeava pelo salão iluminado por luzes suaves. Estava acostumada com os olhares dos convidados, mas naquela noite, um em particular a fez hesitar.

Encostado perto da entrada principal, estava um homem que ela nunca havia visto antes. Ele não parecia parte do círculo habitual da galeria. Seus cabelos pretos e curtos destacavam o contorno de seu rosto, e os olhos castanhos escuros estavam fixos em algo à frente, mas ele parecia distante. Vestia um terno preto simples, sem gravata, e carregava uma postura que misturava confiança e mistério.

Melissa se aproximou de uma colega para perguntar quem era o estranho.

— Quem é aquele homem perto da entrada? — murmurou, fingindo observar um quadro.

— Ah, parece que é Kenji Nakamura, um empresário novo na cidade. Soube que ele está interessado em coleções japonesas. Por quê? Você o conhece? — respondeu a colega, curiosa.

— Não, nunca vi antes — respondeu Melissa, ainda intrigada.

Enquanto a noite prosseguia, Kenji parecia evitar contato direto com os outros convidados. Ele vagava pelo salão, observando as obras e as pessoas, mas nunca permanecia em um lugar por muito tempo. Sua presença era quase como a de um observador, estudando tudo ao redor.

Melissa não conseguia ignorar a sensação de que havia algo diferente nele. Não apenas sua aparência ou postura, mas a intensidade em seu olhar.

Finalmente, ao passar próximo a uma das esculturas centrais, ela notou Kenji parado ali, observando o trabalho com uma expressão pensativa. Não era de seu feitio abordar estranhos, mas algo a impelia. Respirou fundo e deu um passo à frente.

— Parece que você gostou dessa peça — disse ela, suavemente.

Kenji virou-se para encará-la, e por um momento, o peso daquele olhar a fez hesitar. Ele tinha uma intensidade quase desconcertante, mas seu tom era calmo quando respondeu:

— É impressionante. A forma como o artista capturou o movimento... é como se a peça estivesse viva.

Melissa sorriu, aliviada por ele responder com naturalidade.

— Essa é uma das minhas favoritas também. É fascinante como algo tão estático pode transmitir tanta emoção.

Kenji assentiu, mas seus olhos não deixaram os dela. Havia algo na voz de Melissa que o intrigava. Uma mistura de doçura e firmeza que parecia contrariar a sofisticação do ambiente ao redor.

— Você trabalha aqui? — perguntou ele, quebrando o silêncio.

— Sim, sou responsável pela curadoria desta exposição.

Ele arqueou levemente a sobrancelha, como se a informação o surpreendesse.

— Curadora, então? Um papel importante.

Melissa deu uma pequena risada, percebendo o tom quase desafiador em sua voz.

— Apenas faço o meu melhor para garantir que o trabalho dos artistas receba a atenção que merece.

— Um trabalho nobre — disse ele, mas o olhar que acompanhava as palavras carregava uma nota de ambiguidade que Melissa não conseguiu decifrar.

Antes que pudesse responder, um dos assistentes da galeria chamou por ela, indicando que precisavam de sua ajuda.

— Com licença, parece que sou necessária em outro lugar. Espero que aproveite o resto da exposição, senhor Nakamura.

Ela se afastou, mas não sem sentir o peso do olhar de Kenji a acompanhando.

Kenji, por sua vez, observou Melissa até que ela desaparecesse entre os convidados. Ele havia chegado àquela galeria com um propósito claro: observar os Takahashi de perto, especialmente a jovem que estava no centro de seu plano. Mas nada o havia preparado para o impacto que a presença dela teria.

Kenji permaneceu imóvel por alguns instantes, encarando a escultura que Melissa havia apontado. A forma como ela falava da peça demonstrava paixão e conhecimento, algo que o surpreendeu. Ele esperava encontrar uma jovem mimada, alguém que apenas carregava o nome dos Takahashi, mas Melissa era diferente.

Enquanto ele se deslocava pelo salão, não pôde deixar de observar como ela interagia com os convidados. Havia algo natural em sua postura, uma elegância que não parecia forçada, mas genuína. Contudo, Kenji sabia que não podia se deixar levar por essas primeiras impressões.

“Ela é uma Takahashi”, ele repetia para si mesmo, como um lembrete constante.

Do outro lado do salão, Melissa tentava se concentrar nas tarefas da exposição, mas sua mente frequentemente retornava à conversa com Kenji. Algo nele parecia fora do lugar. Não era apenas a intensidade de seu olhar, mas o jeito como ele a analisava, como se estivesse tentando decifrá-la.

Perto do final da noite, quando a maioria dos convidados começava a se dispersar, Melissa notou Kenji saindo discretamente. Por um momento, ela considerou chamá-lo para agradecer sua presença, mas hesitou. Algo lhe dizia que aquele não seria o último encontro dos dois.

Kenji, ao sair da galeria, ajustou o casaco contra o vento frio. Enquanto caminhava pelas ruas iluminadas de Tóquio, sua mente estava focada em Melissa. Ele precisava saber mais sobre ela, não apenas para seu plano, mas para entender por que sua presença havia despertado algo inesperado dentro dele.

Ele jurou que aquilo não mudaria seu propósito. Mesmo que Melissa fosse diferente, ela ainda fazia parte dos Takahashi. E ele nunca esqueceria o que essa família tirou dele.

Do lado de fora da galeria, Kenji parou em uma esquina, observando o movimento da cidade ao seu redor. Ele tirou o celular do bolso e revisou as mensagens que tinha recebido antes da exposição. Um contato anônimo, alguém que ele sabia estar infiltrado nos negócios dos Takahashi, havia lhe enviado detalhes sobre os horários e as pessoas presentes naquela noite.

“Melissa Takahashi estará lá,” dizia a mensagem. Agora ele entendia por que era tão importante conhecê-la.

Kenji passou a mão pelos cabelos, frustrado. A noite havia sido mais intensa do que ele esperava. Encarar Melissa e vê-la como mais do que apenas o sobrenome que carregava complicava seus planos. Ela era inteligente, educada, e parecia genuína. Isso fazia dela uma ameaça ainda maior.

Enquanto isso, na galeria, Melissa ajudava os últimos convidados a se despedirem. Assim que o salão ficou vazio, ela foi até o escritório para revisar a lista dos participantes e anotar observações importantes para relatórios futuros. Quando encontrou o nome "Kenji Nakamura", hesitou por um momento antes de escrever algo.

— Kenji Nakamura... Quem é você, afinal? — murmurou para si mesma.

Aquela sensação de que ele não estava ali apenas pela arte permanecia. Havia algo em seus olhos que indicava que ele tinha intenções ocultas. Ela sabia que deveria esquecê-lo, afinal, era apenas mais um visitante, mas sua intuição não a deixava em paz.

Horas depois, quando finalmente chegou em casa, Melissa encontrou Aiko Takahashi na sala de estar, examinando documentos.

— Como foi a exposição? — perguntou Aiko, sem tirar os olhos das folhas.

— Um sucesso, como esperado. Tivemos novos colecionadores interessados, e muitas obras chamaram a atenção — respondeu Melissa.

Aiko levantou o olhar, avaliando a filha com cuidado.

— Algo mais aconteceu? Você parece distraída.

Melissa balançou a cabeça, decidindo não mencionar Kenji. Não queria abrir espaço para que sua mãe questionasse suas impressões.

— Apenas o cansaço. Vou descansar agora. Boa noite, mãe.

— Boa noite, Melissa.

A caminho do quarto, Melissa olhou para os longos corredores da casa. As paredes exibiam quadros e fotos que ela conhecia desde criança, mas que agora pareciam estranhamente distantes. Algo estava mudando dentro dela, mesmo que não conseguisse explicar exatamente o que.

Enquanto isso, Kenji voltava ao seu pequeno apartamento em um bairro mais afastado da cidade. Sentado à mesa da cozinha, ele colocou um mapa sobre a superfície e começou a analisar o organograma da família Takahashi. Aiko e Hiroshi estavam no topo, mas Melissa era uma peça importante.

— Não importa quem ela seja ou o que pareça — sussurrou para si mesmo, apertando a caneta nas mãos. — Eles vão pagar pelo que fizeram.

O relógio marcava quase meia-noite quando Kenji finalmente decidiu descansar. Ainda que houvesse muitas dúvidas sobre Melissa, uma coisa era certa: aquele era apenas o começo.

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Comments

Yume✨

Yume✨

Essa protagonista me conquistou, preciso mais!

2025-01-20

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