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Corações Infiltrados

Observador Estranho

Melissa Takahashi caminhava pelas ruas movimentadas de Tóquio, sentindo a brisa suave da tarde acariciar seu rosto. Com seus 20 anos, ela tinha uma vida que parecia tranquila, sem grandes sobressaltos, cercada pelos cuidados de Aiko e Hiroshi Takahashi, seus pais adotivos, e pela tradição de uma família japonesa que ela sempre considerou a sua. Ela mal sabia que sua rotina estava prestes a ser alterada para sempre.

A tarde estava se desfazendo lentamente quando Melissa decidiu dar uma parada na sua livraria favorita. Sempre que se sentia sobrecarregada, se refugiava ali, perdida nas páginas dos livros. Era um lugar onde ela podia esquecer o peso das expectativas da sua família e viver outras realidades, onde a felicidade parecia mais fácil de encontrar. Hoje, no entanto, algo estava diferente. Uma sensação de desconforto a acompanhava, como se algo estivesse prestes a acontecer. Ela olhou em volta, mas não viu nada de errado. A multidão passava apressada, como sempre.

Ela pegou um livro e começou a folheá-lo, mas seus olhos voltavam, inquietos, para a porta. Algo a incomodava. Foi quando o viu. De longe, um homem observava-a da entrada da livraria. Seus olhos, penetrantes e silenciosos, a observavam com intensidade. Melissa sentiu um calafrio e, instintivamente, olhou para baixo, tentando ignorar a presença do estranho. Ele estava parado, apenas observando. Não havia movimento, apenas um olhar fixo e implacável.

Melissa tentou se concentrar no livro, mas a sensação de ser observada não a abandonava. Ela não sabia explicar, mas algo dentro de si dizia que aquele homem não estava ali por acaso. Após o que parecia uma eternidade, ela respirou fundo, pegou o livro e seguiu para a saída, fazendo o possível para ignorar a presença dele. Quando se virou para sair da livraria, o homem havia desaparecido.

Ela ainda se sentia estranha, uma mistura de confusão e desconforto, mas não deu muita importância. Talvez fosse só sua imaginação pregando peças, pensou.

 

Kenji Nakamura, de 22 anos, observava Melissa com precisão. Ele havia passado os últimos dias estudando seus movimentos, acompanhando-a pelas ruas, observando sua rotina. Era estranho como uma simples jovem, com sua aparência doce e uma vida aparentemente comum, poderia ser o centro de um enredo que ele nunca imaginou.

Kenji estava de volta a Tóquio com um objetivo claro. Vingança. Anos atrás, sua família foi destruída em um incêndio, vitimada pelo complexo jogo de poder dos Takahashi. Seus pais morreram, e desde então, Kenji jurou que um dia faria os responsáveis pagarem. Ele nunca soube exatamente quem, mas soubera o suficiente para reconhecer os sinais de um passado escondido, uma história enterrada.

Ao ver Melissa pela primeira vez, seu ódio tomou conta dele. Ela era filha dos homens que destruíram sua vida, ele sabia disso. Mas o que não esperava era a confusão que sua presença causaria. Melissa não era como ele imaginava. Ela não era fria ou calculista como a família Takahashi. Havia algo nela que o fazia questionar seu plano. Algo sobre ela parecia... inocente. Isso o fazia duvidar, mas ele sabia que sua missão era clara: derrubar os Takahashi e, para isso, ele precisaria se infiltrar em sua vida.

 

Melissa retornou para casa sem saber que estava sendo observada. Quando chegou, Aiko a aguardava na sala de estar, com aquele sorriso gentil e acolhedor que sempre trazia conforto. Mas hoje, algo parecia fora de lugar. Aiko estava mais séria, mais contida.

"Melissa, filha, temos visitantes esta noite," Aiko disse suavemente, mas havia um tom diferente em sua voz. "Eles são amigos muito importantes da família."

Melissa franziu a testa. "Quem são? Eu nunca ouvi falar deles."

Aiko hesitou antes de responder, olhando pela janela como se estivesse esperando por alguém. "São pessoas que você precisa conhecer, Melissa."

A porta da frente se abriu e Hiroshi entrou, seguido por um homem alto e imponente, com uma aura fria que imediatamente chamou a atenção de Melissa. Era ele. Kenji Nakamura.

O coração de Melissa disparou. O homem que ela vira na livraria estava agora diante dela, como se estivesse destinado a cruzar seu caminho. Mas o que ele queria ali?

Kenji olhou diretamente para Melissa, seu olhar profundo e carregado de algo que ela não podia identificar. A tensão no ar era palpável, e o sorriso frio de Kenji fez com que ela sentisse um arrepio na espinha.

"Melissa," Aiko disse com um sorriso forçado, tentando quebrar o silêncio desconfortável, "esse é Kenji Nakamura. Ele é um velho amigo da família."

Mas Melissa não estava convencida. Algo estava errado, e ela não sabia o que era, mas sentia no fundo de sua alma que aquele encontro era apenas o começo de algo muito maior.

Kenji permaneceu em silêncio, apenas observando, enquanto a tensão se arrastava entre eles, como um fio prestes a se partir.

Melissa sentiu o peso do olhar de Kenji, como se ele estivesse tentando decifrá-la. Sua postura era impecável, seu traje formal denunciava que ele era alguém habituado ao poder e ao controle. Mas o que mais a intrigava era a intensidade de seus olhos – eles pareciam guardar um segredo, algo que ele não queria compartilhar, mas que também não conseguia esconder.

"É um prazer conhecê-la, Melissa," Kenji disse, finalmente quebrando o silêncio. Sua voz era grave, controlada, mas havia uma tensão quase imperceptível em suas palavras, como se ele estivesse escolhendo cada sílaba com cuidado.

Melissa inclinou a cabeça levemente em um gesto educado, mas não conseguiu esconder o desconforto que sentia. "O prazer é meu," respondeu, com um sorriso tímido, enquanto seus olhos buscavam os de Aiko em busca de alguma explicação.

"Kenji estará conosco por um tempo," Aiko continuou, ignorando o desconforto evidente de Melissa. "Ele tem negócios importantes para tratar com seu pai, e achamos que seria bom vocês se conhecerem melhor."

Melissa não sabia o que responder. Havia algo fora do lugar, algo que ela não conseguia nomear, mas que a fazia querer se afastar daquele homem. Ela apenas assentiu, tentando parecer indiferente.

Kenji deu um passo à frente, estendendo a mão para cumprimentá-la. Melissa hesitou por um momento antes de aceitar o gesto. Quando suas mãos se tocaram, um arrepio percorreu seu corpo. Aquele toque não era apenas uma formalidade – havia algo nele que parecia carregado de intenção, algo que ela não entendia, mas que a deixava inquieta.

"Espero que possamos nos dar bem, Melissa," Kenji disse, com um sorriso que não alcançou seus olhos. Ele soltou sua mão lentamente, como se estivesse calculando o impacto daquele simples gesto.

"Eu também... espero," Melissa respondeu, com uma leve hesitação. Ela tentou manter a compostura, mas o desconforto era evidente. Kenji a fazia sentir-se vulnerável, e ela não sabia por quê.

 

Mais tarde naquela noite, enquanto Melissa estava em seu quarto, tentando se concentrar em qualquer coisa que não fosse aquele estranho visitante, ela não conseguia tirar a sensação de sua mente. O olhar de Kenji parecia gravado em sua memória, como se ele tivesse deixado uma marca invisível nela.

Ela caminhou até a janela e olhou para fora, observando as luzes da cidade. A noite estava silenciosa, mas o silêncio não era reconfortante. Era inquietante, como se algo estivesse prestes a acontecer.

Do lado de fora, escondido nas sombras, Kenji estava parado, observando a casa. Ele sabia que não deveria estar ali, sabia que era arriscado, mas não conseguia evitar. Havia algo em Melissa que o intrigava, algo que ele não esperava encontrar.

"Não se deixe enganar," ele murmurou para si mesmo. "Ela é uma Takahashi. Eles destruíram a minha vida."

Mas, mesmo enquanto repetia aquelas palavras em sua mente, uma pequena dúvida começava a crescer. Será que Melissa sabia de algo? Será que ela era tão culpada quanto o resto de sua família? Ou será que ela era apenas mais uma peça no jogo que ele estava prestes a desmontar?

Kenji suspirou, afastando os pensamentos conflitantes. Ele tinha um objetivo, e não podia se desviar. Melissa era a chave para sua vingança, e ele faria o que fosse necessário para conseguir o que queria.

Naquela noite, enquanto Melissa tentava dormir, uma sensação de inquietação a acompanhava. E Kenji, ainda nas sombras, sabia que sua presença já havia começado a deixar uma marca. O jogo havia começado, e não haveria como voltar atrás.

O Encontro Inesperado

A galeria Takahashi era um lugar de prestígio e sofisticação, reconhecida por atrair colecionadores e críticos de arte do Japão e do mundo. Melissa ajustava os últimos detalhes de uma exposição especial, que homenageava artistas da nova geração. Sua paixão pela arte a mantinha concentrada, mas a inquietação que sentia nos últimos dias não a deixava em paz. Era como se algo estivesse para acontecer.

Vestindo um elegante vestido azul-marinho, com os cabelos longos e lisos soltos sobre os ombros, ela passeava pelo salão iluminado por luzes suaves. Estava acostumada com os olhares dos convidados, mas naquela noite, um em particular a fez hesitar.

Encostado perto da entrada principal, estava um homem que ela nunca havia visto antes. Ele não parecia parte do círculo habitual da galeria. Seus cabelos pretos e curtos destacavam o contorno de seu rosto, e os olhos castanhos escuros estavam fixos em algo à frente, mas ele parecia distante. Vestia um terno preto simples, sem gravata, e carregava uma postura que misturava confiança e mistério.

Melissa se aproximou de uma colega para perguntar quem era o estranho.

— Quem é aquele homem perto da entrada? — murmurou, fingindo observar um quadro.

— Ah, parece que é Kenji Nakamura, um empresário novo na cidade. Soube que ele está interessado em coleções japonesas. Por quê? Você o conhece? — respondeu a colega, curiosa.

— Não, nunca vi antes — respondeu Melissa, ainda intrigada.

Enquanto a noite prosseguia, Kenji parecia evitar contato direto com os outros convidados. Ele vagava pelo salão, observando as obras e as pessoas, mas nunca permanecia em um lugar por muito tempo. Sua presença era quase como a de um observador, estudando tudo ao redor.

Melissa não conseguia ignorar a sensação de que havia algo diferente nele. Não apenas sua aparência ou postura, mas a intensidade em seu olhar.

Finalmente, ao passar próximo a uma das esculturas centrais, ela notou Kenji parado ali, observando o trabalho com uma expressão pensativa. Não era de seu feitio abordar estranhos, mas algo a impelia. Respirou fundo e deu um passo à frente.

— Parece que você gostou dessa peça — disse ela, suavemente.

Kenji virou-se para encará-la, e por um momento, o peso daquele olhar a fez hesitar. Ele tinha uma intensidade quase desconcertante, mas seu tom era calmo quando respondeu:

— É impressionante. A forma como o artista capturou o movimento... é como se a peça estivesse viva.

Melissa sorriu, aliviada por ele responder com naturalidade.

— Essa é uma das minhas favoritas também. É fascinante como algo tão estático pode transmitir tanta emoção.

Kenji assentiu, mas seus olhos não deixaram os dela. Havia algo na voz de Melissa que o intrigava. Uma mistura de doçura e firmeza que parecia contrariar a sofisticação do ambiente ao redor.

— Você trabalha aqui? — perguntou ele, quebrando o silêncio.

— Sim, sou responsável pela curadoria desta exposição.

Ele arqueou levemente a sobrancelha, como se a informação o surpreendesse.

— Curadora, então? Um papel importante.

Melissa deu uma pequena risada, percebendo o tom quase desafiador em sua voz.

— Apenas faço o meu melhor para garantir que o trabalho dos artistas receba a atenção que merece.

— Um trabalho nobre — disse ele, mas o olhar que acompanhava as palavras carregava uma nota de ambiguidade que Melissa não conseguiu decifrar.

Antes que pudesse responder, um dos assistentes da galeria chamou por ela, indicando que precisavam de sua ajuda.

— Com licença, parece que sou necessária em outro lugar. Espero que aproveite o resto da exposição, senhor Nakamura.

Ela se afastou, mas não sem sentir o peso do olhar de Kenji a acompanhando.

Kenji, por sua vez, observou Melissa até que ela desaparecesse entre os convidados. Ele havia chegado àquela galeria com um propósito claro: observar os Takahashi de perto, especialmente a jovem que estava no centro de seu plano. Mas nada o havia preparado para o impacto que a presença dela teria.

Kenji permaneceu imóvel por alguns instantes, encarando a escultura que Melissa havia apontado. A forma como ela falava da peça demonstrava paixão e conhecimento, algo que o surpreendeu. Ele esperava encontrar uma jovem mimada, alguém que apenas carregava o nome dos Takahashi, mas Melissa era diferente.

Enquanto ele se deslocava pelo salão, não pôde deixar de observar como ela interagia com os convidados. Havia algo natural em sua postura, uma elegância que não parecia forçada, mas genuína. Contudo, Kenji sabia que não podia se deixar levar por essas primeiras impressões.

“Ela é uma Takahashi”, ele repetia para si mesmo, como um lembrete constante.

Do outro lado do salão, Melissa tentava se concentrar nas tarefas da exposição, mas sua mente frequentemente retornava à conversa com Kenji. Algo nele parecia fora do lugar. Não era apenas a intensidade de seu olhar, mas o jeito como ele a analisava, como se estivesse tentando decifrá-la.

Perto do final da noite, quando a maioria dos convidados começava a se dispersar, Melissa notou Kenji saindo discretamente. Por um momento, ela considerou chamá-lo para agradecer sua presença, mas hesitou. Algo lhe dizia que aquele não seria o último encontro dos dois.

Kenji, ao sair da galeria, ajustou o casaco contra o vento frio. Enquanto caminhava pelas ruas iluminadas de Tóquio, sua mente estava focada em Melissa. Ele precisava saber mais sobre ela, não apenas para seu plano, mas para entender por que sua presença havia despertado algo inesperado dentro dele.

Ele jurou que aquilo não mudaria seu propósito. Mesmo que Melissa fosse diferente, ela ainda fazia parte dos Takahashi. E ele nunca esqueceria o que essa família tirou dele.

Do lado de fora da galeria, Kenji parou em uma esquina, observando o movimento da cidade ao seu redor. Ele tirou o celular do bolso e revisou as mensagens que tinha recebido antes da exposição. Um contato anônimo, alguém que ele sabia estar infiltrado nos negócios dos Takahashi, havia lhe enviado detalhes sobre os horários e as pessoas presentes naquela noite.

“Melissa Takahashi estará lá,” dizia a mensagem. Agora ele entendia por que era tão importante conhecê-la.

Kenji passou a mão pelos cabelos, frustrado. A noite havia sido mais intensa do que ele esperava. Encarar Melissa e vê-la como mais do que apenas o sobrenome que carregava complicava seus planos. Ela era inteligente, educada, e parecia genuína. Isso fazia dela uma ameaça ainda maior.

Enquanto isso, na galeria, Melissa ajudava os últimos convidados a se despedirem. Assim que o salão ficou vazio, ela foi até o escritório para revisar a lista dos participantes e anotar observações importantes para relatórios futuros. Quando encontrou o nome "Kenji Nakamura", hesitou por um momento antes de escrever algo.

— Kenji Nakamura... Quem é você, afinal? — murmurou para si mesma.

Aquela sensação de que ele não estava ali apenas pela arte permanecia. Havia algo em seus olhos que indicava que ele tinha intenções ocultas. Ela sabia que deveria esquecê-lo, afinal, era apenas mais um visitante, mas sua intuição não a deixava em paz.

Horas depois, quando finalmente chegou em casa, Melissa encontrou Aiko Takahashi na sala de estar, examinando documentos.

— Como foi a exposição? — perguntou Aiko, sem tirar os olhos das folhas.

— Um sucesso, como esperado. Tivemos novos colecionadores interessados, e muitas obras chamaram a atenção — respondeu Melissa.

Aiko levantou o olhar, avaliando a filha com cuidado.

— Algo mais aconteceu? Você parece distraída.

Melissa balançou a cabeça, decidindo não mencionar Kenji. Não queria abrir espaço para que sua mãe questionasse suas impressões.

— Apenas o cansaço. Vou descansar agora. Boa noite, mãe.

— Boa noite, Melissa.

A caminho do quarto, Melissa olhou para os longos corredores da casa. As paredes exibiam quadros e fotos que ela conhecia desde criança, mas que agora pareciam estranhamente distantes. Algo estava mudando dentro dela, mesmo que não conseguisse explicar exatamente o que.

Enquanto isso, Kenji voltava ao seu pequeno apartamento em um bairro mais afastado da cidade. Sentado à mesa da cozinha, ele colocou um mapa sobre a superfície e começou a analisar o organograma da família Takahashi. Aiko e Hiroshi estavam no topo, mas Melissa era uma peça importante.

— Não importa quem ela seja ou o que pareça — sussurrou para si mesmo, apertando a caneta nas mãos. — Eles vão pagar pelo que fizeram.

O relógio marcava quase meia-noite quando Kenji finalmente decidiu descansar. Ainda que houvesse muitas dúvidas sobre Melissa, uma coisa era certa: aquele era apenas o começo.

Fragmentos De Verdades

Melissa acordou cedo na manhã seguinte, ainda refletindo sobre a noite anterior. O nome Kenji Nakamura ecoava em sua mente como uma melodia que ela não conseguia esquecer. Algo nele a intrigava, mas também a deixava inquieta. Após um café apressado, seguiu para a galeria, decidida a focar no trabalho.

Enquanto revisava os detalhes da exposição, Aiko entrou na sala. Elegante como sempre, com seus cabelos negros presos em um coque perfeito, ela carregava uma pasta cheia de documentos.

— Melissa, quero que revise essas propostas. Estamos negociando uma nova parceria internacional, e sua opinião será útil — disse Aiko, deixando a pasta sobre a mesa.

— Claro, mãe. Vou revisar assim que possível — respondeu Melissa, mantendo a voz neutra.

Aiko a observou por um momento antes de perguntar:

— Você tem algo a me contar sobre a noite passada?

Melissa parou de folhear os papéis e olhou para a mãe, surpresa.

— Não... Nada de especial. A exposição foi bem-sucedida, como sempre.

— Ótimo. Espero que continue assim. — Aiko deu um leve sorriso, mas havia algo em seu tom que fez Melissa sentir um leve desconforto.

Aiko saiu, e Melissa respirou fundo, tentando ignorar a sensação de estar sendo observada.

Enquanto isso, em outro lugar da cidade, Kenji estava em seu pequeno apartamento, sentado diante de um quadro branco onde havia fotos e anotações sobre a família Takahashi. No centro de tudo estava uma imagem recente de Melissa, tirada na galeria. Ele segurava uma xícara de café, os olhos fixos na foto, enquanto sua mente trabalhava incansavelmente.

Ele relembrou os detalhes do incêndio que tirou sua família, memórias que ainda doíam como se tivessem acontecido ontem. Fechou os olhos e respirou fundo.

— Não posso perder o foco — murmurou para si mesmo, enquanto puxava um caderno e fazia novas anotações.

Embora sua determinação fosse inabalável, havia algo em Melissa que o fazia hesitar. A lembrança de sua voz, de sua gentileza ao falar sobre as peças de arte, parecia uma contradição ao que ele esperava de alguém da família Takahashi.

Kenji sabia que precisava continuar investigando. Por isso, decidiu se infiltrar mais uma vez no círculo dos Takahashi, fingindo ser um interessado em negócios com a galeria.

De volta à galeria, Melissa trabalhava incansavelmente, mas o desconforto permanecia. No fim do dia, enquanto organizava alguns documentos, encontrou um pequeno envelope em sua mesa.

Dentro havia uma mensagem: “Às vezes, a verdade está mais perto do que imaginamos. Olhe com atenção.”

Melissa franziu a testa, tentando entender de onde aquilo poderia ter vindo. Sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A mensagem era enigmática, mas parecia carregar um tom de aviso.

Determinada a descobrir o que significava, ela guardou o bilhete em sua bolsa e saiu, sem perceber que Kenji a observava discretamente de uma esquina próxima à galeria.

Ele viu quando Melissa parou por um momento na rua, olhando ao redor como se estivesse desconfiada.

— Você ainda não sabe quem realmente é... Mas vai descobrir — sussurrou para si mesmo antes de desaparecer na multidão.

Melissa chegou em casa mais tarde do que o habitual, o envelope misterioso ainda em sua bolsa. O peso daquele bilhete parecia maior do que deveria, e sua mente não parava de especular. Quem teria enviado aquilo? E o que queriam dizer com "a verdade está mais perto do que imaginamos"?

Aiko e Hiroshi estavam na sala de estar quando ela entrou. Eles pareciam imersos em uma conversa séria, mas pararam assim que Melissa passou pela porta.

— Boa noite — disse Melissa, tentando soar casual.

— Boa noite, querida. Como foi o dia? — perguntou Hiroshi, seu tom paternal escondendo algo mais.

— Agitado, mas produtivo. Vou descansar — respondeu Melissa, evitando contato visual por tempo demais.

Ela subiu para o quarto, fechou a porta e tirou o envelope da bolsa. Virou-o nas mãos, esperando encontrar alguma pista sobre o remetente, mas nada indicava sua origem. Por fim, colocou o bilhete na escrivaninha, prometendo a si mesma que não deixaria aquilo interferir em sua rotina.

Do lado de fora, na rua, Kenji permaneceu por alguns minutos, observando a casa dos Takahashi. Ele tinha seguido Melissa para garantir que ela recebesse a mensagem. O bilhete era uma provocação, um passo necessário para semear dúvidas em sua mente.

— É só o começo — murmurou.

Kenji sabia que precisava agir com cuidado. Melissa era diferente dos pais; isso já era evidente. Mas ainda fazia parte da família que ele jurou destruir. Se ele quisesse sucesso em seu plano, precisaria ganhar a confiança dela.

Na manhã seguinte, Melissa voltou à galeria com o bilhete na mente. Enquanto revia documentos no escritório, seu telefone tocou. Era um número desconhecido.

— Alô?

— Senhorita Takahashi? Aqui é Kenji Nakamura.

Melissa ficou em silêncio por um momento. Não esperava ouvir aquele nome novamente tão cedo.

— Senhor Nakamura, em que posso ajudá-lo?

— Me perguntei se poderíamos conversar sobre uma possível aquisição. Fiquei impressionado com a exposição e gostaria de explorar outras oportunidades — disse Kenji, mantendo o tom profissional.

Melissa hesitou, mas a possibilidade de um novo cliente era algo que ela não poderia ignorar.

— Claro. Podemos agendar uma reunião.

— Excelente. Nos vemos na galeria hoje à tarde? — sugeriu Kenji.

Melissa concordou, sentindo uma leve apreensão ao desligar. Algo naquela ligação a deixou desconfortável, mas ela atribuiu à sua própria paranoia desde que recebera o bilhete.

Horas depois, Kenji apareceu na galeria, vestindo um terno simples, mas impecável. Ele tinha um sorriso discreto no rosto, mas seus olhos permaneciam intensos, analisando cada detalhe.

Melissa o cumprimentou com um aperto de mão firme e o conduziu ao escritório para discutir negócios.

— Espero que a exposição tenha sido do seu agrado — disse Melissa, tentando soar confiante.

— Foi mais do que isso. Foi inspiradora — respondeu Kenji, com uma sinceridade que a pegou de surpresa.

Eles começaram a discutir possíveis parcerias, mas a conversa logo tomou um rumo mais pessoal. Kenji parecia saber exatamente como conduzir as perguntas para que Melissa revelasse mais sobre si mesma.

— Você sempre trabalhou na galeria? — perguntou ele, casualmente.

— Desde que me lembro. Minha mãe sempre fez questão de me envolver nos negócios da família — respondeu Melissa, com um sorriso quase automático.

— E é isso que você quer para si? — a pergunta de Kenji soou direta, quase desafiadora.

Melissa hesitou. Ninguém nunca havia perguntado isso antes.

— Eu... acho que sim. É o que sempre fiz.

Kenji percebeu a incerteza na resposta dela e soube que estava começando a plantar a semente da dúvida.

Ao final da reunião, Melissa o acompanhou até a porta.

— Foi um prazer conversar com você, senhor Nakamura. Espero que possamos trabalhar juntos em breve.

— O prazer foi meu, senhorita Takahashi. Tenho certeza de que nossos caminhos ainda se cruzarão muitas vezes — respondeu Kenji, com um sorriso enigmático antes de sair.

Enquanto Melissa o observava se afastar, não conseguia evitar a sensação de que aquela não seria a última vez que ele apareceria em sua vida.

Melissa voltou para o escritório com a cabeça cheia de pensamentos. Kenji Nakamura não era como os outros clientes. Havia algo em sua presença que a deixava inquieta, como se ele soubesse mais sobre ela do que deveria.

Enquanto folheava alguns catálogos na tentativa de se concentrar, o bilhete que recebera na noite anterior voltou à sua mente. “A verdade está mais perto do que imaginamos.” Será que aquilo tinha alguma relação com o interesse repentino de Kenji? Ou seria apenas coincidência?

No fundo, Melissa sabia que coincidências raramente aconteciam em sua vida.

Pouco depois, Aiko apareceu na porta do escritório. Sua expressão estava séria, mas ela tentava disfarçar com um sorriso forçado.

— Vi que teve uma reunião com o senhor Nakamura. Ele foi simpático? — perguntou, casualmente.

— Sim, muito. Ele parece interessado em parcerias. É um cliente promissor.

Aiko entrou no escritório e fechou a porta atrás de si, um gesto que fez Melissa arquear as sobrancelhas.

— Quero que você tome cuidado com quem se aproxima da nossa família — disse Aiko, com um tom que não permitia objeções. — Algumas pessoas podem parecer gentis, mas têm intenções que você não pode prever.

Melissa franziu a testa, sentindo-se desconfortável com a intensidade da mãe.

— Eu sei me cuidar, mãe. Além disso, ele só está interessado na galeria.

— Talvez. Mas sempre desconfie de quem aparece do nada com muitas perguntas — Aiko respondeu, estreitando os olhos antes de sair.

Melissa ficou olhando para a porta fechada por alguns segundos. Havia algo nos olhos de sua mãe que parecia carregado de temor. Mas por quê?

Kenji, observava ao lado de fora da galeria...

Kenji, parado ao lado de seu carro, observava o prédio com atenção. Ele notou Aiko espiando pela janela do escritório, claramente desconfiada. Isso só confirmava o que ele já sabia: os Takahashi eram bons em esconder segredos.

Ele abriu o celular novamente e digitou outra mensagem para o mesmo contato anônimo.

"A filha está receptiva. A mãe, desconfiada. Continuarei."

Apagando a mensagem, Kenji entrou no carro e partiu, sua mente já traçando os próximos passos. Ele precisava pressionar Melissa, mas sem que ela percebesse suas verdadeiras intenções.

Aquela batalha psicológica estava apenas começando, e Kenji sabia que cada movimento precisava ser calculado com precisão.

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