Caminhos Cruzados

O sol estava baixo quando Melissa chegou à galeria no dia seguinte. Ela havia passado a noite em claro, refletindo sobre o que descobrira na noite anterior. O bilhete, o carro estranho e as palavras enigmáticas de Kenji... tudo parecia girar em torno de um grande mistério, algo que ela ainda não conseguia entender completamente. Mas, a cada pista, o peso da verdade parecia mais perto.

Ao entrar, viu Hiroshi organizando algumas pastas no balcão da recepção. O sorriso de seu pai sempre foi reconfortante, mas hoje, algo em seu olhar não parecia tão seguro. Melissa hesitou por um momento antes de se aproximar.

— Bom dia, pai — disse ela, tentando esconder sua inquietação.

— Bom dia, Melissa. Como você está? — ele perguntou, sem levantar os olhos das pastas.

— Um pouco cansada. Mas, fora isso, tudo bem.

Ele finalmente olhou para ela e seu olhar, que geralmente transmitia calma, estava carregado de preocupação.

— Melissa, precisamos conversar sobre Kenji. Eu sei que você pensa que ele é apenas um empresário interessado na galeria, mas tenho minhas dúvidas. O homem não está aqui por acaso.

Melissa franziu a testa. Ela já sabia o que seu pai pensava, mas não queria acreditar que Kenji fosse realmente tão ameaçador quanto ele sugeria.

— Pai, por favor. Eu já falei sobre isso. Ele tem interesse na galeria, apenas negócios. Não há mais nada a considerar — disse, com mais firmeza do que pretendia.

Hiroshi suspirou, como se a preocupação o estivesse consumindo, mas não insistiu. Em vez disso, entregou-lhe uma pasta com alguns documentos.

— Aqui estão os registros da última exposição. Você pode começar a revisar os detalhes? Eu tenho uma reunião importante à tarde.

Melissa concordou sem entusiasmo. Ela estava distraída demais para focar nos papéis, mas fez o que precisava ser feito. Cada vez que passava os olhos pelos documentos, sua mente se desviava para o mistério que rondava sua vida.

Enquanto isso, Kenji estava em seu escritório, analisando as informações que havia coletado. Ele sabia que cada movimento precisava ser preciso, e Melissa, sem saber, estava se tornando uma peça fundamental no seu plano. Os bilhetes, os encontros casuais, as palavras ditas no momento certo... tudo estava se encaixando.

Ele se recostou em sua cadeira, pensando na melhor maneira de seguir adiante. Não poderia revelar muito ainda, mas a estratégia de manter Melissa em dúvida, sem saber exatamente em quem confiar, era vital. Ele sabia que ela começaria a investigar. Isso era algo que ele esperava, e ele estava preparado para isso.

Ao terminar a reunião na galeria, Kenji decidiu que era hora de dar um passo mais ousado. Ele planejava fazer uma visita a Aiko, a mãe de Melissa. Sabia que ela era uma mulher difícil de enganar, e a desconfiança que ela nutria por ele só tornava tudo mais interessante. Queria saber o que ela sabia, o que suspeitava. E mais importante, queria ter certeza de que Melissa estava ao lado dele quando o momento certo chegasse.

Quando Kenji entrou no restaurante de Aiko, a mulher o recebeu com um olhar frio. A tensão entre eles era palpável, mas Kenji sabia como se comportar. Cumprimentou-a educadamente, oferecendo um sorriso tranquilo, enquanto tomava lugar à mesa.

— Então, você decidiu nos visitar, Nakamura — disse Aiko, sua voz cheia de desconfiança.

— Eu queria conversar com você sobre Melissa. Tenho o maior respeito por ela e pela galeria. O que está acontecendo entre nós não é apenas sobre negócios — começou Kenji, seus olhos fixos nos dela.

Aiko o observava atentamente, seus braços cruzados sobre o peito, como se estivesse esperando por qualquer palavra que pudesse incriminá-lo. Ela sabia que ele estava tentando manipular a conversa, mas não iria ceder.

— Eu não confio em você. E é bom que você saiba disso — respondeu ela, com firmeza. — O que está buscando com minha filha? Por que está tão interessado nela? Não me venha com histórias sobre parcerias de negócios.

Kenji sorriu, sem revelar muito de seus pensamentos. Ele precisava manter Aiko sob controle, mas sabia que ela não seria fácil de enganar.

— Eu entendo a sua desconfiança. Mas, Aiko, o que estou buscando é uma oportunidade de trabalhar com a galeria de maneira que beneficie a todos. E, claro, de conhecer melhor a sua filha, que tem um grande potencial, tanto como profissional quanto como pessoa — disse ele, com um tom suave, mas firme.

Aiko não parecia impressionada.

— Você pode me enganar com palavras, Nakamura, mas não vai enganar Melissa. Não a deixe se envolver com você — disse ela, levantando-se e indo em direção à cozinha.

Kenji ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre a conversa. Ele não precisava de Aiko em seu caminho, mas o confronto havia revelado algo importante: Melissa estava mais perto da verdade do que ele imaginava. A mãe dela desconfiava, e isso poderia ser um obstáculo.

Enquanto isso, Melissa estava de volta à galeria, tentando afastar a preocupação com o encontro de Kenji e sua mãe. Ela sabia que Aiko não confiava nele, mas o que mais a incomodava era a sensação de estar sendo observada. Os bilhetes, as palavras de seu pai, a ligação constante de Kenji… tudo indicava que algo muito maior estava em jogo.

Melissa sabia que precisava agir rápido. Ela não poderia mais esperar para descobrir a verdade. Talvez fosse hora de confrontar Kenji diretamente, ou, quem sabe, investigar mais a fundo. Mas algo dentro dela sabia que o tempo estava se esgotando.

Enquanto caminhava pelo corredor da galeria, ela encontrou um envelope mais uma vez sobre sua mesa. Desta vez, ela não hesitou. Abriu-o com pressa, e a mensagem era clara: “Você está mais perto do que pensa. A verdade virá à tona. Só não espere ser fácil.”

Melissa respirou fundo. Algo estava prestes a acontecer, e ela precisava estar preparada.

O jogo estava só começando.

Melissa não conseguiu afastar a sensação de que tudo ao seu redor estava se desintegrando em um jogo perigoso. O bilhete parecia um lembrete de que as coisas estavam se movendo rapidamente, mas de maneira que ela ainda não entendia completamente. O que Kenji queria de fato? E por que ele parecia tão determinado a envolvê-la, como se ela fosse uma peça-chave que ele não podia perder? A dúvida e o medo a consumiam, mas ela sabia que não poderia mais ficar na defensiva. Era hora de agir.

Ela sabia que a melhor maneira de entender os reais motivos de Kenji era confrontá-lo diretamente. Não mais como uma simples galeria de arte e negócios, mas como uma parte de algo maior que ele estava tentando esconder. Melissa estava decidida a descobrir o que ele estava escondendo, e quem melhor para enfrentar essa tempestade do que ela mesma?

Antes de ir até Kenji, Melissa procurou Hiroshi, que estava em sua oficina, aparentemente alheio aos pensamentos perturbadores de sua filha. Ela queria falar com ele sobre o que estava acontecendo, mas sabia que as palavras poderiam ser difíceis. Ele já estava preocupado demais com a possibilidade de Kenji ser uma ameaça. Agora, Melissa estava em um ponto onde tinha que escolher entre confiar no pai ou seguir por um caminho mais solitário.

— Pai, precisamos conversar — disse ela, com a voz mais grave do que pretendia.

Hiroshi levantou os olhos, notando a tensão em seu rosto.

— O que aconteceu, Melissa? Você está muito inquieta. — Ele pausou, preocupado. — Está acontecendo algo mais com Kenji, não está?

Melissa sentiu um nó na garganta. Não queria decepcionar seu pai, mas também sabia que ele estava perdendo uma peça importante do quebra-cabeça.

— Não sei, pai. Mas tenho que descobrir. Ele está envolvido em algo muito maior do que nós imaginamos, e estou começando a ver que ele não está aqui apenas por causa da galeria. — Ela olhou nos olhos de Hiroshi, tentando encontrar alguma resposta no olhar dele. — Eu não posso ignorar isso.

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