Dimensions
O céu estava coberto de nuvens cinzentas, um prenúncio de chuva que parecia refletir a tensão no ar. A Escola Dimensional, localizada no coração de uma montanha rodeada por penhascos, tinha uma imponência que fazia até os mais corajosos hesitarem em cruzar seus portões. Era ali que futuros combatentes eram moldados para enfrentar as ameaças de dimensões desconhecidas.
Na entrada da Escola Dimensional, uma agitação crescente marcava o início do dia. Alunos de todas as idades circulavam, trocando provocações amistosas enquanto treinavam suas habilidades sob o olhar atento dos instrutores. No entanto, naquele dia, uma presença distinta capturava a atenção de todos.
Himiko, alta e de presença intimidadora, andava com passos firmes. Seus cabelos curtos e negros balançavam ao vento, enquanto seus olhos cor de mel passavam por tudo, como se avaliassem o ambiente. Uma pintinha abaixo do olho esquerdo dava um charme a mais ao seu estilo. Ao seu lado, uma garota pequena e aparentemente frágil, com cabelos loiros curtos, caminhava de cabeça baixa. Essa garota era Harumi, uma figura silenciosa cuja presença, embora discreta, parecia carregar um peso invisível que tornava o ar ao redor mais denso.
Ela mal levantava os olhos, os passos curtos quase arrastados. Seus olhos heterocromáticos — um azul, o outro cor de mel — brilhavam levemente, mas não com entusiasmo. Eles carregavam algo diferente: vazio.
Do outro lado do pátio, Ayame, irmã mais velha de Harumi e uma das alunas mais respeitadas pela força e habilidade, observava a cena com uma mistura de curiosidade e incômodo. Ela não via a mãe há anos, e a presença de Harumi ao lado dela a incomodava mais do que gostaria de admitir. Ayame tentava afastar a estranha sensação de familiaridade que a assombrava e, enquanto apertava o laço no cabelo para conter sua energia, memórias fragmentadas do passado tentavam emergir ao ver a mãe e a irmã.
Enquanto Himiko se aproximava dos instrutores, a presença de Harumi parecia mexer com mais do que Ayame. O silêncio no pátio era estranho, pesado. Alguns alunos sentiam um arrepio inexplicável ao passar perto dela.
Ninguém sabia que Harumi possuía uma habilidade única e misteriosa chamada "vazio dimensional". Essa energia, impossível de ser sentida, exercia uma influência silenciosa,
envolvendo aqueles ao seu redor em uma aura melancólica e desconcertante.
Ryuji, instrutor da escola e pai de Ayame e Harumi, surgiu para receber as novas chegadas. Ele manteve uma expressão neutra ao olhar para Himiko, mas seus olhos suavizaram ao pousarem em Harumi.
— Cuide dela, Ryuji — disse Himiko, sem rodeios. Sua voz era firme, mas havia um tom de preocupação. — Não posso levá-la comigo para o que preciso fazer.
— Você realmente acha seguro, Himiko? — Ryuji perguntou, seu tom mais sério do que o normal. — Sabe o que aconteceu da última vez que estiveram juntas. Como pode ter tanta certeza de que não vai se repetir?
Himiko suspirou, desviando o olhar por um momento antes de responder:
— Eu não tenho outra escolha, Ryuji. Não posso proteger Harumi para sempre mantendo-a longe de Ayame. Elas precisam enfrentar isso, e juntas. O que aconteceu antes foi um acidente. Eu mesma criei o laço que controla a energia de Ayame agora. O risco ainda existe, sim, mas está controlado.
Ryuji apertou as mãos, lutando para entender a confiança de Himiko. Ele já tinha visto o que Ayame poderia fazer quando estava fora de controle, e a ideia de ter Harumi por perto era, para ele, um perigo desnecessário.
— E se não estiver? — rebateu ele, dando um passo à frente. — Se Ayame perder o controle de novo? Ou se Harumi lembrar do que aconteceu? Ela é tão... frágil. Harumi ainda é só uma criança, Himiko, mas o vazio dentro dela... é perigoso. Tão perigoso quanto o excesso em Ayame. Como vai lidar com isso se o laço falhar?
Himiko sustentou o olhar de Ryuji, mas ele percebeu a dor escondida por trás dos olhos dela. Antes que ela respondesse, ele respirou fundo, mudando a abordagem:
— Tudo bem, mas… quando você vai voltar? — perguntou ele, hesitante. — Sua missão é mesmo necessária?
Ela fechou os olhos, como se tentasse encontrar forças dentro de si mesma.
— Ryuji… eu preciso ir — respondeu ela, em um sussurro. — Se eu não resolver isso agora, as consequências para a nossa dimensão e para a de vocês podem ser catastróficas. E, quanto a voltar… só posso prometer que vou tentar, assim que puder.
Ryuji acenou com a cabeça, mas sua preocupação era evidente. Ele sabia que a presença de Harumi traria complicações, principalmente para Ayame.
— Tudo bem, só... não demore, Himiko.
Ela lhe ofereceu um sorriso breve, mas cheio de tristeza, antes de se virar para falar com a filha mais uma vez, deixando Ryuji com suas dúvidas e temores.
Himiko abaixou-se, ficando de frente para Harumi. Por um momento, sua expressão endurecida suavizou-se.
— Você ficará bem aqui, filha — disse ela, tentando soar tranquilizadora. — Seu pai estará ao seu lado.
Harumi não respondeu, apenas acenou levemente com a cabeça, o olhar ainda distante. Ela observava os passos da mãe ecoando suavemente enquanto ela se afastava.
Quando Himiko se foi, Ayame continuou observando-a. Ela sabia que sua mãe estava escondendo algo. Sempre esteve. E agora, aquela garota misteriosa — Harumi — parecia carregar uma parte desse segredo.
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Atualizado até capítulo 35
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