Ryuji observava Harumi e Ayame à distância, atento ao clima pesado que pairava entre as duas. Ele sabia que essa tensão poderia trazer à tona memórias reprimidas e decidiu intervir antes que a situação piorasse. Chamando Ayame para uma conversa em sua sala, ele escolheu suas palavras com cuidado.
— Ayame, precisamos conversar sobre Harumi — começou ele, a voz firme.
Ayame cruzou os braços, desviando o olhar. Não queria discutir sobre a irmã, não quando sequer entendia o que sentia por ela.
— O que tem ela? — perguntou, tentando soar indiferente.
Ryuji a observou por um momento antes de continuar:
— Como você está lidando com tudo isso?
Ayame deu de ombros, sua voz carregando um tom de desdém.
— Tudo bem... eu acho — respondeu Ayame, evitando o olhar do pai. — Mas a Harumi... ela é... diferente.
Ryuji assentiu, compreendendo a confusão de Ayame.
— Eu sei que sua chegada a incomodou. Harumi é diferente. Mas isso não significa que você deva tratá-la como uma estranha. Vocês são irmãs, mesmo que não lembrem disso.
Ayame suspirou, frustrada.
— Não se trata de lembrar, pai. É algo mais profundo. Algo que não faz sentido! — Sua voz se elevou involuntariamente. — Ela me olha como se soubesse algo que eu não sei. E isso me dá... raiva.
Ryuji suspirou, percebendo o conflito interno da filha. Ele hesitou antes de responder, como se ponderasse se deveria revelar mais do que Ayame sabia.
— Eu sei que vocês não lembram do passado — disse ele, pensativo. — Mas há coisas que estão conectadas entre vocês duas. Harumi carrega uma habilidade rara, algo que chamamos de "vazio dimensional". Não é fácil entender, mas ela precisa de apoio, talvez mais do que você imagina.
Ayame estreitou os olhos, tentando entender o que o pai queria dizer, mas antes que pudesse pressioná-lo, ele mudou de assunto, encerrando a conversa com um tom mais sério.
— Cuide dela. Não vou insistir mais, mas peço que tente.
Ayame ficou em silêncio, processando a informação. O vazio de Harumi a fazia lembrar de uma sensação de perda que ela não conseguia explicar. Sem dizer mais nada, saiu da sala, sentindo o peso daquela conversa.
Mais tarde, quando todos estavam nos dormitórios, Ayame decidiu buscar algum alívio no ar fresco do pátio. Observava o céu estrelado, como se procurasse respostas entre as estrelas. Sua mente não parava de voltar à conversa com o pai.
De repente, Harumi apareceu, silenciosa, permanecendo a poucos passos de distância. O olhar tenso entre as duas irmãs parecia carregar palavras não ditas. Depois de alguns segundos de hesitação, Ayame quebrou o silêncio:
— Você... lembra de alguma coisa do passado?
Harumi apenas balançou a cabeça em negativa, sem desviar o olhar.
— Não... só... só sinto que existe um vazio — respondeu Harumi, de forma enigmática.
O "vazio" que Harumi mencionava causou uma reação inesperada em Ayame, como se aquela palavra ecoasse algo dentro dela. Ayame tentou afastar o sentimento de culpa que não conseguia explicar e, em vez de continuar a conversa, ela apenas murmurou:
— Eu também sinto isso... um vazio.
Sem outra palavra, Ayame se afastou, deixando Harumi sozinha no pátio. As duas irmãs se distanciaram novamente, sem perceber que, na verdade, estavam mais conectadas do que nunca.
Naquela mesma noite, Ayame, incapaz de dormir, foi para o campo de treinamento. Cada soco no saco de pancadas era uma tentativa de dissipar a inquietação que crescia desde que viu Harumi pela primeira vez. Algo na presença da irmã desestabilizava suas emoções, trazendo à tona fragmentos de memórias.
Durante um golpe, um flash de memória a invadiu: Harumi, pequena, olhando para ela com olhos amedrontados. A sensação de descontrole que acompanhava a imagem fez seu coração acelerar. O laço em seu cabelo, que continha sua energia, parecia mais apertado do que nunca, como se pressentisse a tensão crescente.
— Por que não consigo me lembrar...? — murmurou, interrompendo os golpes e apoiando a testa contra o saco de pancadas. — Eu preciso ser forte. Preciso entender isso.
Enquanto isso, Harumi permanecia acordada em seu dormitório. Sentada na janela, sentia o vazio dentro de si mais pesado do que nunca. A tristeza inexplicável parecia brotar de seu próprio ser, como se fosse parte de quem ela era.
Uma batida suave na porta a tirou de seus pensamentos. Ao abrir, encontrou Akina com um sorriso radiante e várias bolsas nas mãos.
— Harumi, sei que está tarde, mas tenho uma novidade — anunciou Akina, animada. — A partir de agora, seremos colegas de quarto!
Harumi permaneceu em silêncio, sua expressão impassível. Akina, percebendo a melancolia da amiga, aproximou-se com cuidado.
— Eu sei que as coisas não estão fáceis, mas pode falar comigo, sabe? — disse, sentando-se ao lado dela.
Harumi hesitou antes de responder, sua voz baixa e incerta:
— Não é algo que eu saiba explicar...
Akina sorriu gentilmente e colocou uma mão reconfortante no ombro de Harumi.
— Tudo bem. Só quero que saiba que estou aqui.
Por um breve instante, Harumi experimentou uma sensação de conforto. A presença calorosa de Akina, embora incapaz de dissipar completamente sua tristeza, fez com que ela se sentisse um pouco menos isolada. Pela primeira vez, Harumi considerou a possibilidade de encontrar uma conexão, ainda que frágil, com alguém.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
riez onetwo
Simplesmente amei, com certeza vou indicar para todas as minhas amigas!😍
2025-01-17
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