Capítulo 3 – Segredos na Floresta
A floresta parecia mais viva do que nunca naquela tarde. O som dos pássaros ecoava entre as árvores enquanto Lucas caminhava por um caminho estreito, evitando as rotas que sua alcateia costumava patrulhar. Ele sabia que voltar ao Lago da Fronteira era uma ideia arriscada, mas não conseguia tirar Gabriel da cabeça.
Ele chegou ao lago enquanto o sol começava a se pôr, tingindo o céu com tons dourados e laranjas. A água refletia as cores do crepúsculo, criando uma cena de tirar o fôlego. Lucas olhou ao redor, esperando que Gabriel tivesse mantido sua promessa de retornar.
Depois de alguns minutos, ouviu passos leves vindo da floresta. Ele se virou e viu Gabriel emergir das sombras, com o mesmo caderno debaixo do braço e um sorriso discreto nos lábios.
“Você voltou,” disse Gabriel, parando a alguns metros de distância.
“Eu poderia dizer o mesmo de você,” respondeu Lucas, tentando esconder o alívio em sua voz.
Os dois ficaram em silêncio por um momento, observando o lago. Parecia que o lugar tinha o poder de acalmar qualquer tensão.
“Você desenha sempre?” perguntou Lucas, quebrando o silêncio.
“Quase todos os dias,” respondeu Gabriel, abrindo o caderno e mostrando mais algumas de suas ilustrações. Havia paisagens, criaturas e até rostos humanos desenhados com detalhes impressionantes.
“Isso é incrível,” disse Lucas, admirado.
“Obrigado. E você? O que faz quando não está... sendo um lobo?”
Lucas riu. “Eu treino, patrulho, cumpro as ordens do meu pai. Não há muito espaço para hobbies.”
“E você gosta disso?” Gabriel perguntou, seus olhos fixos em Lucas.
“Não sei. Acho que nunca tive a chance de pensar no que eu realmente quero.”
Gabriel fechou o caderno, guardando-o com cuidado. “Talvez seja hora de descobrir.”
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Enquanto a noite caía, os dois começaram a conversar sobre suas vidas. Lucas falou sobre sua família, o rigor de seu pai, a proteção de sua mãe e a competitividade de Viktor. Gabriel, por sua vez, contou sobre a vida na Cidadela de Obsidiana, as expectativas sufocantes de seu pai Victor e a compreensão silenciosa de sua mãe, Isolde.
“Parece que nossos pais têm muito em comum,” disse Lucas, rindo.
“Talvez. Mas minha mãe... ela entende mais do que deixa transparecer. Acho que ela também desejava algo diferente quando era jovem.”
Lucas ficou pensativo. “Acho que minha mãe sente o mesmo. Às vezes, penso que ela queria uma vida longe da alcateia, mas ficou por causa do meu pai.”
Gabriel o observou por um momento. “E você? Ficaria?”
Lucas hesitou antes de responder. “Não sei. Parte de mim sente que devo ficar, que é o meu dever. Mas outra parte... quer algo mais.”
“Algo mais pode ser arriscado,” disse Gabriel, com um sorriso triste.
“Eu sei. Mas talvez valha a pena.”
Os dois se entreolharam, e por um momento, o mundo pareceu parar. O som da floresta desapareceu, e tudo o que restou foi a conexão entre eles.
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Enquanto isso, no Lúmens Vale, Viktor observava o vazio na cabana de Lucas. Ele estava começando a desconfiar de que o irmão estava escondendo algo. Alaric também parecia notar a ausência frequente de Lucas, mas Helena, como sempre, intervia para acalmar a situação.
“Ele é jovem,” disse ela, ao ver Alaric franzir a testa. “Precisa de tempo para entender seu papel.”
“Tempo é algo que não temos,” respondeu Alaric. “Os vampiros estão ficando mais ousados. Precisamos estar prontos.”
“E se não forem eles o verdadeiro inimigo?” Helena questionou, seus olhos fixos no marido.
Alaric bufou. “Os vampiros sempre foram nosso inimigo. Não tente romantizar o que não pode ser mudado.”
Helena suspirou, mas não respondeu. Ela sabia que convencer Alaric a ver o mundo de outra forma seria impossível.
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De volta ao lago, Gabriel e Lucas decidiram explorar as margens, onde encontraram uma pequena gruta escondida atrás de uma cascata.
“Parece um lugar saído de uma lenda,” disse Gabriel, admirando o brilho das pedras dentro da gruta.
Lucas passou os dedos por uma das paredes úmidas, notando que havia marcas antigas esculpidas na pedra. “Talvez seja.”
“Você acredita em lendas?”
Lucas deu de ombros. “Minha mãe costumava contar histórias sobre um tempo em que lobos e vampiros viviam em paz. Acho difícil acreditar, mas gosto da ideia.”
Gabriel se aproximou da parede, observando os símbolos. “Talvez essas marcas sejam prova disso. Algo aconteceu aqui, algo importante.”
“Algo que nossos pais provavelmente prefeririam esquecer,” disse Lucas, com uma risada amarga.
Gabriel o olhou. “Talvez seja nossa chance de lembrar.”
Lucas sorriu, mas antes que pudesse responder, ouviu um uivo distante. Ele ficou tenso, seus sentidos aguçados.
“É minha alcateia,” disse ele. “Eles estão perto.”
“Devo ir,” disse Gabriel rapidamente, começando a se afastar.
“Espere,” disse Lucas, segurando seu braço. “Você estará aqui na próxima lua cheia?”
Gabriel hesitou antes de sorrir. “Estarei.”
Ele desapareceu nas sombras da floresta, deixando Lucas sozinho na gruta. Enquanto o uivo se aproximava, Lucas sabia que precisava voltar para casa, mas seu coração já estava dividido entre dois mundos.
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Naquela noite, enquanto Lucas tentava dormir, ele não conseguia parar de pensar em Gabriel e na conexão inexplicável que sentia por ele. Ele sabia que estava brincando com fogo, mas algo dentro dele dizia que o risco valeria a pena.
No alto do céu, a lua minguante parecia observar tudo em silêncio, como se fosse cúmplice de um segredo que apenas começava a ser revelado.
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Atualizado até capítulo 51
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