Corações Entrelaçados
Capítulo 1 – A Lua Cheia
A floresta de Lúmens Vale estava especialmente viva naquela noite. As árvores altas, com troncos prateados, pareciam sussurrar segredos ao vento enquanto a luz da lua cheia iluminava cada folha, cada pedra. Lucas, sentado à beira do riacho que atravessava o coração do vale, olhava para o reflexo da lua na água. Ele sentia uma inquietação em seu peito, algo que não sabia explicar. A sensação de estar destinado a algo maior, algo além das tradições que o prendiam.
“Lucas!”
A voz grave de seu pai, Alaric, ecoou pela floresta. Lucas levantou-se rapidamente, limpando o musgo das mãos. O alfa da alcateia vinha em sua direção, os olhos dourados brilhando sob a luz da lua. Ao lado dele, estava seu irmão mais velho, Viktor, já transformado parcialmente em sua forma de lobo, com as garras afiadas e os dentes à mostra.
“O que está fazendo aqui? A alcateia precisa de você para patrulhar as fronteiras.”
“Só queria um pouco de ar”, respondeu Lucas, mantendo a cabeça baixa. Ele sabia que desafiar seu pai era inútil.
“Você precisa entender seu lugar, filho. Um dia, será responsável por proteger o território. Não podemos nos dar ao luxo de distrações.”
Lucas assentiu, mas seu coração estava distante. Ele sabia que sua vida já estava escrita – seguir os passos de Alaric, tornar-se um guerreiro implacável da alcateia. Mas isso não era o que ele queria. Ele sonhava em explorar o mundo além das fronteiras do vale, conhecer outras realidades, outras histórias.
Enquanto retornava para a vila, Lucas olhou para o horizonte. A lenda do Lago da Fronteira veio à sua mente, um lugar mágico onde dizem que os limites entre as espécies se tornam tênues. Era perigoso pensar em ir até lá, mas naquela noite, ele sentiu que precisava.
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Horas depois, sob o brilho pálido da lua cheia, Lucas chegou ao Lago da Fronteira. Era ainda mais bonito do que ele imaginava. As águas cristalinas refletiam as estrelas como se o próprio céu estivesse no chão. Árvores de folhas prateadas cercavam o lago, emitindo um leve brilho. Tudo parecia mágico, como se o lugar tivesse sido tirado de um sonho.
Ele se aproximou da margem, sentindo a brisa fresca tocar seu rosto. Então, ouviu um som – passos leves atrás dele. Lucas virou-se imediatamente, pronto para se defender.
Do outro lado do lago, emergindo das sombras das árvores, estava um jovem. Alto, de pele pálida como a luz da lua, com cabelos negros que caíam sobre os olhos. Ele carregava um caderno e parecia tão surpreso quanto Lucas.
“Quem é você?” perguntou Lucas, a voz baixa, mas alerta.
“Eu... não esperava encontrar ninguém aqui”, respondeu o outro, com um leve sorriso. “Meu nome é Gabriel.”
Lucas reconheceu o sotaque sutil. Um vampiro. Ele sabia que deveria voltar para o vale imediatamente, mas algo o prendeu ali. Gabriel não parecia ameaçador. Pelo contrário, ele parecia... curioso.
“Você não deveria estar aqui”, disse Lucas, tentando soar firme.
“E você deveria?” Gabriel respondeu, arqueando uma sobrancelha.
Lucas hesitou. Não tinha uma boa resposta. Em vez disso, ele cruzou os braços e observou o jovem vampiro mais de perto. Gabriel tinha um olhar intenso, mas não hostil. Ele segurava o caderno como se fosse um tesouro, os dedos finos protegendo-o.
“Eu venho aqui para desenhar”, explicou Gabriel, talvez percebendo a tensão no ar. “É o único lugar onde consigo pensar com clareza.”
“Desenhar?” Lucas perguntou, relaxando um pouco.
Gabriel abriu o caderno, revelando uma série de ilustrações detalhadas. Eram paisagens da floresta, criaturas místicas e, para surpresa de Lucas, o lago onde estavam.
“Você fez isso?” Lucas se aproximou, admirado.
“Sim.” Gabriel sorriu. “E você? O que faz aqui?”
Lucas hesitou novamente, mas algo em Gabriel o fazia querer ser honesto. “Eu... não sei. Acho que vim procurar algo.”
“E encontrou?”
Lucas olhou para Gabriel, sentindo algo estranho em seu peito. “Talvez.”
Os dois ficaram em silêncio por um momento, observando o lago. A tensão inicial desapareceu, substituída por uma calma inexplicável. Lucas sentou-se na margem, e Gabriel fez o mesmo, mantendo uma distância segura.
“O que sua família pensaria se soubesse que está aqui, com um vampiro?” Gabriel perguntou, com um sorriso irônico.
“Provavelmente me matariam”, respondeu Lucas, rindo, mas havia um tom de verdade em suas palavras.
“Bem, pelo menos isso nos torna iguais.” Gabriel suspirou. “Minha família ficaria furiosa se soubesse que estou fora da cidadela. Ainda mais se soubessem que estou conversando com um lobo.”
“Por quê?”
“Porque é assim que somos criados. Vampiros e lobos não se misturam. Não se confiam. Não se respeitam.”
Lucas pensou nas palavras de Gabriel. Ele sabia que eram verdadeiras. Mas ali, naquela noite, olhando para o lago e conversando com alguém tão diferente e, ao mesmo tempo, tão semelhante, tudo parecia errado. Por que as espécies precisavam ser inimigas?
“Talvez seja hora de mudar isso”, disse Lucas, mais para si mesmo do que para Gabriel.
Gabriel o olhou de lado, surpreso, mas não respondeu. Em vez disso, desenhou mais algumas linhas em seu caderno, enquanto Lucas observava o reflexo da lua na água.
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Quando a madrugada começou a chegar, Gabriel fechou o caderno e se levantou.
“Devo ir”, disse ele. “Foi... interessante te conhecer, Lucas.”
Lucas sentiu uma pontada de decepção, mas não deixou transparecer. “Igualmente.”
“Se quiser conversar de novo... estarei aqui na próxima lua cheia.” Gabriel sorriu, antes de desaparecer nas sombras das árvores.
Lucas ficou parado por alguns minutos, olhando para o lugar onde Gabriel estivera. Ele sabia que voltar ali seria perigoso, mas pela primeira vez em muito tempo, sentia que estava no caminho certo.
Enquanto caminhava de volta para Lúmens Vale, Lucas percebeu que algo em sua vida tinha mudado. Ele não sabia exatamente o quê, mas sabia que Gabriel era parte disso.
A lua cheia brilhava intensamente no céu, como se o universo estivesse testemunhando o início de algo novo.
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Atualizado até capítulo 51
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