Capítulo 2 – Os Dois Mundos
Lucas acordou cedo, mas a excitação da noite anterior ainda vibrava em seu peito. Deitado em sua cama simples, olhando para o teto de madeira de sua cabana, ele tentava processar tudo o que havia acontecido. Um vampiro. Ele havia conversado com um vampiro.
Naquele momento, a porta se abriu abruptamente, e seu irmão Viktor entrou, trazendo consigo o cheiro familiar de terra e folhas secas.
“Você sumiu ontem à noite”, Viktor disse, cruzando os braços. “Estava treinando sozinho?”
“Sim... algo assim.” Lucas desviou o olhar, tentando parecer casual.
“Alaric está furioso. Ele acha que você não está levando suas responsabilidades a sério.”
Lucas suspirou, levantando-se. “Eu sei, Viktor. Vou melhorar.”
“Espero que sim. Ser parte dos Feros Lumen não é um privilégio. É um dever.” Viktor lançou um olhar severo antes de sair, deixando Lucas sozinho com seus pensamentos.
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A vila dos lobos estava cheia de vida naquela manhã. Homens e mulheres trabalhavam nas plantações, cuidavam dos animais ou treinavam nas áreas abertas. As casas eram construídas com madeira rústica e pedra, algumas adornadas com símbolos antigos que protegiam a alcateia.
Lucas passou pela praça central, onde sua mãe, Helena, organizava ervas e poções. Ela levantou os olhos ao vê-lo e o chamou com um aceno.
“Lucas, venha aqui.”
Ele obedeceu, sentando-se ao lado dela. Helena era uma mulher de olhar sereno e cabelos grisalhos que caíam em ondas. Apesar da severidade de Alaric, Helena sempre fora uma presença confortante para Lucas.
“Você está inquieto”, disse ela, sem rodeios.
“Estou bem, mãe.”
Helena sorriu, mas seus olhos não deixaram de analisá-lo. “Sei que seu coração deseja algo diferente. Mas tome cuidado, meu filho. Nem todos entenderão.”
Lucas hesitou, mas não disse nada. Ele sabia que Helena era sábia o suficiente para perceber que algo havia mudado.
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Na Cidadela de Obsidiana, Gabriel também enfrentava as consequências de sua escapada noturna.
O salão principal era grandioso, com arcos altos e paredes de pedra negra cobertas por tapeçarias antigas. O Conselho das Sombras estava reunido, e Gabriel estava de pé diante de seu pai, Victor.
“Mais uma vez, você desaparece sem avisar”, disse Victor, sua voz fria como gelo. “Quanto tempo acha que sua rebeldia será tolerada?”
“Eu só queria um pouco de ar fresco”, respondeu Gabriel, com desdém.
Victor estreitou os olhos, aproximando-se. “Você carrega o nome dos Nocturnis. É nosso dever manter a ordem e a superioridade dos vampiros. Cada vez que você age como um mortal inconsequente, desonra nossa linhagem.”
“Superioridade?”, Gabriel repetiu, desafiador. “Talvez você devesse sair da cidadela e ver o mundo como ele realmente é.”
Victor avançou, mas Isolde, sua esposa, interveio. Com um gesto elegante, ela colocou a mão no ombro do marido.
“Deixe-o, Victor. Ele precisa de tempo para encontrar seu caminho.”
Victor bufou, mas se afastou. Isolde olhou para Gabriel, seus olhos cinzentos brilhando. Havia algo nela, um misto de compreensão e mistério, que sempre acalmava Gabriel.
“Você deveria ter mais cuidado, meu filho”, disse ela, baixinho. “Nem todos no conselho têm paciência para sua... curiosidade.”
Gabriel assentiu, mas não se arrependeu. O encontro com Lucas ainda estava fresco em sua mente.
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Enquanto o dia avançava, Lucas decidiu voltar à floresta, mesmo sabendo que Viktor ou Alaric poderiam estar observando. Ele precisava de espaço para pensar. Ao chegar a uma clareira próxima ao riacho, sentou-se em uma pedra coberta de musgo e tirou um pequeno caderno que sempre carregava consigo.
Ele começou a desenhar o lago onde havia encontrado Gabriel. A paisagem mágica parecia se formar sozinha no papel, cada detalhe gravado em sua memória.
“Isso é bonito.”
A voz fez Lucas saltar. Ele se virou rapidamente, mas relaxou ao ver que era sua mãe. Helena aproximou-se, admirando o desenho.
“Eu nunca vi esse lugar antes”, disse ela.
“É... um lugar que descobri recentemente.” Lucas hesitou, mas Helena não pressionou.
“Às vezes, encontrar algo novo pode nos mudar. Mas lembre-se, Lucas, o mundo fora do vale é perigoso. Há coisas que não podemos controlar.”
“E se... e se essas coisas forem exatamente o que precisamos?”
Helena parou, surpresa pela resposta do filho. Ela o observou por um momento antes de responder: “Então cabe a você decidir se está disposto a enfrentar as consequências.”
Lucas não sabia o que aquilo significava exatamente, mas sabia que era importante.
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Naquela noite, Gabriel vagava pelos jardins da cidadela. Era um lugar sombrio, mas fascinante, com flores que brilhavam à luz da lua e caminhos de pedra negra. Ele parou diante de uma pequena fonte, onde a água refletia o céu estrelado.
“Você está distraído.”
Gabriel virou-se e viu Isolde aproximando-se silenciosamente.
“Talvez.”
Ela o observou com seu olhar perspicaz. “Algo aconteceu na floresta, não é?”
Gabriel ficou tenso, mas não respondeu.
“Seja o que for, tenha cuidado. O mundo é menos cruel do que Victor pensa, mas também mais perigoso do que você imagina.”
“Você já... encontrou alguém que fez você questionar tudo?” Gabriel perguntou, depois de um momento.
Isolde sorriu, mas havia tristeza em seus olhos. “Já. E você deve decidir por si mesmo se vale a pena seguir o coração ou as regras.”
Gabriel ficou em silêncio enquanto Isolde se afastava. Ele sabia que precisava ver Lucas novamente.
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Enquanto ambos jovens refletiam sobre seus mundos e o encontro inesperado, o destino começava a tecer um caminho cheio de desafios e possibilidades. A lua cheia já havia partido, mas algo havia mudado para sempre.
Nos dias seguintes, as fronteiras entre lobos e vampiros seriam testadas como nunca antes. E Lucas e Gabriel seriam o centro de tudo.
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Atualizado até capítulo 51
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