Roberto Narrando
Judith tem 71 anos. Conheço ela minha vida toda. Foi secretária do meu pai, e após a morte dele ela quem me apoiou em tudo. Uma segunda mãe para mim.
Sempre muito discreta e reservada. Nunca casou. Não tem filhos. Sua vida foi dedicada a nossa família. Nunca entendi direito toda essa dedicação, mas essa é a Judith. Não tem hora, não tem lugar, ela está em tudo.
É sempre os braços para onde eu corro quando preciso. Cuida da minha casa, desde as compras de mantimentos, assim como empregadas e tudo que uma casa precisa para estar em pé. Até porque somente há dois anos moro sozinho com os meninos, e fiquei perdido em como administrar essas coisas.
Ela montou a casa, e estabeleceu as rotinas de limpeza, comida e tudo mais.
O que preciso eu grito a Judith e lá esta ela com a solução.
Quando estou aqui na empresa, ela está, quando vou pra São Paulo, ela vai pra lá. Deixo um motorista a disposição dela o tempo todo. Um cartão a disposição para todas as despesas. Não sei viver sem ela.
Tenho uma desconfiança que ela e meu pai tiveram algo. Mas eles nunca se assumiram, e eu era muito novo quando meu pai faleceu. Mas naquela época, ele deixou um apartamento para ela, no testamento. Mas como eles já trabalhavam juntos há muito tempo, não causou estranheza.
E pra ela que eu desabafo tudo que sinto pela Clara. E desde o primeiro momento ela nunca julgou nosso relacionamento. Nem julgou a Clara por ser casada. Ela só me disse uma coisa, que me deixou muito mais calmo nisso tudo: "Vocês só se conheceram no momento errado. Nada no amor é errado, mas cuidado com as consequências. Respeitem os limites de cada um." Sábias palavras. Ela sempre tem um conselho e consegue ver o melhor e o pior das pessoas.
Judith Narrando
Estou ha muitos anos com essa família. Conheci o pai do Roberto eu tinha apenas 16 anos. Era uma jovenzinha, auxiliar de escritório, na empresa onde ele trabalhava. Ele mais velho, muito alto, sério, lindo e muito inteligente. E já era casado. Me apaixonei no momento em que eu olhei para ele. E ele por mim.
Pouco nos olhávamos. Era um misto de proibido com impossível. E os anos foram passando. Surgiu um estágio para secretaria da diretoria. Na época eu já estava no último ano de secretariado. Consegui a vaga e fui trabalhar direto com ele.
Os dias eram longos ao seu lado. Nossos olhares se cruzavam o tempo todo. Nossas mãos se tocavam e a gente se segurava.
Roberto nasceu. E se eu tinha qualquer lampejo de esperança ali acabou. Lutei dia após dia para esquece lo, mas nada resolvia. Certo dia, numa festa da empresa, eu tomei umas bebidas a mais, e ele se ofereceu para me levar em casa. Eu já tinha 30 anos e morava sozinha. Chegou na frente do prédio e ele falou que só me deixaria lá dentro. Subiu comigo, me levou para o quarto e me ajudou a entrar para tomar um banho. Ficou me esperando sentado na cama. Quando saí enrolada na toalha, todo nosso desejo veio a tona. E nos perdemos um no outro. Eu era virgem. E ele foi meu primeiro homem, meu grande amor.
Ele não esperava por isso. E após toda aquela loucura, se sentiu muito culpado. Mas já estávamos envolvidos e apaixonados.
Era uma época difícil. Ele fazia parte de uma sociedade onde uma separação não era bem vista, embora eles ja não vivessem como um casal.
Após dois anos eu engravidei. E o desespero bateu. Como seria isso? Eu solteira e grávida? Escondi minha gravidez, inclusive dele. E me culpo tanto por isso. Acho que como castigo, acabei perdendo meu bebê. E nesse dia entendi que eu nunca teria nada ao seu lado. Tive um aborto espontâneo numa briga que tivemos. Ele me socorreu e dessa forma descobriu a gravidez. Colocamos um fim no nosso relacionamento, mesmo nos amando muito. Após alguns anos me casei. Mas nunca fui feliz. Me separei e voltei aos braços dele, aceitei ficar no anonimato, sozinha nas noites de Natal, nos feriados e nos dias festivos. Anos depois o universo tirou ele de mim. E nunca ninguém soube disso. Após sua partida, tive alguns relacionamentos breves, mas ninguém era como ele.
Roberto muito jovem teve de assumir os negócios e eu sempre estive ao seu lado. Me apeguei tanto com ele, como se fosse o filho que um dia eu perdi.
Quando ele se separou foi muito difícil, como esse menino sofreu. Na verdade o casamento todo foi um sofrimento. Até surgir a Clara. Essa moça trouxe luz e brilho aos seus olhos. Mas infelizmente ela é comprometida. Tenho medo dele sofrer mais. Mas isso é a vida. Desejo que eles tenham sabedoria para viver esse amor, da melhor maneira possível.
Agora ele inventa essa loucura de carro. Duvido que ela vá aceitar isso. Mas vamos ver no que vai dar isso.
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Atualizado até capítulo 54
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