O som distante dos primeiros passos no morro começava a ecoar pelas vielas quando Alicia abriu os olhos o quarto amplo, decorado com móveis modernos e tons neutros, contrastava com o cenário caótico do lado de fora ela se sentou na cama, sentindo o peso de mais um dia prestes a começar.
Respirando fundo, Alicia se levantou e caminhou até o banheiro encarou seu reflexo no espelho, os olhos castanhos sérios e cansados contavam histórias que ninguém conhecia por completo lavou o rosto, prendeu os cabelos em um coque firme e escovou os dentes o ritual era o mesmo todas as manhãs, como se aquela rotina rígida fosse a única coisa capaz de manter seu mundo sob controle,ela pegou a sua pistola e colocou na cintura.
Ao descer as escadas, encontrou Sophia já sentada à mesa, mexendo no celular enquanto comia uma torrada a irmã caçula usava um vestido florido e os cabelos soltos, irradiando leveza e alegria um contraste gritante com a seriedade de Alicia.
— Bom dia, dorminhoca! — Sophia disse, sorrindo, sem nem levantar o olhar do celular.
— Bom dia — respondeu Alicia, servindo-se de café preto. — Não demorou no banho hoje?
— Eu? Nunca! — Sophia riu. — Só queria estar bonita para a faculdade, sabe como é.
Alicia revirou os olhos, mas um pequeno sorriso escapou por mais que tentasse manter a pose de durona, Sophia tinha o dom de fazê-la baixar a guarda, mesmo que por segundos.
— Termina logo esse café vou te deixar na faculdade antes de ir pra boca.
Sophia levantou os olhos para a irmã e franziu o cenho.
— Você precisa parar de chamar assim parece que você tá indo pra guerra.
Alicia a encarou, o sorriso desaparecendo.
— Porque eu estou.
O silêncio pairou por um momento, até Sophia suspirar e voltar a mexer no celular ela sabia que discutir com Alicia sobre a vida que levava não levaria a nada a irmã era obstinada e fazia tudo aquilo por ela por mais que Sophia sonhasse com um futuro em que Alicia pudesse finalmente largar aquele fardo.
Alicia terminou o café em silêncio e pegou as chaves do carro.
— Vamos? Não quero me atrasar Luiza já deve estar me esperando.
Sophia se levantou, pegando a mochila.
— Tô indo,só não se esquece de se cuidar, tá?
Alicia soltou um breve aceno, mas não respondeu por mais que tentasse passar tranquilidade, sabia que a qualquer momento tudo poderia desmoronar esse pensamento a acompanhava todos os dias.
Saíram juntas, mas enquanto Sophia seguia para a faculdade cheia de planos para o futuro, Alicia seguia para o morro, carregando o peso de um passado que nunca a abandonaria.
Alicia dirigia pelas ruas movimentadas da cidade, com Sophia ao lado, cantarolando uma música que tocava no rádio apesar do trânsito e da agitação do horário, o clima dentro do carro era leve pelo menos para Sophia.
— Vai dar tempo de passar no café antes? — Sophia perguntou, mexendo na bolsa.
— Não — Alicia respondeu, mantendo os olhos na estrada. — Vou te deixar direto na faculdade quero voltar rápido.
Sophia bufou, cruzando os braços.
— Você é tão paranoica...
— Sou responsável tem diferença.
A resposta seca fez Sophia desistir de discutir ela sabia que Alicia sempre colocava a segurança delas em primeiro lugar, mesmo que isso significasse controlar cada movimento seu.
Quando chegaram à faculdade, Sophia desceu do carro e se virou para a irmã.
— Se cuida, tá? E tenta relaxar um pouco.
Alicia deu um meio sorriso.
— Relaxar não faz parte do meu trabalho.
Sophia revirou os olhos e acenou antes de se misturar aos outros alunos assim que ela desapareceu no campus, Alicia acelerou o carro de volta para o morro.
O clima na comunidade estava diferente quando Alicia chegou o burburinho nas vielas era mais intenso, e o olhar atento dos homens armados indicava que algo estava errado.
Alicia foi direto para sua sala, no coração do morro como esperado, Luiza já estava lá, de braços cruzados e semblante fechado.
— O que foi? — Alicia perguntou, fechando a porta atrás de si.
Luiza se aproximou, segurando um celular na mão.
— Notícias ruins o BOPE está planejando uma invasão para hoje mesmo.
Alicia sentiu o estômago revirar, mas manteve a expressão fria.
— Como você sabe?
— Erick recebeu informações de um contato dentro da polícia eles estão se organizando para subir ainda hoje, provavelmente no fim da tarde ou início da noite.
Alicia respirou fundo, processando as informações.
— Já avisou os meninos?
— Ainda não queria falar com você primeiro pra ver o plano.
Alicia pegou o próprio celular e imediatamente enviou uma mensagem para Sophia:
"Fique na faculdade ou vá para casa de uma amiga não volte para casa até eu avisar. Qualquer coisa,eu te ligo."
Depois, virou-se para Luiza.
— Reúna todo mundo no galpão em dez minutos quero todo mundo pronto e armado a gente precisa proteger o território, mas sem perder o controle se esse ataque for real, eles vão vir com tudo,soe o alarme para os moradores ficarem em alerta.
Luiza assentiu e saiu rapidamente, deixando Alicia sozinha por um momento.
Ela se sentou na cadeira e olhou para o mapa do morro pregado na parede ela ,conhecia cada viela, cada saída e entrada como a palma da mão mas sabia que, contra o BOPE, o preparo tinha que ser impecável.
Alicia respirou fundo, afastando o medo e qualquer traço de insegurança ali, ela não podia falhar porque falhar significava perder tudo e isso não era uma opção.
Logo, o som de passos apressados e vozes murmurando do lado de fora trouxe Alicia de volta à realidade a batalha estava prestes a começar, e ela faria o que fosse necessário para proteger seu império, sua irmã e todos que moravam ali.
Alicia atravessou as vielas do morro com passos firmes os olhares dos soldados se voltavam para ela, buscando orientação, força e, acima de tudo, confiança ela era o pilar daquele lugar o coração do Morro do Alemão e hoje, mais do que nunca, precisava mostrar que estava no controle.
Ao entrar no galpão, encontrou todos reunidos, formando um semicírculo Luiza já estava posicionada ao lado de Erick, ambos prontos para seguir as ordens,o silêncio caiu assim que Alicia pisou no local.
— Todos já sabem por que estão aqui — começou ela, sua voz firme e fria. — O BOPE está planejando uma invasão para hoje isso não é boato, é certeza.
Um burburinho começou, mas Alicia levantou a mão e o silêncio voltou.
— Não vamos entrar em pânico já lidamos com eles antes, e vamos lidar de novo mas preciso que cada um de vocês esteja focado não quero ninguém agindo por conta própria sigam as ordens. — Ela olhou diretamente para os líderes de cada setor. — Os pontos de entrada e saída estão cobertos?
— Sim, já posicionamos os olheiros — respondeu um dos soldados.
— As barricadas?
— Montadas e reforçadas — confirmou Erick.
Alicia assentiu.
— Ótimo vocês sabem o que fazer se eles aparecerem, mantenham posição só atirem se for necessário não vamos dar motivos para eles destruírem o morro mais do que já planejam.
Ela olhou para Luiza, que já sabia o próximo passo.
— Quero atualizações a cada dez minutos se algo mudar, eu sou a primeira a saber.
— Pode deixar — respondeu Luiza, com a postura dura de sempre.
Alicia deu uma última olhada no grupo.
— Vocês são minha família protejam esse morro como protegeriam suas casas agora vão e fiquem atentos.
Os soldados se dispersaram rapidamente, saindo do galpão para cumprir suas ordens Luiza ficou para trás, esperando por Alicia.
— E você? — perguntou Alicia. — Preparada?
— Sempre — respondeu Luiza, com um sorriso discreto.
Alicia tocou no ombro da amiga antes de sair.
De volta à sua sala, Alicia fechou a porta e encarou o espaço vazio por um momento,a adrenalina já corria por suas veias, mas ela manteve a mente focada.
Caminhou até o armário de metal e abriu as portas, revelando um pequeno arsenal particular pegou o colete à prova de balas e o vestiu com destreza depois, conferiu suas armas uma pistola e um fuzil carregando-as e colocando a munição extra nos bolsos do colete.
No espelho ao lado, viu seu reflexo: uma líder pronta para a batalha forte, determinada e preparada para o que viesse mas, por trás daquela imagem, existia a garota que um dia perdeu tudo e jurou nunca mais ser fraca.
Sentou-se na cadeira, com as armas ao alcance das mãos pegou o celular e verificou se havia alguma mensagem de Sophia,e nada.
Mandou outra mensagem:
"Não saia da faculdade por nada qualquer coisa estranha, me liga imediatamente."
Guardou o celular no bolso do colete e respirou fundo.
Agora só restava esperar e Alicia sabia que a espera era, muitas vezes, a parte mais perigosa.
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Atualizado até capítulo 71
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