O Grimório das Ilusões & o Devorador de Mundos

Leander vivia numa tênue fronteira entre o prazer da descoberta e o abismo do desconhecido.

Seus dias eram preenchidos pelo tique-taque ritmado das páginas que viravam e pelas histórias que invadiam sua mente como fantasmas noturnos.

No entanto, a busca incessante por algo novo, algo incrivelmente raro e fora de qualquer compreensão no mundo sobrenatural, o afastava cada vez mais da realidade.

Ele já não conversava com ninguém, nem trocava olhares quando saia de seu castelo. A vida pulsava ao seu redor, mas ele, dominado pelos livros sagrados, ficou cego às nuances do mundo a sua volta.

Tudo mudou quando seus dedos tocaram aquele livro enigmático, um artefato perdido em meio às sombras da estante. A peculiaridade da capa o intrigou de imediato, sua textura viva e pulsante a distância insuflou nele um desejo incontrolável de saber o que aquilo escondia.

O fato de não haver título, autor ou qualquer indicação do que poderia residir nas páginas empoeiradas alertou um resquício de sua prudência.

Contudo, o símbolo de runas misteriosas mexeu com sua curiosidade, e Leander, mais uma vez, sucumbiu à tentação.

As palavras nas páginas, antes confusas e estranhas, logo começaram a passar um sentido desolador e profundo. Era como se o próprio livro buscasse um canal através dele, transmitindo um conhecimento ancestral e terrível. A mudança foi rápida, como se as barreiras entre a realidade e as histórias que tanto lia começassem a se dissolver.

Este era um convite, uma porta que ele nem sabia que estava diante dele. Nos recessos de sua mente, ele sabia que o mundo que amava se tornaria completamente diferente daqui por diante, mas não imaginava as consequências incalculáveis.

O momento fatídico em que o portal foi aberto selou mais do que apenas o destino de inúmeros reinos; foi o ápice de uma escolha que atravessava o vão entre fascinação e ruína.

Agora, com os monstros profundamente enraizados nos terrores de sua mente emergindo para o mundo sobrenatural, Leander tornou-se um espectador impotente de sua própria destruição.

Aquela noite, o horror metafórico dos livros sombrios materializou-se em criaturas grotescas que traziam à tona todo o medo incubado, toda a escuridão de sua alma. O preço pelo conhecimento foi sua própria perdição.

A escolha havia sido feita, a colheita não era uma opção.

Leander sabia, desde o primeiro instante em que seus olhos decifraram aquelas runas cruéis, que não havia volta. Magia verdadeira nunca vinha sem um custo — e ele, que durante tanto tempo se iludiu com o mistério nas palavras, agora encarnava o terror na carne.

O destino não era algo que se esquivava tão facilmente; há forças que, quando despertas, não podem ser contidas.

Naquele breve intervalo entre a decisão e a execução, uma compreensão sombria o atingiu: a magia tem um preço. Nem sempre é voluntário; nem sempre é justo. Mas é inevitável.

Ele sentia o peso desse fardo enquanto recitava as palavras proibidas, como se uma mão invisível apertasse o seu peito, lembrando-o de que o equilíbrio do universo se mantinha com sacrifícios — e ele, agora, fazia parte desse ciclo.

Mais do que simples palavras, aquelas sílabas murmuradas ao luar carregavam um poder antigo, faminto por vida. A cada verso proferido, Leander sentia uma parte de si escorrer para fora, como o fluxo de uma ampulheta cuja areia nunca reverteria.

Quando o portal se abriu com um rugido das profundezas, ele soube: o sacrifício havia começado. Não seria apenas sua alma em jogo, mas a essência de tudo ao redor — a cidade que o rejeitara, sua espécie e os demais reinos que o esqueceram, e a realidade que, num piscar de olhos, se despedaçava diante do poder que ele mesmo tinha convocado.

Leander compreendeu tarde demais que era irrelevante tentar controlar aquilo que ele invocara.

A magia exige; ela se alimenta.

Ele havia sido só uma ponte entre mundos, um meio para que forças ancestrais se manifestassem, e agora assistia, impotente, ao desmoronamento do que restava de sua existência.

Sacrifícios são sempre feitos, quer saibamos disso ou não, e Leander havia se tornado o tributo.

Por mais sagrado que seja um livro, a verdade não está somente escrita em suas páginas.

Leander, de certo modo, já sabia disso. Havia consumido tantos volumes em busca de respostas, histórias e encantamentos que as palavras haviam se transformado apenas em símbolos de um poder maior, algo que escapava à mera compreensão de qualquer outro ser.

Ele acreditava, como muitos, que dentro de um livro repousava toda a verdade de um universo — mas a verdadeira sabedoria é sempre uma mistura do que está escrito e do que vive nas entrelinhas. Era isso que os antigos anciões espalhados pelos reinos tentaram lhe dizer.

Os livros que ele colecionava eram como janelas para outros mundos, mas Leander, fissurado pela promessa de revelações sombrias e arcanas, esquecera-se de que a verdade não surge apenas daquilo que se lê, mas também do que se experimenta.

Ao abrir aquele livro maldito, ele apenas ativou um gatilho, mas o verdadeiro poder residia na escolha de recitar as palavras, de transformar o conhecimento em ação. No fim das contas, o livro era apenas um meio; a verdade estava nas consequências de seus atos.

Mais do que as palavras impressas nas páginas, o conhecimento que Leander buscava morada no entendimento do equilíbrio, do ciclo de causa e efeito.

A magia que tanto o atraía estava ancorada na realidade, e realidade, como ele descobriu tarde demais, requer mais do que intelecto — requer sacrifícios e ações.

Leander falhou em compreender que um livro só oferece uma faceta da verdade, mas a verdade plena, esta só é revelada a partir dos nossos próprios passos e escolhas.

Ao liberar as criaturas de seus pesadelos, Leander não liberou apenas as criações da mente; ele trouxe à tona as consequências inevitáveis de ignorar essa sabedoria: o que está além do texto. Não foi o tamanho da biblioteca ou o peso das estantes que o condenaram, mas seu desejo cego de encontrar respostas prontas, esquecendo-se de que a verdade exige vivência, muitas vezes dolorosa, e que nem tudo que é lido deve ser seguido.

Não havia mais livros. Não havia mais conhecimento. As estantes outrora abarrotadas agora pareciam túmulos vazios, com o pó assentado como um lembrete de que as palavras que um dia detinham poder tinham se dissipado, escorregando pela borda da existência.

Leander estava sozinho, sem as páginas para guiá-lo, sem textos para decifrar. Mas a fome por conhecimento, essa jamais se extinguia. Mesmo diante do vazio, ele sabia que algo ainda restava por ser explorado — algo mais profundo, intrínseco, codificado não em papel, mas na própria essência da vida e da morte.

Foi nesse silêncio opressor, quando os livros já não respondiam seus anseios, que Leander se voltou para a única fonte de verdade absoluta que havia ignorado: a mente, o coração e o DNA das criaturas vivas e mortas.

Ele percebeu, com um fascínio distorcido, que dentro de cada ser residia um arquivo vivo, uma complexa biblioteca biológica repleta de memórias, emoções e segredos profundos, talhados no código genético e na psique. Suas intenções antes voltadas para o poder oculto nas páginas agora se direcionavam ao mundo ao seu redor — um mundo de carne e neurônios, onde a verdadeira essência do universo, acreditava ele, estava armazenada e aguardava ser explorada, coletada, consumida.

Com um sorriso macabro, Leander entendeu que o verdadeiro poder não estava no papel — mas diretamente na vida. Ele precisava acessar esse novo arquivo, desvendar suas linhas ocultas e beber, gota por gota, o conhecimento que circulava dentro das criaturas. E assim, em sua busca insaciável pela verdade total, ele despertou um apetite sombrio, transformando-se em algo que não buscava mais respostas, mas sim poder absoluto.

Seu primeiro alvo foi a cidade esquecida pela qual passou seus dias de solidão, mas seu olhar rapidamente se estendeu além, para cada esquina do mundo sobrenatural. O início do fim havia chegado.

Pois a sede de um único ser, quando somada ao desejo de desmantelar cada camada de mistério que o universo oferece, tem o poder de destruir inúmeros mundos.

Leander tornou-se mais do que um simples feiticeiro obcecado por conhecimento; ele tornou-se uma força devoradora, um predador de vidas, impulsionado pelo desejo de desbravar os segredos mais profundos da alma. O temor agora não era mais pelos monstros que ele libertara, mas pelo monstro que ele próprio tinha se tornado. O mundo, e todos os mundos que existiam só porque as criaturas neles habitavam, estava à beira da destruição pela sede sem fim de um único sobrenatural.

Capítulos
1 Quem Vê Cara, Vê Muita Coisa!
2 Doce Baile
3 Juramento Sombrio
4 Mistério da Meia-noite
5 Sangue do Meu Sangue
6 A Babá Humana?
7 Bala de Prata
8 Do Outro Lado
9 A Sombra do Vento
10 Muralha de Esmeraldas
11 A Saga do Dampiro
12 O Grimório das Ilusões & o Devorador de Mundos
13 O Veneno da Ingratidão
14 O Vínculo
15 A Rainha Alpha
16 Veredito Final
17 Neemesys
18 A Usurpadora
19 A Profecia
20 A Maldição Justa
21 Pra Sempre
22 O Castelo da Marquesa de Sangue
23 Condenados Também Amam
24 Dívida de Sangue
25 Sobrenome Muerte
26 O Nobre Lycan
27 Minhas odiadas Humanas
28 Insaciável Sussurro
29 Sarcófago da Deusa
30 Caçadora de Prata
31 Lorde de Gelo
32 A Dama de Gelo
33 A Dama de Gelo
34 A Noiva Vampiresa
35 Direto da Fonte
36 Luz, é o seu nome
37 Apenas Destino
38 O Amor Proibido de Selene
39 A Filha da Lua
40 A Guardiã da Morte
41 O Elo do Amor Celestial
42 Mais do que uma Lenda
43 Registro de Experiência Sobrenatural – Karen Nerak
44 Antigo Sacramento Proibido
45 A Maldição da Cidadela Noctur
46 A História Não Contada
47 Magia Ancestral
48 O Choro Através do Abismo
49 A Justiceira Vampira
50 Nerak
51 Anjo de Pedra
52 Ao Cair da Neblina
53 Trevas Entre Mundos: A Jornada de Um Sobrevivente
54 Múltiplas Escolhas
55 Considerações Finais
Capítulos

Atualizado até capítulo 55

1
Quem Vê Cara, Vê Muita Coisa!
2
Doce Baile
3
Juramento Sombrio
4
Mistério da Meia-noite
5
Sangue do Meu Sangue
6
A Babá Humana?
7
Bala de Prata
8
Do Outro Lado
9
A Sombra do Vento
10
Muralha de Esmeraldas
11
A Saga do Dampiro
12
O Grimório das Ilusões & o Devorador de Mundos
13
O Veneno da Ingratidão
14
O Vínculo
15
A Rainha Alpha
16
Veredito Final
17
Neemesys
18
A Usurpadora
19
A Profecia
20
A Maldição Justa
21
Pra Sempre
22
O Castelo da Marquesa de Sangue
23
Condenados Também Amam
24
Dívida de Sangue
25
Sobrenome Muerte
26
O Nobre Lycan
27
Minhas odiadas Humanas
28
Insaciável Sussurro
29
Sarcófago da Deusa
30
Caçadora de Prata
31
Lorde de Gelo
32
A Dama de Gelo
33
A Dama de Gelo
34
A Noiva Vampiresa
35
Direto da Fonte
36
Luz, é o seu nome
37
Apenas Destino
38
O Amor Proibido de Selene
39
A Filha da Lua
40
A Guardiã da Morte
41
O Elo do Amor Celestial
42
Mais do que uma Lenda
43
Registro de Experiência Sobrenatural – Karen Nerak
44
Antigo Sacramento Proibido
45
A Maldição da Cidadela Noctur
46
A História Não Contada
47
Magia Ancestral
48
O Choro Através do Abismo
49
A Justiceira Vampira
50
Nerak
51
Anjo de Pedra
52
Ao Cair da Neblina
53
Trevas Entre Mundos: A Jornada de Um Sobrevivente
54
Múltiplas Escolhas
55
Considerações Finais

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!