Após longas horas na estrada, Suzana, exausta de uma viagem de negócios, decide interromper sua jornada em uma pousada tranquila, à beira de uma estrada pouco movimentada.
O lugar, sossegado e deserto, parece perfeito para o descanso tão merecido que ela vinha ansiando.
A pousada emanava um ar de calmaria que contrastava com o cansaço acumulado, e logo ela se entregou ao desejo de relaxar.
Antes de se deitar, porém, Suzana sentiu a irresistível vontade de contemplar a noite.
Caminhou até a varanda, onde o luar espalhava uma luz suave sobre a paisagem. Ali, refletindo sobre a vida e o amanhã que a aguardava, um som inesperado chamou sua atenção - o ranger metálico de algo que parecia enferrujado, lembrando o ruído de uma porta velha sendo forçada.
A curiosidade tomou conta de Suzana, e ela decidiu seguir o som.
Chegando aos fundos da pousada, a visão de um pequeno parquinho infantil a surpreendeu.
Estava visivelmente desgastado, como se ninguém brincasse ali há anos. No entanto, algo o ocupava: uma menina. Sozinha, ela balançava lentamente, num movimento quase automático.
Seus longos cabelos soltos e seu vestido impecável, que roçava o chão, contrastavam com o abandono do lugar. Seus sapatos vermelhos brilhavam sob o céu estrelado, dando à cena um toque quase irreal.
Suzana, sentindo pena da pequena figura solitária, se aproximou e disse um suave "oi".
A menina virou-se devagar, revelando um rosto perfeito, mas com um olhar inquietante, cheio de desconfiança e curiosidade.
"Olá, senhora. Nunca lhe vi por aqui", respondeu com voz baixa.
Suzana, sorrindo, explicou que estava apenas de passagem e descansaria antes de seguir viagem rumo à cidade de Suzano.
A menina, sem perder o tom enigmático, sorriu de lado, e quando questionada sobre o que fazia ali sozinha, respondeu calmamente: "Não consigo dormir. Venho aqui todas as noites para balançar".
Perplexa com a situação, Suzana tentou descobrir algo mais. "E seus pais? Não está tarde para deixar você aqui?" - perguntou, olhando em volta.
A menina, com um ar inocente, estendeu o dedo fino e apontou para a escuridão do mato: "Eles estão dormindo ali".
Suzana, julgando que talvez os pais estivessem acampando nas proximidades, não quis insistir. Despediu-se rapidamente, desejando à menina uma boa noite e retornou para enfim ter seu merecido descanso.
No dia seguinte, ao acordar com o brilho da manhã, Suzana se lembrou da menina misteriosa e decidiu passar pelo local onde a pequena afirmou que seus pais descansavam.
Ao chegar no ponto que ela indicara, no entanto, Suzana não encontrou nenhum sinal de barracas ou motorhomes.
O que havia, na verdade, era um pequeno cemitério antigo, com lápides desgastadas pelo tempo.
Um desconforto súbito tomou-lhe o peito, e seu olhar foi atraído por uma lápide em particular.
Quando chegou mais perto, notou algo que a fez parar instantaneamente.
Na lápide, havia o rosto da garota do parque. Acima da foto, o nome: Susan Kushner. Mais à frente, uma inscrição perturbadora: "O melhor ainda está por vir".
Suzana prendeu a respiração ao ver também que a data de falecimento estava em branco.
Parte de si queria acreditar que era uma estranha coincidência, mas algo dentro dela sabia que a realidade era muito mais misteriosa do que parecia.
Apavorada, Suzana correu de volta para o carro, sua mente girando em um turbilhão de emoções enquanto seu corpo todo tremia.
Cada célula de seu ser parecia gritar: fuja daqui. As peças não se encaixavam, e, ao mesmo tempo, tudo fazia um sentido aterrorizante.
Impossível. Não podia ser verdade.
O nome na lápide não apenas pertencia à menina do parquinho - aquele nome... era o seu!
Com o coração disparado, tentou ligar o carro, mas suas mãos trêmulas dificultavam qualquer movimento preciso.
Na pressa, deixou a chave cair no tapete, e um desespero maior a invadiu.
Fechou os olhos por um instante, como se isso pudesse dissipar o caos à sua volta, mas a realidade era cruel. Susan Kushner.
Era o nome dado pelos seus pais biológicos, aqueles que desapareceram de forma misteriosa anos atrás. Suzana foi encontrada vagando sozinha, desorientada, na mesma rodovia, adotada por um casal que decidiu recomeçar sua vida ao lhe dar um novo nome.
Agora, o passado que ela apenas imaginava um incidente esquecido ressurgiu como um pesadelo desenterrado.
Antes que pudesse processar qualquer raciocínio lógico, uma voz retumbou pela noite escura, vinda de algum ponto próximo demais para o seu conforto:
"Até que enfim, querida, voltaste para casa."
Suzana ergueu o olhar lentamente, e, diante de seus olhos, parados como se nunca tivessem partido, estavam os seus pais biológicos, pálidos, imóveis.
O terror sufocou sua garganta quando ela tentou gritar, mas foi rapidamente interrompida por uma força invisível, e, de repente, algo a puxou violentamente do carro, quebrando o vidro da janela do motorista em mil pedaços.
Seu corpo foi arremessado como uma boneca de pano, enquanto seus gritos ecoavam no vazio ao redor.
Arrastada pelos cabelos em direção ao cemitério, Suzana se debateu com fúria.
Todo seu instinto gritava por sobrevivência, mas o domínio daquele momento ultrapassava qualquer esforço físico.
A cada segundo, mais perto da lápide da menina, mais seu destino se desenhava.
Quando chegou ao túmulo ao qual havia sido levada, se deparou com a cova aberta, aguardando-a.
Seus pesadelos tornavam-se reais.
Em um último ato de desespero, tentou se desvencilhar, mas seus captores, com olhares vazios, eram implacáveis.
Jogada dentro da cova, Suzana sentiu o coração congelar quando a terra começou a cair sobre seu corpo.
Não houve tempo para reação, não houve misericórdia. Acima, entre a poeira e a luz da lua, viu seus pais biológicos se despedindo com um aceno sinistro, enquanto a menina, ao lado deles, balançava-se no parquinho, sorrindo como na noite anterior.
O som de seus gritos rapidamente foi soterrado pela terra.
Daquele dia em diante, Suzana ficou presa em um estado de limbo aterrorizante.
Não havia mais fronteira entre sua consciência e a da criança amaldiçoada.
A cada dia que passava, ela observava o mundo ao seu redor pelos olhos da garota - a mesma que, todas as noites, sentava-se no balanço do parquinho abandonado, esperando pelo próximo viajante desavisado que cruzaria o caminho daquelas estradas.
A garota sorria com uma inocência macabra, e Suzana, aprisionada dentro dela, assistia impotente enquanto a armadilha era montada vez após vez.
O cemitério, antes um lugar aparentemente esquecido com uma única lápide solitária, agora passava a abrigar novos habitantes.
A lápide de Suzana fora apenas a primeira, mas não demorou para que outras almas perdidas fossem atraídas para aquele local.
Mês após mês, uma nova vítima caía nas garras da maldição, enterrada viva sob os olhares cúmplices da garota e de suas assombrações familiares.
A cada novo enterro, o silêncio da noite era rasgado pelos gritos abafados das vítimas, logo substituídos pelo som repetitivo do balanço rangendo.
As covas se multiplicavam, e era impossível ignorar o padrão. Todo final de mês, irremediavelmente, uma nova cova era aberta.
Os mortos-vivos enterrados naquele solo amaldiçoado pareciam nunca descansar, e suas presenças só aumentavam o poder do lugar.
As lápides, antes apenas testemunhas silenciosas, agora se erguiam como uma macabra lembrança de que ninguém escapava.
Suzana, aprisionada dentro daquele ciclo de horror, assiste a cada novo ato sangrento com a mesma impotência de antes.
Ela desejava poder gritar, alertar as almas que inconscientemente seguiam o mesmo destino que o dela, mas seus gritos eram eternamente sufocados.
O sorriso da criança era o seu sorriso; o olhar faminto da garota, o seu olhar também. Outrora vítima, agora desempenhava seu papel de algoz com uma agonia silenciosa, esperando, sem escapatória, pelo próximo fim de mês, quando uma nova cova estaria destinada a ser preenchida.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
lucecita_UwU
Personagens autênticos.
2024-11-24
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