Em um pequeno vilarejo esquecido pelo tempo, erguia-se um castelo velho e caindo aos pedaços, completamente envolto por uma atmosfera de mistério.
O caminho que levava até ele era empoeirado e pouco percorrido, como se os habitantes evitassem se aproximar do imponente edifício.
Conhecido pela população local como o Castelo dos Sussurros Urvantes, seu nome evocava sentimentos de medo e respeito, por conta das lendas associadas às suas silenciosas, porém assombradas, muralhas.
De acordo com as histórias passadas de geração em geração, à noite o castelo se transformava em uma espécie de portal entre o mundo dos vivos e dos mortos.
Os espíritos daqueles que ali pereceram vagavam pelos corredores outrora majestosos, e seus lamentos ecoavam pelos cantos, um aviso para qualquer curioso que ousava se aproximar: "Vá embora... antes que seja tarde demais."
Os mais antigos no vilarejo contavam que, décadas atrás, a família Caravajo — composta pelo lorde, sua deslumbrante esposa, e seus filhos, Emily e Dominic — tentara fazer do castelo seu lar.
No entanto, as promessas de recomeço foram rapidamente engolidas pelo domínio sombrio da fortaleza.
Nos primeiros dias, a rotina da família parecia normal, até que, uma noite, a pequena Emily acordou ao sentir um sussurro gelado em seu ouvido. Sobressaltada, correu para alertar seus pais, mas eles desconsideraram seu medo, atribuindo o ocorrido a um simples pesadelo infantil.
Contudo, os eventos insólitos se intensificaram. O lorde Caravajo, quando trabalhava tarde em seu escritório, experimentou uma presença densa e inquietante, culminando na aparição de uma figura escura que o paralisou momentaneamente.
Dias depois, o castelo tornara-se um epicentro de eventos inexplicáveis: objetos que se moviam por conta própria, portas que se fechavam solitárias, sussurros crescentes durante a noite.
O terror ia crescendo dentro da casa de pedra gélida.
Os criados, amedrontados, começaram a abandonar seus postos, tornando o castelo ainda mais isolado.
A gota d'água para a família veio quando Lady Caravajo encontrou seus filhos conversando alegremente com uma "dama triste", invisível aos seus olhos.
Decididos a entender o que estava ocorrendo, os Caravajo se embrenharam na história do castelo e descobriram sua origem sombria: muito tempo antes, uma poderosa bruxa chamada Tricya havia vivido ali com um vampiro sanguinário, que a maltratava e cometia crimes atrozes.
Quando a bruxa descobriu a natureza terrível de seu companheiro, foi brutalmente assassinada por ele. Submerso em culpa, o vampiro tirou a própria vida. Os corpos foram enterrados numa cripta sem honras, e o espírito de Tricya — injustiçada pelo monarca que a considerara cúmplice — ficou preso, clamando por justiça.
Assustados e crendo estar condenados pela maldição, os Caravajo fugiram do castelo.
Antes de partirem, deixaram um aviso fixado na porta principal, alertando qualquer um que desejasse entrar sobre a maldição que permeava o antigo lar.
O tempo passou, mas o castelo, agora envolto em trepadeiras floridas, permaneceu intacto, um monumento ao sofrimento e ao mistério. Quem ousasse se aventurar próximo a ele, especialmente nas noites em que a Lua de Sangue brilhava no céu, ouviria os ecos do passado: Jovens amantes dançando, cercados por damas que aplaudiam, enquanto histórias de crimes não resolvidos continuavam a perturbar o reino por 100 anos.
Até hoje, ninguém sabe a origem desses crimes, mas aqueles que conhecem o segredo do Castelo dos Sussurros Urvantes suspeitam que o legado sombrio do vampiro e da bruxa ainda ecoa nas sombras, aguardando uma resolução que talvez nunca venha.
Duzentos anos haviam se passado desde que a família Caravajo deixou o castelo dos Sussurros Urvantes para trás, mas mesmo com o tempo, os mistérios e os lamentos que envolviam aquele lugar soturno jamais foram esquecidos.
O vilarejo ainda vivia à sombra do castelo, seu ar sombrio asfixiando os dias e as noites. Foi então que, como se em resposta a um chamado antigo, uma jovem de longos cabelos multicoloridos apareceu.
Ninguém sabia ao certo de onde ela vinha, ou por que escolhera caminhar pelos jardins secretos do castelo. Aquilo que se sabia era assustador: os rumores diziam que ela flutuava, seus pés mal tocando o chão, e que enquanto ela passava, os lamentos das almas presas naquele lugar se intensificavam, reverberando como uma canção de agonia.
Então, como se jamais tivesse existido, a jovem simplesmente desapareceu. Não deixou rastro, não restou vestígio de sua presença — exceto pelos ecos aterrorizantes que cortaram o ar naquela noite.
A curiosidade humana, como sempre, reacendeu; os plebeus, temendo e desejando ao mesmo tempo, formaram um grupo para explorar a propriedade buscando respostas para o repentino desaparecimento da estranha mulher.
Apesar do medo que guardavam em seus corações, a atração pelo desconhecido os conduziu direto à porta do castelo. A atmosfera ali era densa, cada sombra parecia ter vida própria, e os sussurros enevoados continuavam a ressoar, como mil vozes chamando os intrusos para mais perto.
O grupo entrou, alarmado e desconfiado, movido por um misto de coragem e desespero. À medida que avançavam pelos corredores empoeirados e esquecidos, algo ainda mais perturbador os aguardava.
Numa sala de teto alto e paredes frias, depararam-se com o corpo exangue de um homem, vestido com as vestes de um padre. Ele jazia no chão de pedra, uma estaca de madeira cravada em seu peito, como se tivesse sido alvo de uma justiça há muito adiada.
Acima de sua cabeça, um pergaminho desbotado pendia de um prego enferrujado, escrito à mão com letras tortuosas e selvagens. Era um decreto real, mas seu conteúdo era desconcertante. Dizia:
"Aqui jaz aquele que propagou mentiras, violência e ódio contra criaturas inocentes. Que sua alma jamais tenha descanso."
O sangue dos plebeus gelou ao ler aquelas linhas. Quem seria o padre?
E se propagou tantas mentiras, o que ele tinha a ver com o castelo, e por que sua punição estava exposta de forma tão grotesca?
As perguntas giravam em suas mentes, mas uma coisa ficou clara: a história que conheciam sobre o castelo dos Sussurros Urvantes e seu passado sombrio estava longe de ser esclarecida.
Havia rachaduras naquele relato enraizado no vilarejo. Rachaduras perigosas, onde a verdade e o terror se entrelaçavam, ameaçando desafiar tudo em que acreditavam.
O desaparecimento da jovem de cabelos multicoloridos e a aparição do corpo do padre com a estaca no peito eram sinais claros de que algo muito mais profundo e sinistro estava prestes a ser revelado.
A alma injustiçada de Tricya e a maldição do vampiro talvez não fossem as únicas tragédias a rondar o velho castelo.
A dúvida se instalou entre os poucos plebeus que ousaram contemplar o horror encontrado dentro do castelo. Será que, afinal, Tricya e seu trágico amor haviam sido injustiçados pelas palavras venenosas daquele sacerdote?
Se tudo aquilo que eles acreditavam sobre a bruxa e o vampiro fosse uma construção de mentiras, promessas de ódio e inveja vindas de um representante da fé corrompido?
O corpo do padre cravado pela estaca parecia ser uma sentença muito mais antiga do que qualquer um poderia compreender.
A imagem do sacerdote, morto de forma tão brutal, com suas vestes sagradas manchadas pelas tão óbvias falácias, lançava um novo manto de incerteza sobre a lenda que por gerações assombrou o vilarejo.
Seriam todos os relatos sobre Tricya tecidas a partir das palavras malditas daquele homem agora sem vida?
A história de uma bruxa cúmplice e um vampiro cruel talvez fosse, na verdade, uma cortina de fumaça, um enredo tragicamente distorcido por alguém que desejou ver um fim diferente para a desconhecida verdade.
A instigante possibilidade fez com que aqueles que haviam entrado no castelo sentissem um frio cortante dentro de seus corações. As perguntas proliferavam, mas as respostas se mantinham fora de alcance.
Temerosos do que mais poderiam descobrir, os plebeus optaram por deixar a propriedade e, com o tempo, silenciar sobre o que haviam presenciado.
O medo que experimentaram desfez qualquer vontade de explorar além do que já tinham visto, e assim, particulares sobre o que o futuro poderia trazer, escolheram esquecer, abandonar o mistério.
O vilarejo inteiro, antes curioso sobre o castelo, decidiu que era mais seguro manter distância. Como se estivessem enfeitiçados por um pacto de silêncio, ninguém mais discutiu o que encontraram; menções ao castelo dos Sussurros Urvantes tornaram-se um tabu.
Anos se passaram, e o castelo foi transformando-se lentamente em mais do que ruínas. Uma estranha muralha de árvores gigantes surgiu, circundando completamente o terreno onde a velha propriedade desabava aos poucos, engolida pela natureza.
Algumas dessas árvores eram tão largas que pareciam abraçar o solo com força, enquanto outras eram altas o suficiente para bloquear qualquer vislumbre das ruínas lá dentro. Seus troncos retorcidos e galhos entrelaçados emaranhavam-se como se guardassem um segredo proibido.
Ninguém sabia ao certo de onde elas haviam vindo ou o que impulsionara seu misterioso crescimento, mas uma coisa era certa: elas pareciam querer manter o mundo distante do que quer que ainda residisse nas fundações do castelo.
A muralha natural erguia-se como uma barreira impenetrável, e os poucos que ousaram aproximar-se agora recuavam diante dela, sentindo uma presença indescritível espreitando entre as raízes.
O sussurro silencioso da floresta parecia murmurar uma verdade terrível, oculta nas memórias de um passado de mágoas e traições.
A verdadeira história de Tricya, seu amado vampiro, e o padre desonrado permanecia oculta, protegida pela muralha viva, esperando o momento certo para ser desvendada — talvez por alguém audacioso o suficiente para enfrentar a divina colheita de vinganças semeadas em mais de mil anos atrás.
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Atualizado até capítulo 55
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