Capítulo 3

_____ É a isto que me refiro, Cecilia! Não podes continuar a comportar-te como uma vítima. _____ Expressou Lilit em voz alta.

______ Negas que sou um fardo para ti!... Só me vês como um estorvo. Uma mulher que não serve para nada.

______ Uma porcaria de móvel inútil! _____ Gritei, olhando nos olhos de Lilit.

______ Deixa de te ver como uma vítima! É verdade que estás doente e que podes morrer. Mas quem não vai? Ninguém é imortal.

Lilit levanta-se, atirando o prato de comida ao chão. Esta é a assassina que eu sempre conheci.

Finalmente deixou de fingir ser boa e inocente. Esta é a assassina da sua própria família.

______ Desculpa!

______ Desculpa!

______ Foi um momento de impulso.

Lilit inclinou-se para apanhar o que deixou cair no chão. Levantei-me à sua frente.

______ Perdi a fome. Vou para o meu quarto.

Virei-me, deixando a minha irmã ali. As horas aproximam-se e a minha vingança também. Voltei para o meu quarto, trancando a porta atrás de mim.

Caminhei até à janela, o meu olhar frio e cortante perdeu-se. Fechei os olhos por um momento, lembrando-me do que aconteceu há uns anos atrás.

Era uma noite de inverno. O relógio marcava 21h30. Lilit chegou da faculdade um pouco mais cedo do que o normal.

______ Boa noite, mãe. Porque estás toda vestida de preto?

______ Essa cor não te favorece. Tu és mais de cores alegres. Morreu algum familiar próximo?

A mãe manteve-se sem qualquer expressão no rosto.

______ O teu pai e eu vamos a uma festa. Tu e a tua irmã vão ficar em casa. Não saiam até voltarmos. Nem abram a porta a ninguém.

______ Mãe, já não somos meninas. Lembro-te que já somos todas mulheres. Além disso, ainda é cedo. Impedir-nos de sair de casa não tem nada de fixe. _____ Expressou Lilit.

_______ Lilit, nem tu nem a tua irmã podem sair de casa. É para a vossa segurança. ____ Ao terminar de dizer isso, a mãe deu-lhe um beijo na bochecha e preparou-se para sair de casa.

Ao ver os dois vestidos de preto, Lilit seguiu-os sem que eles se apercebessem. Queria saber o que é que os seus pais escondiam.

De vez em quando, os nossos pais saíam e voltavam só no dia seguinte. Ao anoitecer. Durante todo esse tempo deixavam-nos fechadas em casa e assim evitavam que saíssemos sem a sua permissão.

Ao vê-la escapar, eu segui-a, precisava de saber o que estava por trás de tudo aquilo que os meus pais escondiam.

Cada um de nós seguiu-os até aos arredores da cidade, num local remoto, longe da civilização. Demorámos várias horas a chegar e a corrida de táxi foi caríssima.

Os meus pais, no meio da noite, encontraram-se com outras pessoas que estavam vestidas como eles.

Depois de trocarem algumas palavras, todos colocaram um capuz preto, com o qual cobriam os seus rostos.

Entraram numa casa abandonada, tentei segui-los, mas foi impossível. Havia homens a guardar a entrada e eu só pude esperar.

Por outro lado, a Lilit, sendo mais ágil do que eu, conseguiu entrar. Pouco tempo depois, saiu a discutir com os meus pais.

______ São nojentos!

______ Que mentes tão retorcidas têm!

_______ São inocentes! Como podem ter um coração tão negro e fazer-lhes isto?!

O meu pai deu-lhe uma bofetada, atirando-a ao chão.

_______ Cala-te!

_______ Vamos para casa. _____ O pai, furioso, pegou na Lilit do chão e levou-a aos empurrões para o carro.

Obrigou-a a sentar-se no banco de trás e ligou o carro. Não passou muito tempo, o carro do meu pai estava no fundo de uma ravina.

A única sobrevivente foi a minha irmã, que convenientemente perdeu a memória.

Quando ela foi encontrada, não se lembrava de nada do que tinha acontecido. Era como se tivessem apagado aquele momento da sua cabeça. Ela só se lembrava de mim e não dos nossos pais.

Um ano após a morte dos meus pais, uns homens aproximaram-se de mim e contaram-me tudo o que tinha acontecido.

A Lilit tinha sido a responsável pela morte dos meus pais. Mostraram-me vários vídeos em que se via claramente a minha irmã a mexer no volante e a mandar o carro para o fundo da ravina.

_______ Tu és a escolhida, tens de fazer justiça pelos teus pais. Tens de vingar o teu sangue. Ninguém melhor do que tu para te vingar.

______ Escolhida para quê? _____ O olhar daqueles homens causou arrepios por todo o meu corpo.

______ Saberás quando chegar a hora. Agora só tens de esperar.

O homem vestido de preto, alto e com olhar de assassino, agarrou na minha mão, exercendo muita força sobre ela.

_______ És a primogénita, és a escolhida para vingar o teu sangue. Tens de matar a tua irmã quando te for indicado. Caso contrário, ambas terão de morrer.

O homem largou a minha mão e tirou uma adaga afiada de trás da cintura, colocou-a nas minhas mãos, sem tirar os olhos de mim.

_____ Espera pelas nossas instruções. ___ Depois de me dizer isso, virou-se e desapareceu.

Durante dois anos, recebi instruções sem saber de quem. Conheciam-nos muito bem. Estavam a vigiar-nos e enviavam-me fotos de tudo o que a Lilit fazia.

Através dessas fotos e vídeos, eu sabia tudo o que a minha irmã mais nova fazia.

Abri os olhos, sentindo uma dor aguda na cabeça. Afastei-me da janela e fui para a casa de banho.

Preparei a banheira com água extremamente fria. Desde a morte dos meus pais, tenho tido dores de cabeça horríveis e só mergulhando em água gelada é que elas passam.

Tirei o vestido que estava a usar. Entrei lentamente na banheira. Fui-me afundando até cobrir completamente o corpo.

Fiquei dentro de água durante muito tempo, até sentir que me estava a afogar. Levantei-me rapidamente, abrindo a boca, a tentar respirar um pouco de ar.

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