JULY
Não consigo conciliar o sono, me levanto ainda está escuro lá fora. Vou à cozinha e faço um café. Sento no sofá da sala, com a xícara na mão. E volto para as minhas recordações.
Viemos para a base naval em Norfolk, ele até então morava no alojamento. Mas pediu a casa e a marinha concedeu. Eu queria ir embora mas não sabia como seria recebida do lugar de onde vim. Billy me convenceu a ficar, disse que era bom estar sob a proteção dele e da marinha, assim o Harry não se aproximaria de mim nunca mais.
Vivemos como colegas de quarto por algum tempo, mas acabamos nos aproximando. A primeira incursão que ele fez, ficou no mar por quatro meses, quando voltou eu estava com saudades, ele estava com saudades, nos beijamos e uma coisa levou a outra, e ficamos juntos. Ele era o meu único amigo, não tinha muita afinidade com as mulheres dos oficiais, eu não me sentia parte da comunidade, pois nem mesmo namorava um marinheiro. Depois que começamos o relacionamento eu engravidei e nos casamos.
Apesar dele ser um homem rico, nunca mexeu na herança da mãe, e vivemos com o salário de oficial da marinha, ele incentivou-me a estudar, então fiz faculdade de pedagogia.
Dou aulas para crianças na base. Somos mais amigos que amantes, mas eu o amo, e respeito, ele é o pai dos meus filhos. Tivemos um casal de gêmeos, que estão com quatro anos agora, são a razão da minha vida, Madson é meiga, carinhosa, inteligente e gentil, mas não pise no seu calo, que ela não engole desaforo e nem injustiça. Já o Mateo é inteligente demais para a sua idade, percebe tudo e tem um alto instinto de proteção. Protege todos, principalmente eu e a irmã.
Como Billy fica mais no navio do que em casa, ele se sente na obrigação de cuidar da casa, como ele diz, o pai o deixou no comando. Ele é o homem da casa!
Estou aqui tentando pensar no que foi a minha vida até hoje, para não pensar no pressentimento e sofrer por antecipação. Mas isso fica martelando no fundo da minha cabeça. Senhor que nada tenha acontecido com o meu marido. Pego a foto dele com a farda e olho por muito tempo com o pensamento longe, tanto que nem percebo que o dia amanheceu e o meu filho já está de pé.
Mateo _ Bom dia mamãe! Aconteceu alguma coisa?
July_ Não, meu amor. Eu estava só pensando.
Mateo _ Porque está segurando a foto do papai?
July_ Acho que estou sentindo a falta dele.
Mateo _ Não se acostumou ainda?
July_ Vamos nos aprontar para a escola. A sua irmã já acordou?
Mateo_ Ainda não! Eu sempre a deixo dormir mais um pouco.
July_ Então vamos acordá-la.
Dou banho nos dois, ou melhor nela, pois ele só me permite, lavar as suas costas, o restante diz que dá conta sozinho. Procuro não pensar no que será deles sem um pai para acompanhá-los pela vida.
Os ajudo a se vestirem e dou o café da manhã, enquanto eles tomam o café eu subo correndo e vou tomar banho. Quando desliguei o chuveiro, ouvi a minha filha gritar.
Madson _ Papai chegou, papai chegou!
Eu pensando besteira e ele está de volta. Coloco o roupão e desço as escadas correndo, a minha filha já abriu a porta para dois oficiais que estão na porta me procurando. Olho para eles e já sei do que se trata.
Olho para as crianças e o Mateo logo percebe o que ocorreu com a sua intuição aguçada, seus olhos enchem de lágrimas e ele passa o braço protetor sobre a irmã.
July_ Mateo leve a sua irmã para escovar os dentes por favor!
Ela não quer ir, mas ele a convence e os dois sobem enquanto eu convido os dois oficiais a entrar.
Eu me sento no sofá, antes que eu desabe.
Oficial _ Em nome da marinha americana, é com pesar, que lhe informamos que o seu marido Billy Harrington foi morto em combate.
July_ Oh Meu Deus!
Mateo_ Mamãe? O papai morreu?
July _ Venham aqui crianças.
Eu os abraço sem nada dizer, os dois choram no meu colo, e eu choro com eles. Os dois oficiais estão tristes e desconfortáveis. Afinal é uma notícia horrível para qualquer um, para crianças então!
Depois da partida dos oficiais, a minha casa começa a encher de gente, as pessoas da base se tornaram nossos amigos. E cada vez que alguém recebe esse tipo de visita, as pessoas chegam com pratos de comida, conforto e amizade. Mas confesso que só queria deitar na minha cama com os meus filhos e chorar. Estávamos perdidos em meio a tanta gente e palavras de condolências.
Finalmente, após todos partirem eu pude fazer o que queria. Deitei com os meus filhos e choramos até dormir.
O enterro foi triste e ele recebeu todas as honras, o capitão me deu a bandeira americana que cobriu o seu caixão.
Passaram-se alguns meses da morte do Billy e a Marinha mandou-me um documento solicitando a casa. Aluguei um apartamento fora da base, com a pensão da marinha e mais o salário de professora, fomos vivendo.
O Mateo está mais protetor do que nunca, enquanto a Mady, regrediu na fala. Ela falava perfeitamente bem antes da morte do Billy, agora vive trocando as letras. Eu tentei ensinar os dois em casa e os estou alfabetizando, o Mateo já sabe ler e escrever e ela voltou a fazer xixi na cama. Acordei de madrugada essa semana e ele estava sentado na porta do apartamento, do lado de dentro dormindo.
July_ Mateo? O que está fazendo dormindo aí, filho?
Mateo _ Eu não posso deixar o inimigo chegar até vocês.
July_ Não temos inimigos, filho!
Mateo _ O inimigo matou o papai.
July _ Isso é diferente filho. A guerra não é nesse país. E o inimigo está bem longe daqui. Não precisa se preocupar!
Mateo_ Eu sou o homem da casa mãe.
July _ Vamos para a cama querido. Amanhã você vai acordar, todo dolorido.
Eu o coloco na cama e vou para a minha. As crianças não estão bem. Preciso dar um jeito nisso! Se pelo menos eles pudessem ter uma vida mais livre, cercado da natureza. Eu tive uma infância maravilhosa na fazenda. Vou voltar para a Geórgia.
Já passou da hora de voltar para casa!
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Atualizado até capítulo 94
Comments
Ana Lucia Silva
Mas entendi as circunstâncias que a levaram para longe, aquela tia nogenta, a vendeu para o homem safado e cafajeste e GRAÇAS A DEUS, Billy apareceu na vida dela nesse momento em que precisava de um Anjo na vida dela...
2025-02-04
2
Ana Lucia Silva
Olha eu aqui outra vez, 04/02/25...
E lá vamos nós para mais emoções junto com você Marli Falcão e a sua criatividade fantástica...
Bom dia!
2025-02-04
1
Ana Lucia Silva
Então a July não se casou com o Matheus? Que bom que está voltando para casa...
2025-02-04
1