Destino Cruzado
Os ecos distantes de tiros e explosões preenchiam o ar, criando uma sinfonia aterradora que ressoava nas ruínas de Arras. Jeimes movia-se cautelosamente entre as sombras, sua respiração rápida e entrecortada, os pés cobertos de lama e poeira. A cada passo, a adrenalina pulsava em suas veias, e ele não podia evitar que seus pensamentos vagassem para casa — para seu pai, o pastor, e as expectativas que pareciam pesadas como uma armadura.
“Se eu não voltar, ele nunca entenderá”, pensou, enquanto avançava com seu batalhão. O cheiro de pólvora e os gritos dos feridos tornavam-se uma melodia ensurdecedora. A guerra não era como ele havia imaginado; não era uma aventura heroica, mas um teste cruel de fé e resistência.
Então, no meio do caos, algo chamou sua atenção. Uma figura feminina, com um avental manchado e uma expressão determinada, corria entre os soldados, oferecendo ajuda aos feridos. Era Amélia, uma voluntária da Cruz Vermelha, cuja presença parecia iluminar até mesmo os cantos mais sombrios da cidade devastada.
“Você está ferido!”, exclamou a bela enfermeira, correndo em direção a um soldado, admirando a bravura dela. Seus olhos, cheios de compaixão, encontraram os dele. Em um instante, o mundo ao redor pareceu silenciar. No coração da guerra, uma conexão inesperada se formou, uma luz de esperança em meio à escuridão.
Flashback: A cena mudou abruptamente. Ele se viu sentado na primeira fila da igreja, a congregação no domingo estava cheia. Sua mente transportou-se para um dia ensolarado em sua pequena cidade. O aroma familiar da madeira polida e das flores do altar preenchia o ar. Seu pai, o pastor, falava com paixão, sua voz ecoando pelas paredes de pedra.
“Meus filhos”, dizia ele, “Deus tem um plano para cada um de nós. Vocês são chamados para servir, para guiar os perdidos e pregar a palavra do Senhor.” No final do culto, seu pai sempre falava com ele: “Meu filho, um dia você também será um pastor para continuar pastoreando as ovelhas de Deus. É o que nossa família faz.”
Jeimes se lembrava de como aquelas palavras o sufocavam; ele não queria seguir o mesmo caminho que sua família. Ele queria gritar, dizer que não era isso que desejava. Seus sonhos de aventura e liberdade estavam em conflito com as expectativas que o prendiam. “Mas eu não quero ser pastor.”
De volta à guerra: A memória desapareceu, substituída pelos sons de gritos e explosões ao redor. Jeimes percebeu que não estava apenas lutando na guerra, mas também travando uma batalha interna, buscando seu propósito. Ele se lembrou da jovem moça e sentiu uma centelha de esperança. “Talvez a guerra não defina meu destino”, murmurou, enquanto avançava novamente, determinado a encontrar seu próprio caminho.
No acampamento: Algum tempo depois, Jeimes estava no acampamento da Cruz Vermelha, onde os soldados feridos recebiam tratamento. Com o ombro ferido, ele foi aconselhado a procurar cuidados médicos. Enquanto caminhava, viu a jovem enfermeira novamente, distribuindo curativos e água com graça e precisão. A luz suave do sol poente refletia nos cabelos dela. Jeimes não conseguia tirar os olhos dela.
“Você precisa de alguma coisa?”, perguntou a enfermeira, com uma leve preocupação. Jeimes hesitou antes de responder, um tanto sem jeito. “Acho que sim. Acabei me machucando; meu comandante mandou eu vir aqui.”
Ela riu suavemente. “Bem, vamos dar uma olhada nesse ombro.”
“Amélia”, Jeimes logo descobriu, a levou até um médico. O médico o examinou e constatou que o tiro que ele havia levado era sério.
“Médico: Terá que ficar aqui até se recuperar.”
Mais tarde, enquanto Amélia cuidava de Jeimes, ela notou uma pequena medalha pendurada no pescoço dele. “Isso é de família?”, perguntou casualmente.
Jeimes sorriu, tocando a medalha. “Era da minha mãe. Ela sempre disse que isso me protegeria.”
Amélia sorriu de volta, apreciando a esperança que ele carregava. Enquanto enfaixava o ombro de Jeimes, ela notou uma profundidade nele, algo mais do que a guerra havia causado. Havia algo em Jeimes que a fazia querer saber mais.
Mais tarde, Amélia voltou para verificar o curativo de Jeimes. Ele estava dormindo, mas acordou de repente, assustado e segurou o pulso dela firmemente.
“Desculpe, não quis assustar”, disse Amélia. “Só queria ver como você está.”
Jeimes piscou, ainda desorientado. “Desculpa… hábito de estar sempre alerta.”
Amélia: “Trouxe comida e remédio.”
Jeimes: “Obrigado. Meu nome é Jeimes.” Ele esticou a mão para cumprimentá-la.
Ela sorriu e apertou a mão dele. “Amélia. Prazer em te conhecer, Jeimes.”
Amélia: “Como está o tratamento?”
Quando estava saindo, Jeimes segurou sua mão. “Eu sei que vai parecer loucura, mas desde que te vi pela primeira vez, algo mudou em mim”, confessou ele. “No meio de todo esse caos, sinto que Deus tem algo reservado para mim. E te vendo aqui… só confirmou isso.”
Amélia ficou surpresa com as palavras, mas respondeu com gentileza. “Jeimes, também sinto algo, mas não sei como explicar.”
No dia seguinte, o médico responsável voltou a falar com Jeimes e recomendou que o soldado ficasse afastado por alguns dias para que seu ombro pudesse cicatrizar completamente. Jeimes relutou, mas sabia que era necessário.
Enquanto se recuperava, seu amigo Lucas apareceu, trazendo uma Bíblia e uma carta de sua mãe.
Lucas: “Como você está, meu irmão? Você faz falta.”
Jeimes: “Estou bem, meu amigo. Logo estarei voltando.”
Lucas: “O que sua mãe escreveu?”
Jeimes leu a carta com os olhos marejados. “Ela me lembrou que não estou sozinho, que Deus cuida de mim, e para não esquecer que tenho uma casa para voltar,” disse ele, segurando a carta de sua mãe com carinho.
Jeimes levantou a Bíblia para o amigo. “Obrigado por trazer ela também. Ela me traz conforto em meio às dificuldades.”
Lucas sorriu. “Às vezes, é nas horas mais difíceis que encontramos nossa verdadeira força. Lembre-se de 2 Coríntios 12:10: ‘Porque quando estou fraco, então é que sou forte.’”
Jeimes assentiu, sentindo-se confortado pelas palavras de Lucas e pela fé que o sustentava.
Durante os dias em que Jeimes se recuperava de seus ferimentos, ele encontrou mais tempo para se dedicar à leitura da Bíblia e a falar com Deus. Esses momentos de reflexão o ajudaram a enfrentar o peso emocional da guerra e a solidificar sua fé, mesmo em meio à destruição.
Amélia, por sua vez, sentia-se cada vez mais atraída pela presença de Jeimes. No final de cada tarde, ela se encontrava indo até ele, sentando-se ao lado de sua cama para conversar. Eles falavam sobre diversos assuntos—suas vidas antes da guerra, suas crenças, seus medos e esperanças. Essas conversas traziam uma sensação de paz para ambos, uma espécie de refúgio no caos.
Em uma dessas visitas, Amélia abriu seu coração e contou a Jeimes como havia se tornado voluntária da Cruz Vermelha, inspirada por sua avó.
Amélia: “Minha avó costumava me contar histórias sobre como ela ajudou os soldados na Primeira Guerra. Ela falava da alegria que sentia ao ver um deles se recuperar, mas também da dor quando perdia alguém. Isso me marcou profundamente. Eu queria ser mais do que apenas uma moça talentosa... eu queria salvar vidas, trazer paz e conforto a esses homens que enfrentam tanto sofrimento.”
Enquanto Amélia falava, Jeimes a observava com atenção, admirando a força e a compaixão que ela carregava dentro de si. Ele compreendia agora que ela, assim como ele, estava lutando sua própria batalha interna, tentando encontrar propósito em meio à guerra. O que ela fazia ia além de bandagens e cuidados; ela oferecia uma esperança silenciosa e firme, algo que Jeimes começava a valorizar cada vez mais.
Jeimes: “Você tem um coração forte, Amélia. Talvez seja isso que Deus queira de nós aqui—sermos luz no meio da escuridão.”
Amélia sorriu suavemente, grata pelas palavras de Jeimes. As visitas dela tornaram-se mais frequentes, e com o tempo, os dois passaram a compartilhar não apenas histórias de suas vidas, mas também suas dúvidas, sonhos e sentimentos, construindo uma conexão que ambos sabiam que iria além da guerra.
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Atualizado até capítulo 56
Comments
ROSE SOUZA
gostei do primeiro capítulo ☺️/Drool//Drool//Drool/
2024-10-30
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