A chuva caía pesada, martelando o telhado do alojamento como um tambor compassado. Jeimes despertou bruscamente, o peito arfando, o suor frio escorrendo pela testa. O pesadelo ainda se agarrava à sua mente como sombras, e ele esfregou os olhos com força, tentando afastar as imagens vívidas da destruição. Explosões, gritos, rostos desaparecendo nas cinzas. Era sempre assim. A guerra o seguia, mesmo quando seus olhos se fechavam.
Ele se levantou com um movimento abrupto, como se estivesse fugindo de algo invisível. Caminhou até a janela, sentindo o frio do chão de madeira nos pés descalços, o que o fez lembrar do quanto ainda estava vivo. Jeimes passou a mão pelo vidro embaçado, afastando a umidade para olhar lá fora. A noite era uma cortina de chuva, molhando a terra que já havia visto sangue demais.
Lá fora, o acampamento estava imerso em um silêncio quase irreal, quebrado apenas pelo som das gotas pesadas batendo no chão. A escuridão, o vento e o cheiro de terra molhada eram reconfortantes, mas por trás daquele silêncio, Jeimes sabia o que o aguardava. Sabia que, em breve, o som de tiros e bombas voltaria a rasgar o céu. Aqueles momentos de paz eram sempre breves, como um suspiro antes da tempestade.
Ele olhou para o horizonte, a direção onde o campo de batalha esperava. O estômago se contraiu, mas, ao mesmo tempo, algo dentro dele se aquietou. Talvez fosse o silêncio da chuva, ou a sensação de que, mesmo no caos, ainda havia algo maior no controle.
Jeimes (olhando para o céu): “Pai... não entendo. Não sei qual é o propósito para mim aqui. Por que colocou esse desejo de vir para a guerra em meu coração?”
A chuva parecia intensificar-se, como se a própria natureza estivesse respondendo à sua confusão. Ele apertou as mãos em punhos, a respiração entrecortada. As memórias do combate recente ainda estavam frescas em sua mente: companheiros caídos, a destruição que ele mesmo testemunhou. E, no entanto, lá estava ele. Vivo, mas sem respostas claras.
Jeimes (mais profundo, quase desafiador): “Mas Tu sabes de todas as coisas. E se é a Tua vontade que eu esteja aqui, então... seja feita.”
Ele inclinou a cabeça, fechando os olhos com força. A umidade do ar parecia grudar em sua pele, como o peso das responsabilidades que ele carregava. As dúvidas continuavam a rondar, mas, de alguma forma, ele confiava. Ele tinha que confiar. Não havia mais nada além disso.
Jeimes (num sussurro, com uma vulnerabilidade crescente): “Cuida de mim... e de todos esses homens. E, por favor... cuida de Amélia. Ajuda-nos a encontrar paz, mesmo que seja só por um momento.”
O nome de Amélia trouxe uma leveza inesperada ao seu peito. Ele não sabia explicar, mas pensar nela, mesmo no meio da guerra, dava-lhe um motivo para continuar. Amélia era um símbolo de tudo que valia a pena lutar – esperança, vida, cuidado.
Ele se afastou da janela lentamente, o som da chuva ainda preenchendo o quarto como uma canção que acalmava sua alma. As dúvidas permaneceriam, mas havia algo mais agora. Algo que ele não conseguia explicar, mas que o fazia sentir-se menos sozinho.
Ele deitou-se, seus olhos fixos no teto escuro. A guerra continuaria, os pesadelos viriam, mas, de alguma forma, ele sabia que não estava sozinho. Havia algo – ou alguém – cuidando dele. Havia uma razão, mesmo que ainda não pudesse vê-la com clareza.
O sono demorou a chegar, mas quando veio, trouxe consigo uma paz silenciosa, algo raro em tempos de guerra.
Amélia entrou no quarto com um brilho nos olhos, um sorriso iluminando seu rosto.
Amélia: Bom dia, soldado!
Jeimes, ainda meio perdido em seus pensamentos, levantou o olhar e não pôde evitar sorrir ao ver o entusiasmo dela.
Jeimes: Bom dia, Amélia. Você parece radiante hoje.
Amélia deu alguns passos à frente, aproximando-se da cama.
Amélia: E por que não estaria? O sol finalmente apareceu depois de dias de chuva. Isso sempre me renova.
Ela se inclinou levemente, estudando o semblante cansado de Jeimes.
Amélia: E você... como está? Não parece ter dormido bem.
Jeimes suspirou, o sorriso desaparecendo lentamente.
Jeimes: Não muito. A guerra nunca me deixa em paz, nem mesmo nos meus sonhos.
Amélia, ainda sorrindo suavemente, puxou uma cadeira e sentou-se ao lado dele.
Amélia: Quer falar sobre isso?
Jeimes: Se não se importa, prefiro não falar sobre isso agora.
Amélia assentiu suavemente.
Amélia: Tudo bem. Trouxe café da manhã e o remédio.
Ela colocou a bandeja sobre a mesa ao lado da cama, e por um momento, o silêncio envolveu os dois como uma bolha, apenas o som do vento quebrando a quietude. Jeimes, por fim, cedeu à necessidade de desabafar, sua voz carregada de frustração e dor.
Jeimes: Meu pai é pastor, assim como todos os homens da minha família. Ele sempre quis que eu seguisse o mesmo caminho — casar, ter filhos, viver na minha cidade natal. Mas... nunca foi o que eu quis. Sempre senti que havia algo maior esperando por mim.
Amélia o olhou atentamente, seus olhos cheios de compreensão, enquanto ele continuava.
Jeimes: Não que eu não queira servir a Deus. Só que os planos que meu pai fez... nunca levaram em conta o que eu queria. No dia do meu alistamento, ele não apareceu. Não escreveu, não perguntou como eu estou. Às vezes, me pergunto se ele se importa.
As palavras fluíam como uma enxurrada, revelando o conflito que Jeimes carregava dentro de si. Ele olhou para Amélia, buscando conforto em sua presença, e ela, silenciosa e compreensiva, pegou suas mãos, oferecendo-lhe um apoio silencioso, mas firme.
Amélia: Jeimes... Deus tem um propósito para cada um de nós. O seu pai pode não ter entendido isso de início, mas tenho certeza de que ele sabe, em seu coração, que os caminhos de Deus são maiores do que qualquer um de nós pode prever. Talvez ele esteja lutando com seus próprios sentimentos. Mas isso não significa que ele não se importe.
Ela apertou as mãos dele suavemente, os olhos dela fixos nos dele, com uma determinação calorosa.
Amélia: Lembre-se, você não está aqui por acaso. E, mesmo quando não conseguimos ver, o amor dos nossos pais está lá, de formas que às vezes não percebemos. Você é corajoso por seguir seu próprio caminho, e isso... é algo pelo qual seu pai, e todos nós, devemos admirar.
Jeimes sentiu as palavras de Amélia como um bálsamo, sua alma inquieta encontrando um momento de paz. Ele apertou suas mãos de volta, o coração cheio de gratidão.
Jeimes: Amélia... não sei como agradecer. Eu precisava ouvir isso. Você tem sido uma luz nesses dias escuros.
Ele sorriu para ela, um sorriso mais sincero, mais leve. Amélia retribuiu com um sorriso suave.
Após alguns dias de recuperação, Jeimes se sentiu mais forte e, decidido a sair do confinamento da enfermaria, pediu permissão para uma breve caminhada. Amélia, que esteve ao seu lado durante todo o processo, prontamente se ofereceu para acompanhá-lo. Juntos, caminharam pelo acampamento, sentindo o frescor do ar, o cheiro de terra molhada e a quietude que parecia ecoar o estado de espírito de ambos.
Eles caminharam em silêncio por um tempo, até que Amélia, com um sorriso suave, quebrou o silêncio.
Amélia: É bom ver você de pé novamente, Jeimes. Cada dia é uma vitória, mesmo em tempos como este.
Jeimes olhou para ela e assentiu, grato por sua presença constante.
Jeimes: Sim, é... E ter você ao meu lado fez tudo isso mais suportável.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 68
Comments