Capítulo 3

Após alguns dias de recuperação, Jeimes sentiu-se mais forte e decidiu pedir permissão para dar uma breve caminhada fora da enfermaria. O sol estava mais ameno, e ele ansiava por respirar o ar fresco. Amélia, que esteve ao seu lado durante todo o processo de recuperação, ofereceu-se para acompanhá-lo, uma leveza em seus passos que contrastava com o ambiente pesado ao redor.

Amélia (sorrindo): "É bom te ver de pé, soldado. Pronto para uma pequena aventura?"

Jeimes assentiu, sentindo o calor reconfortante de sua presença ao lado dele. Caminhar ao ar livre parecia um luxo, algo simples que ele não valorizava antes da guerra.

Amélia: "Sabe, depois de tantos dias de chuva, o ar fica diferente, como se o mundo estivesse tentando se renovar..." — disse ela, olhando para as árvores ao longe, seus olhos brilhando com uma esperança silenciosa.

Jeimes respirou fundo, sentindo o cheiro fresco da terra molhada. "É como se, por um momento, tudo estivesse em paz. Eu costumava fazer caminhadas assim em casa, com minha mãe... Ela sempre dizia que o ar da manhã era um presente de Deus."

Amélia sorriu suavemente, curiosa. "E como era sua casa? Sua cidade?"

Jeimes parou por um instante, refletindo, seus olhos voltados para o horizonte distante. "Era simples, mas tinha sua beleza. Sempre imaginei que não voltaria a ver aquela tranquilidade depois de vir para cá..." — ele fez uma pausa e olhou para Amélia. "Mas você, de certa forma, me lembra dela... do conforto que ela trazia."

Amélia corou levemente, desviando o olhar por um momento. "Bem, acho que essa é a minha missão aqui, não é? Trazer um pouco de conforto em meio ao caos."

Eles continuaram caminhando, sem pressa, compartilhando pequenas histórias de suas vidas antes da guerra. Foi um momento simples, mas profundamente significativo para ambos. Pela primeira vez, Jeimes se permitiu imaginar algo além da guerra, e Amélia, ao seu lado, começou a perceber o laço que estava se formando entre eles.

Enquanto riam de algo que Jeimes havia contado, as risadas foram interrompidas por gritos ao longe.

Amélia e Jeimes pararam abruptamente, trocando olhares preocupados enquanto os gritos continuavam. A serenidade que haviam encontrado na caminhada foi quebrada de forma brusca, trazendo-os de volta à dura realidade da guerra.

Amélia: O que será isso?

Jeimes apertou a mandíbula, seus instintos de soldado assumindo o controle enquanto olhava ao redor, tentando localizar a origem do som.

Jeimes: Parece que é do lado leste do acampamento. Vamos ver o que está acontecendo.

Sem hesitar, ele começou a caminhar na direção dos gritos, e Amélia o seguiu de perto, seus olhos atentos e preocupados. O coração dela batia acelerado, mas não era a primeira vez que lidava com situações tensas no acampamento. Como voluntária da Cruz Vermelha, ela sabia que deveria estar preparada para o inesperado.

Quando chegaram mais perto, a cena que encontraram foi caótica. Um grupo de soldados estava tentando acalmar um homem que havia sido trazido do campo de batalha. Ele estava ferido e visivelmente em choque, gritando e lutando contra aqueles que tentavam ajudá-lo.

Jeimes, com sua postura firme, aproximou-se rapidamente para ajudar. Ele segurou o homem pelos ombros, tentando falar com ele de forma calma, mas firme.

Jeimes: Ei, ei... você está seguro agora. Está entre amigos.

O médico da unidade se aproximou rapidamente. “O que aconteceu?

“Estávamos patrulhando... pisamos numa armadilha escondida na areia... e foi tudo tão rápido...” O soldado lutava para encontrar as palavras, a voz embargada.

Amélia ajoelhou-se ao lado do ferido, avaliando a situação com rapidez, enquanto Jeimes observava, sentindo o peso da guerra apertar seu coração mais uma vez.

Jeimes observava a cena de tensão, quando algo o fez prender a respiração. Ao olhar para o soldado ferido, ele percebeu que era um de seus companheiros de batalha, alguém com quem havia lutado lado a lado.

“Vai ficar tudo bem, camarada. Estou aqui com você”, disse Jeimes, com a voz trêmula, tentando conter a emoção.

O amigo apertou sua mão, os olhos semicerrados pela dor. Jeimes sentiu uma onda de impotência ao ver alguém tão próximo em tal estado, mas tentou manter a calma, sabendo que o amigo precisava da sua força agora.

Amélia, observando a cena, sabia que Jeimes estava lidando com algo muito mais profundo do que apenas o medo da guerra. O silêncio pesado ao redor deles enquanto a equipe médica rapidamente se mobilizava para atender o soldado.

O soldado, com dificuldade, olhou para Jeimes, os olhos cheios de dor e esforço. “Se algo acontecer comigo... por favor, diga à minha esposa que eu a amo muito... que lutei para dar um futuro de paz para o nosso filho”, sussurrou, a voz fraca, mas carregada de emoção.

Jeimes sentiu o peso das palavras do amigo, seu coração apertado. Ele se inclinou mais perto, segurando a mão do soldado com firmeza, seus olhos fixos nos dele. “Você não vai morrer, amigo. Vai ver seu filho nascer... vai cuidar dele. Eu prometo, você vai sobreviver a isso”, respondeu Jeimes, tentando passar força, mesmo que a situação fosse desesperadora.

Amélia observava a cena com o coração apertado, já se preparando para ajudar o médico a estabilizar o ferido. Havia uma urgência no ar, mas também uma luta silenciosa pela esperança.

O soldado, com a voz entrecortada pela dor, sussurrou: “Ore por mim, Jeimes... eu sei que Deus vai te ouvir. Peça que Ele me ajude com essa dor. Se for da vontade d’Ele, eu vou viver... mas, se não for, que Ele cuide da minha família.”

Antes que Jeimes pudesse responder, o médico interveio: “Precisamos levá-lo para dentro, agora.”

Amélia olhou para Jeimes, compartilhando o peso do momento, antes de seguir com o médico e o ferido para dentro do acampamento.

Jeimes ficou parado por um instante, vendo seu amigo sendo levado, até que o peso da situação o levou a um lugar mais afastado. Ele se ajoelhou na terra molhada e ergueu o rosto para o céu.

“Deus... eu não sei qual é o Seu propósito para esses homens. Eu também sei que esta guerra nunca foi e nunca será do Seu agrado, porque pessoas, crianças inocentes, estão sofrendo,” Jeimes parou um instante, tentando controlar o choro que lhe apertava a garganta.

“Mas, Senhor, eu fui contra os planos que meu pai tinha para mim... e agora estou aqui, em meio a dor e lágrimas. Mesmo assim, como Teu servo, eu Te peço com humildade: seja o Médico que vai operar esse rapaz. Que o Teu sopro de vida encha os seus pulmões. Mostre a essas pessoas que ainda existe um Deus que cura e faz milagres!”

Jeimes ficou ali, em silêncio, lágrimas rolando pelo rosto, aguardando uma resposta que só o tempo poderia trazer. O som da chuva voltava, suave, como se o próprio céu estivesse chorando junto com ele.

A chuva caía pesada, como se o céu chorasse junto com as dores da guerra. Jeimes, ainda ajoelhado, orava com tanta intensidade que não percebia o tempo passar ou a força da tempestade. Suas palavras silenciosas, pedindo por seu amigo e por um sinal de Deus, se perdiam no som da chuva e do vento.

Amélia, ao sair da sala de cirurgia, se dirigiu à porta do hospital improvisado. Ao longe, avistou a silhueta de Jeimes, ajoelhado em meio à tempestade. A cena a tocou profundamente. Naquele momento, ela não via apenas um soldado sofrendo, mas um homem travando sua própria batalha interna, buscando uma resposta que só Deus poderia dar.

Determinada, Amélia caminhou até ele, cada passo contra o vento e a chuva. Quando chegou, tocou gentilmente em seu ombro, trazendo Jeimes de volta do transe em que ele estava. Ele abriu os olhos, a realidade da chuva finalmente o atingindo.

“Jeimes,” ela disse, com a voz calma, mas carregada de compaixão. “Ele está estabilizado... por enquanto.”

Jeimes soltou um suspiro longo, o peso em seu peito aliviando-se por um momento. Ele olhou para Amélia, agradecendo silenciosamente pelo apoio e por aquela notícia que, mesmo incerta, lhe dava um pouco de esperança.

Amélia segurou a mão de Jeimes, puxando-o suavemente para se levantar do chão molhado. Ele estava tão imerso em suas orações que não percebeu o quanto a chuva estava fria e inclemente.

“Jeimes, vamos entrar. Você ficou esse tempo todo na chuva e pode pegar um resfriado,” disse ela, com uma preocupação genuína em sua voz.

Ele olhou para ela, um pouco atordoado, e assentiu. Amélia o ajudou a se levantar, e juntos eles caminharam de volta para o abrigo da Cruz Vermelha, onde o calor e a luz esperavam por eles.

Ao chegarem, Amélia se virou para ele. “Agora, vá tirar essa roupa molhada. Vou voltar com comida e remédio.”

Jeimes apenas concordou com um leve aceno, ainda absorvendo a intensidade da experiência que acabara de viver. Ele se afastou para trocar de roupa, sentindo uma mistura de gratidão e ansiedade, enquanto Amélia se apressava para buscar o que ele precisava. A presença dela trazia um conforto inesperado em meio ao caos da guerra.

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Comments

Yami CB

Yami CB

Que história envolvente! Nem percebi o tempo passar.

2024-10-19

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