Os ecos distantes de tiros e explosões preenchiam o ar, criando uma sinfonia aterradora que ressoava nas ruínas de Arras. Jeimes movia-se cautelosamente entre as sombras, sua respiração rápida e entrecortada, os pés cobertos de lama e poeira. A cada passo, a adrenalina pulsava em suas veias, e ele não podia evitar que seus pensamentos vagassem para casa — para seu pai, o pastor, e as expectativas que pareciam pesadas como uma armadura.
“Se eu não voltar, ele nunca entenderá”, pensou, enquanto avançava com seu batalhão. O cheiro de pólvora e os gritos dos feridos tornavam-se uma melodia ensurdecedora. A guerra não era como ele havia imaginado; não era uma aventura heroica, mas um teste cruel de fé e resistência.
Então, no meio do caos, algo chamou sua atenção. Uma figura feminina, com um avental manchado e uma expressão determinada, corria entre os soldados, oferecendo ajuda aos feridos. Era Amélia, uma voluntária da Cruz Vermelha, cuja presença parecia iluminar até mesmo os cantos mais sombrios da cidade devastada.
“Você está ferido!”, exclamou a bela enfermeira, correndo em direção a um soldado, admirando a bravura dela. Seus olhos, cheios de compaixão, encontraram os dele. Em um instante, o mundo ao redor pareceu silenciar. No coração da guerra, uma conexão inesperada se formou, uma luz de esperança em meio à escuridão.
Flashback: A cena mudou abruptamente. Ele se viu sentado na primeira fila da igreja, a congregação no domingo estava cheia. Sua mente transportou-se para um dia ensolarado em sua pequena cidade. O aroma familiar da madeira polida e das flores do altar preenchia o ar. Seu pai, o pastor, falava com paixão, sua voz ecoando pelas paredes de pedra.
“Meus filhos”, dizia ele, “Deus tem um plano para cada um de nós. Vocês são chamados para servir, para guiar os perdidos e pregar a palavra do Senhor.” No final do culto, seu pai sempre falava com ele: “Meu filho, um dia você também será um pastor para continuar pastoreando as ovelhas de Deus. É o que nossa família faz.”
Jeimes se lembrava de como aquelas palavras o sufocavam; ele não queria seguir o mesmo caminho que sua família. Ele queria gritar, dizer que não era isso que desejava. Seus sonhos de aventura e liberdade estavam em conflito com as expectativas que o prendiam. “Mas eu não quero ser pastor.”
De volta à guerra: A memória desapareceu, substituída pelos sons de gritos e explosões ao redor. Jeimes percebeu que não estava apenas lutando na guerra, mas também travando uma batalha interna, buscando seu propósito. Ele se lembrou da jovem moça e sentiu uma centelha de esperança. “Talvez a guerra não defina meu destino”, murmurou, enquanto avançava novamente, determinado a encontrar seu próprio caminho.
No acampamento: Algum tempo depois, Jeimes estava no acampamento da Cruz Vermelha, onde os soldados feridos recebiam tratamento. Com o ombro ferido, ele foi aconselhado a procurar cuidados médicos. Enquanto caminhava, viu a jovem enfermeira novamente, distribuindo curativos e água com graça e precisão. A luz suave do sol poente refletia nos cabelos dela. Jeimes não conseguia tirar os olhos dela.
“Você precisa de alguma coisa?”, perguntou a enfermeira, com uma leve preocupação. Jeimes hesitou antes de responder, um tanto sem jeito. “Acho que sim. Acabei me machucando; meu comandante mandou eu vir aqui.”
Ela riu suavemente. “Bem, vamos dar uma olhada nesse ombro.”
“Amélia”, Jeimes logo descobriu, a levou até um médico. O médico o examinou e constatou que o tiro que ele havia levado era sério.
“Médico: Terá que ficar aqui até se recuperar.”
Mais tarde, enquanto Amélia cuidava de Jeimes, ela notou uma pequena medalha pendurada no pescoço dele. “Isso é de família?”, perguntou casualmente.
Jeimes sorriu, tocando a medalha. “Era da minha mãe. Ela sempre disse que isso me protegeria.”
Amélia sorriu de volta, apreciando a esperança que ele carregava. Enquanto enfaixava o ombro de Jeimes, ela notou uma profundidade nele, algo mais do que a guerra havia causado. Havia algo em Jeimes que a fazia querer saber mais.
Mais tarde, Amélia voltou para verificar o curativo de Jeimes. Ele estava dormindo, mas acordou de repente, assustado e segurou o pulso dela firmemente.
“Desculpe, não quis assustar”, disse Amélia. “Só queria ver como você está.”
Jeimes piscou, ainda desorientado. “Desculpa… hábito de estar sempre alerta.”
Amélia: “Trouxe comida e remédio.”
Jeimes: “Obrigado. Meu nome é Jeimes.” Ele esticou a mão para cumprimentá-la.
Ela sorriu e apertou a mão dele. “Amélia. Prazer em te conhecer, Jeimes.”
Amélia: “Como está o tratamento?”
Quando estava saindo, Jeimes segurou sua mão. “Eu sei que vai parecer loucura, mas desde que te vi pela primeira vez, algo mudou em mim”, confessou ele. “No meio de todo esse caos, sinto que Deus tem algo reservado para mim. E te vendo aqui… só confirmou isso.”
Amélia ficou surpresa com as palavras, mas respondeu com gentileza. “Jeimes, também sinto algo, mas não sei como explicar.”
No dia seguinte, o médico responsável voltou a falar com Jeimes e recomendou que o soldado ficasse afastado por alguns dias para que seu ombro pudesse cicatrizar completamente. Jeimes relutou, mas sabia que era necessário.
Enquanto se recuperava, seu amigo Lucas apareceu, trazendo uma Bíblia e uma carta de sua mãe.
Lucas: “Como você está, meu irmão? Você faz falta.”
Jeimes: “Estou bem, meu amigo. Logo estarei voltando.”
Lucas: “O que sua mãe escreveu?”
Jeimes leu a carta com os olhos marejados. “Ela me lembrou que não estou sozinho, que Deus cuida de mim, e para não esquecer que tenho uma casa para voltar,” disse ele, segurando a carta de sua mãe com carinho.
Jeimes levantou a Bíblia para o amigo. “Obrigado por trazer ela também. Ela me traz conforto em meio às dificuldades.”
Lucas sorriu. “Às vezes, é nas horas mais difíceis que encontramos nossa verdadeira força. Lembre-se de 2 Coríntios 12:10: ‘Porque quando estou fraco, então é que sou forte.’”
Jeimes assentiu, sentindo-se confortado pelas palavras de Lucas e pela fé que o sustentava.
Durante os dias em que Jeimes se recuperava de seus ferimentos, ele encontrou mais tempo para se dedicar à leitura da Bíblia e a falar com Deus. Esses momentos de reflexão o ajudaram a enfrentar o peso emocional da guerra e a solidificar sua fé, mesmo em meio à destruição.
Amélia, por sua vez, sentia-se cada vez mais atraída pela presença de Jeimes. No final de cada tarde, ela se encontrava indo até ele, sentando-se ao lado de sua cama para conversar. Eles falavam sobre diversos assuntos—suas vidas antes da guerra, suas crenças, seus medos e esperanças. Essas conversas traziam uma sensação de paz para ambos, uma espécie de refúgio no caos.
Em uma dessas visitas, Amélia abriu seu coração e contou a Jeimes como havia se tornado voluntária da Cruz Vermelha, inspirada por sua avó.
Amélia: “Minha avó costumava me contar histórias sobre como ela ajudou os soldados na Primeira Guerra. Ela falava da alegria que sentia ao ver um deles se recuperar, mas também da dor quando perdia alguém. Isso me marcou profundamente. Eu queria ser mais do que apenas uma moça talentosa... eu queria salvar vidas, trazer paz e conforto a esses homens que enfrentam tanto sofrimento.”
Enquanto Amélia falava, Jeimes a observava com atenção, admirando a força e a compaixão que ela carregava dentro de si. Ele compreendia agora que ela, assim como ele, estava lutando sua própria batalha interna, tentando encontrar propósito em meio à guerra. O que ela fazia ia além de bandagens e cuidados; ela oferecia uma esperança silenciosa e firme, algo que Jeimes começava a valorizar cada vez mais.
Jeimes: “Você tem um coração forte, Amélia. Talvez seja isso que Deus queira de nós aqui—sermos luz no meio da escuridão.”
Amélia sorriu suavemente, grata pelas palavras de Jeimes. As visitas dela tornaram-se mais frequentes, e com o tempo, os dois passaram a compartilhar não apenas histórias de suas vidas, mas também suas dúvidas, sonhos e sentimentos, construindo uma conexão que ambos sabiam que iria além da guerra.
A chuva caía pesada, martelando o telhado do alojamento como um tambor compassado. Jeimes despertou bruscamente, o peito arfando, o suor frio escorrendo pela testa. O pesadelo ainda se agarrava à sua mente como sombras, e ele esfregou os olhos com força, tentando afastar as imagens vívidas da destruição. Explosões, gritos, rostos desaparecendo nas cinzas. Era sempre assim. A guerra o seguia, mesmo quando seus olhos se fechavam.
Ele se levantou com um movimento abrupto, como se estivesse fugindo de algo invisível. Caminhou até a janela, sentindo o frio do chão de madeira nos pés descalços, o que o fez lembrar do quanto ainda estava vivo. Jeimes passou a mão pelo vidro embaçado, afastando a umidade para olhar lá fora. A noite era uma cortina de chuva, molhando a terra que já havia visto sangue demais.
Lá fora, o acampamento estava imerso em um silêncio quase irreal, quebrado apenas pelo som das gotas pesadas batendo no chão. A escuridão, o vento e o cheiro de terra molhada eram reconfortantes, mas por trás daquele silêncio, Jeimes sabia o que o aguardava. Sabia que, em breve, o som de tiros e bombas voltaria a rasgar o céu. Aqueles momentos de paz eram sempre breves, como um suspiro antes da tempestade.
Ele olhou para o horizonte, a direção onde o campo de batalha esperava. O estômago se contraiu, mas, ao mesmo tempo, algo dentro dele se aquietou. Talvez fosse o silêncio da chuva, ou a sensação de que, mesmo no caos, ainda havia algo maior no controle.
Jeimes (olhando para o céu): “Pai... não entendo. Não sei qual é o propósito para mim aqui. Por que colocou esse desejo de vir para a guerra em meu coração?”
A chuva parecia intensificar-se, como se a própria natureza estivesse respondendo à sua confusão. Ele apertou as mãos em punhos, a respiração entrecortada. As memórias do combate recente ainda estavam frescas em sua mente: companheiros caídos, a destruição que ele mesmo testemunhou. E, no entanto, lá estava ele. Vivo, mas sem respostas claras.
Jeimes (mais profundo, quase desafiador): “Mas Tu sabes de todas as coisas. E se é a Tua vontade que eu esteja aqui, então... seja feita.”
Ele inclinou a cabeça, fechando os olhos com força. A umidade do ar parecia grudar em sua pele, como o peso das responsabilidades que ele carregava. As dúvidas continuavam a rondar, mas, de alguma forma, ele confiava. Ele tinha que confiar. Não havia mais nada além disso.
Jeimes (num sussurro, com uma vulnerabilidade crescente): “Cuida de mim... e de todos esses homens. E, por favor... cuida de Amélia. Ajuda-nos a encontrar paz, mesmo que seja só por um momento.”
O nome de Amélia trouxe uma leveza inesperada ao seu peito. Ele não sabia explicar, mas pensar nela, mesmo no meio da guerra, dava-lhe um motivo para continuar. Amélia era um símbolo de tudo que valia a pena lutar – esperança, vida, cuidado.
Ele se afastou da janela lentamente, o som da chuva ainda preenchendo o quarto como uma canção que acalmava sua alma. As dúvidas permaneceriam, mas havia algo mais agora. Algo que ele não conseguia explicar, mas que o fazia sentir-se menos sozinho.
Ele deitou-se, seus olhos fixos no teto escuro. A guerra continuaria, os pesadelos viriam, mas, de alguma forma, ele sabia que não estava sozinho. Havia algo – ou alguém – cuidando dele. Havia uma razão, mesmo que ainda não pudesse vê-la com clareza.
O sono demorou a chegar, mas quando veio, trouxe consigo uma paz silenciosa, algo raro em tempos de guerra.
Amélia entrou no quarto com um brilho nos olhos, um sorriso iluminando seu rosto.
Amélia: Bom dia, soldado!
Jeimes, ainda meio perdido em seus pensamentos, levantou o olhar e não pôde evitar sorrir ao ver o entusiasmo dela.
Jeimes: Bom dia, Amélia. Você parece radiante hoje.
Amélia deu alguns passos à frente, aproximando-se da cama.
Amélia: E por que não estaria? O sol finalmente apareceu depois de dias de chuva. Isso sempre me renova.
Ela se inclinou levemente, estudando o semblante cansado de Jeimes.
Amélia: E você... como está? Não parece ter dormido bem.
Jeimes suspirou, o sorriso desaparecendo lentamente.
Jeimes: Não muito. A guerra nunca me deixa em paz, nem mesmo nos meus sonhos.
Amélia, ainda sorrindo suavemente, puxou uma cadeira e sentou-se ao lado dele.
Amélia: Quer falar sobre isso?
Jeimes: Se não se importa, prefiro não falar sobre isso agora.
Amélia assentiu suavemente.
Amélia: Tudo bem. Trouxe café da manhã e o remédio.
Ela colocou a bandeja sobre a mesa ao lado da cama, e por um momento, o silêncio envolveu os dois como uma bolha, apenas o som do vento quebrando a quietude. Jeimes, por fim, cedeu à necessidade de desabafar, sua voz carregada de frustração e dor.
Jeimes: Meu pai é pastor, assim como todos os homens da minha família. Ele sempre quis que eu seguisse o mesmo caminho — casar, ter filhos, viver na minha cidade natal. Mas... nunca foi o que eu quis. Sempre senti que havia algo maior esperando por mim.
Amélia o olhou atentamente, seus olhos cheios de compreensão, enquanto ele continuava.
Jeimes: Não que eu não queira servir a Deus. Só que os planos que meu pai fez... nunca levaram em conta o que eu queria. No dia do meu alistamento, ele não apareceu. Não escreveu, não perguntou como eu estou. Às vezes, me pergunto se ele se importa.
As palavras fluíam como uma enxurrada, revelando o conflito que Jeimes carregava dentro de si. Ele olhou para Amélia, buscando conforto em sua presença, e ela, silenciosa e compreensiva, pegou suas mãos, oferecendo-lhe um apoio silencioso, mas firme.
Amélia: Jeimes... Deus tem um propósito para cada um de nós. O seu pai pode não ter entendido isso de início, mas tenho certeza de que ele sabe, em seu coração, que os caminhos de Deus são maiores do que qualquer um de nós pode prever. Talvez ele esteja lutando com seus próprios sentimentos. Mas isso não significa que ele não se importe.
Ela apertou as mãos dele suavemente, os olhos dela fixos nos dele, com uma determinação calorosa.
Amélia: Lembre-se, você não está aqui por acaso. E, mesmo quando não conseguimos ver, o amor dos nossos pais está lá, de formas que às vezes não percebemos. Você é corajoso por seguir seu próprio caminho, e isso... é algo pelo qual seu pai, e todos nós, devemos admirar.
Jeimes sentiu as palavras de Amélia como um bálsamo, sua alma inquieta encontrando um momento de paz. Ele apertou suas mãos de volta, o coração cheio de gratidão.
Jeimes: Amélia... não sei como agradecer. Eu precisava ouvir isso. Você tem sido uma luz nesses dias escuros.
Ele sorriu para ela, um sorriso mais sincero, mais leve. Amélia retribuiu com um sorriso suave.
Após alguns dias de recuperação, Jeimes se sentiu mais forte e, decidido a sair do confinamento da enfermaria, pediu permissão para uma breve caminhada. Amélia, que esteve ao seu lado durante todo o processo, prontamente se ofereceu para acompanhá-lo. Juntos, caminharam pelo acampamento, sentindo o frescor do ar, o cheiro de terra molhada e a quietude que parecia ecoar o estado de espírito de ambos.
Eles caminharam em silêncio por um tempo, até que Amélia, com um sorriso suave, quebrou o silêncio.
Amélia: É bom ver você de pé novamente, Jeimes. Cada dia é uma vitória, mesmo em tempos como este.
Jeimes olhou para ela e assentiu, grato por sua presença constante.
Jeimes: Sim, é... E ter você ao meu lado fez tudo isso mais suportável.
Após alguns dias de recuperação, Jeimes sentiu-se mais forte e decidiu pedir permissão para dar uma breve caminhada fora da enfermaria. O sol estava mais ameno, e ele ansiava por respirar o ar fresco. Amélia, que esteve ao seu lado durante todo o processo de recuperação, ofereceu-se para acompanhá-lo, uma leveza em seus passos que contrastava com o ambiente pesado ao redor.
Amélia (sorrindo): "É bom te ver de pé, soldado. Pronto para uma pequena aventura?"
Jeimes assentiu, sentindo o calor reconfortante de sua presença ao lado dele. Caminhar ao ar livre parecia um luxo, algo simples que ele não valorizava antes da guerra.
Amélia: "Sabe, depois de tantos dias de chuva, o ar fica diferente, como se o mundo estivesse tentando se renovar..." — disse ela, olhando para as árvores ao longe, seus olhos brilhando com uma esperança silenciosa.
Jeimes respirou fundo, sentindo o cheiro fresco da terra molhada. "É como se, por um momento, tudo estivesse em paz. Eu costumava fazer caminhadas assim em casa, com minha mãe... Ela sempre dizia que o ar da manhã era um presente de Deus."
Amélia sorriu suavemente, curiosa. "E como era sua casa? Sua cidade?"
Jeimes parou por um instante, refletindo, seus olhos voltados para o horizonte distante. "Era simples, mas tinha sua beleza. Sempre imaginei que não voltaria a ver aquela tranquilidade depois de vir para cá..." — ele fez uma pausa e olhou para Amélia. "Mas você, de certa forma, me lembra dela... do conforto que ela trazia."
Amélia corou levemente, desviando o olhar por um momento. "Bem, acho que essa é a minha missão aqui, não é? Trazer um pouco de conforto em meio ao caos."
Eles continuaram caminhando, sem pressa, compartilhando pequenas histórias de suas vidas antes da guerra. Foi um momento simples, mas profundamente significativo para ambos. Pela primeira vez, Jeimes se permitiu imaginar algo além da guerra, e Amélia, ao seu lado, começou a perceber o laço que estava se formando entre eles.
Enquanto riam de algo que Jeimes havia contado, as risadas foram interrompidas por gritos ao longe.
Amélia e Jeimes pararam abruptamente, trocando olhares preocupados enquanto os gritos continuavam. A serenidade que haviam encontrado na caminhada foi quebrada de forma brusca, trazendo-os de volta à dura realidade da guerra.
Amélia: O que será isso?
Jeimes apertou a mandíbula, seus instintos de soldado assumindo o controle enquanto olhava ao redor, tentando localizar a origem do som.
Jeimes: Parece que é do lado leste do acampamento. Vamos ver o que está acontecendo.
Sem hesitar, ele começou a caminhar na direção dos gritos, e Amélia o seguiu de perto, seus olhos atentos e preocupados. O coração dela batia acelerado, mas não era a primeira vez que lidava com situações tensas no acampamento. Como voluntária da Cruz Vermelha, ela sabia que deveria estar preparada para o inesperado.
Quando chegaram mais perto, a cena que encontraram foi caótica. Um grupo de soldados estava tentando acalmar um homem que havia sido trazido do campo de batalha. Ele estava ferido e visivelmente em choque, gritando e lutando contra aqueles que tentavam ajudá-lo.
Jeimes, com sua postura firme, aproximou-se rapidamente para ajudar. Ele segurou o homem pelos ombros, tentando falar com ele de forma calma, mas firme.
Jeimes: Ei, ei... você está seguro agora. Está entre amigos.
O médico da unidade se aproximou rapidamente. “O que aconteceu?
“Estávamos patrulhando... pisamos numa armadilha escondida na areia... e foi tudo tão rápido...” O soldado lutava para encontrar as palavras, a voz embargada.
Amélia ajoelhou-se ao lado do ferido, avaliando a situação com rapidez, enquanto Jeimes observava, sentindo o peso da guerra apertar seu coração mais uma vez.
Jeimes observava a cena de tensão, quando algo o fez prender a respiração. Ao olhar para o soldado ferido, ele percebeu que era um de seus companheiros de batalha, alguém com quem havia lutado lado a lado.
“Vai ficar tudo bem, camarada. Estou aqui com você”, disse Jeimes, com a voz trêmula, tentando conter a emoção.
O amigo apertou sua mão, os olhos semicerrados pela dor. Jeimes sentiu uma onda de impotência ao ver alguém tão próximo em tal estado, mas tentou manter a calma, sabendo que o amigo precisava da sua força agora.
Amélia, observando a cena, sabia que Jeimes estava lidando com algo muito mais profundo do que apenas o medo da guerra. O silêncio pesado ao redor deles enquanto a equipe médica rapidamente se mobilizava para atender o soldado.
O soldado, com dificuldade, olhou para Jeimes, os olhos cheios de dor e esforço. “Se algo acontecer comigo... por favor, diga à minha esposa que eu a amo muito... que lutei para dar um futuro de paz para o nosso filho”, sussurrou, a voz fraca, mas carregada de emoção.
Jeimes sentiu o peso das palavras do amigo, seu coração apertado. Ele se inclinou mais perto, segurando a mão do soldado com firmeza, seus olhos fixos nos dele. “Você não vai morrer, amigo. Vai ver seu filho nascer... vai cuidar dele. Eu prometo, você vai sobreviver a isso”, respondeu Jeimes, tentando passar força, mesmo que a situação fosse desesperadora.
Amélia observava a cena com o coração apertado, já se preparando para ajudar o médico a estabilizar o ferido. Havia uma urgência no ar, mas também uma luta silenciosa pela esperança.
O soldado, com a voz entrecortada pela dor, sussurrou: “Ore por mim, Jeimes... eu sei que Deus vai te ouvir. Peça que Ele me ajude com essa dor. Se for da vontade d’Ele, eu vou viver... mas, se não for, que Ele cuide da minha família.”
Antes que Jeimes pudesse responder, o médico interveio: “Precisamos levá-lo para dentro, agora.”
Amélia olhou para Jeimes, compartilhando o peso do momento, antes de seguir com o médico e o ferido para dentro do acampamento.
Jeimes ficou parado por um instante, vendo seu amigo sendo levado, até que o peso da situação o levou a um lugar mais afastado. Ele se ajoelhou na terra molhada e ergueu o rosto para o céu.
“Deus... eu não sei qual é o Seu propósito para esses homens. Eu também sei que esta guerra nunca foi e nunca será do Seu agrado, porque pessoas, crianças inocentes, estão sofrendo,” Jeimes parou um instante, tentando controlar o choro que lhe apertava a garganta.
“Mas, Senhor, eu fui contra os planos que meu pai tinha para mim... e agora estou aqui, em meio a dor e lágrimas. Mesmo assim, como Teu servo, eu Te peço com humildade: seja o Médico que vai operar esse rapaz. Que o Teu sopro de vida encha os seus pulmões. Mostre a essas pessoas que ainda existe um Deus que cura e faz milagres!”
Jeimes ficou ali, em silêncio, lágrimas rolando pelo rosto, aguardando uma resposta que só o tempo poderia trazer. O som da chuva voltava, suave, como se o próprio céu estivesse chorando junto com ele.
A chuva caía pesada, como se o céu chorasse junto com as dores da guerra. Jeimes, ainda ajoelhado, orava com tanta intensidade que não percebia o tempo passar ou a força da tempestade. Suas palavras silenciosas, pedindo por seu amigo e por um sinal de Deus, se perdiam no som da chuva e do vento.
Amélia, ao sair da sala de cirurgia, se dirigiu à porta do hospital improvisado. Ao longe, avistou a silhueta de Jeimes, ajoelhado em meio à tempestade. A cena a tocou profundamente. Naquele momento, ela não via apenas um soldado sofrendo, mas um homem travando sua própria batalha interna, buscando uma resposta que só Deus poderia dar.
Determinada, Amélia caminhou até ele, cada passo contra o vento e a chuva. Quando chegou, tocou gentilmente em seu ombro, trazendo Jeimes de volta do transe em que ele estava. Ele abriu os olhos, a realidade da chuva finalmente o atingindo.
“Jeimes,” ela disse, com a voz calma, mas carregada de compaixão. “Ele está estabilizado... por enquanto.”
Jeimes soltou um suspiro longo, o peso em seu peito aliviando-se por um momento. Ele olhou para Amélia, agradecendo silenciosamente pelo apoio e por aquela notícia que, mesmo incerta, lhe dava um pouco de esperança.
Amélia segurou a mão de Jeimes, puxando-o suavemente para se levantar do chão molhado. Ele estava tão imerso em suas orações que não percebeu o quanto a chuva estava fria e inclemente.
“Jeimes, vamos entrar. Você ficou esse tempo todo na chuva e pode pegar um resfriado,” disse ela, com uma preocupação genuína em sua voz.
Ele olhou para ela, um pouco atordoado, e assentiu. Amélia o ajudou a se levantar, e juntos eles caminharam de volta para o abrigo da Cruz Vermelha, onde o calor e a luz esperavam por eles.
Ao chegarem, Amélia se virou para ele. “Agora, vá tirar essa roupa molhada. Vou voltar com comida e remédio.”
Jeimes apenas concordou com um leve aceno, ainda absorvendo a intensidade da experiência que acabara de viver. Ele se afastou para trocar de roupa, sentindo uma mistura de gratidão e ansiedade, enquanto Amélia se apressava para buscar o que ele precisava. A presença dela trazia um conforto inesperado em meio ao caos da guerra.
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