Conversando

-Você fez um lanche para mim?

Falei mais confirmando do que perguntando.

-Fiz! Você não está comendo e eu não gosto de comer e deixar os outros me olhando como se eu fosse um animal de zoológico, agora come, sua comida está uma delícia.

Peguei o lanche nas mãos e mordi, nem parece a minha comida de tão saborosa que está.

-Voltando ao nosso assunto, eu não fico com o meu ego inflado porque elas me idolatram, e sim porque eu posso fazer diferente, com meu trabalho eu posso modificar as vidas de algumas de minhas fãs.

-O jeito de você pensar é bonito mas a única coisa que elas vêem quando olham pra você é esse seu corpo perfeito, você é a tentação em forma de homem.

“Kiraz”

Quando vi o que falei já era tarde, agora é aguentar as piadinhas dele, mas ficou um silêncio, fiquei curiosa e olhei para ele que estava com um olhar diferente me encarando.

-Eu também te acho maravilhosa, quando te vi pela primeira vez, a primeira coisa que senti foi seu perfume, depois seus cabelos em meus braços, e quando você me olhou com esses olhos verdes eu fiquei sem ar e tive uma reação de auto proteção briguei com você.

-Porque autoproteção?

-Porque prometi que não ia me apaixonar por mulher nenhuma, porque o amor enfraquece o homem, mas você está me fazendo mudar de idéia.

Fiquei olhando para ele e resolvi mudar o rumo da conversa, nós não poderemos ter nada, ele é noivo de outra e eu também, mesmo não sendo um noivado que escolhi, devo honrar o acordo feito por meu pai.

-Conversa inapropriada, vamos voltar a falar de comida?

Can continuou me olhando e perguntou.

-O que você espera desse seu casamento, está feliz com a escolha que seu pai fez para você?

Vi ela dar aquela torcidinha no nariz e sei que está passando no que me responder.

-Eu não sei o que esperar, não tenho como dizer não para meu pai, e espero que ele tenha escolhido um homem que me deixe trabalhar e acabar os meus estudos, não sei se vou conseguir viver como a minha mãe vive, cuidando de uma casa o dia todo.

-Você não foi educada para ficar em casa?

-Não me interprete mal eu sei fazer tudo o que minha mãe faz, sei cozinhar, sei limpar, aprendi tudo isso mas não é para mim , preciso de mais, não sei como vai ser se meu marido não quiser que eu trabalhe, acho que vou morrer.

 “Can”

Ouvi as confissões dela mas não consigo responder nada, nem sei o que falar, minha mente só fica pensando no que gosto nela.

  Adoro quando faço um elogio e você fica encabulada e suas bochechas ficam vermelhas e quando pergunto alguma coisa que te incomoda você dá uma torcidinha no nariz, vira o rosto de lado tentando controlar os sentimentos, mas isso não vou te falar senão vai sair correndo e eu quero continuar conversando com você.

-E o senhor que tipo de esposa espera que a sua seja.

-Eu vivi minha vida toda fora da Turquia, tenho uma visão diferente do mundo, se minha esposa quiser trabalhar vou apoiá-la em todas as suas escolhas, sei que meu pai só está me casando para poder voltar a Turquia, mas se fosse por mim não voltava nunca mais, isso deles dominarem a vida de todos os que vivem lá me parece ditador demais.

-E se ela for caseira e foi criada para cuidar da sua casa e dos filhos como a maioria das mulheres turcas são?

-Vou cuidar para que ela tenha uma boa vida, mas não vou parar minha profissão, adoro atuar e agora essa parte da minha vida é aqui na Itália.

“Kiraz”

Quando olhei no relógio já eram quase 23:00 horas, levantei em um pulo da cadeira.

-Nossa, preciso ir embora, já é muito tarde.

-Calma, deixa eu ver meu relógio e eu te levo.

-Não precisa, eu posso pegar um táxi.

-Não vou deixar você sozinha por aí, se te acontecer alguma coisa não vou me perdoar.

Peguei a caixa, abri e me apaixonei, Kiraz põe a alma dela em cada peça, o relógio ficou perfeito, com certeza vai fazer parte da minha coleção, falei meio sem pensar.

-Estou apaixonado, que peça linda.

Levantei meus olhos e vi orgulho nos olhos dela, é tão apaixonada pelo que faz quanto eu sou pela minha profissão e agora corre o risco de ser abafada por um casamento com um homem que não vai saber apreciar a mulher que tem na frente. Me aproximei como a borboleta se aproxima atraída pela luz, toquei o rosto dela e quando ia abaixar dar um beijo ela saiu de perto.

-Senhor Can está ficando tarde, eu preciso ir embora.

-Claro Kiraz, eu vou te levar.

“Kiraz”

Subi no carro dele e logo estava na frente do meu alojamento, tentei abrir a porta mas estava fechada.

-Senhor Can a porta está travada.

-Sim está Kiraz, eu quero falar mais uma coisa com você.

-O quê? Pode falar que eu não posso ficar muito tempo aqui na frente em um carro estranho, se meu pai ficar sabendo posso ter problemas.

-Eu quero te conhecer melhor, quer sair comigo amanhã?

-Acho melhor não, tanto eu como o senhor somos comprometidos e isso não é legal com nossos noivos. E conheci seu pai, ele é da parte antiga da Turquia como o meu, eles não vão gostar que estamos saindo mais ainda fora das tradições.

-Nem eu nem você aceitamos nos casar, então temos duas semanas de liberdade, me deixa te mostrar um lado meu que poucos conhecem.

-Eu tenho uma vida muito corrida, não tenho tempo para diversão, esquece isso, me esquece que vai ser melhor para nós dois.

-Mas porque você me rejeita desse jeito sem nem me conhecer?

-Eu sei o suficiente do senhor para querer me manter bem longe, garanhão, conquistador, galinha, e eu não quero problemas com minha família por sua causa.

-Eu também não sei porque quis te conhecer, teimosa, briguenta, irritante, nunca se encaixaria na minha vida.

-Destrava a porta por favor, e some da minha vida. O senhor tem razão, eu nunca conseguiria me encaixar na sua vida de futilidades e mulheres falsas que comem só uma folha de alface.

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