Poucos minutos depois.
A presidente ficou bem irritada com esse lance da Laila, eu tive que arrastar ela pra fora e deixar ela sentada em um banco no pátio se acalmando. Depois eu saí pra comprar um refri pra ela. Eu peguei um refri, voltei até o pátio e entreguei na mão dela, ela olhou por uns segundos e me perguntou:
- Isso é para mim?
- É, mas eu vou beber também - detalhe, eu comprei um de um litro.
- Ok.
Sem dizer mais nada, eu me sento ao lado dela e sirvo refri pra nós dois, a gente bebe calmamente. Que delícia esse negócio:
- Esse é o meu refri favorito – ela diz.
Haha, acertei em cheio em comprar o refri de cola... Parando pra pensar, nós dois estamos sozinhos no pátio bebendo um refri juntos, se alguém olharde fora, pode acabar pensando besteira:
- Obrigada por isso – ela diz.
- Ah, de nada, mas me responde, o que que foi aquilo entre você e a vice-presidente?
A presidente parece ficar meio pensativa:
- Eu e ela concorremos uma contra outra pelo cargo de presidente do conselho, me admira você não saber disso.
- Agora que você falou, eu lembrei – mentira - então é por isso que vocês se odeiam?
- Eu diria que sim, acho que isso acontece porque nós duas odiamos perder, como eu já ganhei, a única coisa que resta pra ela me atingir é ser hostil.
Caramba, a Laila também tem um lado sádico dentro de si, a mesma coisa que a Aurora, essas garotas populares dão medo:
- Entendi, eu não imaginava que a Laila fosse tão infantil.
- Exatamente, ela é uma pessoa infantil e presunçosa, ela pensava que poderia ganhar só com simpatia das pessoas, mas ela acabou esquecendo da parte profissional e...
A partir desse ponto, eu parei de ouvir, comecei a só acenar com a cabeça enquanto ela fala. Pelo jeito, a presidente também gosta de falar mal da Laila, acho que elas não são tão diferentes assim, parando pra pensar, talvez seja por isso que elas não bicam:
- Você entende o que eu quero dizer? - a presidente pergunta.
- Ah, totalmente – mentindo na cura dura.
Depois de todo esse desabafo sobre a Laila, ela solta um suspiro e escora o corpo no banco, parecendo completamente relaxada. Xingar as pessoas é a melhor forma de aliviar o estresse:
- Quer mais um pouco – eu ofereço mais refri.
- Sim, obrigada.
Eu sirvo pra ela e nós voltamos a saborear o refri em silêncio:
- Presidente, você acha que a peça vai dar certo?
Ela fica surpresa coma pergunta, mas não perde a compostura:
- Sinceramente, não, pelo menos, não do jeito que eles querem. As coisas no clube estão muito caóticas, mesmo que tenha sido para poupar tempo, começar a produzir a peça antes do término do roteiro foi um erro.
- É, faz sentido. Eles até podem conseguir fazer a peça, mas existe uma grande chance de que ela não fique muito boa.
- Nossa, você entendeu rápido, fiquei surpresa.
Não sei se me sinto lisonjeado ou ofendido:
- Você tem alguma ideia de como salvar a peça? - eu pergunto.
- Você quer salvar a peça?
- Pra falar a verdade, não acho que eu tenha por que me meter, não tem nada a ver comigo, eu só tô sendo enxerido, sem falar que pensar em como salvar a peça dá uma canseira danada, e eu não gosto de me cansar.
Ela faz uma expressão de dúvida:
- Então não vai ajudar?
- Eu gostaria de não me envolver, mas depois de ver o Mike, a Aurora, o John, todo mundo se esforçando tanto, eu acabei me sentindo meio mal por não me esforçar também.
- Em resumo, você está dizendo que tentar não custa nada.
- (...) Bom, esse é um jeito... bem menos legal de falar, mas sim, é bem por aí. Eu quero tentar me esforçar um pouco pelo pessoal... Acho que isso soa meio bobo, né?
- Não... Eu entendo o que você quer dizer.
Estranho, o jeito que ela disse essa última frase soou de um jeito estranho. A presidente fica em silêncio por alguns segundos, depois ela olha pra cima e fica em um silêncio reflexivo, acho que ela tá tendo um flashback. Eu vou ficar quieto, deixa ela ter o momento dela:
- Então, você quer ajudar o clube? – ela volta a falar.
- Isso, eu vou salvar a peça e me tornar o grande herói que salvou todo mundo.
- Que exagero.
- Me deixa sonhar pô..., mas e então, tem alguma sugestão pra mim?
Novamente ela fica em silêncio, pensando seriamente. Ela diz:
- Tem algumas alternativas possíveis, mas a mais garantida é o Edward voltar para o clube e trabalhar junto com todo mundo de um jeito eficiente.
- Realmente, mas talvez essa seja a opção mais difícil.
- Hm, o que quer dizer?
- Eu pensava que pra trazer ele de volta, só seria necessário convencer o pessoal do clube a pedir pra ele voltar e dar um massageada no ego dele, mas agora eu acho que isso não será o bastante.
- Por que você pensa isso?
- Como eu posso dizer?... Você diria que o Ed é um cara sem confiança ou desmotivado?
- Claro que não, muito pelo contrário, ele é um apaixonado e narcisista, literalmente o oposto disso.
- Exatamente, mas acontece que eu tive uma conversa com ele pouco tempo atrás, não, tá mais pra uma briga, e eu pude sentir que ele tava incrivelmente chateado, essa situação atingiu ele muito mais do que parece.
Eu percebo uma certa surpresa na cara da presidente:
- Tem certeza? Me parece meio exagerado pensar que ele se chatearia tanto com essa situação, ainda mais se levar em conta a personalidade excessivamente confiante dele.
- Essa é a parte preocupante, eu acho que toda essa frustração dele não vem só da situação de agora, talvez seja algo bem mais antigo e profundo que finalmente explodiu.
Inconscientemente, eu começo a me perder na minha própria mente, esse assunto acabou me deixando bem interessado. A presidente percebe que eu tô perdido no meu mundinho e fica em silêncio, enquanto me encara com um olhar curioso.
Quando eu percebo ela olhando pra mim, eu volto pra realidade:
- Eh, me desculpa, eu fiquei aqui viajando maionese.
- Não se preocupe com isso. Você parece ter entendido bastante o Edward só com as poucas interações que tiveram, você é uma pessoa muito observadora com os outros, me deixou impressionada – ela diz com um olhar sério.
Mesmo que não pareça pela cara dela, eu tive certeza, por mais incrível que pareça, isso foi um elogio, não trocadilho. Me deixou até emocionado, até escorreu uma lagrima:
- Você está bem? - ela pergunta.
- É que um elogio seu é uma experiência completamente nova pra mim, não dá pra conter a emoção.
- Que exagero..., mas falando sério, o que você pretende fazer quanto a peça? Tem alguma ideia do que fazer?
- Por mais incrível que pareça, eu pensei bastante sobre isso, e acho que tive uma boa ideia.
- Duvido que seja boa, mas pode falar.
E voltamos aos comentários desagradáveis:
- Precisamos de duas coisas, fazer o Ed querer voltar pro clube e fazer o clube querer que ele volte.
- Bom, isso é óbvio.
- Convencer o clube não vai ser difícil, parte deles já tá sentindo a falta do Ed, sem falar que o presidente também quer que ele volte. O problema será o Ed, pra convencer ele, precisamos de alguém que possa conversar com ele, alguém que ele goste ou confie, uma pessoa que ele vai ouvir.
- Outro óbvio, em quem você está pensando para...
Eu olho diretamente nos olhos dela, tentando transmitir a mensagem pelo olhar. A presidente entende onde que eu quero chegar, na hora ela fecha a cara e se levanta bruscamente:
- Eu me recuso! - ela diz em um tom firme.
- Por favor presidente! Você é única pessoa que nós sabemos que ele gosta, você é a única que ele vai ouvir... Eu acho.
- Acha?! Eu me recuso a bancar a babá daquele moleque irritante.
Ela começa a ir embora.
- Espera! Precisamos de você presidente!
Ela ignora minhas palavras e continua a andar. O que eu falo? Como eu convenço ela?... Espera! Já sei:
- Faça isso pela Aurora! - reconheço, golpe baixo.
As minhas palavras chegam na presidente e ela trava no lugar. Deu certo! Eu consegui! A presidente fica ali parada por alguns segundos, provavelmente ela tá pensando se vale a pena o esforço.
Bruscamente, ela se vira e volta até mim, se colocando na minha frente e me encarando com um olhar de puro ódio:
- Ok! Eu faço isso! Mas deixando claro que isso é pela Aurora, se não fosse ela, eu já estaria bem longe daqui!
- Louvada seja Aurora então - esse comentário deixa ela mais irritada – mas falando sério, obrigado mesmo, eu não vou conseguir fazer isso sem você.
Hora de selar nossa parceria. Eu me levanto e estendo a mão:
- Vamos trabalhar juntos, ok parceira?
Ela perece ficar meio desconfiada, talvez eu não tenha passado muito confiança, mesmo assim, ela me cumprimenta:
- Vamos trabalhar juntos então.
- Valeu parceira.
- Você vai mesmo ficar me chamando disso?
- Vou sim parceira.
- Ahhh, que irritante.
- Eu sei parceira.
Nossa parceria tá selada, nós vamos salvar essa peça. A presidente bota a mão no bolço e tira um lenço, ela começa a limpar a mão que usou pra me cumprimentar... Essa menina acha que eu tenho piolho? Me chamando de sujo na cara dura:
- Será que posso participar desse plano? - alguém aparece do nada.
Tanto eu quanto a presidente nos viramos e vemos o presidente John vindo na nossa direção:
- O que faz aqui John? - a presidente pergunta.
- Eu vim até aqui me desculpar pelo comportamento da Laila, mas eu acabei ouvindo a conversa de vocês e fiquei espiando por um tempo, me desculpem por isso.
- Eh, tá de boa, mas o que você quis dizer com participar? - eu pergunto.
- Eu quero ajudar vocês, vou ajudar a convencer o clube.
Isso! Agora deu bom, com um protagonista de manga ajudando a gente a coisa fica fácil. Piadas a parte:
- Por mim tudo bem, você vai facilitar muito as coisas pra gente, afinal, você é o cara mais carismático que eu conheço – eu respondo.
- De fato, com você ajudando, convencer o clube vai ser bem fácil, nós agradecemos a sua ajuda - diz a presidente.
Eu concordo com a cabeça, mas estranhamente, o presidente John parece ficar desconfortável com nossos elogios. Tanto eu quanto a presidente percebemos isso:
- Ah, desculpe, nós te chateamos de alguma forma? - pergunta a presidente.
- Não, vocês não fizeram nada, é só que ultimamente, eu tenho me sentido meio desconfortável quando chamam de líder ou carismático.
- Como assim? - eu pergunto.
- Ele só está sem confiança?! - outra pessoa entra na conversa.
Todos olhamos e vemos a Laila se aproximar da gente. A presidente fica arisca na hora. A Laila chega até nós e coloca a mão na cabeça do presidente, deixando ele bem constrangido:
- Sem confiança? - eu pergunto.
- Esse garoto aqui ficou mal por não conseguir controlar tão bem o pessoal do clube nessa última briga, agora ele está sem confiança e se sentido inútil - a Laila responde.
- Ei, eu não disse nada sobre me sentir inútil, é só que... eu falhei com o pessoal, eles estão dando tão duro e falhei em unir todo mundo – o John diz em um tom triste e sem confiança.
Hã? O que é isso? Quem é esse cara aqui na minha frente? Onde tá o presidente superbacana e confiante que eu admiro tanto? Não acredito que esse seja o presidente John:
- Se tá bem presidente John? - eu pergunto.
- Não se preocupe, na verdade esse é meio que é ele de verdade, ele não é tão confiante quanto aparenta e até que se abala fácil, mas ele se esforça muito pra não deixar esse lado transparecer – diz a Laila.
Nunca conheça seus heróis:
- Mas sobre a conversa de vocês, eu também quero entrar, eu quero ajudá-los – diz a Laila.
- Sério? - eu pergunto animado.
- Sim, eu vou ajudar vocês, mesmo que isso signifique trabalhar com essa aí - ela aponta pra presidente, essa garota não tem medo de morrer.
Eu me ponho entre elas pra evitar mais uma briga.
- Beleza, beleza, a partir de agora, estamos todos juntos. Obrigado pela ajuda pessoal.
Mesmo comigo tentando melhorar o clima, todos eles ficam quietos e com uma cara de bunda. Pelo amor, que equipe sem confiança.
Unidos aqui agora, a presidente do conselho, uma garota baixinha raivosa.
A vice-presidente do clube, briguenta sem medo de morrer.
Um presidente do clube, uma fralde deprimida.
E por fim, aquele vos fala, um delinquente preguiçoso.
Essa é a equipe que vai salvar a peça, ou seja, tamo tudo ferrado.
Continua...
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Atualizado até capítulo 51
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